Fanzine Brasil

SIOUXSIE SIOUX - SOPROS DE VIDA

Grandes homens, assim como grandes tempos são um material explosivo interior do qual uma força imensa é acumulada (....)

“DISCO DA BANANA”- A OBRA PRIMA IGNORADA

Eu sabia que a música que fazíamos não podia ser ignorada

SEX PISTOLS - UM FENÔMENO SOCIAL

Os Sex Pistols foram uma das bandas de Rock mais influentes da história.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

AFINAL, COMO SURGIU O CINEMA?

Um breve questionamento e historio sobre o assunto.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

WOLF CITY - AMON DUUL II

Wolf City é um dos maiores clássicos do Rock Progressivo. É um álbum que celebra magicamente este gênero musical, e que é foi gravado por artistas imensamente talentosos

sábado, 16 de dezembro de 2023

A PODEROSA KIM DEAL

 Por Juliana Vannucchi

Kim Deal é uma das baixistas mais conceituadas da história do rock. Ela foi responsável por ajudar a criar alguns dos hits mais célebres da banda Pixies, aclamado grupo de rock alternativo noventista que viveu seu auge justamente no período em que Kim esteve na banda, sendo inegável que ela foi o ponto forte responsável por alavancar o grupo americano. A baixista participou das gravações dos discos “Come on Pilgrim” (1987), do glorioso e memorável “Surfer Rosa” (1988), do popular (e talvez mais qualificado da banda) “Doolittle” (1989), do primoroso “Bossanova” (1990) e, por fim, do “Trompe le Monde” (1991), sendo esse último, em termos gerais, já bem menos cativante e original do que os outros. Os Pixies se separaram em 1993, devido a uma série de divergências e brigas entre Deal e o vocalista Black Francis. Eles se acusaram e se alfinetaram mutuamente ao longo dos anos, deixando claro que a relação entre ambos na banda era amarga e que sempre houve um certo rancor entre os dois. Numa entrevista mais recente, concedida um tempo atrás ao jornal britânico The Guardian, Francis finalmente assumiu uma postura ligeiramente mais branda ao comentar sobre Kim: “Fizemos muitas turnês juntos, escrevemos juntos e gravamos todos aqueles discos juntos...mas nada é para sempre”. O vocalista, apesar disso, também revelou que os dois não conversam há muito tempo.

Kim tem uma irmã gêmea chamada Kelley Deal, com a qual formou a banda The Breeders, cuja atmosfera musical é elogiável e essencialmente falando, lembra bastante a sonoridade dos Pixies. Certa vez, na adolescência, as irmãs  pediram um teclado Yamaha de aniversário. Quando ganharam o instrumento, usaram o assento sanitário do avô como suporte e, por meio de tal improviso, começaram a frequentar diversos bares pelo distrito de Oregon. Esse fato inusitado foi o ponto de partida que lançaria Deal ao universo do rock. No entanto, fora do campo musical, Kim Deal fez um curso ligado a tecnologia médica e, curiosamente, chegou a atuar profissionalmente como técnica de laboratório na área de biologia celular. Nesse período de sua vida, conheceu John Murphy, com quem iniciou um relacionamento, vindo a se casar em 1985. Ela, então, mudou-se para Boston, onde sua afinidade com a indústria musical e com o rock se estreitou, conforme refletiu certa vez: “Achei a cidade muito vital e muito interessante”. Deal se recordou de folhear o jornal Boston Phoenix e sempre se deparar com anúncios de bandas que precisavam de músicos: “Diziam frases como ‘preciso de um baterista’. Atitude profissional apenas. Costeletas: Obrigatório.’ (...) mas então, certa vez me deparei com um que dizia algo sobre não ter costeletas. Foi tão bom. Foi para quem liguei e eles estavam procurando por ‘baixista’ e foi assim que nós começamos a tocar juntos.”

 

Fora dos palcos, Kim Deal gosta de comer chocolate e se interessa por plantas.

O grupo The Breeders, que obteve bastante reconhecimento ao longo de sua carreira, chegou a contar com a talentosa Kim Gordon na produção do vídeo da faixa “Cannonball”, presente no álbum “The Splash”. Deal, certa vez, lembrou-se do quanto estava nervosa quando perguntou se a baixista do Sonic Youth poderia participar do disco: "Nós simplesmente perguntamos a ela. Eu não a conhecia. Não tínhamos amizade. Fiquei muito nervosa quando perguntei, pensei que ela não iria querer”. É interessante e inspirador pensar que existiu esse breve contato artístico entre Kim Deal e Kim Gordon, duas baixistas consagradas para os amantes do rock alternativo dos anos 90.

Aproveitando o clima natalino que se aproxima, vale citar aqui uma declaração de Kim Deal a respeito das músicas de Natal: "As canções cristãs usam todas essas coisas... se você der a volta na montanha, e se trabalhar duro com o martelo, e encontrar um carpinteiro chamado Jesus Cristo, e viajar quilômetros e quilômetros... todos esses simbolismos estúpidos que o povo cristão usa”. A ex-integrante dos Pixies parece não ser muito religiosa. Ela chegou a refletir sobre o assunto numa ocasião, assumindo uma postura consideravelmente ateísta ao declarar que passou parte da sua vida buscando uma divindade, mas como não encontrou, acha que não há nada do outro lado.

Há quem diga que Kim Deal tem uma personalidade forte e que seu jeito durão foi um dos motivos que causaram problemas com a banda Pixies. Mas esses aspectos são considerações supérfluas. O que vale é nos concentrarmos no legado, nas inesquecíveis melodias de baixo que ela gravou com a referida banda e que são capazes de elevar qualquer ouvinte a um estado de êxtase. Seu talento é fora da curva, seu domínio instrumental e suas ideias são simplesmente extraordinários. 

Referências:

https://www.theguardian.com/music/2022/feb/03/pixies-frontman-black-francis-kim-deal-were-always-friends-but-nothing-is-for-ever

https://www.abc.net.au/listen/doublej/music-reads/features/kim-deal-breeders-pixies-last-splash-cannonball-1993-interview/13370482

https://writebyte.com/pages/art_deal.htm

https://www.pastemagazine.com/music/the-breeders/the-breeders-last-splash-interview


domingo, 10 de dezembro de 2023

MARIANNE FAITHFULL: A INCRÍVEL TRAJETÓRIA DE UMA LENDA DOS ANOS 60

 Por Juliana Vannucchi

Marianne Faithfull é uma prolífica cantora inglesa, que se tornou um verdadeiro ícone cultural dos anos 60, tendo sobrevivido às loucuras e excessos experenciados na referida década. Sua vasta e original discografia é composta por um total de mais de vinte álbuns de estúdio, nos quais encontram-se ritmos e melodias notavelmente diversificados. Além do imenso legado deixado no universo musical, a britânica também se popularizou por seus papéis no cinema e principalmente pelo relacionamento que teve com Mick Jagger, que a levou a se tornar uma musa inspiradora de algumas das faixas mais conhecidas dos Stones. Cabe observar que a carreira artística de Faithfull, embora muito abundante e digna de elogios, foi amplamente encoberta pela fama de Mick Jagger, uma vez que o relacionamento com o astro do rock a colacava, de modo geral, em segundo plano, levando-a, inclusive, a vivenciar ao lado dele alguns escândalos que prejudicaram sua carreira como atriz. Apesar de Jagger ter contribuído para que a imagem dela fosse comprometida, Faithfull, por sua vez, ajudou, ainda que indiretamente, a alavancar a imagem do líder dos Stones, tendo inspirado várias de suas músicas e até mesmo tendo ajudado a escrever ao menos uma letra de sucesso da banda. Mas ainda que um tanto ofuscada por Mick Jagger, ela conquistou seu espaço, principalmente por sua voz fabulosa que é capaz de tirar os ouvintes da dimensão terrestre e também por seu espírito incansável. Infelizmente, quando o namoro entre os dois acabou, a cantora perdeu-se completamente no  uso compulsivo de álcool e drogas...  

 

Faithfull simplesmente sobreviveu através da produção artística que lhe serviu como combustível.

Faithfull sempre portou e propagou uma postura bastante underground e destemida, tendo, inclusive se tornado referência para vários nomes da cena punk de Nova York (como Lydia Lunch, Bush Tetras e vários outros). Ela chegou a viver como andarilha nas ruas londrinas em função de seu vício em heroína e sua vida foi marcada por crises turbulentas e períodos decadentes, que foram sensivelmente transportados para muitas de suas poderosas e sombrias letras, sempre tão carregadas de emoção. Seu jeito melancólico de cantar e as poesias muitas vezes autobiográficas, inspiradas em suas desventuras, em seus medos, desejos, paixões e vícios, a transformaram numa personalidade emblemática, memorável e bastante cativante. Aliás, uma das pessoas que ela conquistou e com a qual até mesmo contribuiu artisticamente foi David Bowie. Podemos dizer que Faithfull simplesmente sobreviveu através da produção artística que lhe serviu como combustível e como um ponto de apoio necessário sem o qual, talvez, ela não tivesse aguentado enfrentar alguns dos duros e perigosos momentos que atravessou em sua vida.

No decorrer de sua história, a elegante Marianne Faithfull já recebeu inúmeras e merecidas honrarias culturais e permanece sendo um nome aclamado ao redor do mundo. Nutre uma forte amizade com grandes nomes da música, tal como Warren Ellis, Nick Cave e Brian Eno, além de ter influenciado significativamente muitos músicos e bandas importantes. Em 2022, foi anunciado que Marianne estava internada numa clínica afim de reabilitar-se de uma série de sequelas deixadas pela Covid-19, doença que a atacou fortemente, fazendo-a ficar internada durante três semanas. Força é algo que não falta a essa mulher: a incrível Marianne Faithfull já superou um câncer de mama, além de também ter enfrando um quadro grave de hepatite C, e sobrevivido a uma queda que a fez quebrar seriamente o quadril. A vigorosa e sempre inspirada fera inglesa também já sobreviveu a uma grande infecção e venceu um sério quadro de anorexia. Faithfull  possui uma história de vida muito impressionante. Ela já foi do glamour ao inferno, dos palcos aos suburbios... mas o fato é que ela sempre se manteve afastada das regras sociais, esteve longe do convencional e, sobretudo, das normas de comportamento esperadas para uma mulher dos anos 60. Essa donzela decadente nos ensina a sermos mais corajosos, a suportarmos dores que parecem insuperáveis e, claro, a transformarmos todos os pesares, aflições e calamidades existenciais em poesia. 

Referências:

http://www.mariannefaithfull.org.uk/biography/

https://www.nytimes.com/2021/04/22/arts/music/marianne-faithfull-she-walks-in-beauty.html

https://www.theguardian.com/music/2021/jan/15/marianne-faithfull-i-was-in-a-dark-place-presumably-it-was-death


domingo, 3 de dezembro de 2023

ALÉM DO THE CURE: A TRAJETÓRIA DE ROBERT SMITH

 Por Juliana Vannucchi

Robert Smith, aclamado vocalista do The Cure, é imensamente conhecido por sua voz ímpar, por seus cabelos desgrenhados, seu borrado batom vermelho e pelos hits icônicos e históricos de sua banda. Contudo, o que nem todos conhecem é a sua trajetória de vida, até porque, convenhamos, o músico sempre foi muito discreto em relação a isso. Felizmente, porém, apesar de sua discrição, pesquisas mais acuradas e entrevistas nos revelam aspectos bem interessantes da vida do vocalista do The Cure. A história de Robert começou em 21 de abril (data lembrada pelos brasileiros por causa de Tiradentes) de 1959, em Blackpool, pacata cidade litorânea inglesa, localizada no norte do país. Ele foi o terceiro filho (vale citar a título de curiosidade que Janet, irmã de Robert, é casada com Porl Thompson, lendário guitarrista do The Cure) do casal Rita Mary e James Alexander Smith. Sua família mudou duas vezes de cidade e, consequentemente, Robert estudou em várias escolas diferentes ao longo da infância e da adolescência. Smith cresceu cercado por uma atmosfera familiar católica que fez sentido para ele durante um período de sua vida, embora posteriormente, tenha assumido uma postura mais cética em relação à existência de Deus: “Venho de uma família religiosa e por isso houve momentos em que senti a unidade das coisas, mas elas nunca duraram, e passei a crer que é apenas o medo que leva as pessoas à religião”. Robert Smith teve afinidade com a música desde tenra idade, aprendendo inicialmente a tocar piano e, logo depois, ainda na infância, familiarizando-se com a guitarra, após aprender alguns acordes com seu irmão. Posteriormente, buscou aperfeiçoar-se no instrumento através de aulas feitas com um guitarrista profissional.

A formação embrionária do The Cure data de 1976, quando Smith juntou-se aos colegas de escola. Lol Tolhurst assumiu a bateria, Michael Dempsey tocava baixo e o guitarrista era Porl Thompson. O grupo, nessa fase inicial, chamava-se “Easy Cure”. Nessa época, o movimento punk inglês estava vigorosamente em ascensão. O jovem Robert acompanhou de perto a eclosão e o auge desse novo fenômeno. Admirava principalmente bandas como Stranglers, Buzzcocks e Siouxsie And The Banshees, tendo, inclusive, tocado no último grupo durante um tempo e estreitado laços com Steven Severin, ao lado do qual formou uma banda chamada The Glove. Entretanto, o The Cure nunca esteve musicalmente limitado a influências provenientes do punk rock e foi assumindo, ao longo de sua história, uma tonalidade mais sombria ou, por vezes, bastante pop. Até porque Smith cresceu escutando outras bandas como Beatles e Pink Floyd e, portanto, carregava inúmeras outras referências musicais quando formou o The Cure. Ademais, sua alma portava uma enorme paixão pela literatura e uma sensibilidade que certamente se distanciava da agressividade característica do punk. Durante a adolescência, por exemplo, apreciava Edgar Allan Poe e Rimbaud. Posteriormente, mais maduro, passou a interessar-se fortemente por filósofos como Albert Camus e Jean-Paul Sartre, sendo grande admirador de ambos e tendo grande interesse pelo modo como Sartre discorre a respeito da condição humana. Smith também já citou Charles Baudelaire, John Milton, Nick Hornby e Franz Kafka como alguns de seus escritores favoritos. A respeito desse último, chegou a declarar: "“Pela primeira vez, a voz do narrador era minha. Eu era o narrador. Eu estava me misturando com suas palavras. Li e reli todos os seus livros: O Processo, A Metamorfose, O Castelo… Sua influência na minha escrita é enorme, como em ‘Uma carta para Elise’, inspirada diretamente em suas Cartas para Felice". Penelope Farmer é outra autora que o marcou e um de seus livros inspirou a letra "Charlotte Sometimes", nome de um dos livros da escritora. 

 

O The Cure segue firme e criativo, atraindo diversas gerações, conquistando novos fãs e aquecendo o coração dos admiradores mais antigos. É uma banda que sobreviveu por méritos.

Por tais aspectos, podemos observar que enquanto inúmeras bandas punks voltaram-se, por exemplo, para letras de cunho político e social, Smith, que já alegou preferir manter-se distante de tais conteúdos, possui letras fortemente sentimentais cujas ideias muitas vezes foram provenientes de estados alterados de consciência por ele experimentados. 

Robert Smith casou-se em 1988. O vocalista do The Cure conheceu Mary Poole, sua atual esposa, na época da escola. Eles se aproximaram depois que ele a convidou para ser sua dupla numa atividade. Estão juntos desde os 14 anos. Nunca tiveram filhos e Smith certa vez declarou não se arrepender disso. No entanto, há diversas fontes que mencionam que os dois tem 25 sobrinhos e sobrinhas. Robert se inspirou numa viagem com Mary para escrever “Just Like Heaven” e, aliás, é ela que aparece dançando com o vocalista no vídeo oficial da música. Parece ser uma das canções das quais ele mais se orgulha. Smith chegou a declarar que quando terminou de escrevê-la, pensou que nunca mais seria capaz de escrever algo tão bom. No estúdio, os integrantes do The Cure chegaram a brincar, dizendo que poderiam até fazer as malas e parar de criar mais: “Felizmente, não fizemos isso”, brincou Smith ao contar esse episódio. Cabe dizer que “Love Song” foi um presente de casamento de Smith para Mary!

Atualmente, Smith continua sua performance de maneira impecável. Certa vez, quando completou 60 anos, disse que não sentia a idade. Nos palcos, essa declaração parece absolutamente confirmada, pois Smith parece estar sempre em transe, convidando a plateia a mergulhar num estado catártico. A esse respeito, numa entrevista, o vocalista do The Cure refletiu: “Quando estou cantando e tocando, sou meio que transportado (...) Parece algo meio hippie, mas sempre foi assim comigo. Eu simplesmente sinto que se estou me perdendo nas músicas, acho que há uma boa chance de que todos os outros também estejam”. O The Cure segue firme e criativo, atraindo diversas gerações, conquistando novos fãs e aquecendo o coração dos admiradores mais antigos. É uma banda que sobreviveu por méritos e uma das poucas do remanescente punk que ainda continua poderosa, estável e qualificada.


Referências:

https://amp.theguardian.com/music/2018/jun/07/the-cures-robert-smith-i-was-very-optimistic-when-i-was-young-now-im-the-opposite

https://post-punk.com/six-different-ways-the-cures-robert-smith-won-our-hearts/amp/

https://www.irishtimes.com/culture/music/the-cure-s-robert-smith-i-survived-a-lot-of-people-in-london-didn-t-1.3538003

https://faroutmagazine.co.uk/how-punk-changed-the-cure-singer-robert-smiths-life/

https://www.rollingstone.com/music/music-features/cure-band-robert-smith-interview-40-live-893005/

https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwj1he6l7_GCAxWyppUCHc7EAMkQFnoECBcQAQ&url=https%3A%2F%2Ffaroutmagazine.co.uk%2Fthe-cure-robert-smith-12-favourite-books-list%2F&usg=AOvVaw0-vBt23iYKGh7FmRJYA_WQ&opi=89978449

https://amp.theguardian.com/music/2018/jun/07/the-cures-robert-smith-i-was-very-optimistic-when-i-was-young-now-im-the-opposite

TwitterFacebookRSS FeedEmail