Fanzine Brasil

SIOUXSIE SIOUX - SOPROS DE VIDA

Grandes homens, assim como grandes tempos são um material explosivo interior do qual uma força imensa é acumulada (....)

“DISCO DA BANANA”- A OBRA PRIMA IGNORADA

Eu sabia que a música que fazíamos não podia ser ignorada

SEX PISTOLS - UM FENÔMENO SOCIAL

Os Sex Pistols foram uma das bandas de Rock mais influentes da história.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

AFINAL, COMO SURGIU O CINEMA?

Um breve questionamento e historio sobre o assunto.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

WOLF CITY - AMON DUUL II

Wolf City é um dos maiores clássicos do Rock Progressivo. É um álbum que celebra magicamente este gênero musical, e que é foi gravado por artistas imensamente talentosos

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

QUEBRANDO REGRAS E QUESTIONANDO OS PADRÕES: ENTENDA O QUE É A CONTRACULTURA

 Por: Juliana Vannucchi e Camilo Nascimento

QUEBRANDO REGRAS E QUESTIONANDO OS PADRÕES:

Surgida nos EUA em meados dos anos sessenta, a contracultura foi um conjunto de manifestações que contestou a cultura vigente, rompeu com os tradicionalismos e as convicções de seu tempo e propôs novos modos de viver, pensar e agir. Nesse sentido, portanto, podemos entender que esse movimento se expressou numa dinâmica dual, tendo uma face desconstrutiva e outra construtiva, pois, por um lado, propunha-se a demolir e questionar os modelos existentes (fossem eles ideológicos, políticos, artísticos etc.) e, por outro, buscava ressignificar a realidade.

Nesse contexto, tenha-se em mente que a contracultura surgiu como resposta espontânea de uma geração que se sentia desconectada da sociedade em que se encontrava. A forma como essa geração enxergava o mundo estava diretamente em conflito com a visão dos pais, professores e instituições sociais. É por isso que a necessidade de ressignificação surge, não apenas como rebeldia ou contestação, mas como o único caminho possível para construir essa nova identidade e, acima de tudo, conseguir liberdade das amarras sociais do período.

 

Como em todo processo de ruptura e “questionamento social”, a contracultura aparece como um percurso natural para jovens que buscam a esperança e a ressignificação do seu mundo.
 

A GERAÇÃO DA CONTRACULTURA: QUEM ERAM OS REBELDES SEM CAUSA?

Os jovens adeptos a esse movimento estavam descontentes com o mundo ao seu redor. Entendiam que o sistema dentro do qual viviam era sufocante e encarcerava o homem, tornando-o uniforme, obediente, previsível e consumista. Havia uma insatisfação diante desse “modelo de vida” normativo que dominava a sociedade da época e que era visto como algo que deveria ser descartado, pois os costumes convencionais que imperavam não eram o único modelo de vida possível. Existiam caminhos diferentes a serem seguidos, alternativas que estavam além do status quo e, por isso, a hegemonia (artística, política, ideológica e outras) e as instituições (Estado, igreja, família etc.) preponderantes deveriam ser refutadas e negadas.

Como em todo processo de ruptura e “questionamento social”, a contracultura aparece como um percurso natural para jovens que buscam a esperança e a ressignificação do seu mundo, um caminho que os leva para longe de tudo que os sufoca. No entanto, todo movimento cultural ou social que promova o debate e superação de paradigmas e dogmas sempre estará sujeito a repressão e tentativas de deslegitimação.

A contracultura acaba sendo taxada por muitos como algo marginal, hedonista e  responsável por promover a perversão de valores morais e sociais.

PAZ E AMOR: OS HIPPIES SIMBOLIZARAM O AUGE DA CONTRACULTURA

Os hippies são os primeiros expoentes da contracultura, apesar de não serem os únicos, mas seus ideais de “paz e amor”, de uma sociedade baseada na vida coletiva, no compartilhamento e anticonsumismo são a síntese da contestação de todos os valores capitalistas, familiares e religiosos dos anos sessenta nos EUA. 

Com uma ascensão rápida entre os jovens, o movimento hippie acabou sendo visto como a representação da contracultura em si, fato que ganhou mais peso ainda com a realização do lendário e histórico festival de música de Woodstock, que foi o cenário ideal para que todo o espírito do movimento se manifestasse coletivamente em consonância com músicas e bandas que seriam lembradas para sempre como representantes do rock psicodélico.

A ruptura realizada entre as gerações pelo movimento hippie é um marco, no entanto, períodos de “questionamentos” se repetem ciclicamente, sempre provocados por uma nova geração ascendente, que vê nos seus “genitores” tudo o que eles não gostariam de ser. Sendo assim, é importante levar em conta que, embora os hippies tenham se associado à contracultura, não foram os únicos que fizeram parte dessa manifestação. O punk rock, surgido nos anos setenta, por exemplo, pode ser considerado uma forma de contracultura, uma vez que também contestou a cultura dominante e ofereceu novas propostas artísticas, ideológicas, comportamentais e estéticas que reverberaram todo um contexto construído desde os mesmos anos sessenta.

 

(...) seus ideais de “paz e amor”, de uma sociedade baseada na vida coletiva, no compartilhamento e anticonsumismo são a síntese da contestação de todos os valores vigentes.

PSICODELISMO:

Os jovens adeptos ao fenômeno da contracultura estavam dispostos a encontrar novos modelos de realidade. Essa foi a principal razão pela qual componentes como o misticismo, a cultura oriental e as drogas psicodélicas integraram a contracultura, uma vez que tinham potencial para fazer com que um indivíduo rompesse com as amarras da sociedade e do racionalismo dominante.

As drogas alucinógenas foram uma das principais características da contracultura. Através dessas “válvulas de escape”, busca-se expandir a consciência, entrar em contato com outras formas de realidade e viver experiências místicas. O LSD foi o químico alucinógeno mais famoso do período. O psicodelismo foi também o fio condutor da estética da contracultura, que abusa de cores vibrantes e formas geométricas desconexas.

 

O Woodstock, que foi o cenário ideal para que todo o espírito do movimento se manifestasse coletivamente.

 

A CONTRACULTURA AINDA EXISTE?

Para encerrar nossas reflexões, nós nos apoiaremos na passagem de um texto publicado no jornal britânico The Guardian, no qual o autor defende que a contracultura ainda se faz presente em nossos tempos, especialmente através de movimentos estudantis e ambientalistas: “Então, existe uma contracultura? A polícia certamente pensa que sim: infiltrando-se em grupos ambientalistas e, sem dúvida, no movimento estudantil de protesto também. Embora os viajantes sejam provavelmente o único verdadeiro grupo contracultural que resta na Grã-Bretanha tentando viver uma vida livre de interferência e vigilância, o espírito vive nos protestos estudantis, grupos de direitos dos animais, ativistas ambientais e no movimento antiglobalização. O sistema reprime a resistência com uma mão, enquanto arranca as artes underground com a outra. Nesse aspecto, é como os anos sessenta”.

A contracultura, concordamos, pode se fazer presente de diversas maneiras em nossos tempos, e o parágrafo acima elucida isso. Entretanto, vivemos num mundo mais globalizado do que nunca, no qual a alienação e o consumo, que são substâncias fundamentais do sistema capitalista, imperam por todos os lados. Assim sendo, levando em consideração que o questionamento dos valores estabelecidos e o desapego aos padrões vigentes tangem a contracultura, podemos dizer que esse fenômeno está enfraquecido em nosso mundo atual, uma vez que, de maneira geral, a maior parte das pessoas é escrava do sistema, carecendo de senso crítico e refutando cada vez mais as informações que são despejadas nelas.

Incorporados pelo sistema capitalista, a contracultura e seus ideais acabaram perdendo a relevância e, com certeza, o seu caráter contestador. Mas verdade seja dita, a sua influência ainda reverbera por vários movimentos sociais, passando desde os ambientes digitais, com certas organizações que pregam a anarquia e a liberdade total de regras, até os cenários culturais underground, que ainda respiram e buscam novas formas de representar a realidade em que estão inseridos.

Onde ainda houver inconformismo, a contracultura estará presente, mesmo que diluída de seus ideais e força originais. Talvez toda e qualquer manifestação cultural, social e comportamental que fuja do conceito de “normalidade’ vigente seja uma manifestação contracultural.

Referências:

BEY, Hakim. TAZ. Zona Autônoma Temporária. São Paulo: Conrad, 2001.

BOBBIO, Norberto. Liberalismo e Democracia. São Paulo: Brasiliense, 1990.

LARAIA, R.B. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge. Zahar, 2004.

PEREIRA, Carlos. O que é contracultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988.

https://en.wikipedia.org/wiki/Counterculture_of_the_1960s

https://www.theguardian.com/culture/2011/jan/30/underground-arts-60s-rebel-counterculture

https://www.telegraph.co.uk/travel/destinations/north-america/articles/fifty-years-woodstock-counterculture-alive-strong-catskills-festival/

https://www.bbc.com/portuguese/vert-cul-48849285

https://www.scielo.br/j/rsocp/a/tphWWXCs7NVJgfnBJ9CrFGL/?lang=pt

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

10 PERGUNTAS PARA PEARL HARBOUR

 Por: Juliana Vannucchi

O Fanzine Brasil bateu um papo com a cantora Pearl E. Gates, vocalista da banda Pearl Harbor and the Explosions, que se destacou especialmente pelo lançamento do single "Drivin". O grupo chegou a abrir shows para grandes bandas, como The Police e Talking Heads e teve uma aprovação positiva por parte da crítica especializada que se rendeu à voz de Pearl. No entanto, apesar desse cenário positivo, a carreira da banda não decolou como esperava-se e terminou rapidamente. Pearl, que continua firme, forte, poderosa e ativa no mundo musical, nos contou inúmeras histórias marcantes de sua trajetória, como quando dividiu o palco com o The Clash (ela foi casada com Paul Simonon), sobre o quanto o punk permanece vivo em nosso mundo atual, sobre música brasileira e muito mais. Confira!

1 – Você já veio ao Brasil alguma vez? Conhece bandas e/ou cantores daqui? Caso nunca tenha vindo, estou oficialmente te convidando! Espero te ver aqui algum dia!

Não, infelizmente nunca fui ao Brasil. Mas eu adoraria ir! Não tenho escutado nenhuma banda brasileira no momento, mas adoro coisas antigas dos anos 1960, como Sérgio Mendes e Brazil 66. Adoro gravações antigas de Salsa, Cha Cha Cha e Mambo.

2 – Como a banda "Pearl Harbor and The Explosions" surgiu?

Formamos a banda Pearl Harbor e The Explosions em 1978, na cidade de San Francisco, Califórnia. O The Stench Brothers (como eram conhecidos Hilary e John Hanes) e eu estávamos em uma banda chamada Leila And The Snakes, na qual eles tocavam baixo e bateria e, então, decidimos formar nossa própria banda e escrever nossa própria música. Convidamos o amigo deles, o guitarrista Peter Bilt, para se juntar a nós. A música era bem New Wave e não Rock & Roll. Eu queria tocar rock e eles gostavam mais de jazz fusion. Eles eram músicos excelentes, mas não concordávamos com o estilo de música, então nos separamos depois de um álbum e uma turnê.

"(...) punk não está morto! O punk é uma atitude e um modo de vida, assim como é também um estilo de música. Os punks são não-conformistas apaixonados por suas crenças e estilo de vida (...)"

3 – Qual foi o melhor show que você já fez em sua carreira?

O melhor show que já fiz foi quando cantei com o The Clash em Tóquio, no ano de 1982. Foi nossa primeira vez no Japão e foi muito emocionante. Um choque cultural total!!

4 – Qual é a melhor memória que você tem do Paul Simonon?

Minha melhor lembrança do Paul Simonon é de quando estávamos no Japão, como mencionei na terceira questão. Fomos visitar belíssimos templos budistas, oramos juntos e experimentamos coisas maravilhosas que eram um mistério total para nós.

5 - A frase "punk is not dead" é muito famosa. Você acredita que o punk continua vivo?

Não, o punk não está morto! O punk é uma atitude e um modo de vida, assim como é também um estilo de música. Os punks são não-conformistas apaixonados por suas crenças e estilo de vida. Essa atitude começa principalmente com a juventude e a rebelião contra seus pais, o governo e a vida em geral. Os jovens sempre se rebelam e querem ser diferentes da geração de seus pais. É saudável e natural!!

 

"Não sei como descrever o mundo de hoje. A Covid mudou tudo e não sei quando as coisas vão melhorar se as pessoas não forem vacinadas".


6 – “Don't Follow Me, I'm Lost Too” é um ótimo álbum! Você pode nos contar quais foram suas inspirações para gravá-lo? Como era a sua vida na época da gravação? 

O álbum "Don't Follow Me, I'm Lost Too" foi gravado em Londres em 1980. Nós nos divertimos muito fazendo este álbum porque todos os músicos eram amigos e, por isso, nós todos nos soltamos e nos divertimos. Os músicos incluíam Paul Simonon, Mick Jones, Nigel Dixon, Wilko Johnson, Steve New, Topper Headon, Steve Goulding, Geraint Watkins, Gary Barnacle e B.J. Cole. Eu amo esse álbum porque é rock & roll, mas tem um pouco de atitude. Ele soa de uma maneira única.

7 – Você continua compondo? Pretende lançar algo futuramente? Recentemente escutei a música "I Wish I Were You" e gostei bastante!

Eu continuo me apresentando e escrevendo músicas. Espero gravar novas faixas no próximo ano. Tudo ficou mais lento por causa do vírus, então todos temos que ser pacientes... Estou feliz porque 3 dos meus álbuns antigos estão disponíveis para streaming agora. Eles são meus 2 álbuns da Warner Bros., "Pearl Harbor and The Explosions" e "Don't Follow Me, I'm Lost Too", e de 1995, de um selo independente, tem o "Here Comes Trouble".

8 – Quais tem sido as suas principais inspirações ultimamente?

Ultimamente tenho ouvido muitos discos antigos de R&B para poder cantar junto e manter minha voz em forma. Eles também me fazem dançar, para manter meu corpo em forma!! Meu álbum favorito para ouvir no momento são os maiores sucessos de Ike & Tina Turner. Cada música é fantástica!

9 – Como você descreve o atual mundo ocidental em que vivemos?

Não sei como descrever o mundo de hoje. A Covid mudou tudo e não sei quando as coisas vão melhorar se as pessoas não forem vacinadas. A internet e as redes sociais tornaram mais fácil a comunicação com qualquer pessoa e com tudo que você possa imaginar. Eu sou uma pessoa muito reservada, então não gosto muito de que todos saibam tudo sobre mim! Porém, acho o Instagram divertido de acompanhar. Você pode conferir meu perfil @pearlharbourmusic se quiser!

10 – Você gostaria de viver toda a sua vida novamente?

Não, eu não gostaria de viver minha vida novamente. Uma vez já foi o suficiente!! Agradeço por todas as experiências divertidas e incríveis que tive...

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

JAMIE PERRETT: O TALENTO ESTÁ NO SANGUE

 Por Juliana Vannucchi

Jamie Perrett é um músico inglês, filho do lendário Peter Perrett, vocalista da icônica banda punk The Only Ones. Nos últimos anos, Jamie participou com seu pai da gravação de dois álbuns, intitulados ‘How The West Was Won’ (2017) e ‘Humanworld’ (2019), ambos muito elogiados pela crítica britânica e que abriram as portas para o músico, levando-o a tocar em inúmeros palcos da Europa. 

 

“Essa é uma música sobre a dualidade e a realidade do amor. É sobre o céu e o inferno (...)"
 

Em 2020, no entanto, o jovem músico começou a focar em suas próprias produções e, em abril de 2021, lançou o primeiro single de sua carreira solo, chamado “Masquerade Of Love”, produzido, conforme descreve o próprio músico, “sob uma atmosfera de imensa emoção e honestidade”. De acordo com Jamie: “Essa é uma música sobre a dualidade e a realidade do amor. É sobre o céu e o inferno e tudo o que existe entre eles. A palavra 'máscara' encapsula a alegria e o fascínio de uma dança ou baile com o lado mais escuro e oculto dos relacionamentos. É sobre um rompimento e consequências difíceis e a sensação que vem com isso de estar encalhado e suspenso em uma terra de ninguém, bem como a alegria de um relacionamento bonito e poderoso ao mesmo tempo”.  

A carreira de Jamie ainda está começando a se desenhar e se desvencilhar da música de seu lendário pai, de quem, conforme é evidente, herdou um enorme talento. Por enquanto, o que fica claro é o seu brilhantismo lírico, a presença de palco e a esperança de que, numa época tão cheia de bandas e artistas enlatados, temos uma personalidade grandiosa, original e que promete encantar muitas pessoas por meio de suas produções sonoras. A faixa de estreia foi um presente valioso que Jamie ofereceu ao mundo e, inclusive, chegou a ser tocada em algumas das mais elogiáveis estações radialísticas brasileiras, como a grandiosa Web Rádio Resistência e a célebre Rádio Alternativa Rock, além de ter entrado também na programação da Mutante Rádio, fato este que mostra a boa aceitação do músico no Brasil. No início de setembro, através de suas redes sociais anunciou que lançará seu segundo single. Atualmente, depois das limitações impostas pela pandemia, o músico está de volta aos palcos e está, aos poucos divulgando suas produções. Aguardaremos ansiosamente por mais novidades!

Links oficiais:

Spotify:


https://open.spotify.com/artist/0SB1lWd5ljMK1KQuO0pAXl

YouTube:

 https://www.youtube.com/channel/UCt80ZRJ3VDcILbS-J-2kNAQ

Website:

https://jamieperrett.com/

Facebook:

https://www.facebook.com/jamieperrettmusic

Instagram:

https://www.instagram.com/jamieperrettmusic/

Twitter:

https://twitter.com/jamieperrett

sábado, 4 de setembro de 2021

ARTE, CULTURA E CRISE HUMANITÁRIA: UMA CONVERSA COM DANIELLE DE PICCIOTTO

Por: Juliana Vannucchi, Camilo Nascimento e Juan Youth

Danielle de Picciotto é uma artista interdisciplinar, nascida nos Estados Unidos, mas que há bastante tempo reside na Alemanha ao lado do marido Alexander Hacke, baixista da banda Einstürzende Neubauten. Danielle já escreveu três livros, além de colaborar esporadicamente com ensaios textuais para revistas de cultura. Em sua vasta trajetória, a artista se destacou por suas colaborações e apresentações com o grupo The Crime & City Solution. Ao lado de seu companheiro, tem um projeto musical bem-sucedido chamado hackedepicciotto, além de ter também uma carreira solo notavelmente próspera. Conversamos com Danielle a respeito de vários assuntos diferentes que permeiam nosso mundo atual. Confira!

1- Danielle, bem-vinda ao Fanzine Brasil. Primeiramente, gostaria de saber como você está, porque o mundo todo tem enfrentado um momento muito estranho. Espero que agora as coisas estejam melhores por aí!

Eu estou bem. Tive muito cuidado durante a pandemia e basicamente fiquei em meu estúdio por mais de 18 meses. Na verdade, eu gostei disso porque meu marido e eu geralmente estamos sempre em turnê, então eu pude dormir mais e trabalhar em projetos para os quais nunca tive tempo antes. Parece um momento de reflexão. Mas espero que acabe logo.

2- Você já esteve no Brasil alguma vez? Por acaso conhece músicos e/ou bandas daqui?

Infelizmente eu nunca fui ao Brasil e também não conheço nenhuma banda do país. Eu ficaria encantada em conhecer músicos interdisciplinares novos e jovens, especialmente se forem mulheres. Escrevo uma série de entrevistas para o Kaput Magazin sobre artistas mulheres interessantes e estou sempre procurando novos projetos!

3 – Em que momento da sua vida você se reconheceu como artista? Esse caminho foi planejado?

Eu comecei a tocar violino aos seis anos, piano aos sete, comecei a escrever poesia assim que aprendi a ler e sempre pintei, então acho que nasci sendo uma artista interdisciplinar. Quando terminei a escola, não sabia o que fazer e por isso acompanhei um amigo que estava se candidatando a uma escola de artes. Fui aceita e ela não. Senti que estava trilhando a direção certa. Desde então, trabalhado como música/artista multimídia.

 

(...) vivemos numa época em que as indústrias tentam manipular as pessoas o máximo possível para obter o maior lucro possível (...)"

4 - O sociólogo Zygmunt Bauman diz que vivemos em "tempos líquidos", o que, em suma, significa que nossa cultura e as nossas relações são frágeis e nós sempre queremos substituir tudo. Claro que há exceções, mas você concorda que vivemos uma época de imediatismo e “descarte cultural"?

Acho que vivemos numa época em que as indústrias tentam manipular as pessoas o máximo possível para obter o maior lucro possível. Tudo tem a ver com vender alguma coisa. É uma situação muito triste e o resultado é nossa catástrofe ambiental e colapso social. O 1% dos ricos está se tornando mais rico e os pobres ficam cada vez mais pobres. Não poderemos continuar assim por muito mais tempo, mas a responsabilidade está em nossas próprias mãos. Ninguém é inocente. Temos que mudar nossos hábitos - não comer carne, mas alimentarmo-nos de plantas, não pegar voos, mas pegar trens, não usar carros, mas sim bicicletas, não usar plástico, não apoiar grandes empresas implacáveis como a Nestlé ou Coca Cola etc., não apoiar a escravidão, o racismo ou a discriminação... Se todos se sentirem responsáveis e fizerem a sua parte, poderemos mudar essa situação muito rapidamente.

5 - Você acredita que de alguma maneira, o materialismo global pode fazer com as pessoas percam o interesse pela arte e pela cultura? Como professora de Filosofia, preciso dizer que pelo menos no Brasil, eu percebo que isso acontece. Também num mundo em que tudo é rápido, sinto que as pessoas querem coisas rápidas!

A mídia e as indústrias estão nos treinando para não nos preocuparmos com educação, cultura ou qualquer outra coisa que nos ajude a pensar e sermos independentes e individuais. Eles não querem que sejamos inteligentes. Em geral, é mais fácil manipular pessoas insalubres, confusas e viciadas. Querem que sejamos consumidores estúpidos, inquietos e sem capacidade de atenção, porque é assim que eles vendem coisas que deveriam nos deixar felizes, mas na realidade nos deixam vazios e tristes. Então compramos mais… É um jogo diabólico. Fico, porém, muito feliz em perceber que a geração mais jovem é radical e politicamente ativa e acho que o “Black Lives Matter”, o “Me- Too” e movimentos ambientais com Greta Thunberg, que esses jovens iniciaram, são um sinal de que eles entendem o atual perigo que corremos. Creio que é a nova geração mais interessante que vi desde os anos 80.

 

(...) estou desapontada com a humanidade no momento. O medo não é um bom guia (...) 
 
 

6 – Atualmente, nos encontramos no meio de uma pandemia e estamos enfrentando crises econômicas e sociais em todo o globo. Como você acha que esse cenário irá afetar as produções e movimentos culturais do futuro? Temos espaço para um novo "punk"?

No início da pandemia, pensei que o momento nos ajudaria a mudar de uma forma positiva. Todos nós ouvimos sobre como a poluição desapareceu de repente e foi incrivelmente relaxante não ter aviões rugindo sobre nossas cabeças o tempo todo. Eu pensei que as pessoas iriam parar para pensar em como podemos salvar nosso planeta e criar uma sociedade mais igualitária.

Em vez disso, parece que o egoísmo e o ódio cresceram. Multidões enlouquecidas de pessoas contra vacina se manifestam sem parar aqui em Berlim e o movimento de direita cresceu internacionalmente. Eu entendo que eles estão fazendo isso porque estão com medo. Com medo do futuro, com medo da pandemia, com medo de ficarem pobres e sem-teto. Mas devo dizer que estou desapontada com a humanidade no momento. O medo não é um bom guia. Nós podemos fazer melhor do que isso. Eu me lembro todos os dias de olhar para todas as coisas positivas que estão acontecendo para não ficar realmente deprimida. Não acho que um movimento punk seja apropriado - precisamos de novos movimentos que visem fazer as pessoas entenderem que estamos todos no mesmo barco e devemos apoiar uns aos outros para não afundar. Estamos em uma situação em que os padrões antigos não estão mais funcionando e novos devem ser encontrados.

7- Você está envolvida com a indústria musical há muito tempo. Assim sendo, poderia comentar sobre as principais mudanças envolvidas nas apresentações ao vivo de um tempo atrás e dos dias de hoje? 

Bem, shows ao vivo dificilmente são possíveis no momento. Gosto das novas ideias que de fazer algo online - é uma forma de alcançar uma multidão internacional com novas ideias, mas sinto falta de interagir com o público!


Danielle e seu companheiro Alexander Hacke

 

8 – Qual foi o show mais memorável que você já fez com o Crime & The City Solution? Foi através dessa banda que conheci você...

Gostei muito de tocar no Rivera Court, no Instituto de Artes de Detroit com o Crime & The City Solution. Um enorme mural de Diego Rivera - The Detroit Industry Murals (1932-1933) - é exibido lá. Consiste numa série de vinte e sete painéis que retratam a indústria na Ford Motor Company e em Detroit. O museu organiza concertos gratuitos para que os cidadãos pobres possam vir e ouvir todos os tipos de música, o que eu acho maravilhoso, e tocar naquele salão incrível com músicos incríveis como Simon & Bronwyn Bonney, Jim White, David Eugene Edwards e Alexander Hacke foi lindo inesquecível.


9 – Você pode nos contar um pouco sobre os seus livros? Você escreveu três, né? Qual é a abordagem deles?

Meus livros são todos autobiográficos. O primeiro foi um livro de memórias pessoal de Berlim, o segundo é sobre como e porquê o Alexander Hacke e eu nos tornamos nômades em 2010 e o terceiro livro, que acabei de lançar este ano, é sobre as muitas mudanças que aconteceram antes, durante e depois da queda do muro em Berlim (tecnologicamente, musicalmente, arte, socialmente e politicamente). Falo sobre todos os artistas e músicos que ajudaram a revolucionar a cultura, gênero, sociedade e como iniciei a Love Parade com o Dr. Motte. O título é “A Arte Alegre da Rebelião” e atualmente estou procurando uma editora inglesa para lançá-lo.

Meu primeiro livro (história em quadrinhos) sobre como e por que nos tornamos nômades acaba de ser traduzido para o espanhol https://www.universal-comics.com/products/137969-ahora-somos-nomadas.html).

10 - Se você pudesse dividir o palco com qualquer músico, quem escolheria?

O músico com quem já trabalho: Alexander Hacke, do Einstürzende Neubauten. Temos uma banda chamada Hackedepicciotto e acabamos de assinar com a MUTE Records, o que é muito empolgante.

11 – Em que você está trabalhando atualmente? Quais são os planos para o futuro?

No momento, estou trabalhando na minha primeira trilha sonora para um filme. É muito divertido e o filme é um documentário. A diretora é a Margarete Kreutzer, que fez ótimas produções no passado (uma delas foi sobre a lendária banda Tangerine Dream). Ela me perguntou se eu queria trabalhar nessa trilha porque gosta dos meus álbuns solos. Também estou trabalhando com o Alexander Hack em mais duas trilhas para filmes. Além disso, atualmente estou preparando dois novos projetos musicais e trabalhando em textos falados.

Além disso,  eu estou produzindo um vídeo para o próximo álbum do hackedepicciotto, o “The Silver Threshold”. Ele será lançado no dia 12 de novembro e estamos tentando agendar uma turnê para a próxima primavera. Vamos torcer para que seja possível.


12 – Você gostaria de fazer uma turnê no Brasil com o projeto hackedepicciotto quando a pandemia acabar?

Adoraríamos tocar no Brasil! Se houver interesse e demanda suficientes, tenho certeza de que um show pode acontecer.


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