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SIOUXSIE SIOUX - SOPROS DE VIDA

Grandes homens, assim como grandes tempos são um material explosivo interior do qual uma força imensa é acumulada (....)

“DISCO DA BANANA”- A OBRA PRIMA IGNORADA

Eu sabia que a música que fazíamos não podia ser ignorada

SEX PISTOLS - UM FENÔMENO SOCIAL

Os Sex Pistols foram uma das bandas de Rock mais influentes da história.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

AFINAL, COMO SURGIU O CINEMA?

Um breve questionamento e historio sobre o assunto.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

WOLF CITY - AMON DUUL II

Wolf City é um dos maiores clássicos do Rock Progressivo. É um álbum que celebra magicamente este gênero musical, e que é foi gravado por artistas imensamente talentosos

domingo, 31 de março de 2024

OS MALTRAPILHOS: 30 ANOS DE ESTRADA E DE LUTAS

 Por Juliana Vannucchi e Neder de Paula

Em 2024, mais precisamente no dia 27 de março, o lendário grupo “Os Maltrapilhos” completou 30 anos de existência. A banda é amplamente reconhecida como uma das principais e mais queridas representantes do punk rock nacional, ainda que sua popularidade esteja muito além das fronteiras de nossas terras. Natural de Ceilândia, conhecida região do Distrito Federal que abrigou vários grupos punks, atualmente a banda conta com Márcio nos vocais e também é composta pelo guitarrista Rafael, pelo brilhante baixista Ismael, pelo baterista Magrão. 

 

Com uma mensagem que atravessa culturas e idiomas, a banda continua a inspirar uma legião de seguidores.
 

Com sua atitude irreverente e comprometimento com causas sociais, Os Maltrapilhos não apenas moldaram o cenário musical, mas também deixaram um legado duradouro que transcende o mundo da música. Suas performances enérgicas e suas letras provocativas continuam a ressoar com uma nova geração de fãs, demonstrando que o punk rock ainda é uma ferramenta poderosa de expressão e resistência. Desde os primórdios, por meio de sua arte, a banda travou uma verdadeira luta pela liberdade, pela democracia, pelo mutualismo, e pela revolta e, em função disso, com letras de cunho crítico e reflexivo, busca denunciar as faces obscuras presentes em nosso país, apresentado pautas sociais e políticas revelantes que arquitetam esse cenário lírico e oferecendo ao mundo aspectos crueis da realidade que nem sempre queremos ver. O grupo, dessa forma, visa utilizar a música como um catalisador capaz de instigar o ouvinte a refutar o mundo ao seu redor para que seja capaz de desvincular-se, assim, de todas as formas de ignorância e opressão que o cercam. Em tempos hostis, nos quais a intolerância e a injustiça imperam, as mensagens dos Maltrapilhos tornam-se mais fundamentais do que nunca. 

No decorrer de todo esse tempo de estrada, o grupo construiu uma imagem sólida e influente no contexto do rock nacional, tornando-se uma verdadeira lenda brasileira de punk rock. Mas é evidente que sua influência vai muito além do sucesso nacional. Com uma base de fãs global e uma mensagem que atravessa culturas e idiomas, a banda continua a inspirar uma legião de seguidores dedicados, provando que, mesmo em um mundo em constante mudança, a essência do punk rock - a rebelião, a autenticidade e a luta por justiça social - permanece tão relevante como sempre.


terça-feira, 26 de março de 2024

MUSA DO CAOS E DA DESORDEM: COMO PAM HOGG ENGRANDECE O MUNDO POR MEIO DA IMPERFEIÇÃO

 Por Gregory Ferraz

Embora, de modo geral, em seu trabalho artístico, a fashion designer Pam Hogg busque de alguma forma a perfeição, ela prefere sempre encontrar no mundo a beleza da imperfeição. Em suas memórias afetivas, Hogg fala que quando não se tem nada, é possivel enriquecer-se com contos e invenções... nesse caso, sugere que se sintonize num rádio, mistérios e suspenses para tocar, e que sempre sobrevivamos e floresçamos com o poder da imaginação, que diante de qualquer carência, é capaz de nos prencheer e nos enriquecer.

Original, inventiva, criativa, provocativa, audaciosa, dentre outras diversas outras qualidades, Pam Hogg é uma designer de moda/musicista/cineasta que porta uma força caleidoscópica e possui uma exuberância caótica que dificilmente se consegue observar em uma única pessoa, devido à intensidade e obstinação que são requeridas para ter esse raro perfil. Por isso, sempre vi a Pam como uma das poucas pessoas capazes de se fazer de recetáculo para suas próprias criações. Ela consegue capturar as ideias que flutuam em sua alma, o caos das suas colisões mentais e os fragmentos que daí partem. É capaz de capturá-los e juntá-los, fazendo com eles uma espécie de quebra-cabeça mágico. Esse processo criativo tão único faz com que Pam ocupe um local de abordagem não ortodoxo e muito específico dentro da moda, um local permeado pelo caos, que surge dessas colisões e capturas das suas experiências mentais.

Contadora de histórias, romântica, ousada, feroz, frágil, forte, com um background pós-punk londrino típico dos anos 80, ela consegue com seu design, tecer, costurar e conduzir sua imaginação em representações imagéticas de forma muita íntegra. Pam cria, dirige, produz e estiliza sozinha suas coleções, sempre tendo a autoconsciência da sua prosperidade na perturbação e na desordem, e é com esse pensamento que ela nunca se esquiva da política, sendo por isso, uma grande defensora dos oprimidos e renegados, carregando em si a missão ética pela qual vive, fomentando a crença na força das mulheres, na defesa dos direitos homossexuais e militando contra o imperativo do individualismo face à pressão para um conformismo medíocre.

Assim, extravagante, contraditória, não convencional e dona de um profundo subconsciente, Pam leva seu coração e nas mangas a sua honra; em suas taxinhas, no seu látex e no seu pvc, sua justiça e creio que entre suas fitas, tesouras, agulhas, botões, colorblock e upcycling, nos resta o agradecer a Pam por nos mostrar que de uma punk bem atípica, de uma intransigente praticante do DIY e de uma autoditada, é possível saber que a desordem divina que convive dentro de cada um de nós, pode ser validada no mundo em que vivemos e estar associada a sucesso e construções positivas. 

 

Um momento divino é quando uma pessoa me retira do estado de ignorância.

Pessoalmente, acho que um momento divino é quando uma pessoa me retira do estado de ignorância, e essa é a Pam, uma pessoa sempre disposta a dar ao mundo o que o mundo não sabe o que quer, por isso, penso não haver possibilidade de se deparar com a obra de Pam Hogg sem ser arrebatado. Se ela se dirige na entrega do não óbvio, de remover barreiras do normativo e quebrar as regras que podem nos sufocar e nos enrijecer como sociedade, realmente, não há outra forma de abordar Pam a não ser pelo senso de agradecimento. Qualquer um que busque viver nessa vida de forma intensa, real e que queira acordar para a densa realidade, sabe o quanto são custosos os incômodos do caminho e, em tal sentido, nos depararmos com o ritmo alucinante da Pam equivale a nos depararmos com uma grande guerreira que tem uma jornada de muita reclusão autoimposta e que tem como caminho um percurso que migra através da escravidão e da restrição, até a aquisição de uma iluminação espiritual individual e coletiva.  Um grande salve para a querida Pam Hogg.

sábado, 16 de março de 2024

COMO O DEVO E VOLTAIRE NOS AJUDAM A PENSAR SOBRE O MUNDO ATUAL

 Por Juliana Vannucchi

O Devo foi uma das bandas mais inovadoras dos anos setenta. Seus primeiros passos foram dados precisamente em 1974, e os embriões do grupo foram Gerald Casale e Mark Mothersbaugh, dois estudantes do curso de Arte da Universidade de Kent, em Ohio.

A grande chance do Devo engrenar veio com a trilha do curta-metragem no qual estrelaram, chamado “The Truth About De-Evolution”, que ganhou um prêmio no Festival de Cinema de Ann Arbor, em 1976. Quando o filme foi visto por David Bowie e Iggy Pop, os dois ficaram impressionados com o Devo e asseguraram para a banda um contrato com a gravadora Warner Bros. Foi assim que, com o produtor Brian Eno, o disco de estreia “Q: Are We Not Men? R: Qe Are Devo” ganhou vida. A partir disso, o grupo deslanchou numa carreira que foi feita mais de acertos do que de erros. De maneira geral, toda a trajetória do Devo foi brilhante e inspiradora.

No pano de fundo das origens do Devo, encontrava-se o conceito de “de-volução”, segundo o qual a humanidade, após chegar ao seu nível mais alto de evolução, iniciou um processo de declínio. Através de suas produções musicais, o Devo mostra que, de acordo com essa concepção, o ser humano, conforme vai se tornando mais decadente, apresenta um comportamento mecânico e pensamentos uniformes. Semelhantes a robôs, os homens da “de-volução” são revestidos por uma alienação comprometedora. Não mais pensam por si mesmos e não escolhem nada de maneira autônoma, sendo sempre condicionados por terceiros, além de estarem sempre imersos num estado de profunda alienação. Trata-se de um regresso preocupante. Numa entrevista concedida em 2019, Mark Mothersbaugh disse que na época em que essa ideia foi desenvolvida, ele pensava que a dupla estava paranoica. Contudo, lamenta perceber que tal concepção se concretizou e, na mesma entrevista, Gerald Casale comenta que as previsões que fizeram não apenas se efetivaram, mas também simplesmente superaram os seus medos. O baixista ainda reflete a respeito de nossos tempos: “(...) são 7 bilhões de pessoas no planeta e o caos reinando como o principal fator de como as pessoas tomam decisões - o caos e o medo”. Mark complementa a consideração filosófica de seu colega de banda e emenda: “E está se multiplicando rapidamente. São 7 bilhões de pessoas, indo cada vez mais rápido, e não estamos aprendendo nada."

 

O conceito de de-volução trabalhado pelo Devo parece ter canalizado com maestria o temor de Voltaire, ao mostrar que o ser humano está perdendo sua capacidade de reflexão autônoma.
 

Voltaire, um dos maiores nomes do Iluminismo, viveu muito antes de os meninos do Devo. Em suas obras, o espirituoso pensador francês não abordou a “de-volução”, no entanto, ele sempre se mostrou preocupado com a incapacidade que alguns de seus contemporâneos tinham de pensar por si mesmos, sem serem instrumentalizados por instituições como o Estado e a Igreja. Voltaire prezava pela liberdade de pensamento e pelo fortalecimento do senso crítico, que poderiam ser alcançados se as pessoas fizessem bom uso da razão. Não à toa, certa vez escreveu: “Ouse pensar, amigo” – frase simples, curta, mas arrebatadora! Por meio de seus livros, tinha como um de seus principais objetivos fazer com que as pessoas despertassem e, dessa forma, rompessem as amarras que escravizavam suas mentes. Voltaire ensina que para exercitar o racionalismo crítico seria preciso vencer a superstição, que ele caracteriza como sendo uma “doença do espírito”, e o fanatismo, definido como uma espécie de seita que torna o homem firmemente convicto sobre algo, deixando-o tolo, horrível e beirando a irracionalidade. Além disso, prega que devemos sempre exercitar a tolerância, definida por ele como o “apanágio da humanidade” e cuja prática, em suma, consiste em não ser impiedoso, não perseguir nem transformar o diferente em inimigo. Tolerar é apaziguar discórdias e perdoar a própria tolice, pois segundo o iluminista francês, todo ser humano está sujeito ao erro, a fraquezas e à mutabilidade. É neste ponto que o célebre iluminista e a banda se encontram: o conceito de de-volução trabalhado pelo Devo parece ter canalizado com maestria o temor de Voltaire, ao mostrar que o ser humano está perdendo sua capacidade de reflexão autônoma, sendo cada vez mais controlado pelo sistema tradicional vigente que existe ao seu redor e mostrando-se cada vez mais cego em seu fanatismo, alienado em sua superstição e mais intolerante. 

O que Voltaire não imaginava era que o ser humano não seria unicamente dirigido por instituições como Igreja e Estado, mas também por novos “ídolos”, como consumismo e tecnologia. Isso porque em nossos tempos, além das instituições tradicionais que nos prendem, também somos asfixiados pelas mídias sociais e pelo sistema capitalista. De acordo com o conceito de “de-volução”, estamos cada vez menos civilizados e sentindo o efeito desumanizador da tecnologia. O homem carece cada vez mais de autenticidade, e vemos as pessoas cada vez mais “enlatadas”, isto é, mais parecidas umas com as outras, mais “robóticas” - não à toa o Devo utilizava uma estética futurista em suas apresentações, justamente para mostrar o quanto os homens seriam todos iguais futuramente. Acertaram em cheio: os padrões de beleza, as intervenções estéticas, as roupas e a internet tendem a padronizar não apenas a aparência das pessoas, mas seus comportamentos e pensamentos. Elas parecem sair programadas de fábricas. 

Aqui, vale citar que Voltaire também atribuía um valor imenso à dúvida e ao espírito questionador. Pode-se dizer que, para ele, duvidar era mais revolucionário do que responder. Hoje, entretanto, as massas fazem cada vez menos perguntas e reproduzem cada vez mais aquilo que lhes é despejado como certeza (vide as assombrosas fake news que, aliás, serviram para consolidação da extrema-direita... Bolsonaro, numa tentativa de normalizá-las chegou, inclusive, a declarar que elas “são parte da vida”). 

A crença cega e irracional em tantas “supostas verdades” é um marco de nosso mundo. A maior parte das pessoas não está ousando pensar, não está sendo assolada pelo páthos, não confronta a realidade, não filtra e não refuta informações.  Simplesmente “copia” e “compartilha” informações sem consultar sua razão. É, Voltaire, lamento dizer, mas a realidade atual é assombrosa. 

Mestres incontestáveis do gênero art rock, o Devo criou uma prestigiosa fusão entre a atmosfera da ficção científica e um clima futurista, que contou com pinceladas surrealistas e experimentalismos sonoros. Essas combinações tão singulares confrontavam a essência da maior parte das bandas da mesma época, que seguiam a trilha do punk rock e, por isso, podemos considerar que o Devo foi uma verdadeira vanguarda musical. Ainda que tenha surgido mediante a eclosão do punk norte-americano e certamente tenha herdado alguns elementos desse movimento, a banda era excêntrica e outsider, aspectos que a levaram para outro caminho. E se tem uma coisa que acredito que ficou clara neste texto é que a banda, além de toda a primazia estética digna de admiração, postulou um alerta e fez um diagnóstico preciso de nossos tempos que, definitivamente, merece ser levado em conta. Por outro lado, temos a obra de Voltaire. Ela está aí, à nossa disposição há séculos para alertar sobre os problemas oriundos da falta da liberdade de pensamento.  É simples: “Ouse pensar, amigo”. Desconstrua, questione, ao menos tente sair da caverna! 

Referências:

DURANT, Will. A Filosofia de Voltaire. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

PIMENTA, Jussara Santos. Voltaire: O Versejador, o Literato, o Comunicador. PUC – Rio. Revista Eletrônica UFSJ, 2002.

RUSSELL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.

VOLTAIRE. O Filósofo Ignorante. Porto Alegre: L&PM Editores, 2013.

VOLTAIRE. Dicionário Filosófico. São Paulo: Editora Escala, 2008. 

https://www.google.com.br/amp/s/amp.theguardian.com/music/2009/apr/30/devo-art-punk-80s-revival

https://www.google.com.br/amp/s/amp.theguardian.com/music/2010/jun/17/devo-something-for-everybody-cd-review

https://web.archive.org/web/20071011183248/http://clubdevo.com/mp/bio.html

https://kcpr.org/2019/10/21/gut-feeling-an-interview-with-devo-the-band-that-predicted-the-future/
https://www.britannica.com/topic/Devo


sexta-feira, 8 de março de 2024

BILINDA BUTCHER TRANSFORMOU DOR EM POESIA E REVOLUCIONOU O ROCK

 Por Pedrinho Sangrento

Pouco se sabe sobre a vida pessoal da discreta Bilinda Butcher, mas o pouco que sei me prova que ela é alguém que você também deveria conhecer. Bilinda viveu  teve um filho em sua adolescência, de quem ela cuidava sozinha, sem contar com a ajuda de um pai. Isso acorreu antes mesmo de ela se juntar ao My Bloody Valentine. As letras de "No More Sorry", escritas por Butcher são como uma carta muito pessoal de Bilinda ao seu filho Toby, e parecem relatar experiências um tanto traumáticas de seu passado. Numa entrevista, certa vez Bilinda disse: "A terapia da hipnose me fez lembrar de coisas da minha infância que me explicaram o porquê de eu estar vivendo com um parceiro tão abusivo, e eu percebi que muito do que aconteceu na minha infância não deveria ter acontecido nunca. Muito disso aparece nas minhas letras. Muito desse desconforto". 

 

Bilinda foi o ingrediente final na receita que criou uma banda praticamente mitólogica.

A jovem Bilinda foi capaz de transformar memórias dolorosas que ela queria esquecer numa poesia surreal, caracterizada por um toque de mistério e melancolia que enriqueceram o som do MBV e que, em conjunto, formaram a cara da banda. Aliás, não é a toa que o rosto de Bilinda é capa do EP "Feed Me With Your Kiss", de 1988. E essa seria a única (até então) vez em que a banda usaria uma capa com o rosto de um membro aparecendo com tanta nitidez. O My Bloody Valentine conta também com outra mulher incrível, a Debbie Googe, uma baixista à altura de Kim Gordon, cujos movimentos frenéticos que lembram os pioneiros do punk rock, como o MC5 e, além disso, ela tem um look de rockstar dos anos 90 completamente icônico. 

O MBV é uma banda muito importante, pois foi praticamente responsável por criar o que veio ser a segunda onda de shoegaze do começo dos anos 90, e o toque feminino mágico de Debbie e Bilinda com os elementos sonoros brutais como a bateria selvagem com viradas de metralhadora de Colm e a guitarra de serra elétrica melódica de Kevin, em conjuto deram luz a uma das bandas mais autênticas e influentes da década de 80. E o mais importante, vale ressaltar, é uma banda com um rosto feminino. 

Bilinda Butcher é tão importante para o MBV, quanto Debbie Harry para o Blondie, e sua influência continua sendo enorme nos dias de hoje. Ela foi o ingrediente final na receita que criou uma banda praticamente mitólogica. Bilinda, seja lá quem ela é for por trás da sua obra, é uma verdadeira heroína. Definitivamente, uma estrela que brilha no rock and roll.

domingo, 3 de março de 2024

THE STONE ROSES: UM TEMPLO SAGRADO CAPAZ DE ELEVAR QUALQUER CORAÇÃO

 Por Juliana Vannucchi

No final dos anos 80 e início da década seguinte, quando o punk rock já não era mais uma novidade, a cidade de Manchester abrigou uma efervescente onda de bandas de rock que despontavam numa fascinante maré de criatividade. Esse período histórico e as características sonoras dessa geração de grupos emergentes ficou conhecido como “Madchester”. Foi justamente nesse contexto que surgiu o The Stones Roses, grupo formado em 1983, que contava com o talentoso Ian Brown nos vocais, John Squire na guitarra, Mani no contrabaixo e tinha Reni como baterista. 

O primeiro álbum da banda, intitulado “The Stone Roses” foi lançado somente em 1989. Alguns anos mais tarde, em 1994, o quarteto de Manchester presenteou o mundo com o segundo e último disco de estúdio, chamado “Second Coming”. Os integrantes ficaram juntos até meados da década de noventa, quando, por fim, se separaram. Posteriormente, em 2011, anunciaram uma turnê e chegaram até mesmo a produzir novos materiais. No entanto, a carreira da banda nesse retorno não emplacou tanto como quando o debut que chamou a atenção do mundo todo foi lançado. Esse memorável álbum de estreia carrega um total de 11 faixas e possui uma aura imensamente original, cuja musicalidade desvinculava-se tanto do punk rock, quanto do pós-punk, gêneros mais populares do período em que foi gravado. Em função desses diferenciados aspectos criativos e de sua peculiaridade estética, a banda é considerada representante do “alternative rock”, uma vez que foi essencialmente transgressora, escapando dos padrões de sua época e conseguindo aventurar-se em novos terrenos sonoros.

 

Escutar essa banda é uma viagem fantástica, um deleite libertador
 

O “The Stone Roses” é album que possui um carisma atemporal e cativante. Suas melodias grudam na cabeça e fisgam o coração, enquanto os sentimentos melancólicos despejados por Ian Brown soam como um sagrado templo acolhedor. É um disco extremamente qualificado em todos os sentidos possíveis, com variadas influências estilísticas e, em função desse conjunto de elementos, é improvável encontrar alguém que não se encante quando o ouve. Escutar essa obra-prima é uma viagem fantástica, um deleite libertador e repleto de mágica! O ouvinte simplesmente se perde por completo na  experiência sonora profunda das faixas desse apaixonante disco.

Vale citar que a icônica capa desse aclamado álbum chegou, com justiça, a ser eleita pela revista “Q” como uma das "100 melhores capas de discos de todos os tempos". No artigo da “Q” a respeito da arte da capa, o guitarrista Squire, que a criou, revelou: “Ian certa vez conheceu um artista francês quando ele estava viajando pela Europa. Esse cara estava presente em tumultos e contou a Ian como limões foram usados ​​​​como antídoto para gás lacrimogêneo. Havia um documentário com uma ótima cena no início, de um cara jogando pedras na polícia. Gostei muito da atitude dele”. Essa história contada por Squire, não apenas serviu como pano de fundo para a criação da capa do álbum, mas também inspirou uma letra da música "Made Of Stone". 

Essa banda tão inovadora nos deixou como herança um álbum catártico que é capaz de transformar qualquer momento da vida numa experiência atípica e verdadeiramente cinematográfica. O The Stones Roses oferece a trilha sonora ideal para dar sabor a essa existência estranha, que por vezes é tão amarga e indigesta.

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