Fanzine Brasil

SIOUXSIE SIOUX - SOPROS DE VIDA

Grandes homens, assim como grandes tempos são um material explosivo interior do qual uma força imensa é acumulada (....)

“DISCO DA BANANA”- A OBRA PRIMA IGNORADA

Eu sabia que a música que fazíamos não podia ser ignorada

SEX PISTOLS - UM FENÔMENO SOCIAL

Os Sex Pistols foram uma das bandas de Rock mais influentes da história.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

AFINAL, COMO SURGIU O CINEMA?

Um breve questionamento e historio sobre o assunto.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

WOLF CITY - AMON DUUL II

Wolf City é um dos maiores clássicos do Rock Progressivo. É um álbum que celebra magicamente este gênero musical, e que é foi gravado por artistas imensamente talentosos

sábado, 20 de agosto de 2022

SHOWS MEMORÁVEIS, UMA VISÃO LIBERTÁRIA DO MUNDO E LANÇAMENTOS FUTUROS: A JORNADA ÉPICA DA BANDA BALLET CLANDESTINO

 Por: Vannucchi

A banda paulistana Ballet Clandestino celebra 10 anos de carreira em 2022. Atualmente, o grupo figura entre os principais nomes da cena independente do país. Conversamos o guitarrista e vocalista Vincius Primo, que nos contou sobre os momentos mais marcantes da história do trio, sobre os planos futuros, sobre a cena underground brasileira e outros assuntos. Confira e deixe sue comentário aqui nos contando se você já assistiu algum show da banda e qual é a sua música favorita! 

1. Parabéns pelos dez anos do Ballet Clandestino! Você imaginava que chegaria tão longe? Qual foi o maior desafio enfrentado nessa década?  

Poxa! Muito obrigado, Juliana! E queria aproveitar aqui o espaço pra agradecer a matéria que você fez sobre esses nossos 10 anos para o Fanzine Brasil. 

Bem, sinceramente, imaginar, nós imaginamos, sim, ainda que tenha sido de forma despretensiosa e inocente – já penso, aqui, por exemplo, nos 20 anos rsrs – mas não tínhamos certeza de que realmente fôssemos chegar a essa marca tão simbólica e especial, primeiramente, porque esses 10 anos se passaram muito rapidamente. Ademais, em 2015, quando entramos no estúdio para gravar nosso primeiro EP, foi justamente por medo de que a banda acabasse sem ter deixado nada registrado. Isso já havia acontecido com outros projetos musicais que eu tive e o Ballet, desde quando era só um projeto de estúdio sem maiores pretensões, sempre foi para mim algo diferente e especial. Então, levando tudo isso em conta, eu simplesmente não queria deixar de fazer um registro, nem que fosse só para eu ouvir depois de anos e lembrar da experiência, sabe? E foi justamente a partir da gravação desse EP inaugural que o projeto se solidificou e nossa história começou a fluir de uma maneira incrível.

2. Qual é a melhor memória que você tem dos momentos vividos com a banda? 

Já são 10 anos, então há muitas boas recordações de shows e pessoas especiais que conhecemos em decorrência da banda. É difícil citar uma memória ou outra em particular, mas posso dizer que as viagens para tocar fora da nossa cidade sempre deixam histórias legais gravadas na mente. Foi o caso do Woodgothic, em 2017, da Decadence em Araras, no interior de São Paulo, em 2018... das vezes em que fomos ao RJ, de quando tocamos em Juiz de Fora, que também foi uma ocasião muito legal e etc. Essa possibilidade de podermos ir para outros lugares em consequência da música que fazemos é sempre muito boa e é algo gratificante!

3. Vocês têm um calendário de shows bem cheio, né? Pelo que sei, há planos para tocar fora do país. Já há data para isso? 

Com essa trégua da pandemia e com os shows voltando a acontecer, esperamos mesmo ter uma agenda mais cheia, seja para tocar aqui em São Paulo ou fora da capital. Nas apresentações que fizemos em 2022, reparamos que o público tem comparecido em maior número do que antes da pandemia e isso motiva bastante! Nos faz querer tocar mais. Vale dizer que lançamos nosso último EP, o Descompasso Cinza, em 2020, durante a pandemia e não tivemos show de lançamento e nem nada disso. Então, devido a esse contexto, agora queremos mesmo é estar nos palcos.

Sobre uma possível turnê fora do Brasil: é uma vontade grande que temos. Antes da pandemia estávamos tentando “desenhar” a melhor forma de colocar esse plano em prática. Agora, porém, temos que repensar isso e tentar viabilizar a possibilidade de isso acontecer da melhor forma possível para nós dentro dessas circunstâncias atuais.

 

"Muitas letras que escrevo inspiradas em livros que leio".

4. Como você vê a atual cena independente do país? Está mais fortalecida desde que você iniciou sua trajetória? 

O cenário dito independente hoje no Brasil, eu enxergo da seguinte forma: como não há um grande espaço da grande mídia hoje para o rock – como havia há alguns anos atrás, por exemplo – existe, então, dentro da própria cena independente um certo “mainstream underground”, que diz respeito às bandas que tem um selo apoiando os seus lançamentos, são vinculadas a agências que marcam seus shows e etc., mas, seguem tendo o status de banda independente, porque não estão na grande mídia. E existe, de fato, as bandas que são independentes de tudo, sem selo, sem qualquer apoio e tudo é feito pelos integrantes da melhor forma que conseguem fazer.  E é onde nós nos incluímos.

Não vejo isso de forma ruim e tampouco sei explicar por quais razões isso ocorre. Mas é como enxergo a cena independe hoje no Brasil. Todo o rock parece ter ficado “independente”. Nós somos uma banda oriunda da cena punk de São Paulo e, por isso, sempre estivemos bem à margem de muita coisa. E foi dessa forma que aprendemos a fazer as coisas como banda.

5. Qual foi o acontecimento mais inusitado que vocês viveram na carreira? 

Com certeza chegar aos 10 anos, haha. Seguimos tocando, compondo e ainda acreditando no grupo, simplesmente pelo fato de que amamos tocar e fazer música, antes de qualquer coisa, para nós mesmos!

6. Vocês pretendem lançar algum material novo este ano? 

Queremos lançar um novo EP até o final desse ano (2022). Já temos o nome dele definido e a capa. Serão 4 sons e já estamos ensaiando e terminando os arranjos para que possamos gravar e lançar tudo ainda esse ano.

7. Qual membro da banda é o principal letrista? Quais são os temas que mais se destacam ao longo da discografia de vocês?

Todos na banda escrevem letras. Assim como também todos chegam com riffs, ou linhas de baixo, esboços a partir dos quais desenvolvemos algo que virá a ser uma música. Às vezes acontece de alguém já trazer a música pronta, com introdução, letra e tudo. É assim, desde o início, todos compõem. Quando o Rocero estava na bateria ele também trazia ideias para a guitarra, linhas de baixo e letras. Ele é autor de algumas letras como Escolhas, "Eterno Vazio, Contra o Tempo... E com o Tiofrey também rola assim, a letra da faixa Pés Descalços - que está no nosso último EP, o Descompasso Cinza – é dele. Assim como a ideia do nome do EP - Descompasso Cinza - também foi dele.  E tudo isso acontece de forma muito natural, pois todos se sentem à vontade para trazer as ideias de música, letra e arte. 

Sobre os temas, mesmo que abordados de diferentes maneiras, às vezes uma visão mais ampla pensando na sociedade, às vezes trata-se de algo mais voltado para o sentimento do indivíduo no meio da sociedade, sempre expomos uma visão libertária do mundo. Questionamos nas letras os valores da sociedade capitalista e alienada, propondo uma ruptura com está forma de viver que está posta para todos nós.

No caso, por exemplo, das letras que eu escrevo, posso dizer que muitas são inspiradas em livros que leio. É o caso da Substantivo Abstrato, Falsas Necessidades, Impróprio Necessário e por aí vai. Praticamente todas as minhas ideias para letras surgem a partir de algo que leio. Seja uma notícia, uma poesia ou na maioria dos casos, ou, conforme citei, livros.

 

"Espero que nossa música sirva como companhia, que ajude a aliviar alguma possível tensão e, sobretudo, que desperte alguma reflexão (...)"
 

8. Por que vocês optam por lançar materiais físicos. Eu, particularmente, sempre prefiro materiais assim. Mas atualmente, a maioria opta por conteúdos digitais. Quais são as vantagens e desvantagens de ambos?

Acredito que o material físico ainda tenha seu charme e valor para nós que começamos a ouvir música dessa forma. Através desses suportes, seja vinil, CD, etc... Porém, atualmente a questão do digital deixa o acesso à música muito mais fácil, seja pelo valor que uma plataforma de streaming cobra, seja pela praticidade de você estar em qualquer lugar e poder ouvir ali a faixa que quiser no seu celular, por exemplo. E a música não deixa de ser “menos” música porque você está ouvindo em streaming ou qualquer outro formato digital. Além disso, é inegável que mesmo quem compra o material físico, muitas vezes acaba também consumindo música via plataformas digitais.

Como disse acima, o material físico tem seu charme e também tem seu “fetiche” de colecionador. E há também a questão do valor alto, que muitas vezes deixa desinteressante a possibilidade de lançar o material desse jeito.

Às vezes vejo o custo de que algumas bandas cobram pelo merchan (camisetas e tal) e isso me faz entender o porque o rock hoje em dia possui seu maior público composto por pessoas na faixa dos 30 anos. Um adolescente, sem emprego e pertencente a uma realidade como está em que nós viemos, jamais teria condições de comprar uma camiseta de banda no valor que é cobrado atualmente por muitos grupos. Hoje, há bandas que vendem até café com seus nomes. Certas coisas eu não entendo. Nem é crítica. Mas é que realmente não consigo entender esse lance de vender café, cerveja, uma linha de um monte produtos com o nome da banda que não tem nada a ver com a o universo musical. Daqui a pouco tem até sabonete... hahaha.

Claro que acabo enxergando nisso tudo um movimento existente para compensar o fato de as pessoas não precisarem comprar o material físico sobre o qual comentei acima, para poder ter aceso à música da banda. E eis que então cria-se essa gama de produtos diversos, de certa forma, até meio bizarros, contendo a logomarca da banda.

Imagine, por exemplo, um rapaz de 16 anos saindo de casa pra ir a um show. Ele pede dinheiro aos pais e quando volta diz que comprou um café da banda... É surreal isso... Por essas e outras o rock está deixando de dialogar com o público jovem.

Sobre nossos lançamentos físicos, na verdade rolou com nossos 3 primeiros EPs, que saíram em fita K7, com uma tiragem de 50 cópias cada um e foram feitos por nós mesmos. Algum deles saiu como .RUIR.Records que, na verdade, sou eu mesmo.

E teve o split ao vivo com a banda Tempos de Morte, que também saiu em K7 graças ao Filipe da VladTapes, que idealizou tudo, desde o show, captação do áudio, gravação das fitas e outros detalhes... O cara é um guerreiro do underground! Além de sempre apoiar as bandas nos shows ainda mantém a VladTapes como selo que dá a oportunidade de bandas terem os seus sons lançados num formato físico super caprichado. A produção de trabalho K7 é praticamente um trabalho artesanal.

9. Que papel vocês esperam que a música de vocês desempenhe não vida dos ouvintes? 

Espero que sirva como companhia, que ajude a aliviar alguma possível tensão e, sobretudo, que desperte alguma reflexão para algo de maior importância. Mas que também sirva como diversão. A música tem que ser tudo isso, né?

10. Como vocês gostariam de estar daqui dez anos? 

Esperamos continuar tocando, lançando material novo e podendo seguir com essa grande aventura que é manter uma banda na ativa. Também espero que continuemos conhecendo pessoas e lugares através de algo que nós fazemos com tanto prazer!

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

ZINE CAST - #00: LOU REED, O POETA SELVAGEM DO ROCK 'N' ROLL

Produção: Fanzine Brasil

Edição: Sidan Rogozinski

O nosso episódio inaugural explora o legado artístico de um dos maiores nomes da história do Rock & Roll: Lou Reed, um compositor selvagem e subversivo que se firmou como um dos maiores nomes do protopunk. Sua proposta lírica abordava temáticas incomuns, expondo faces sombrias e niilistas da existência, cujos protagonistas eram anti-heróis e rebeldes. A forma de cantar de Lou misturava melodias com uma declamação poética mais livre e despretensiosa. Juliana Vannucchi convidou o escritor Camilo Nascimento para uma conversa descontraída através da qual a dupla buscou mergulhar nas produções dessa lenda desafiadora das tradições, chamada Lou Reed. 

https://soundcloud.com/juliana-vannucchi/zinecast-00-lou-reed-o-poeta-selvagem-do-rock-com-camilo-nascimento


 

terça-feira, 2 de agosto de 2022

THE ONLY ONES: VALE A PENA CONHECER A LENDÁRIA BANDA DE PETER PERRETT

Por Juliana Vannucchi

A década de setenta foi um período de efervescência para o rock e, tanto no Reino Unido quanto nos Estados Unidos, esse gênero musical passava por grandes transformações estéticas. Na época, o protopunk estava consolidado e inspirava o nascimento do punk rock. Inúmeras bandas qualificadas surgiram nesse período, e uma delas foi a icônica The Only Ones, surgida em Londres, no ano de 1976 e composta por Peter Perrett, Alan Mair, John Perry e Mike Kellie.

O primeiro álbum do grupo veio à tona em 1978 e contava com a faixa "Another Girl, Another Planet", um dos maiores clássicos dessa década e maior sucesso da história do The Only Ones. Posteriormente, a banda lançou apenas duas outras gravações de estúdio, separando-se em 1982 e se reunindo brevemente apenas em 2007. De modo geral, o The Only Ones não teve nem uma década de existência, porém, esse breve tempo de atividade foi suficiente para que o quarteto cravasse seu nome na história do rock. Ademais, a sonoridade que produziram era dinâmica e muito distinta daquilo que o mercado londrino consumia – tanto no que diz respeito ao punk quanto em relação ao pós-punk. Isso talvez tenha os ofuscado um pouco e certamente eles não interessavam tanto à grande indústria e aos meios de comunicação. De qualquer forma, obtiveram sucesso e chegaram, inclusive, a fazer algum sucesso no Brasil, onde são conhecidos pelos fãs de rock alternativo e pelos amantes do punk rock.

 

Peter Perrett é um dos grandes nomes dos anos setenta
 

Peter Perrett, vocalista, compositor e virtuoso guitarrista, merece aqui uma atenção especial: ele é reconhecido como um dos nomes mais influentes e originais dos anos setenta. Linhas de guitarra que exploram texturas diversificadas mesclam-se com sua voz rouca, diferenciada, apaixonante e poética, que lança uma espécie de feitiço no ouvinte: uma vez que você escuta o timbre da voz de Perrett, você se torna refém dela para sempre. Depois que o The Only Ones se separou, Perrett aventurou-se no grupo The One durante os anos noventa, embora esse projeto musical não tenha emplacado. Bem mais tarde, em 2017, lançou seu primeiro álbum solo, "How The West Was Won", e depois o "Humanworld", duas obras de arte primorosas em todos os aspectos possíveis. Aliás, muitos indagam se o rock ainda vive. Se você tem dúvidas em relação a isso, simplesmente escute os dois discos solos de Perrett e navegue pelo legado deste grande artista inglês que são muito originais e resgatam com maestria a aura do rock setentista.  

 


 




OBRAS DE FOTÓGRAFO BRASILEIRO SÃO DESTAQUE NA EUROPA

Por Juliana Vannucchi

Nascido em Belém, no Pará, o fotógrafo Bruno Cecim, atualmente, é considerado uma referência nacional em assuntos ligados à Amazônia, aos povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, além de se destacar quando o tema é ecologia. Trabalhando com cinema e fotografia há mais de vinte anos, tem obtido cada vez mais reconhecimento no Brasil, e ultimamente as suas obras também vem atraindo olhares internacionais.

Os primeiros passos de sua renomada carreira foram dados no ano de 2000. Desde então, Cecim ministrou diversos cursos, workshops e palestras sobre fotografia, fotojornalismo e cinema. Ao longo de sua trajetória, o artista paraense participou de inúmeras exposições de arte e de fotografia, como “O Olhar que Vem da Terra”, na Galeria Virgílio, em São Paulo, em 2012, e uma exposição organizada pela Arfoc-Associação de Repórteres Fotográfico e Cinematográficos do Estado de São Paulo, em 2008. Bruno também tem alguns de seus curtas-metragens selecionados para festivais de cinema, como Mostra AudioVisual Paulista, Cinefest e Mostra Sesc Belém de Cinema. Vale citar ainda que em prolífica carreira, importantes personalidades foram fotografadas por ele: Lula, José Serra, Alckmim, Pelé, Ronaldo Fenômeno, Gisele Bündchen e até o Papa Bento XVI.  Todos esses registros foram publicados nos principais jornais, revistas e portais de notícias nacionais.

O ano de 2022, particularmente, está sendo bastante proveitoso para Bruno Cecim, que ultrapassou as fronteiras do país para presentear o continente europeu com suas fotografias, que são não apenas poéticas e criativas, mas também críticas e embutidas de propostas reflexivas. No primeiro semestre deste ano, o artista participou de uma exposição ambiental na galeria MADS Art Galllery, em Milão, na Itália, na qual expôs uma obra intitulada “Legado”.  Cecim criou essa série fotográfica focada nos índios do Sul do Pará: “Nesta série, eu quis apresentar os indígenas em seu contexto histórico-cultural, porém com as marcas deixadas pelo colonizador, ou melhor, pelo opressor, que destrói a natureza e a cultura do lugar”. Destaque entre mais de 120 artistas da exposição, a sua participação lhe rendeu um prêmio na categoria Especial, o que o levou a participar de outra exposição, chamada “Ars Tempus”, também em Milão. Dessa vez, apresentou uma obra chamada “Ciclos”, que aborda a questão da impermanência do tempo e suas transformações efêmeras.  A foto mostra uma imagem colorida de um relojoeiro em oficina, acompanhada de outras imagens sobrepostas que falam do tempo e também da perda, configurada por um cemitério. 

Cecim também teve uma fotografia exposta na Espanha, em uma amostra chamada Visceral, da qual fizeram parte artistas de diversos cantos do mundo. Essa sua obra chama-se “Passando a Boiada” e nos remete a dois grandes mestres da pintura moderna, Pablo Picasso e Francis Bacon. Por meio de imagens superpostas do interior de um matadouro em uma cidade localizada na Amazônia brasileira, o fotógrafo paraense faz alusão ao protagonismo do gado no agronegócio existente na região. O título da obra foi inspirado numa fala irresponsável do ex-ministro Ricardo Salles que, em abril de 2020, usou a expressão “passar a boiada” para se referir à tentativa de flexibilizar as leis ambientais no país. Levando em conta esse contexto, a imagem retratada por Bruno é uma espécie de grito de socorro que rompe as fronteiras de nosso país e ecoa por todo o planeta, mostrando ao mundo as dificuldades ambientais enfrentadas em solo brasileiro. Bruno nos contou: “Estou honrado em expor minha obra na Europa. A obra reflete inúmeras coisas, especialmente a questão do abate e tudo o que isso representa: desmatamento, devastação e exploração do meio ambiente”. 

Os registros de Bruno são dignos de respeito, pois as imagens que retrata não são apenas visualmente belas, mas também portam mensagens profundas. Cecim deve ser visto como um fotógrafo militante, e nosso país, mais do que nunca, precisa de personalidades aguerridas como ele. A câmera em suas mãos transforma-se num instrumento de ativismo ambiental, político e social. Que o fotógrafo sirva de inspiração para o Brasil e que cative o mundo com suas artes e denúncias. 

 

Conheça mais sobre o trabalho do fotógrafo Bruno Cecim:

Portfólio virtual:

https://www.canva.com/design/DAE7EqA6Yt8/qyWVAMJjRy96JDfYtTlBbA/view

Instagram:

https://www.instagram.com/brunocecimphoto/





OLHEM PARA AS RUAS: MAKING OFF

Por Juliana Vannucchi

A Gangue Morcego já se firmou como um dos principais nomes do pós-punk nacional. Olhem Para as Ruas é um dos álbuns mais célebres do gênero e um dos mais admirados pela equipe do Fanzine Brasil. Nossa paixão nos levou a destrinchar alguns detalhes que marcaram os bastidores da gravação do EP. Confira a seguir, com exclusividade, uma série de curiosidades e histórias que se ocultam por trás dessa obra-prima. 

Um tour pelas faixas do álbum:

Dias Escuros:

A letra dessa icônica faixa inaugural aborda o inconformismo e o sufocamento impostos pelo ambiente urbano. “Dias Escuros” não apenas abre o EP como também foi a primeira música criada pela banda, embora  tenha sido a última a ser escolhida para compor o álbum.

É válido citar que a música tem uma particularidade: ela foi quebrada ao meio pela banda e, com imensa criatividade, foi usada tanto na abertura quanto no encerramento do álbum.


Olhos Incertos:

Curiosamente, a letra dessa faixa não foi escrita por nenhum membro da GM, mas sim por um amigo dos músicos, chamado Kal Reis. Querido pelos integrantes da banda, Kal sempre foi um grande apoiador do grupo, tendo ajudado a Gangue com peças gráficas e também com a administração de redes sociais. Aliás, foi ele que elaborou o primeiro logo da banda.

Um fato digno de menção é que essa música foi a mais desafiadora do álbum para o talentosíssimo Daniel Kaplan, pois ele nos contou que a faixa já estava criada antes de sua entrada na GM e, por isso, o seu processo de composição, naturalmente, era diferente do estilo do músico.


Sobrenatural:

Essa composição fala a respeito da maneira pela qual todos nós somos obrigados a estar ao lado de outsiders e desajustados, com os quais, felizmente, muitas vezes nos identificamos.

Um fato curioso é que no início dessa faixa é possível perceber ruídos de garrafas sendo batidas. Essa sonoridade foi extraída de uma cena do filme “Warriors, Selvagens da Noite”, no qual há uma cena em que o vilão provoca a gangue dos Warriors batendo garrafas com as mãos (você pode conferir isso no vídeo abaixo).


Zero Hora:

Durante a gravação da faixa “Zero Hora”, alguém abriu a porta do estúdio, no final da sessão de gravação da voz, fazendo com que o som de um latido vindo de fora fosse captado pela gravação. Thiago Halleck nos contou que os membros do grupo optaram por manter o som canino na faixa, levando em conta que a letra aborda uma temática urbana.

Não Quero Mudar:

“Não Quero Mudar” não foi gravada sem metrônomo por ser uma faixa mais punk. Segundo Thiago Halleck, havia uma intenção de mantê-la mais “crua”.

Originalmente, a música é de uma outra banda punk, chamada Infected, na qual DaniEl Sombrio tocou como baixista. Os membros desse grupo autorizaram que a GM a usasse. Ricardo Moralha foi o compositor. A letra fala sobre o sentimento de revolta em relação à sociedade. A esse respeito, DaniEl reflete: “É sobre ter opinião forte e não se guiar pela opinião alheia. É sobre não querer mudar em função do que os outros pensam e dizem”.

Gato Preto:

A letra, em suma, é sobre o Gato Félix. Na composição dessa faixa, foi aplicado um efeito de fita K7 antiga com algumas oscilações. Isso foi feito para modular o som e dar uma sutil sensação de incômodo nos ouvidos. Tampa da caneta e isqueiro foram usados para arranhar as cordas da guitarra e do baixo.

 A Dança Não Para:

A letra foi composta após o falecimento do baixista Menescal, que fez parte da GM entre os anos de 2013 e 2014.

Além de ser motivada pela perda desse integrante, a canção também é encoberta por uma carga de inspirações provenientes do Hinduísmo.

No dia em que a compôs, Thiago Halleck acordou muito cedo e agitado.  Nesse estado de inquietação, ligou rapidamente seu computador e logo começou a criar o arranjo da música. Ele nos contou que esse processo foi espontâneo e intuitivo. Em seguida, o baixista compartilhou essa composição inicial com os outros integrantes do grupo, que deram suas respectivas pinceladas colaborativas.

Poucos dias depois, ele escreveu a letra da música. Um trecho em particular foi escrito pelo pai - que é hinduísta - do tecladista do grupo. Ele escreveu um texto no qual reflete sobre o falecimento de Menescal, dizendo que acreditava que seu espírito estava do outro lado da lua, sendo recebido com uma grande festa por deidades hindus e por entes queridos já falecidos. Lá eles celebrariam a obra de arte que foi a vida de Menescal. A letra foi baseada em passagens desse texto e também foi inspirada numa mensagem de conforto que um amigo, o Fábio, vocalista do Clashing Clouds, escreveu para a mãe do jovem músico falecido.

Uma curiosidade aos fãs: a música quase se chamou “Perdidos no Céu”, que é uma frase da letra. Outro aspecto interessante que vale a pena ser mencionado é que quando DaniEl Sombrio estava tocando o teclado para gravá-la, ele esbarrou numa tecla qualquer que foi captada pela gravação. Os integrantes da banda optaram por manter o som, mas adicionaram alguns efeitos em cima, transformando-o num ruído estranho que pode ser percebido na introdução.

 

A Dança Não Para (No Outro Lado Da Lua) é a faixa mais popular da banda

Album Cover:

As artes da capa e contracapa foram feitas por Alexandre e Daniel. As cenas presentes em cada janela fazem alusão a cada uma das faixas do álbum. A lua ouvindo música, por exemplo, remete à faixa “A Dança Não Para…”. Em relação ao processo criativo, Daniel explicou: “Eu fiquei encarregado da direção de arte. O Alexandre foi quem realmente colocou a mão na massa, elaborando a ilustração e a finalização através de um programa gráfico”. As principais inspirações estéticas foram os Film Noir e os desenhos animados dos anos 20. Nesse contexto, vocalista nos relatou sua afeição pelo Gato Félix: “Gosto do desenho desde a infância. Tinha algumas fitas VHS e me lembro de ter tido muitos sonhos bizarros depois de ter visto o filme de 89. Não lembro mais se o filme era realmente bom, acho que vou procurar para assistir (hahaha), mas me recordo que tinha momentos bem psicodélicos”. 

 


 

Memorabilia: 

Confira algumas das recordações mais marcantes que os integrantes da banda carregam com eles.

Daniel: 

Daniel guarda com carinho o conjunto de memórias das sessões de gravação feitas com o Sérgio Filho [proutor], pois os integrantes da banda adoravam jogar conversa fora e davam muita risada com o Sérgio. Aliás, vale citar que uma parte dos teclados foi gravada na casa do produtor e a outra parte no Estúdio Overlud, na Vila Isabel, onde a Gangue gravou o "Olhem para as Ruas".

Kaplan:

“Lembro-me de, durante uma das viagens pra São Tomé das Letras, comandar a gravação/produção do 1º take instrumental de Dias Escuros só com um laptop e interface. Esses processos de gravação DIY feitos em galera são sempre interessantes, são como um pedaço de férias no meio da vida. Além disso, dar essa primeira escutada no que a gente é capaz de fazer numa situação de gravação antes do processo do disco começar dá uma confiança extra na hora de entrar no estúdio”.

Alexandre:

Para Alexandre, cada layer a mais com os instrumentos e texturas trabalhados o deixava progressivamente mais satisfeito. O vocalista declarou: “Quando o Sérgio mostrou algumas possibilidades de distorção para alguns trechos das músicas para parecer uma gravação antiga, eu fiquei muito feliz”.

Thiago:

Thiago se recorda que esfihas foram o principal combustível da banda. A tradicional tortinha de origem síria foi uma marca registrada do período de gravação e foi o principal alimento que os manteve em pé!

Raio X da morcegada:






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