Fanzine Brasil

SIOUXSIE SIOUX - SOPROS DE VIDA

Grandes homens, assim como grandes tempos são um material explosivo interior do qual uma força imensa é acumulada (....)

“DISCO DA BANANA”- A OBRA PRIMA IGNORADA

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SEX PISTOLS - UM FENÔMENO SOCIAL

Os Sex Pistols foram uma das bandas de Rock mais influentes da história.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

AFINAL, COMO SURGIU O CINEMA?

Um breve questionamento e historio sobre o assunto.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

WOLF CITY - AMON DUUL II

Wolf City é um dos maiores clássicos do Rock Progressivo. É um álbum que celebra magicamente este gênero musical, e que é foi gravado por artistas imensamente talentosos

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

VALE A PENA CONTINUAR SONHANDO

 Por Vannucchi

A última semana de 2020 finalmente começou. Estamos nos despedindo de um ano trágico e anômalo. O Fanzine Brasil sempre acreditou que, mediante tanta turbulência, a música esteve presente para alimentar esperanças, motivar consciências, anular o sofrimento (ainda que de maneira momentânea) e preencher espaços vazios. Precisamos de música - talvez mais do que nunca. E por isso, felizmente, essa reta final de 2020 começou muito bem, pois nessa segunda-feira, dia 28 de dezembro, foi divulgado o tão esperado EP “Sonhos Doces”, lançado pelo Quântico Romance.

No decorrer da pandemia da Covid-19, o QR permaneceu ativo, participando de três lives (Isolation Festival do Fanzine Brasil, Paranoia Musique Sessions e Caxias Music Festival) e dando sequência a um trabalho para produções que devem ser lançadas ao longo do próximo ano. Em meio a essas tantas atividades, o EP Sonhos Doces foi ganhou vida. Na faixa homônima, Karlos Junior buscou reproduzir a atmosfera sonora dos anos 1980 em uma canção levemente inspirada na clássica Sweet Dreams do Eurythmics, lançando mão novamente da forte evocação de imagens e referências em versos que vão da poesia de Fernando Pessoa às trevas e castelos da literatura gótica, cantando a perspectiva de uma sonhadora hesitante dividida entre o sonho de um grande amor e a realidade dura de seu trabalho.

O lançamento ainda possui um B-Side intitulado Pesadelos (Brasileiros), que consiste basicamente num comentário sobre determinados cidadãos brasileiros em tempos de pandemia, governo e sociedade distópicos. Nesse ponto, encontramos um certo dualismo interessante na recente produção do QM, pois se por um lado somos incentivados a vislumbrar inspiradores sonhos doces, por outro precisamos lidar também com uma realidade densa, amarga e ameaçadora. É um contraste inerente ao jogo da existência. A esse respeito, Junior refletiu: “Pode ser mais difícil ter ou manter alguma positividade sadia no quesito sonhos diante das situações que temos vivenciado. Pode parecer escapismo ou mesmo negação das coisas, mas sonhar e projetar o futuro é parte intrínseca da nossa humanidade e talvez seja uma das forças que nos inspire a continuar lutando, tentando e buscando as soluções de que precisamos. No início do ano, por exemplo, dado o complexo processo científico, a vacina era um sonho distante que agora já é realidade em muitos países. Creio que mesmo sem tantos otimismos, vale continuar sonhando”.


Quântico Romance atualmente conta com Karlos Junior nos vocais, composições e produção e Diego de Oliveira nos teclados e synths.

Acesse o site oficial do Quântico Romance e escute o EP: https://www.quanticoromance.com/

 

domingo, 6 de dezembro de 2020

INSPIRAÇÕES, PASSAGEM PELO BRASIL, TURNÊ COM O JOY DIVISION E MAIS: UMA CONVERSA COM PAUL FERGUSON, BATERISTA DO KILLING JOKE

Por: Juliana Vannucchi - Colaboração: Abel Marinho e Alejandro Gomez
 
Dessa vez, o Fanzine Brasil bateu um papo com Paul Ferguson, baterista de uma das bandas mais originais e amadas de todos os tempos, o Killing Joke. Os primórdios do grupo inglês tiveram início em Londres, no ano de 1978, quando os destinos de "Big Paul" e Jaz se cruzaram pela primeira vez: “Nós tínhamos muita coisa em comum e logo nos tornamos amigos”, contou o entrevistado. Essa ocasião marcou o começo de uma história ilustre que estava prestes a ser escrita e no decorrer da qual os dois deram vida a um estilo musical que é absolutamente ímpar e criativo. De acordo com Paul, o gênero do KJ pode ser categorizada como: “Genre Fluid, Pós-punk, Ambient Metal Dub” e principalmente, como algo simplesmente único.

Atualmente, o baterista vive em Baltimore, mas quando a situação referente ao coronavírus melhorar, ele pretende retornar para Nova Iorque, cidade na qual viveu por muitos anos e que deixou após o início da pandemia. Hoje, nossos leitores conhecerão de perto esse baterista talentoso e genial. Paul é agitado com as baquetas, mas quando não está em turnê ou produzindo música, é uma pessoa tranquila, que gosta de passar o tempo em seu estúdio trabalhando com joias e esculturas antigas. Além disso, Paul aprecia um bom passeio de bicicleta!
 

1. Sua forma de tocar bateria é impressionante. Você tem um estilo tribal, agressivo e carregado de energia. Quais foram os bateristas que mais te inspiraram e como você aprendeu a tocar esse instrumento?

Obrigado! Eu adoro ouvir bateria, e muitos bateristas até hoje me inspiram a aprender algo novo. Eu não considero que meu aprendizado esteja terminado e, na verdade, ainda sinto que estou apenas começando. Ginger Baker foi uma das primeiras influências, assim como John Bonham e Bill Ward. Mas atualmente existem muitos bateristas incríveis que são uma fonte de inspiração.

2. O que você busca quando vai escolher uma nova bateria? Da última vez que você comprou uma nova, por exemplo, você se atentou a detalhes como marca ou a algo como a madeira específica de que ela foi feita?

Não costumo ter essa chance de experimentar kits diferentes de bateria. Meu primeiro kit foi um Premier, e depois, quando consegui mais dinheiro, arranjei um kit Gretsch que eu ainda toco. A Tama me atraiu nos anos 80 e, desde então, eu tenho tocado esse o kit Tama. Sua formação de madeira Bubinga é particularmente impressionante, mas não está mais disponível, pois vem de uma árvore rara e ameaçada de extinção.

3. O EP “Turn tRed” é essencialmente diferente do primeiro álbum do KJ. Parece que esse EP  teve algumas influências do Dub e talvez alguma influência do Punk também. Como você compara o “Turn to Red” com o primeiro álbum de estúdio da banda?

O “Turn to Red” foi de fato influenciado pelo Dub e o lado B “Are You Receiving” foi essencialmente Punk. Esses eram estilos familiares para todos nós. Conforme evoluímos e passamos a nos entender melhor, a natureza da música mudou, fato que nos levou ao primeiro álbum de estúdio.

4. Meus dois álbuns favoritos do KJ são: "Fire Dances" e "What’s THIS for ...", eu realmente amo os dois. Você poderia nos contar um pouco sobre seus respectivos conceitos? O que os  títulos significam? Existe algum significado especial nos encartes? Adoro a capa do "What’s THIS for ...", é maravilhosa e interessante, eu gosto daquelas cabeças nas janelas!

O “What’s THIS for...” foi o segundo álbum de estúdio do KJ e representou uma progressão natural em nossos experimentos com novas formas sonoras. O título do disco era deliberadamente ambíguo e talvez até mesmo cínico. A capa feita por nosso colaborador de longa data Mike Coles, e foi  feita para encapsular essa ambiguidade. As cabeças das janelas deviam representar o bobo da corte convidando você para este ambiente escheriano.

“Fire Dances” foi o primeiro álbum que fizemos sem o Youth tocando baixo e contamos com o nosso novo membro, o Paul Raven. Depois que a banda se dissolveu e renasceu, coletivamente tivemos um novo senso de otimismo, que foi capturado no título "Vamos todos para as danças do fogo". Nós nos tornamos coletivamente interessados liricamente na ideia de um novo tribalismo. A capa era uma homenagem a uma sacerdotisa do vodu.

5. Para você, qual é o melhor álbum do Killing Joke lançado nos anos 80? E considerando os três gravados quando você voltou para a banda, qual é o seu favorito?

Eu provavelmente teria que dizer que o “Brighter Than a Thousand Suns” é o meu álbum favorito dos anos 80, embora tenha sido o pior em termos de recepção e até hoje o mais polêmico. Dos nossos álbuns mais recentes, Pylon seria o meu favorito.

 

(...) acho que estamos realmente caminhando para tempos muito difíceis.
 

6. Soube que uma vez o Killing Joke abriu um show para o Joy Division. Você se lembra bem dessa ocasião? Você teve a oportunidade de conversar com o Ian ou com algum membro da banda?

Na verdade,  nós fizemos uma turnê com o Joy Division e fizemos amizade com todos eles, embora o Ian fosse o mais reservado dentre os membros da banda. Eu me lembro bem dos shows, dos locais lotados e de assistir ao Joy Division noite após noite ao lado do palco...

7. Podemos dizer que o KJ foi uma banda muito politizada e que teceu várias críticas ao governo de sua época. A década de oitenta foi um período em que ocorreu uma crise política  séria e nessa época, a maioria das pessoas ficou insegura e com receio de que uma guerra eclodisse a qualquer momento. Claro que sempre tivemos muitos conflitos ao redor do mundo, mas parece que aquela velha crise política voltou com mais força agora. Em muitos países, há muitos presidentes fascistas e reacionários. Como você acha que podemos mudar essa situação? E quais são suas previsões para o futuro geopolítico do mundo? Estamos vivendo um momento tão estranho de muitas maneiras... 

A história se repete. E a história do século passado, senão mais, foi de conflito entre duas ideias opostas, uma das quais se expressa como fascista e a outra se expressa como comunista. Longe de mim expor uma doutrina política, mas para a pessoa comum que espera que seu governo cuide de seu bem-estar e do país em que vive, estes são tempos realmente difíceis. O KJ sempre lutou com essas questões e, como nosso nome da banda sugere, tem uma visão bastante cínica sobre qualquer resultado político. Com a destruição ambiental e a propensão à ganância, a indiferença com o meio ambiente, aliadas à superpopulação, acho que estamos realmente caminhando para tempos muito difíceis. 

8. Como você vê o futuro da música considerando as limitações causadas pela pandemia? 

Particularmente falando, a pandemia me deu a oportunidade de concluir um álbum solo feito em colaboração com o Mark Gemini Thwaite, o que me deixou muito animado. Ele será lançado no início do próximo ano. No que diz respeito à indústria musical em geral, existem questões desafiadoras. Embora a internet e a tecnologia tenham nos dado os meios para nos comunicarmos e colaborarmos remotamente, também assistimos à erosão completa da receita para músicos e artistas. A pandemia em si, é claro, interrompeu os shows ao vivo e destruiu toda uma indústria.

9. Qual é a melhor lembrança que você tem dos momentos que viveu com o Killing Joke?

Tenho tantas memórias variadas da vida com o KJ – tal como turnês, gravações, shows, lugares e pessoas - que escolher qualquer um em particular seria impossível. Sou particularmente grato e feliz por ter conhecido tantos fãs e por poder viajar tanto com a banda.

10. Certa vez eu li numa entrevista com o Jaz Coleman na qual ele mencionou que na época em que vocês se conheceram, vocês estudavam magia. Você ainda estuda? Estou lendo o Caibalion pela segunda vez! Na verdade, estou estudando esse livro de uma maneira mais profunda agora. Você já leu?

Estou familiarizado com Hermes Trismegistos, mas não com o Caibalion. Não pratico nenhuma forma de ocultismo, mas nunca parei de me interessar pelo esotérico.

11. Você acredita em Deus ou talvez em algum tipo de Inteligência que governa e/ou criou este mundo?

Não. 

 

"Tivemos uma recepção fantástica no Brasil".

12. Aproveitando o assunto, por acaso você conhece religiões brasileiras como o Espiritismo, Candomblé e Umbanda? Os rituais dessas religiões são muito interessantes porque não falam sobre espíritos, mas dão oportunidade aos espíritos de falarem por si próprios...

Eu já ouvi falar nessas religiões, mas nunca estudei nenhuma delas.

13. E por falar nisso, como perguntei sobre as religiões brasileiras, gostaria de saber como foi a experiência de jogar aqui em 2018. O que você mais gostou no Brasil?

Foi ótimo tocar no Clube Carioca. Espero que possamos voltar em breve. Tivemos uma recepção fantástica aí, mas infelizmente não tivemos tempo de ver nada fora da boate em que tocamos. 

14. Eu sei que você trabalha como escultor e restaurador de arte. Você sempre se interessou por esse tipo de atividade? Amamos sua linha de joias, ela é muito sinistra e incrível!

Amo criar. Eu comecei a Boneyard Skullrings num momento em que não havia muito espaço para trabalhos escultóricos maiores, e fico feliz em ver que desde então tudo correu tão bem.  

Eu sempre fui fascinado pelo processo de fundição de metal e também sempre gostei de todas as formas de trabalho em metal, assim como  sempre me interessei por esculpir em pedra. Meu estúdio é cheio de tambores, baquetas, martelos e cinzéis; nunca é um momento maçante!


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