Fanzine Brasil

SIOUXSIE SIOUX - SOPROS DE VIDA

Grandes homens, assim como grandes tempos são um material explosivo interior do qual uma força imensa é acumulada (....)

“DISCO DA BANANA”- A OBRA PRIMA IGNORADA

Eu sabia que a música que fazíamos não podia ser ignorada

SEX PISTOLS - UM FENÔMENO SOCIAL

Os Sex Pistols foram uma das bandas de Rock mais influentes da história.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

AFINAL, COMO SURGIU O CINEMA?

Um breve questionamento e historio sobre o assunto.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

WOLF CITY - AMON DUUL II

Wolf City é um dos maiores clássicos do Rock Progressivo. É um álbum que celebra magicamente este gênero musical, e que é foi gravado por artistas imensamente talentosos

sábado, 29 de dezembro de 2018

BACK TO THE LAND - ESCARLATINA OBSESSIVA

Por: Vannucchi

No dia 22 de dezembro, o duo mineiro Escarlatina Obsessiva presenteou o público com o lançamento oficial de mais um álbum de estúdio, o aguardado e arrebatador “Back To The Land”, que possui um  total de 10 faixas e foi lançado pela Deepland Records.

O álbum é mais um trabalho notável produzido por Karolina e Zaf, que já há muito tempo cravaram sua marca na história da música nacional underground. A Escarlatina Obsessiva não falha. Possui uma discografia simplesmente brilhante e a cada novo lançamento, mostra-se mais madura, versátil, criando conteúdos cada vez mais originais e qualificados.

Apesar de toda a discografia do duo ser elogiável e cada álbum carregar traços únicos que os tornam muito especiais, o Back To The Land se difere bastante dos demais projetos e certamente, foi o trabalho mais ousado e singular já feito por eles até o momento. Escutei todas as faixas e posso dizer que, de maneira geral, as melodias e ritmos se distanciam bastante de todas aquelas já exploradas anteriormente pelo duo, e a musicalidade desse álbum parece carregar influências bem diversificadas, provindas de gêneros como Jazz e Blues e, eu diria que também tem algum grau de inspiração das raízes do Rock Progressivo, além de possuir uma pincelada de toques cinematográficos. Esses elementos sonoros em conjunto, tornam o álbum primoroso. Os arranjos instrumentais estão belos e são complementados harmonicamente pela voz angelical e poderosa de Karolina.

Karolina e Zaf.
Capa do novo álbum do duo Escarlatina Obsessiva.  
 
No início de agosto, o duo lançou um vídeo clipe original da faixa “Vindictive Witch”. A produção, como de costume, foi feita aos moldes da ideologia “DYI”, legada pelo Punk Rock e muito bem absorvida pelos músicos idealizadores da EO. Juntos, Karolina e Zaf elaboraram o roteiro, as gravações e finalizam também a edição do material. O vídeo apresenta um incrível show de luzes coloridas que se mesclam com fumaças, e tudo isso, em conjunto, tange uma alternância de imagens, nas quais por vezes vemos Zaf tocando, por vezes, Karolina cantando. O vídeo foi publicado como um prelúdio para o que estava por vir. Uma prévia que, com certeza, instigou a curiosidade de todos!

Para muitos fãs, o Back To The Land deve ter sido uma surpresa atípica, mas acredito que para quem realmente conhece os idealizadores desse álbum, não houve nenhum tipo de espanto em relação ao caminho sonoro que eles decidiram trilhar. É importante, afinal, que não fiquem estagnamos e que se aventurem em estradas diferentes, já que eles têm (uma rara) capacidade e muito talento para isso. Certamente é muito gratificante saber que estamos fechando 2018 com mais um novidade musical tão grandiosa. E claro, como de costume, vamos esperar por mais novidades do querido duo mineiro.

Quer adquirir um exemplar físico do álbum? Então, acesse o link abaixo:
https://m.facebook.com/DeeplandRecords/posts/1931420106896878

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

LOOMING FLAMES:

Por: Vannucchi

O Looming Flames é um projeto musical criado pelo multi-instrumentalista brasileiro Marcelo Badari, residente em Joanópolis, São Paulo. É difícil, e talvez até mesmo desnecessário tentar definir qual é o gênero musical desse projeto. Porém, de maneira geral, é possível dizer as músicas do Looming Flames são especialmente conduzidas por uma guitarra maravilhosamente distorcida e alucinante, cuja sonoridade ilumina o caminho para as outras combinações instrumentais ousadas criadas por Badari.

Algumas faixas parecem herdar traços sonoros característicos do Glam Rock, outras carregam uma atmosfera ligeiramente sombria, e outras abusam agradavelmente de efeitos bastante diversificados e ruídos bem originais. Assim, moldado nessa curiosa onda de variadas temáticas e influências, o Looming Flames oferece tanto músicas agressivas, quanto músicas mais delicadas. Trata-se, em suma, de um devir – nunca sabemos exatamente o que Badari oferecerá aos nossos ouvidos e como ele instigará nossas almas. Entretanto, o que sabemos por certo, é que ele nos cativará com suas músicas. O Looming Flames é um projeto versátil e espiritualmente underground, inspirado, em partes, na gloriosa ideologia “D.I.Y”, herdada pelo Punk Rock. Essa rica variedade de conteúdo instrumental é capaz de levar o ouvinte para universos distantes, e fazê-lo perder-se dentro de tantas melodias apaixonantes... As músicas de Badari podem conquistar qualquer um, em qualquer contexto no qual a pessoa se encontre.

Precisamos admitir que o cenário underground do nosso país é agitado na questão de lançamentos musicais e eventos. Não é exagero nenhum dizer que o Looming Flames chega nessa rica cena de maneira soberana, se firmando como um dos projetos mais autênticos e bem elaborados dos últimos tempos. Podemos esperar muitas coisas boas com as quais a imaginação e o talento de Badari irão nos presentear. Ele está inovando. Inovando bastante e jamais copiando. Sempre criando algo genuíno, altamente qualificado e digno de reconhecimento. Nunca estagnado, nunca preso a estereótipos, e eis esse o grande diferencial do grandioso projeto Looming Flames, que certamente se firmará cada vez mais como um dos principais nomes da cena underground brasileira. 

1. Como surgiu a ideia de criar o Looming Flames? Quando esse projeto foi oficialmente inaugurado?

A ideia começou a tomar forma em 2009/2010 numa temporada que passei em Dublin, na Irlanda. Eu tinha visto um pedal de loop, que grava um som e reproduz em seguida esse som infinitamente. Aí fiquei imaginando em montar um esquema com guitarra, samples e ritmos eletrônicos… e tudo passando por esse pedal. O debut se deu com esse vídeo: https://youtu.be/oQeNCqFTUZ0, mas o primeiro registro com o pedal de loop foi este: https://youtu.be/Zxy2hb-O9zo Em youtube.com/marcelobadari dá pra ver a evolução do projeto… praticamente todos os vídeos estão lá.

2. Qual foi o primeiro instrumento musical que você aprendeu a tocar? E afinal, quantos e quais você toca?

Foi um tecladinho calculadora Casio VL-tone VL-1 (aquele da música ‘Da da da’, da banda alemã Trio) e também um violão. Basicamente toco bateria, guitarra e violão.
Casio VL-tone VL-1.

3. Existe algum conceito específico por trás desse projeto?

Sim. A ideia de fazer post rock no esquema live looping.

4. Como funciona o processo de gravar vários instrumentos? Você faz tudo sozinho?

Sim, faço tudo sozinho e é tudo gravado ao vivo. Geralmente a base é um ritmo eletrônico, ou uma linha de guitarra, pode ser também um beat sampleado de bateria acústica. Mas, nessa música, por exemplo, só tem a guitarra: https://youtube/bRVBIpvVRVE e eu gravo ao mesmo tempo em vídeo o áudio que está sendo gravado. Aí depois edito o vídeo inserindo algumas imagens ou não. Nesse som: https://youtube/CqxIYR5zbIc, foi tudo gravado ao vivo e, depois, na edição do vídeo, inseri imagens minhas tocando bateria.

5. Quantos álbuns ou EPs você já lançou? Chegou a lançar algum material físico? 

Desde 2011 lancei virtualmente 7 álbuns: loomingflames.bandcamp.com. Montei também um DVD, do álbum Flutuações Distantes, e distribuí entre amigos. No início dos anos 2000 costumava lançar fitas K7, CD-r’s, fitas VHS… mas hoje é mais viável distribuir online.



6. Você é um artista muito versátil, pois cria faixas bem distintas umas das outras, embora sejam todas notavelmente qualificadas. Quais são suas principais influências sonoras?

Obrigado. Antes eu curtia bandas/artistas e, claro, suas músicas, hoje eu curto mais só as músicas mesmo, independentemente da banda/artista. Vou citar algumas músicas que eu gosto e que me influenciaram muito mais do que os próprios artistas, porque a música sempre vai ser a mesma, já o artista pode mudar e de repente não te agradar mais - o que é normal e acaba acontecendo mesmo; por isso você tem que fazer o seu próprio som (e não se preocupar em agradar seus fãs.) Mas vamos lá: Tomorrow Never Knows (The Beatles), Walking on The Moon (The Police), Paradise Place (Siouxsie and The Banshees), Outono (Violeta de Outono), Slow (My Bloody Valentine)… Essas músicas mexeram comigo desde os primeiros segundos que as ouvi.

7. E os pedais para guitarra? Percebi que você utiliza vários! Tem algum que seja de sua preferência? Você mencionou que também utiliza efeitos extras na bateria. Como funciona isso?

Tento usar o mínimo possível, cheguei até a usar somente o iPad para substituir todos os pedais, mas não rolou do jeito que eu precisava. De 2011 pra cá venho experimentando vários pedais e hoje montei um esquema que supri bem o que eu quero. Uso um sampler Boss SP-202 e um iPad no meio dos pedais. Isso me permite adicionar outros sons nas músicas. O iPad uso como pré-amplificador, sintetizador (https://youtube/Soy3_v2kV2A) e tem também nele alguns beats armazenados. Gravo esses beats no pedal de loop e outros já estão armazenados num segundo pedal de loop (este com memória). Fiz isso pra agilizar no caso de uma apresentação ao vivo.

Em 1998, com um sampler de 8-bit conectado no Amiga 1200, fiz umas experiências e gravei a bateria utilizando o Amiga como processador de efeitos: https://youtu.be/3l_Y_INcfNw e recentemente, no Looming Flames, experimentei de alterar o pitch da bateria no próprio programa de edição de vídeo e fiquei bastante satisfeito com o resultado: https://goo.gl/CEsKtm. Como eu uso sons eletrônicos de bateria, acabo não aplicando muitos efeitos na bateria acústica… também gosto do som natural dela, tanto é que não abafo os tambores e não curto peles tipo pinstripe neles.


"Hoje montei um esquema que supri bem o que eu quero."

8. Você já tocou em outras bandas? Até o momento, como foram suas experiências e aventuras como músico?

Sim, toquei bateria e glockenspiel no Cadão Volpato & trio, em 2006 e também no Momento 68, fizemos apresentações em São Paulo, Rio e Curitiba. E no início dos anos 2000 tive alguns projetos musicais, todos gravados em portastudio de 4 canais, em fitas k7: Voluta Glifos, Manta e Dellatrons (este em parceria com o Sandro Garcia, do Momento 68/atual Continental Combo). Me apresentei com esses projetos em algumas casas noturnas de São Paulo, como Matrix e Cais. Nesses projetos costumava usar um computador Amiga 1200 munido de sampler de 8-bit. Sequenciava nele samples e acrescentava a guitarra (Voluta Glifos) - https://youtube/m6NG8DV_RXQ - e alguns tambores (Manta). Recentemente adquiri novamente um Amiga 1200 com um sampler e usei no Looming Flames, na música Weirdscarlet: https://youtu.be/LxoGifDbCkE

Entre os projetos do início dos anos 2000 e o Looming Flames, rolou o Gunnar Lou (nome que peguei emprestado do terceiro álbum do Dellatrons). Nesse projeto a ideia era gravar tudo separado, ao contrário do Looming Flames. Entre 2007 e 2008 lancei 2 DVDs com esse projeto, fiz algumas apresentações e incluí alguns vídeos nessa playlist do YouTube: https://tinyurl.com/ycaazbkg.

Em 2004 participei do CD tributo à banda Fellini, gravando ‘Rock Europeu’. Toquei todos os instrumentos e convidei uma amiga, a Julia Ayerbe, pra fazer os vocais. O CD só veio a ser lançado em 2015, pela 2Discos".

*Acesse também:  https://youtu.be/zBrWA0qGSDc







9. Aparentemente suas produções são inteiramente feitas aos moldes do D.I.Y. Você realmente compactua com essa “filosofia” que o Punk nos deixou como legado? E você mesmo que filma e edita seus vídeos? Ou tem algum apoio?

Sim, totalmente no esquema DIY. Sim, compactuo com essa filosofia! E sim, eu mesmo gravo e edito os vídeos. Em 1984 descobri um programa na Rádio Bandeirantes chamado New Music (tenho aqui alguns programas gravados em fitas k7). Ele rolava meia-noite de sexta-feira. Ali conheci Joy Division, Gang of Four, Legião Urbana, Finis Africae, Capital Inicial, Zero… e tirava alguns desses sons no tecladinho Casio e também no violão. Era um som mais primitivo e direto, ao contrário do que conhecia até então: tipo Queen, por exemplo. E era um som bem no esquema ‘faça você mesmo’. Nessa época conheci também Mercenárias, Smack, The Cure, Bauhaus etc. Tudo isso me encorajou/estimulou a criar e gravar meu próprio som.

Fita K7 com gravações do programa "New Music".

10. Se pudesse dividir o palco com um artista, quem escolheria?

Escolheria o Erik Satie. Acho que faríamos um som bem inusitado!

PS: já dividi o palco (um bedroom stage na verdade) comigo mesmo: https://youtu.be/jEWH4xiUmWM

Se quiser conhecer melhor as produções musicais de Badari, acesse: https://loomingflames.bandcamp.com

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

SIOUXSIE AND THE BANSHEES - REVISTA MOJO (2014)

Por: Vannucchi e Marinho

Em novembro de 2014, a renomada revista Mojo publicou uma matéria muito completa e interessante contando a trajetória dos Banshees. O texto é complementando por depoimentos da Siouxsie Sioux e do Steven Severin, fundadores da banda. Comprei essa revista numa loja da Saraiva, na cidade de Sorocaba/SP. O custo foi alto, mas o investimento valeu cada centavo. Vale a pena conferir esse material que estamos compartilhando com vocês. A revista foi acompanhada de um CD com músicas selecionadas por Siouxsie e Severin.Talvez apenas clicando em vizualizar as imagens, seja difícil de ler, mas se vocês as baixaram, fica mais fácil!



 















domingo, 16 de dezembro de 2018

ENTREVISTA COM BOB BERT:

Por: Vannucchi e Marinho

O norte-americano Bob Bert é uma daquelas pessoas da música que tem muita história para contar. Baterista com passagem por bandas como Sonic Youth, Pussy Galore e Knoxville Girls, Bob conhece o instrumento desde os doze anos, mas acabou tendo aulas durante um ano e depois deixou o instrumento de lado, se colocando apenas como um expectador pronto para investigar os clássicos da música, do Garage Rock aos sons psicodélicos, passando pela chamada invasão britânica.
Ainda que tenha navegado por outras áreas da arte, a música sempre esteve presente em sua vida. No início, indo a diversos shows de nomes como New York Dolls ou ouvindo o primeiro álbum de Velvet Underground & Nico. No entanto, foi após a sua primeira visita ao CBGB em 1975 que tudo mudou. Acompanhando a cena de perto, conheceu a artista Linda Wolfe e, quando deu por si, já estava tocando bateria novamente.
Abusando um pouco de seu conhecimento, batemos um papo com o Bob sobre o mundo da música, o que ele tem ouvido, Sonic Youth, shows no Brasil e até uma dica para os jovens músicos.

1. Quantos anos você tinha quando começou a tocar bateria? Por que você começou? Você também toca Conga… Né?

Eu tive aulas de bateria durante um ano quando tinha 12 anos, mas parei de tocar quando saí de casa aos 18 anos e me concentrei na ideia de me tornar um bom artista. Voltei a tocar novamente no início dos anos 80, período em que comecei a tocar em bandas. Claro! Congas, bongos e qualquer coisa que possa ser batida!

2. Pode nos dizer quais são alguns dos bateristas que você admira?

Muitos! Jerry Nolan, Keith Moon, Gene Krupa, Ikue Mori, Clem Burke, Dee Pop, Dan Peters, Dale Crover, Ansley Dunbar. São muitos para poder citar todos!

3. Que tipo de música você tem escutado ultimamente? Quais bandas?

Eu escuto todo tipo de banda, mas prefiro o rock de garagem psicodélico dos anos 60, Glam dos início dos anos 70, as bandas de Nova Iorque do CBGB, a cena do Max’s Kansas City do final dos anos 70, No Wave e Pós Punk dos anos 80. No entanto, as minhas bandas favoritas de todos os tempos são: The Velvet Underground, Stooges, MC5, New York Dolls, Patti Smith, etc.

4. Você acha que as bandas underground podem fazer sucesso atualmente?

As palavras “underground” e “sucesso” não caminham juntas! Sucesso significa fazer o que você gosta e não se importar se alguém compreende.

5. Você ainda escuta Sonic Youth? É um banda um tanto controvérsia por ser muito experimental. Você acha que eles continuam bons?

Eu realmente aprecio o recente trabalho solo do Thurston Moree e do Lee Ranaldo. Continuo curtindo Sonic Youth, mas de todas as bandas das quais participei, a que mais escuto é Pussy Galore.
 
"Os fãs gostaram bastante e nós vivemos um momento maravilhoso no Brasil."
6. O que você sente quando você olha para o passado e pensa em sua trajetória musical?

Eu me sinto muito orgulhoso e feliz de poder continuar tocando na minha idade e tendo fôlego para isso!

7. De todas as bandas das quais você participou, qual foi a mais importante pra você? Por quê?

O Sonic Youth provavelmente a longo prazo, porque foi uma ótima forma de começar e eu nunca havia imaginado naquela época que as pessoas continuariam falando sobre a banda depois de 40 anos, mas não tenho arrependimentos pela maior parte das bandas em que toquei como Pussy Galore, Chrome Cranks, Bewitched, Knoxville Girls e, atualmente, eu também toquei Wolfmanhattan Project com o Kid Congo Powers e Mick Collins.

8. Como começou a banda Lydia Lunch Retrovirus? Como você conheceu a Lydia?

Eu era fã da Lydia desde que ela começou em 1978. Encontrei ela no meu primeiro show com o Sonic Youth, em 1982, no CBGB e desde então somos bons amigos e com algumas colaborações com o passar dos anos. A banda Retrovirus começou em 2012 e temos nos comprometido totalmente desde então. Foi o momento certo e provavelmente o mais divertido da minha carreira! Eu amo os garotos da banda, o Tim Dahkl e o Weasel Walter.

9. Você poderia nos contar sobre como foram os shows no Brasil?

Foram ótimos! Os fãs gostaram bastante e nós vivemos um momento maravilhoso no Brasil. Espero voltar em breve e encontrar pessoas legais como você!
 
10. O Pussy Galore é um banda extraordinária. Você poderia nos contar um pouco mais sobre sua carreira com essa banda?

Eu me juntei ao Pussy Galore em 1986, pouco depois de sair do Sonic Youh. Eles eram bem novos e eu tinha dez anos a mais do que eles, e esse fato foi um pouco estranho no início, mas deu tudo certo e nós criamos uma sonoridade original para o Rock, alguns ótimos álbuns e fizemos muito barulho. Eu continuo tendo amizade com todos os membros do Pussy Galore e também do Sonic Youth!

11. Como foi a cena No Wave em NY?

Foi bem legal! Havia bandas sendo realmente criativas em suas sonoridades, conceitos e delivery. Foi uma coisa meio sem sentido naquele período! Foi mais como se tivesse uma banda tocando para cerca de 20 pessoas numa terça à noite, num clube ou no sótão no centro da cidade. Entregou a mensagem que conceito era mais interessante do que a habilidade técnica.

12. Qual é o melhor conselho que você pode dar para algum músico?

Seja criativo, curta o que está fazendo e não de a menor importância para o sucesso!

13. Se você pudesse tocar com qualquer banda ou artista com o qual você nunca antes tocou, qual ou quais seriam?
Hmm… Eu acho que eu fiz uma coisa boa durante minha vida! Sempre foi um sonho meu tocar ao lado da Lydia! Eu adoraria tocar bateria para o The Stooges, eu trabalharia com o Kevin Shields do My Bloody Valentine. De qualquer forma, estou feliz com as pessoas com as quais toquei em meu passado!

"Seja criativo, curta o que está fazendo e não de a menor importância para o sucesso!"
 * Texto anteriormente publicado no site Audiograma: http://www.audiograma.com.br/2017/07/interrogatorio-bob-bert/

ENTREVISTA COM BRUNO MAIA, DA BANDA TUATHA DE DANANN

Por: Vannucchi

No fim de setembro, tive oportunidade de, pela primeira vez, assistir ao Thuata de Dannan, no SESC, em Sorocaba (SP). A banda tocou músicas do novo álbum e também outras faixas de seu repertório clássico. Pensava que não poderia haver erro: eu amo mitologia Celta (e outros aspectos culturais dos celtas) e gosto bastante de Heavy Metal. Minha expectativa, portanto, era bem grande e, felizmente, ela foi superada. O show foi simplesmente fantástico – um banho espiritual. Teatro lotado, público envolvido e a banda arrebentando no palco (teve até queda de energia, e daí, quem mandou bala pra ir tocando o show, foi o pessoal da plateia que começou a cantar intensamente). A experiência, do começo ao fim, foi mística e por um período de tempo (que não sei precisar quanto foi, pois durante a apresentação, eu estava completamente alheia ao espaço/tempo), pude vivenciar um êxtase e viajar para horizontes desconhecidos, nos quais apenas o delírio enunciado pelos acordes da banda importava – o resto, todo o resto estava completamente suspenso.

Antes de tocar a “Tan Pinga Ra Tan”, música que é um dos maiores (talvez, o maior) clássico da banda, o vocalista e multi-instrumentalista Bruno Maia anunciou que a letra da referida canção, tratava-se de um local em que não exista dor e em que não há tristeza, um local no qual apenas o prazer e a alegria imperam. Neste momento, meus olhos se encheram de lágrimas (nos momentos seguintes também), pois belo e inesquecível aquele coro todo cantando o refrão junto, cheio de potencia e fôlego. E todos vibravam durante essa música, especialmente quando o Bruno tocava flauta, era impossível não se empolgar. Enfim, acho que a descrição que o músico fez a respeito da letra de “Tan Pinga Ra Tan”, serve para resumir praticamente todo o trabalho da banda, uma vez que suas músicas, edificadas por artistas de notável talento e carisma, dispõe de um elemento mágico que transporta o ouvinte para um enigmático e confortável momento de suspensão do sofrimento, e de um imediato encontro com uma calorosa sensação plena de emoção, amor e deleite.

Enfim, esteticamente, o show foi espetacular. É muito interessante (e empolgante) a maneira como elementos celtas (tanto em termos de conteúdo das letras, quanto em aspectos sonoros) se encaixam harmoniosamente com dosagens de uma musicalidade influenciada e caracterizada por componentes clássicos do Heavy Metal. Além de toda essa experiência boa que eu tive com a apresentação, comprei um DVD muito legal da banda, tirei foto e conversei com alguns integrantes, pois todos eles estavam presentes após o término do show para poder interagir com o público e eu acho isso excelente pelo fato de que é uma ocasião que permite um contato mais íntimo e direto com a genialidade dos artistas e eu, como alguns leitores bem sabem, sou uma apreciadora do underground e, assim sendo, acho muito positivo romper aquela barreira chata de “ídolo” e “fã”, pois ambos podem se inspirar mutuamente ao partilharem ideias, informações e conhecimentos em geral.
Parabéns aos membros da banda e, como agradecimento pela maravilhosa experiência, deixa aqui uma nota do célebre Arthur Schopenhauer que, penso eu, descreve um pouco do que vocês são e do que penso a respeito de seus trabalhos: “A invenção da melodia, o desvelamento nela de todos os mistérios mais profundos do querer e sentir humanos, é obra do gênio (…) o compositor manifesta a essência mais íntima do mundo, expressa a sabedoria mais profunda (…)” (SCHOPENHAUER, Arthur. Metafísica do Belo). Vocês revelam-nos os sentidos mais secretos do mundo.

Abaixo, você confere um papo que tive com o Bruno Maia antes do show. Ele contou alguns fatos curiosos e marcantes sobre a trajetória da banda, comentou sobre o futuro da Thuata de Dannan (e contou outras coisas interessantes – por exemplo, o fato de que ele gosta do trabalho do David Lynch).

1. Eu li que você sabe tocar diferentes instrumentos musicais. Quais você toca e como aprendeu?

Arranho um tanto de coisa: flautas, violão, bandolim, banjo, bouzouki, teclado, guitarra e baixo; mas o que toco melhorzinho é o violão. Aprendi mais formalmente violão erudito quando novo, o resto foi na unha.

2. Como surgiu seu interesse pela cultura Celta, e quais são os aspectos dessa civilização que mais te chamam a atenção?

Surgiu de um desenho do Rei Arthur que passava no SBT diariamente nos anos 80. Eu fiquei doido com o Rei Arthur e por isso minha mãe me presenteou com um livrinho da estória que em seu prefácio mencionava a origem celta da lenda e tudo mais. A partir daí eu fui fisgado pela magia dos povos celtas; um interesse que nasceu das lendas e mitologia e passou pela História de várias nações e culturas celtas, passou pela música, literatura, questões da identidade nacional irlandesa e que se estendeu até a vida acadêmica.

Qual é a importância da mitologia celta no mundo atual? Acredita que os valores transmitidos pelos mitos podem agregar ainda podem agregar algo de positivo?

Os mitos estão presentes em nosso dia a dia muito mais que a maioria das pessoas pensa. Na verdade, encontram-se em quase tudo que nos rodeia. Pra ser mais extremo, segundo muitos linguistas, qualquer palavra já é um mito, tudo que se repete como modelo, como paradigma é mitológico, né? Vivemos revisitando e reprisando estruturas míticas.


3. Gostaria que você nos contasse um pouco sobre como surgiu e se concretizou a ideia de unir o Rock And Roll (especificamente o Heavy Metal) com elementos celtas.

Foi algo natural na verdade. Uni uma grande paixão (a cultura celta) a uma inclinação inelutável (a música). Desde muito novo já tocava violão e a música me dominou e por conta disso, fatalmente iria mexer com banda, com composições próprias e tudo mais. Quando essa hora chegou o caminho foi único coração que era a música e a paixão que era o imaginário celta em geral.

4. Você lembra qual foi a primeira música gravada pela Tuatha de Danann? Qual foi reação dos membros ao terminarem essa primeira música (ou então as primeiras). Estavam seguros com o resultado?

Nós éramos muito novos quando começamos, eu tinha 13 anos. E quando gravamos a primeira demo tape eu tinha 15. Então imagine a empolgação de todos nós que tínhamos a mesma faixa etária: foi inacreditável!

5. Você é o único membro presente desde o início da banda, correto? Por que houve tanta mudança de integrantes?

O Giovani Gomes, baixista, também está desde os primórdios, desde 1994. Ele ficou fora do meio de 95 ao meio de 98. E não acho que houve tantas trocas nesses mais de 20 anos, foram 5 vezes só.

Durante um período de tempo, um anão participava das apresentações. Aonde vocês o encontraram e como surgiu essa ideia?

Ele é um amigo nosso, aqui da nossa região e que curte metal e sempre esteve nos eventos, nas bagunças e tudo mais. Como àquela época nosso som era mais povoado por esses lances de fadas, duendes e anões, o chamamos para participar dos shows como o próprio Finganfor (que é o personagem de uma canção da banda) e era tudo muito legal. Ele tinha sua própria roupa, bebia pra caramba, anunciava a banda e todo mundo adorava.

6. Qual foi o momento em que a Tuatha de Danann passou a ter maior reconhecimento público e midiático? A que fatos você atribui esse reconhecimento?

Não sei precisar, mas sendo sincero, desde o primeiro lançamento da banda a gente chamou atenção, tanto do público quanto da mídia. Hoje pode parecer normal, pois temos TUDO a nossas mãos com a internet e tudo mais, mas nos anos 90, sem internet e coisas do tipo, uma banda de metal com flautas era algo muito diferente. Todos os lançamentos foram muito bem recebidos, mas talvez o Tingaralatingadun tenha sido um divisor de águas, pois ele vendeu muito bem e apresentou a banda em várias de suas facetas.
"Cada banda é um universo e todo universo é cheio de problemas. Tivemos e ainda temos os nossos."

7. Certa vez, vi numa entrevista (se não me engano, no Jô Soares), um comentário de algum dos integrantes dizendo que as letras que vocês produzem, às vezes, são histórias que vocês próprios criam. Poderia nos dar alguns exemplos disso?

É porque criamos alguns personagens na banda, principalmente na época do Tingaralatingadun. A própria faixa título já tinha isso: seria uma reunião dos seres encantados que estavam enfurecidos com o fato do homem não acreditar na onde não há tristeza, só alegria e amor – inclusive tem pinga no nome, o gigante Brazuzan existência deles, eles queriam se corporificar pra afirmar sua existência, mas beberam demais e deu tudo errado….Tem o anão Finganforn, a terra mágica Tan Pinga ra Tan… e por aí vai.

8. Quais são as músicas que você mais gosta de tocar ao vivo?

Vixe, gosto de muitas. Acho que “We´re Back” do último disco é uma de minhas preferidas, assim como outra mais recente, a “The Brave and the Herd”. Mas também gosto de “Dance of the Little Ones”, “Tan Pinga ra Tan” e muitas outras.

9. A Tuatha de Danann já se apresentou em outros países. Como foram essas experiências fora do Brasil?

Fizemos uma turnê na França que se encerrou com 3 shows na Alemanha. A tour na França foi muito legal, rodamos um mês por todo o território francês. Parecíamos crianças tendo um sonho realizado.Fomos convidados por nossa gravadora francesa e acabamos tocando também no Wacken Open Air na Alemanha( onde vencemos uma competição que nem sabíamos que competíamos). Na França, o último show foi em Paris e fizemos um show sold out sendo headliners. Foi a coisa mais louca ver os franceses cantando nossas músicas bem alto, sabe(?), delirando com o Tuatha. Foi até mais doido que o próprio Wacken, pois lá era só a gente e todos lá estavam pra nos ver, inesquecível.

10. Que tipo de efeito você acredita que suas músicas causem nos ouvintes?

Não sei responder isso, mas creio que seja algo positivo pois a maioria de nossas músicas tem uma aura mais pra cima que pra baixo.

11. Além da música, o que você gosta de fazer?

Ler e assistir filmes.
"... segundo muitos linguistas, qualquer palavra já é um mito, tudo que se repete como modelo, como paradigma é mitológico, né? Vivemos revisitando e reprisando estruturas míticas".

12.  Por que a banda levou 11 anos para voltar ao estúdio antes do lançamento do Dawn of the New Sun?

Cada banda é um universo e todo universo é cheio de problemas. Tivemos e ainda temos os nossos. Aquela época foi muito confusa e com problemas de ordens diferentes se contorcendo e misturando.

13. Quais são suas principais influências musicais?

Mais difícil que responder isso não há! Mas pra citar alguns muitos e extremos entre si: Beatles, Yes, Renaissance, Paradise Lost, Raibow, Helloween, Amorphis e música celta.

14. E além da música? O que mais te inspira?

James Joyce, Oscar Wilde, Alice no País das Maravilhas, Jorge Luis Borges, Nietzsche, Guimarães Rosa, David Lynch e Minas Gerais com suas histórias e montanhas.

15. Se você pudesse dividir o palco com qualquer artista, quem escolheria?

Paul Mccartney e Milton Nascimento.

16. Quais são os planos para o futuro da Tuatha de Danann?

A banda segue firme a seu tempo compondo, fazendo shows e curtindo esse existir com tempo próprio, sem se render à demandas de mercado nem nada. Esperamos lançar um disco agora em 2018 com algum tema ligado à história de nosso estado e com certeza com uma proposta musical um pouco mais torta que o último disco pra variar um pouco.

17. Que tipo de conselho você dá para alguém que está começando a aprender a tocar algum instrumento ou que está formando uma banda?

Acho que todos deviam aprender sim um instrumento desde pequeno, faz bem pra coordenação, e pra cognição em geral. E pra quem está montando banda, o cara tem de saber que é difícil, que são mais portas fechadas que abertas mas que vale a pena se essa é sua paixão.Viver disso, no Brasil, é quase impossível, mas cada vida é uma, e cada um segue seu sonho.

*Texto anteriormente publicado no site Audiograma: http://www.audiograma.com.br/2017/11/interrogatorio-bruno-maia-do-tuatha-de-danann/

ENTREVISTA COM JOHN MOORE - EX-BATERISTA DO THE JESUS AND MARY CHAIN:

Por: Vannucchi e Marinho

O The Jesus And Mary Chain é o tipo de banda que costuma agradar muitas pessoas, independente de quais sejam suas preferências musicais. Acredito que qualquer coração tem espaço para canções como “Just Like Honey”, “My Little Underground”, “Happy When It Rains”, “April Skies” e várias outras músicas maravilhosas que são bem-vindas em diversificadas ocasiões cotidianas. Felizmente, e ao lado de Gabriel Marinho, cujo coração também palpita pelo The Jesus And Mary Chain, tive a honrosa oportunidade de bater um papo inédito com o John Moore, um dos bateristas que deixou sua marca na história da banda e que também foi membro de uma outra grande banda (brilhante e muito singular) chamada Black Box Record.

1.Como você entrou para o Jesus And Mary Chain e como foi sua experiência como a banda?

O tempo que passei no The Jesus And Mary Chain foi uma aventura maravilhosa e um tanto ridícula. Em algumas semanas, eu passei de um simples estudante do colegial sem graça, para membro de uma das bandas mais legais do planeta. O mais estranho disso tudo é que era assim que tinha que acontecer… algo além do controle normal… Tipo "A Fantástica Fábrica de Chocolate" e o bilhete dourado! Quando eu li que eles estavam procurando um novo baterista, eu sabia que esse novo músico seria eu, embora não tivesse a menor ideia de como isso iria acontecer (eu nem ao menos havia tocado bateria antes).

Até então, eu tinha ido em alguns shows e eles já eram a banda mais importante da minha vida. Fiquei admirado quando as revoltas estouraram, e maravilhado com o Jim, indo ao público, William tocando a mesma guitarra que eu (que era pintada de preto) e o Douglas e o Bobby eram simplesmente magníficos! Melhor banda, melhor nome e melhor som: não havia nem como competir.

Nós nos conhecemos no Cinema Scala, em King’s Cross (Londres), em uma exibição do Entertaining Mr. Sloane, de Joe Orton. Quando as luzes ainda estavam acesas após o final do filme, Jim, William e Douglas estavam sentados algumas fileiras atrás de mim. Nós éramos praticamente as únicas pessoas lá. Não houve conversa, apenas uma saudação de pessoas de mentalidade semelhante com um gosto semelhante para filmes. Esses tipos de reuniões aconteceram bastante nas próximas semanas – Jim achava que eu estava o perseguindo, e eu achava a mesma coisa – Que seja! Nós começamos a nos falar.

Os detalhes completos de como me juntei à banda está na brilhante biografia de Zoe Howe, chamada Barbed Wire Kisses. Basta dizer que foi uma série de coisas (falando de maneira mais prática: eu tinha o visual certo, gostava das mesmas coisas, tinha um passaporte e estava pronto para uma aventura). O fato de eu não conseguir tocar bateria foi ignorado e eu melhorava nisso. Na audição, eles estavam duas horas atrasados, com ressaca e num nível maravilhosamente miserável ao “estilo Mary Chain”, tocamos uma música. Sentindo que a oportunidade estava se perdendo, eu pedi desculpas pela minha incapacidade, alegando estar nervoso e afirmei que eles também não eram exatamente maestros musicais. “Justo, ele tem um ponto”, disse Jim. Sua única ressalva, foi que eles poderiam chamar um amigo de East Kilbride para ocupar meu lugar, mas tal ressalva foi rejeitada por Alan McGee, que apontou que eles não tinham amigos. Assim sendo, eu estava dentro!

2. Qual é a melhor memória que você tem das suas experiências com o Jesus And Mary Chain?

Há muitas. Andar pelo St Marks Place em Nova York, à tarde, depois de tocar no The Ritz, é uma delas. O Jim, a namorada dele e Douglas, atravessando as belas ruas do Lower East Side, através dos lugares de nossos sonhos. Parecia que todo mundo estava no show, mas, como nós, estávamos muito distantes para fazer algo mais do que dizer “olá”. Nós havíamos sido perseguidos pela rua na noite anterior, tipo aquelas coisas da “Beatlemania”. O show foi fantástico e agora, essa brilhante queda!

3. Quais são os bateristas que você mais admira e quais são as bandas que você tem escutado ultimamente?

Atualmente eu admiro muitos músicos. Qualquer um tentando fazer música para viver merece respeito – isso não é tão simples quanto parece. Eu não escuto muitas bandas agora – acho que minha cabeça continua atolada com o que eu costumava escutar antigamente. Eu tenho feito uma gravação desde o ano passado, então eu estou escutando mais aquilo – faixas intermináveis em que estou cantando – e isso pode ser um pouco prejudicial.

Eu acho que as últimas coisas que eu escutei, que não são as minhas próprias, são The Mary Chain (por razões óbvias), Ride (Loz é um amigo), Anto Dust (eles são uma banda muito jovem, incrivelmente glamourosa, de Shoegaze, que ainda será grande) e Vera Lynn.

"Eu gosto de Samba e de Bossa Nova, aliás, e eu escrevi muitas músicas nesses ritmos".
4. Consegue nos dizer quais são os “Top 5 Álbuns da sua vida”?

Eu não tenho exatamente um “Top 5”, mas, Never Mind The Bollocks, algum do Bo Diddley, algo do Muddy Waters, o Psychocandy, e Leonard Cohen estariam entre eles. Eu estou olhando para a minha prateleira de discos para ter inspiração e há muitos! Bob Dylan, Crass, Little Richard – muitos álbuns obscuros de brechós, música Folk – muitos de clássico – o problema é que eu preciso subir nas minhas guitarras para chegar até eles.

5. Em sua opinião, a internet (Youtube, Facebook, e outras redes sociais e sites, em geral) ajudam os atrapalham no trabalho de um artista?

Difícil de dizer. Em muitos aspectos, é ótimo, porém, na minha experiência percebi que os melhores músicos são os menos adeptos tecnicamente e os mais preguiçosos. Atualmente, eu sou aconselhado o tempo todo a “fazer isso": você precisa de sites, likes e mídias sociais. Mas na minha experiência, percebi que a melhor música é feita por sociopatas degenerados. Você pode imaginar Leadbelly atualizando uma página do Facebook? Eu, ocasionalmente, recebo certas cargas de energia, escrevo um blog ou publico algo no YouTube, mas esse tipo de momento passa. Eu não poderia fazer isso todos os dias. Infelizmente, há muitas bandas que podem – é o lado errado do cérebro trabalhando e a música parece falsa. Os rebeldes foram postos de lado. A indústria da música foi achatada pela internet e, provavelmente, nunca irá se recuperar disso… provavelmente.

6. O que você achou do Demage And Joy, último álbum do Jesus And Mary Chain?

Fiquei orgulhoso pela banda e pelo resultado do Damage And Joy. Levou um bom tempo, mas eles conseguiram. O The Mary Chain é a melhor banda que vi em muitos anos – a nova formação – mesmo sem eu arruinando as coisas, é excelente. É legal ver eles tão energizados e tão ativos quanto antes, e agora que eles tem o Demage And Joy, não há razões para não fazerem ainda mais. Há algumas semanas atrás, minha filha foi assisti-los no Latitude, foi o primeiro festival dela. Ela viu o show inteiro do lado do palco, na parte interna e viveu o grande momento da vida dela nesse dia.

7. Como surgiu o Black Box Record? Eu conheci essa música através da série Gilmore Girls.

Outra longa história, mas para resumir, o Luke e eu nos encontramos enquanto estávamos reunidos com a banda de um amigo. Havíamos nos conhecido há anos, mas não havíamos nos encontrado. Nos tornamos amigos – compartilhando uma certa visão cínica da vida. A cantora que fazia a segunda voz desta banda tinha a voz mais bonita e era absolutamente linda, então começamos a escrever canções para ela – nós temos um box de Life Is Unfair, lançado ainda este ano, pela gravadora One Little Indian.

8. Qual foi a inspiração para escrever a letra da música “Child Psychology”?

Foi inspirada por um documentário de tarde da noite que falava sobre uma garota que ficava flertando frequentemente com as pessoas – ela tinha o QI de um gênio, e ficou entediada demais para conversar. E é também inspirada em “Is All That All There Is”, de Peggy Lee.

9. Como e onde você aprendeu a tocar serra?

Para falar a verdade, certa vez eu vi alguém tocando em "O Gordo e o Magro", daí depois disso eu fiquei com o som na cabeça durante certo tempo: um som estranho e fantasmagórico, e quando eu vi "O Gordo e o Magro", finalmente soube o que era o som e de onde vinha. Isso também coincidiu com a época em que eu não poderia estar mais incomodado em carregar guitarras e amplificadores!

10. Nós gostaríamos de saber sobre seu interesse pelo absinto em meados dos anos 90...

Eu descobri o absinto na República Tcheca, no início dos anos noventa, Isso foi logo depois da queda do Comunismo e este grande homem, o Radomil Hill, começou a fazer isso novamente pela primeira vez desde que a destilaria de sua família foi apreendida no final da Segunda Guerra Mundial. Eu escrevi pra ele para perguntar se eu poderia importar a bebida e, incrivelmente, ele disse que sim.

Eu passei anos procurando isso – não acreditei que fosse ilegal no Reino Unido e, eventualmente a Agência do Governo concordou comigo. Nós testamos a bebida para nos certificarmos de que não era venenosa e, então, no final do século, ela começou a ser vendida com o slogan: “Tonight We’re Gonna Party Like It’s 1899” – “Esta Noite Nós Vamos Festejar Igual em 1899”. Foram anos muito legais!

11. Você conhece alguma coisa da música brasileira? Gosta de algum cantor ou banda?

Bem, além de “Garota de Ipanema”, Carmen Miranda e Sepultura, eu não estou muito informado sobre outras coisas. Talvez pelo fato de que estou sentado, vestindo meu roupão, em uma manhã molhada de Londres, e a música exótica parece muito longe. Eu gosto de Samba e de Bossa Nova, aliás, e eu escrevi muitas músicas nesses ritmos. Na verdade, uma das minhas canções favoritas de todos os tempos é “Adieu Tristesse”, do filme Orfeu Negro, então, no final das contas, sou um expert em música brasileira!

*Texto anteriormente publicado no site Audiograma: http://www.audiograma.com.br/2017/09/interrogatorio-as-aventuras-e-a-vida-musical-do-baterista-john-moore/

sábado, 15 de dezembro de 2018

ENTREVISTA COM HARRY HOWARD

Por: Vannucchi e Marinho

Harry Howard, durante sua jornada como músico, passou por algumas bandas primorosas, tal como Crime & the City Solution e These Immortal Souls, além de ter tocado ao lado de ninguém mais, ninguém menos, do que Nick Cave.

Como consequência de tais colaborações e participações musicais, Howard escreveu uma história simplesmente brilhante, deixando sua assinatura pelo universo do Punk Rock e do Pós-Punk. E para alegria dos nossos leitores, agora ele também está deixando sua marca aqui na Fanzine Brasil, através desta entrevista inédita.


1. Harry, você poderia contar um pouco sobre sua carreira musical?

Comecei a tocar com amigos em 1978/1979. Eu herdei o violão do meu irmão Rowland com o qual eu tentava aprender o tema de Agente 86. Eu estava muito desesperado (então, o que mudou?), não conhecia nenhum acorde, então eu tocava baixo e cantava. Mudei para Londres e me envolvi com a música, com meus amigos e relações mais famosas como Rowland e Mick Harvey. Nunca ganhei dinheiro, mas viajamos pelo mundo e nos tornamos notórios no nosso caminho. Isso não é ruim…

2. Como foi sua experiência com a cena Punk australiana?

A “cena Punk” australiana foi uma oportunidade que se apresentou. A: você poderia odiar a autoridade e a normalidade e B: você poderia conseguir isso por um preço menor, com menos habilidade (atitude e estilo de fazer o que precisava ser feito).

Havia muita inspiração proveniente de bandas estrangeiras e australianas que eram os próprios criadores da cena. The Saints eram um Punk de garagem ríspido e fabuloso, e também havia o Radio Birman que tocava muito Protopunk/Rock n Roll.

3. O que acha do atual cenário musical e qual sua perspectiva para o futuro?

Sempre tenho esperança na música. Eu não acompanho o que está acontecendo tanto, porque permito que as coisas de que gosto me encontrem. E elas o fazem! Eu acho que as pessoas encontram novas maneiras de dizer coisas musicalmente e quebrar as regras por causa da mudança de tecnologia e porque elas são pessoas e simplesmente está em nós fazer isso.

4. O Punk ainda está vivo? O que significa ser Punk?

O Punk Rock de 1977 ainda é uma coisa viavelmente ativa? Não. O Punk está vivo de maneiras diferentes. Ele quebrou a demanda por músicos altamente qualificadas e permitiu que as pessoas encontrassem o próprio caminho e se sentissem bem com isso. Eu não acho que isso vai desaparecer - o Punk nos deu tudo isso - o bom Punk.

5. Você não vivenciou apenas o cenário do movimento Punk, mas também do Pós-Punk. Como percebeu as mudanças de um estilo musical para o outro?

Não demorou muito para que o Punk se transformasse em Pós-Punk, mas realmente isso apenas queria dizer que você poderia ser mais “artístico” e extrair influências mais amplas de músicos pré-punks como David Bowie, Roxy Music, Iggy Pop, Eno, Can Blues e até mesmo Reggae. E posteriormente, bandas como The Boys Next Door, The Young Charlatans, Whirly World, The Laughing Clowns e Crime and the City Solution, todas se tornaram importantes na minha vida.
Harry Howard And TND.

6. Eu já vi comentários que o associam com a cultura gótica. Você se considera como parte dessa cultura?

Nunca me senti envolvido com a cena gótica. Eu gosto de alguns aspectos dessa cultura, mas pensei que poderia ser um pouco constrangedor se eu pudesse ser identificado como sendo parte disso. “Gótico” é uma palavra útil e a cena gótica certamente não é dona dela.

7. Até onde sei, você admira o poeta John Keats. O que você gosta nas poesias dele?

“Teoria da Capacidade Negativa” de Keat. Procure saber se você não tem conhecimento disso! Sendo um aluno muito preguiçoso, nunca segui meu interesse pela poesia… Uma perda!

8.Você tem outras influências literárias? Quais? E qual é seu livro favorito e por quê?

Eu fui influenciado por muitos livros, tal como "Odisséia", "Dom Quixote", "O Corcunda de Notre Dame", "Moby Dick", novelas trashy de crimes dos anos 30, contos de gangsters, ficção científica, distopias, sátira social, victoriana. Nunca se limite a um livro! Bem, Silas Marner, de George Eliot é um livro muito bonito que faz meu coração doer, mas no geral, eu não tenho um livro favorito.

9. O que você sente quando pensa no seu passado e na história que escreveu em sua vida?

Sinto-me levemente satisfeito por ter nascido eu mesmo e ter minhas aventuras particulares.

10. Você chegou a tocar com o The Birthday Party. Como foi tocar com uma banda tão caótica?

Sim, certamente são extremamente caóticos, mas também é um grupo bem civilizado de pessoas inteligentes. Inicialmente era terrível estar no palco com eles, porém, é algo de que sempre me orgulhei.

11. Como foi fazer parte de bandas com o seu irmão? Você tocou com ele no Crime, These Immortal Souls e brevemente com Lydia Lunch nos anos 90.

Tenho um enorme respeito pelo talento do Rowland. Foi fabuloso tocar com ele nessas bandas. Eu me considero afortunado por ter tido um padrão tão elevado de material para com o qual pude contribuir. E eu experenciei e compartilhei esse tempo com uma pessoa que é muito querida para mim!

12. Qual é a sua banda favorita?


Todas as que são boas! (eu não gosto das ruins).

13. Com qual banda você gostaria de colaborar?

Com todas as que são boas! (e talvez com algumas das que são ruins porque elas são ricas).

"O Punk está vivo de maneiras diferentes."
 14. Há alguma banda na qual você tocou que se tornou mais espacial pra você? Por quê?

Todas as bandas em que toquei se tornaram especiais para mim. Contudo, pelo fato de que o Rowland já não está mais aqui, as bandas nas quais eu estava com ele, agora são as mais especiais.

ENTREVISTA COM MARY D'NELLON, DO VIRGEN PRUNES

Por: Vannucchi e Marinho
Mary D’Nellon é um músico irlandês que se destacou por sua marcante passagem como baterista de uma das bandas mais excêntricas da história, o Virgin Prunes. Ele bateu um papo com o Audiograma e nos contou algumas coisas incríveis de sua trajetória musical.


1. Como você entrou para o Virgin Prunes? O que você estava fazendo antes de entrar para a banda?

Quando eu tinha 16 anos eu vi o Virgin Prunes apoiando o The Clash e achei eles bem legais – especialmente para uma cidade pequena como Dublin. Depois disso, fui em todos os shows da banda e como Dublin era uma cidade pequena, comecei a encontrá-los em cafés e apresentações. Eles eram completamente diferentes de qualquer um que eu tivesse conhecido – alheios, arrogantes e aterrorizantes.

Eu comecei uma banda chamada System X na qual eu era o guitarrista. Nós fizemos uma boa quantidade de apresentações em Dublin e o Virgin Prunes foi nos assistir algumas vezes. Eu fiz amizade com eles, especialmente com o Gavin. Então quando eles demitiram o Bintti do grupo antes do New Form of Beauty, o Gavin me ligou e perguntou se eu poderia entrar na banda como baterista. Eu nunca havia tocado bateria, mas seis semanas depois desse telefonema, já estava nos palcos.

2. Como foram as gravações do álbum …If I Die, I Die?

Algumas músicas como “Caucasian Walk” já eram meio antigas e nós estávamos muito ansiosos por finalmente poder gravá-las. Já outras faixas como “Baby Turns Blue” e “Bau-dachong” eram novas. Nós tivemos a ideia para dois lados diferentes do álbum antes de gravar que refletia em como eram nossas apresentações.

Colin Newman não foi nossa primeira escolha como produtor, mas Nick Launay (que produziu “Pagan Lovesong”) não estava disponível. O Colin Newman não compreendeu muito bem qual era nossa pegada – pense nas camadas múltiplas de som com as quais ele costumava trabalhar em materiais como “Ulakanakulot” e etc. Mas nós não estávamos realmente muito contentes com “Caucasian Walk”, “Walls of Jericho” e todas as músicas do ‘blue side’ do álbum. Houve muito conflito no estúdio… Gostaria que tivéssemos trabalhado com outro produtor.

Quando eu vejo os vídeos da gente tocando “Caucasian Walk” naquela época, penso que uma abordagem mais direta teria sido melhor. Mas fora isso, como uma banda, estávamos muito felizes com o que estávamos criando na época.

"Ninguém no Virgin Prunes tinha qualquer tipo de educação formal em matéria de música ou arte, tudo o que fazíamos era instintivo, não havia regras".
3. A maior parte das pessoas taxa o Virgin Prunes como sendo uma banda gótica. Você concorda com esse rótulo? Você era ou é gótico?

Como eu disse, o Virgin Prunes estava fazendo apresentações em 1978 – muito antes de qualquer um falar sobre música gótica. Havia muitas imagens religiosas em que nos interessávamos, mas também havia interesse pelo dadaísmo e surrealismo e ouvimos todos os tipos de música, sendo que todas essas coisas influenciam a criação, mas nunca quisemos soar como outra banda ou fazer parte de qualquer movimento.

Obviamente, houve um ponto em que muitas pessoas que chegavam aos nossos shows tinham um certo “visual” e gostavam dos elementos mais “góticos” do grupo. Nós tocamos com bandas como Sisters of Mercy, Southern Death Cult … Mas não sentimos que tivéssemos algo de particular em comum com essas bandas. Nunca pensei em mim mesmo como gótico ou qualquer outra coisa.

4. Quais foram as principais influências e inspirações da banda?

Muito variadas. Éramos influenciados tanto pelas pessoas ao nosso redor quanto por filmes que assistíamos e livros que líamos… os sentimentos, as vibrações que usamos para obter essas fontes foram traduzidas para músicas, sons, imagens ou shows. Provavelmente não será uma surpresa para ninguém ouvir que todos amamos Bowie, Iggy, Roxy Music, The Velvets. Eles certamente foram chaves para nós querermos fazer música, mas nunca quisemos “soar” como qualquer outra pessoa. Punk foi o catalisador que fez todos nós sentirmos que poderíamos sair e fazer música.

5. Que tipo de efeito você acha que o Virgin Prunes causa nas pessoas? O que os levou a fazer músicas tão peculiares e artísticas?

Tenho sorte, porque eu vi a banda antes de eu estar na banda, então eu sei exatamente o tipo de efeito que o Virgin Prunes pode ter sobre as pessoas. Eu acho que as pessoas que vieram para nossos shows geralmente sentiram como senti quando vi a banda pela primeira vez. Que tudo é possível, que tudo o que você acha que é “normal” ou “esperado” não precisa ser assim. Que se você tiver coragem e imaginação, você pode criar seu próprio mundo e viver sua vida do jeito que quiser. Nada nos levou a fazer esse tipo particular de música. A combinação de personalidades significava que tinha que ser assim. Ocorreu naturalmente, organicamente.

6. O Virgin Prunes tem uma aura muito peculiar. Por que você acha que a banda conseguiu criar uma atmosfera tão diferente?

Há muitos elementos diferentes que entraram no Virgin Prunes. Onde crescemos, nossas frustrações, nossa imaginação. Dublin não era um lugar fácil de se viver se você fosse “diferente” naquela época. Encontramos uma família nas pessoas do Virgin Prunes e nas pessoas ao redor da banda e isso nos permitiu nos expressar. Então, nós tínhamos um vínculo comum, mas nós éramos muito diferentes em muitas maneiras e dessa mistura fez algo único. Não havia formalidade. Ninguém no Virgin Prunes tinha qualquer tipo de educação formal em matéria de música ou arte, tudo o que fazíamos era instintivo, não havia regras.

7. Qual é a melhor memória que você tem de sua participação na banda?

Tocar ao vivo. Houve alguns shows incríveis que fizemos – antes do “…If I die, I die” quase todos os shows eram como um evento especial – preparamos cada show de forma diferente, escrevemos peças especiais, criamos visuais e etc. Tivemos que comprar cabeças de porcos, peixe, todo tipo de coisas. Nós pedimos emprestados móveis e preparamos o palco com sofás e TV’s. Havia folhas, manequins, pedaços de árvores… Quando estávamos em turnê, isso já não era possível, mas, mesmo assim, cada show tinha uma energia diferente, o público reagia de forma diferente e o sentimento entre os músicos era diferente… Não pude escolher um concerto, mas com certeza, havia algo de especial quando Guggi e Dik estavam no Virgin Prunes e eu estava atrás deles.

8. Quais são suas bandas favoritas e o que você gosta de fazer além da música?

Eu não penso mais em termos de ‘bandas’. Eu escuto a música que eu gosto. Eu transito, então eu apenas escuto uma música e, se eu quiser, eu continuo ouvindo. Como eu disse Bowie, Lou Reed, etc. sempre fizeram parte da minha vida. Além da música, gosto de sair em Paris, é um lugar agradável para viver.

9. Como eram as apresentações da banda e de onde vocês tiravam esses elementos e comportamentos teatrais?

Essa parte teatral veio do Gavin e do Guggi, eles foram influenciados por artistas de performance como Nigel Rolfe que fizeram coisas muito estranhas, além de terem sido influenciados por filmes como Nosferatu ou Onibaba, teatro como Bertolt Brecht e pessoas cujos maneirismos e gestos achavam legal. Ambos pintavam e o lado visual do grupo sempre foi importante – eles pensavam muito na maquiagem, roupas, capas de álbuns … A resposta foi às vezes violenta no início. Em Dublin, as roupas que Virgin Prunes usava e a música que tocávamos eram muito provocativas para algumas pessoas. Mais tarde, a violência não era um problema, mas o público poderia reagir de maneiras muito diferentes.

Às vezes, haveria silêncio e as pessoas nos diriam depois do show: “Nós adoramos, mas não achamos apropriado bater palmas”. Outras vezes, haveria tumultos próximos: o público na Itália, por exemplo, era muito emocional! O palco não era muito preto e branco – as pessoas podiam interpretar as coisas de maneiras diferentes. Foi o que fez as pessoas reagirem de forma diferente, acho que as pessoas estavam imaginando sua própria história e achamos que nos comunicávamos pessoalmente com elas – acho que essa é uma das coisas que nos tornaram especiais.

10. Como foi a transição de ser guitarrista e depois baterista?

Como eu disse antes, comecei tocando guitarra, então não foi um problema. Eu adoro tocar e escrever músicas. Agora não toco mais bateria, nunca. Para ser sincero, eu preferi o Virgen Prunes com o Dik na guitarra.

11. Há alguma banda atual que você escute?

Conforme eu disse, na verdade não “sigo bandas”. Só procuro música que eu gosto. Semana passada eu vi uma banda chamada My Great Blue Cadillac, eles eram bem legais.

12. Você poderia nos contar sobre The Prunes, o projeto que você teve com Strongman e Busaras? Você faz parte de alguma outra banda depois desta?

O The Prunes foi uma reação pelo fato de o Gavin ter deixado a banda. Nós passamos por um período muito difícil e estávamos prestes a fazer uma turnê pelos EUA e Japão. Gavin apareceu e simplesmente disse que não queria ir. Estávamos devastados e nos sentimos pessoalmente traídos. Essa é a razão pela qual mantivemos parte do nome. Isso provavelmente não era uma boa ideia porque queríamos fazer algo diferente – obviamente, não podíamos fazer shows ou produzir discos como Virgin Prunes quando havia apenas nós três.

Não estávamos muito concentrados – não havia um líder como o Gavin para guiar o grupo. Não me sinto muito feliz com o que fizemos, acho que há algumas boas músicas, algumas boas ideias, mas nunca encontramos nossa própria identidade. Dito isto, acho que a música que fizemos é melhor do que a música que Gavin fez desde que deixou Virgin Prunes ;-).

Eu nunca quis estar em outra banda. Eu escrevi música para filmes e séries de televisão aqui na França – ainda adoro fazer música.

13.Você ainda tem contato com os membros da banda?

O Strongman esteve em Paris na semana passada. Ele e o Dave-id são como uma família pra mim. Eu troco mensagens com o Gavin, mas não falo com Guggi ou Dik há anos. Eu ainda amo todos eles. Foram anos muito especiais que passamos juntos e o Virgin Prunes sempre serão uma parte de mim. 

* Texto anteriormente publicado em: http://www.audiograma.com.br/2018/05/interrogatorio-mary-dnellon/

MATÉRIA NA REVISTA BIZZ


SIOUXSIE AND THE BANSHEES - ATRAVÉS DO ESPELHO -
Matéria na revista BIZZ:
Caros leitores, infelizmente não podemos precisar a data ou ano de lançamento dessa edição da revista Bizz, mas, de qualquer maneira, a matéria que você encontra a seguir é muito interessante e vale a pena conferir.


TOP 12: 12 BANDAS AUSTRALIANAS QUE TODOS DEVERIAM ESCUTAR

Por: Vannucchi (introdução de John Pereira - Audiograma)

Da Oceania para o mundo: essa foi a trajetória de diversas bandas australianas nas últimas décadas e a nossa missão da vez é falar um pouco da música produzida na terra dos Cangurus, aborígenes e da ilha da Tasmânia. Qual seria a melhor forma senão apresentar uma lista? Foi assim que chegamos ao número de dez bandas formadas no País para fazer um resumo do que as cidades de Camberra, Sydney ou Melbourne podem nos oferecer no quesito musical.
Vamos lá?

DEAD CAN DANCE:

Propositalmente, vou iniciar a lista com uma das bandas mais surreais da face da Terra, o Dead Can Dance. Sua habilidade em penetrar profundamente a alma humana é incrível! Escutá-los produz uma espécie de catarse, de transe… proporciona uma sensação de deslizamento para fora do mundo físico de tal forma que, realmente, em relação às suas músicas, penso que “mortos podem dançar”.
As letras da banda também são brilhantes, mencionando com frequência figuras mitologias e religiosas, e servindo-se de uma rara e elogiável linguagem simbólica. Não há dúvidas de que estão entre as maiores proezas musicais da Austrália.

ACDC:

O AC/DC é uma das maiores obras-primas surgidas no Rock And Roll. A banda foi fundada no início da década de setenta pelos lendários irmãos Angus e Malcom Young que, ao longo de suas jornadas musicais, compuseram alguns dos maiores clássicos do Rock, como, por exemplo, “Back in Black” e “Highway to Hell”. O legado e sua influência do ACDC são atemporais!

Michael Hutchence, vocalista do INXS.
INXS:

Essa é daquelas bandas das quais a maior parte das pessoas gosta! É difícil escutar suas músicas sem se deixar envolver pelo agradável timbre da voz do carismático Michael Hutchence.

O INXS ofereceu ao mundo inúmeras músicas cujos encantos não se esgotam e trilhou uma belíssima jornada, até que, infelizmente, a história da banda foi abruptamente interrompida quando Hutchence tirou a própria vida, em 1997.

 THE CHURCH:

Uma banda meiga, daquelas que não pode faltar em discotecagens oitentistas!
As composições do The Church são uma mistura tradicionalismos New Wave com respaldos de música Pop. Apesar de suas qualidades, não possuem nenhum tipo de característica muito específica ou diferenciada. De qualquer forma, “Under The Milk Way” já vale a carreira da banda.
Aliás, falando nisso, no país natal da banda, essa faixa foi considerada a melhor canção dos últimos 21 anos, batendo ótimos concorrentes…

NICK CAVE AND THE BAD SEEDS:

Nick Cave é uma figura sombria, enigmática e fascinante que imortalizou-se nos vários projetos musicais dos quais fez parte, sendo que obteve destaque positivo em todos eles, principalmente ao lado do The Bad Seeds. 

É um artista versátil, capaz de soar poético em uma canção, e estrondoso em outra. Um fato curioso sobre este grande músico australiano, é que ele já foi casado com uma brasileira e viveu em São Paulo durante um período de sua vida. 

MIDNIGHT OIL:

Midnight Oil, uma das bandas australianas de maior destaque.
A banda mais amada dos surfistas e dos “praieiros”! O Midnight Oil tem um estilo muito próprio de compor e suas canções são altamente empolgantes!

É interessante ressaltar que grande parte do trabalho musical da banda carrega como temática a proteção ao meio ambiente e mensagens ecológicas e políticas.

Acho válido destrinchar as letras e conferir suas posturas críticas, já que, infelizmente, nos dias de hoje, a maior parte das composições musicais é arquitetada com letras cujos temas são terrivelmente vazios e clichês! Ainda bem que temos o Midnight Oil!

THE SAINTS:

Não apenas uma das principais bandas de Punk Rock da cena australiana, mas também, de todo o mundo, uma vez que o The Saints deu seus primeiros passos ainda em 1974, ou seja, época dos primórdios do movimento Punk.
A banda (literalmente) arrebentou e fez história com o single “(I’m) Stranded”.

CRIME AND CITY SOLUTION:

Um mito glorioso do Pós-Punk que, desde os primórdios, foi liderado por Simon Bonney, cuja marca é a sedutora voz e sua tonalidade monstruosa e sombria que alia-se com sua postura enlouquecedora em cima dos palcos! A banda se estruturou a partir de resquícios do Punk e da onda Dark, conseguindo criar um tipo de música que navega entre os dois gêneros citados. A melhor fase do Crime & City Solution conta com um dos melhores guitarristas que já existiu: Rowland Howard. 

E claro, eu jamais poderia deixar de citar que a banda fez uma fabulosa participação especial no filme Asas do Desejo, produção mais famosa do cineasta alemão Wim Wenders.

THESE IMORTAL SOULS: 

Banda formada pelos talentosos irmãos Harry e Rowland Howard, no final dos anos oitenta. Bem, considerando que essa dupla brilhante era a base por trás da produção musical, já dá para se imaginar a qualidade do resultado final, não é?

O These Immortal Souls é uma maravilha escrachante e lúgubre, recheada de deslumbrantes acordes de guitarra.

MEN AT WORK:

E aqui temos mais uma pérola da "terra dos cangurus". A banda Men At Work é um dos nomes mais venerados do Pop Rock oitentista.  Balançaram a década em questão com sua sonoridade original que une maravilhosamente, uma atmosfera de Rock And Roll com pitadas experimentais de Reggae. Destacaram-se especialmente pela música "Down Under" que até hoje é frequentemente tocada nas rádios.

BEE GEES:

Um dos maiores ícones dos anos 60 possuem raízes australianas. Não são todos que sabem, mas o Bee Gees também foi composto na terra dos cangurus. A banda deslanchou após o sucesso musical que alcançou com sua participação na trilha sonora do filme "Nos Embalos de Sábado à Noite". Seus hits continuam frequentemente sendo tocados e sua popularidade ao redor do mundo ainda é imensa. Certamente é uma das bandas mais bem sucedidas da Austrália.  
 
SILVERCHAIR (por John Pereira):

Para fechar, uma das bandas mais recentes dessa lista, ainda que não esteja mais em atividade (até segunda ordem). Daniel Johns, Chris Joannou e Ben Gillies apareceram para o mundo durante a década de 90 graças a hits como “Freak” e “Israel’s Son”.

No entanto, o projeto de dominação seria concluído com sucesso após o lançamento de Neon Ballroon, em 1999. Ou vai me dizer que você passou por aquele ano sem ouvir pelo menos uma vez “Ana’s Song” ou “Miss You Love”?

*Texto anteriormente publicado no site Audiograma: http://www.audiograma.com.br/2018/03/10-bandas-australianas-que-todo-mundo-deveria-ouvir/

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