Por Juliana Vannucchi
A inauguração desta nova coluna do nosso site tem como protagonista o especialíssimo amigo Thiago Halleck. Mas antes de eu justificar porque eu beberia com esse cara, gostaria de fazer uma menção honrosa ao querido e talentoso escritor Tullio Dias, que há cerca de dez anos atrás fundou o glorioso portal Cinema de Buteco, para o qual tive a honra de escrever inúmeros textos. Tullio, sempre imensamente criativo, certa vez deu luz a um menu intitulado "Eu Beberia Com Esse Cara", que está sendo retomado e adaptado ao nosso site.
Se eu fosse beber com o Thiago, levaria ele para um ambiente essencialmente underground, com pouca luz e com uma atmosfera ligeiramente soturna, pois penso que ele se sentiria a vontade nesse tipo de ambiente – se ele está confortável, eu também estou. Eu pediria duas Cocas (KS, é claro). Para ser honesta, agora eu me recordo que já estive numa condição parecida com o Thiago, pois em 2019, a Gangue Morcego fez uma apresentação de despedida em Sorocaba e após o gig, no início da madrugada, nós nos sentamos numa mesinha localizada num ambiente externo da casa de shows que era, certamente, essencialmente underground. Naquela ocasião, lembro relatei algo importantíssimo ao Thiago. Contei sobre uma experiência fantástica que eu vivi ao escutar a música "Gato Preto", mas, caros leitores, trata-se de algo confidencial. E tenho a leve impressão de que tomávamos uma Coca-Cola... mas talvez essa parte seja fantasia! Talvez a lembrança de um dos membros da GM dormindo num sofá também seja produto fictício da minha agitada imaginação... ou não? Não sei!
Agora, voltemos: primeiramente eu e o Thiago faríamos um brinde ao Tullio Dias, é claro. Esse seria o pontapé inicial. Depois eu perguntaria se ele leu o livro do Charles Dickens que eu dei para ele em 2019, no qual acima mencionada. Aproveitaria a oportunidade para dizer o quanto adoro o Dickens, especialmente o livro "The Mistery Of Edwin Wood". Contaria entusiasmada que o autor faleceu antes de finalizar seu texto e o final do livro foi supostamente psicografado. Perguntaria em seguida, se ele acredita em psicografia – e eu sei que ele acredita - e logo depois desse breve papo fantasmagórico, deixaria uma coisa muito clara: eu adoro o Dickens, mas meu autor favorito é o G.Wells. Eu li quase todos os livros dele que estão disponíveis em língua Portuguesa. O Thiago com certeza apreciaria essa saudável troca de reflexões literárias e, embora eu não tenha certeza de que ele gosta dos autores ingleses aqui citados, sei que ele aprecia muito a obra de outros dois escritores que eu amo: Albert Camus e Dostoiévski. Aliás, é válido lembrar que a primeira música lançada por Halleck, seu projeto musical solo, foi inspirada na obra “Crime e Castigo”, clássico do escritor russo. Albert Camus renderia em particular, muito tempo de conversa. Juntos, meditaríamos sobre algumas das questões nucleares presentes no ensaio “O Mito de Sísifo”. Por que acordamos? Por que, afinal, fazemos o que fazemos? Qual é o sentido de nossas ações tendo em vista a nossa condição finita? O universo se cala diante de nossas indagações. Seremos sempre estrangeiros numa existência dominada pelo caos, pelo imprevisível e pela instabilidade. Isso tudo é absurdo.
Após abordar brevemente essa temática literária que me é indispensável em qualquer diálogo, seja lá com quem for, eu perguntaria a respeito de seus atuais projetos musicais e, especialmente sobre como estão as coisas com a talentosa banda Gangue Morcego. Sei que Halleck permanece ativo no meio musical. No momento, a Gangue Morcego está num período de hiato imposto especialmente pela atual barreira geográfica existente entre os membros da banda, mas os integrantes do grupo mantem contato frequente. Atualmente, Thiago está tocando com o Das Projekt, banda com a qual abrirá o show do The Mission no Carioca Club, em São Paulo. Recentemente, colaborou com o Anum Preto para um show que a banda realizou em SP. Ademais, ocupa-se com o Halleck que, conforme já citado anteriormente, consiste em seu projeto solo. É muita coisa... tudo que ele faz, faz com excelência. É um monstro tocando baixo – e eu diria isso pra ele.
Flagra estranha da nossa essência estranha... |
Para finalizar o nosso encontro que na realidade seria absolutamente interminável, eu puxaria uma série de xingamentos ao Bolsonaro e expressaria minha indignação com as inacreditáveis posturas reacionárias que estão tomando conta do país - talvez essa se tornasse a parte principal do nosso caloroso encontro. Sei que Thiago reciprocamente xingaria e muito o fascista infeliz que nos governa. Nos frustraríamos, é claro. É sempre desgastante falar sobre esse assunto. Mas estaríamos esperançosos com as próximas eleições e faríamos questão de deixar clara a nossa crença nas lutas e nas mudanças positivas que podem ocorrer no país a partir de outubro.
Enfim, garanto que todo o nosso papo seria intercalado de carinhosas risadas e alguns ótimos registros fotográficos. Acho que precisaríamos de pelo menos umas três garrafinhas de Coca...