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terça-feira, 16 de abril de 2024

VIDAS, VOZES E VULTOS: A IMPORTÂNCIA CULTURAL DO HOTEL CHELSEA NA HISTÓRIA DO ROCK

 Por Juliana Vannucchi

“Eu adorei esse lugar, sua elegância miserável e a história que ele guardava de forma tão possessiva... Muitos escreveram, conversaram e tiveram convulsões nessas casas de bonecas vitorianas. Tantas saias haviam balançado naquelas desgastadas escadas de mármore. Tantas almas transitórias se casaram, deixaram uma marca e sucumbiram aqui.”

Patti Smith

Construído entre os anos de 1883 e 1885 e inaugurado em 1884, o imponente Hotel Chelsea, que possui um total de doze andares e localiza-se na 222 West 23rd Street, figura entre os prédios mais antigos de New York, Atualmente, é considerado um importante ponto turístico. Na realidade, desde a época de sua construção, o hotel já despertava a atenção popular por ter sido o primeiro prédio comercial da cidade, por estar entre os mais altos e também por ser, desde os primórdios, visualmente expressivo. O espaço tornou-se especialmente conhecido por ser um dos locais mais emblemáticos da história do rock and roll, sendo palco de incicentes trágicos, zona de inspiração e abrigo para ícones deslocados do mundo da música. Ao longo do tempo, marcaram presença no Chelsea algumas das lendas mais prestigiadas da história do rock, como Iggy Pop, Jim Morrison, Patti Smith, Iggy Pop, John Cale, Patti Smith, Greatful Dead, Alice Cooper, Pink Floyd, Jeff Beck, Dee Dee Ramone, Leonard Cohen, Phil Lynott, Janis Joplin, Sid Vicious, Jimi Hendrix e muitos, muitos outros,  além de ter hospedado alguns dos nomes mais influentes da literatura mundial, como Allen Ginsberg, Mark Twian, Jack Kerouac, Arthur C. Clarke (que, inclusive, escreveu o o clássico “2001: Uma Odisseia no Espaço” num quarto do hotel) o casal de intelectuais Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre & muitos outros célebres escritores.  Ademais, cabe citar, ainda que brevemente, que muitos pintores, cineastas, fotógrafos, atores e atrizes dos mais conceituados tiveram passagem pelo Hotel Chelsea, dentre os quais, destacam-se Stanley Kubrick, Al Pacino e Dennis Hopper – mas a lista é muito mais extensa. Á título de curiosidade, vale dizer também que sobreviventes do Titanic passaram um tempo hospedados lá... 

O hotel em si, histórica e brevemente falando, oscilou entre momentos de ostentação e glória e de enfrentamento de crises. Durante os anos setenta, a maioria de seus ocupantes eram moradores fixos e, nesse período, o ambiente começou a entrar em situação declínio, tendo ocupações muito precárias e uma alarmante infestação de baratas. Isso, no entanto, não impediu, por exemplo, que estrelas do teatro e do cinema vivessem por lá. Foi um momento real de crise, mas que foi insuficiente para afastar a atenção pública. Na verdade, a aura decadente, de certa forma, apenas tornou o espaço mais interessantee charmoso para algumas pessoas, sendo que foi justamente no decorrer dos anos setenta que o ambiente se tornou propício e popular entre músicos e bandas de rock. Na época em questão, o uso indiscriminado de drogas e bebidas passou a imperar descontroladamente no hotel e um bordel operava em suas instalações. Era um ambiente, genuinamente perigoso, repleto de assalto, roubos, suicídios, morte e violência. Enfim... condições que muitos evitam e tantos outros buscam... 

Aliás, nesse ponto de nossa abordagem, é preciso mencionar também que há um lado bastante sombrio em relação à história do hotel, uma vez que várias mortes brutais aconteceram por lá, rendendo ao local a fama de mal-assombrado! A morte mais conhecida do hotel, sem dúvida foi a de Nancy Spungen, companheira de Sid Vicious, mítico baixista dos Sex Pistols, que encontrou o corpo da namorada debaixo de uma pia de banheiro, na manhã do dia 12 de outubro de 1978. Ela havia sido violentamente esfaqueada no abdômen. Sid confessou que eles tiveram uma forte discussão na noite anterior e, em desespero, após encontrar Nancy sem vida, tentou limpar a faca usada para matá-la. Ele foi acusado pelo crime sangrento e chegou a ser preso, mas sua fiança logo foi paga e o músico normalmente negava a autoria do crime, embira algumas fontes aleguem que tenha admitido em certas ocasiões. Vicious veio a óbito poucos meses depois do ocorrido, antes mesmo que acontecesse o julgamento do caso.  Rockets Redglare, um fornecedor de drogas que frequentava o local também foi acusado e aparentemente, assumiu o crime em círculos de amigos. Porém, de modo geral, devido a todos esses aspectos, até hoje, o assassinato de Spungen permanece sendo um evento nebuloso e envolto em mistérios.  Falando nesse lado obscuro, Dee Dee Ramone, famoso baixista do Ramones, chegou a escrever um livro chamado “Chelsea Horror Hotel” no qual relatou como foi a experiência de viver no Chelsea e, em seus registros, fala a respeito da presença de demônios e de energias atípicas. Entretanto, essas pinceladas sobrenaturais, parecem ter sido apenas uma cartada usada por Dee Dee para tornar seu livro mais atrativo.

O Hotel Chelsea foi um espaço cultural de extrema importância. Foi palco de incidentes, zona de inspiração e abrigo para ícones do rock and roll.

Reflitamos: Qual outro lugar no mundo foi capaz de atrair tantos espíritos talentosos e geniais, de áreas tão diferentes? Parece que tudo aconteceu naqueles quartos e corredores, habitados por uma clientela diversificada, pelos quais cambaleavam diariamente personalidades boêmias e transitavam figuras excêntricas, aspirantes a artistas, almas eufóricas, talentosas, depravadas e elegantes, que transformaram o espaço num campo minado decadente de drogas e álcool e ao mesmo tempo, num verdadeiro polo artístico no qual ocorriam experimentos de vanguarda. Desde seus primórdios, o hotel recebeu inquilinos muito variados, de ocupações e classes sociais bem distintas – e na maior parte das vezes, todos “juntos e misturados”. E, o mais importante é que o hotel sobreviveu a todo tipo de mudança. Leiamos e pensemos nas observações feitas pelo jornalista Pete Hamill sobre o público tão variado que passou por lá: "Radicais na década de 1930, marinheiros britânicos na década de 40, Beats na década de 50, hippies na década de 60, poseurs decadentes na década de 70". Ainda, dentro desse âmbito, é válido citar uma menção datada de 1993, publicada pelo The New York Times: "Teimosamente resistente à mudança, o Chelsea está - ainda - na moda." O repórter em questão ainda ilustrou o hotel da seguinte maneira: “É uma Torre de Babel de criatividade e mau comportamento que, no entanto, permaneceu um sucesso”. No contexto específico do rock and roll, enfoque de nosso texto, podemos considerar que o hotel serviu como um verdadeiro abrigo para almas marginalizadas, desajustadas e deslocadas. Foi um espaço quer surgiu de passagem ou mesmo residência para artistas que estavam existencialmente perdidos e/ou que precisavam de um ambiente confortável para poder produzir sua arte com maior liberdade. Nesse sentido, o Chelsea Hotel deixou como legado inúmeras histórias interessantes para os fãs do rock, como, por exemplo, o fatídico encontro entre Leonard Cohen e Janis Joplin, ocorrido num elevador, que acabou tornando-se um breve romance, cuja história foi imortalizada na canção “Chelsea Hotel #2”, na qual Cohen relata momentos íntimos vividos com a amante e expõe seus sentimentos de maneira honesta, eloquente e crua.

Joplin foi uma das tantas personalidades lendárias que marcou presença no Chelsea.

Andy Warhol, brilhante artista norte-americano, grande mestre da pop-art e guru do punk rock, usou o Hotel Chelsea para suas ousadas criações artísticas. Lá, em 1966, ao lado do coprodutor Paul Morrisey, ele gravou parte do filme “Chelsea Girls”, produção que mostra a vida cotidiana de algumas mulheres conhecidas por Andy e que viviam no local. É um longa de cunho experimental, bastante exótico, gravado com pessoas reais que interpretaram a si mesmas, e conduzido de maneira bem peculiar (vemos, por exemplo, imagens sendo mostradas na tela dividida ao meio, sendo um lado da tela em P&B e outro colorido). É um filme um pouco difícil de ser digerido e por isso, foi um tanto mal interpretado, recebendo bastante crítica negativa. Contudo, foi uma produção libertadora e que influenciou muitos cineastas de gerações seguintes. Curiosamente, cabe destacar que o título do filme inspirou o nome do primeiro álbum solo de Nico, ex-Velvet Underground, chamado “Chelsea Girl”.  Aliás, muitas músicas de alguns dos mais renomados mitos do rock foram influenciadas por vivências no local, ou fazem até mesmo alusões diretas ao hotel. É o caso da famosa “Third Week In The Chelsea”, de Jefferson Airplane, “We Will Fall”, clássico soturno do The Stooges, da balada “Midnight In Chelsea”, de Bon Jovi e tantos outros hinos atemporais. Além disso, o clip oficial da espetacular faixa “Edie (Ciao Baby)”, do The Cult, foi gravado nas intermediações do local e, assim, em certa medida, a música e o vídeo são uma verdadeira homenagem ao hotel.

Como pudemos observar, o Hotel Chelsea foi um recanto cultural que rendeu ao mundo incontáveis e brilhantes produções artísticas. Lá, pessoas imensamente talentosas sentiram-se suficientemente acolhidas e encontraram a atmosfera ideal para colocar suas ideias em prática e vivenciar suas liberdades criativas. Ademais, o Hotel Chelsea também foi um ambiente que ajudou particularmente a subcultura punk a se consolidar no cenário norte-americano, uma vez que vários músicos memoráveis que participaram do movimento em questão viveram e/ou se hospedaram no local. Por todos os aspectos listados e mencionados, esse solo consagrado, que também é caracterizado pela magia de sua bela arquitetura, se tornou, de modo geral, um point expressivo para a própria história social, ideológica e estética do rock and roll.

Referências:

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/amp/noticias/vitrine/historia-hotel-chelsea.phtml

https://veja.abril.com.br/comportamento/um-icone-renovado-o-retorno-do-chelsea-hotel-apos-11-anos-de-hiato/mobile

https://en.wikipedia.org/wiki/Hotel_Chelsea

https://www.vanityfair.com/culture/2013/10/chelsea-hotel-oral-history

https://www.kidsofdada.com/blogs/magazine/17972221-inside-the-chelsea-hotel

https://cademeuwhiskey.wordpress.com/2017/05/26/chelsea-historias-e-lendas-do-hotel-favorito-do-rock-nroll/

https://www.vanityfair.com/culture/2013/10/chelsea-hotel-oral-history

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