Fanzine Brasil

SIOUXSIE SIOUX - SOPROS DE VIDA

Grandes homens, assim como grandes tempos são um material explosivo interior do qual uma força imensa é acumulada (....)

“DISCO DA BANANA”- A OBRA PRIMA IGNORADA

Eu sabia que a música que fazíamos não podia ser ignorada

SEX PISTOLS - UM FENÔMENO SOCIAL

Os Sex Pistols foram uma das bandas de Rock mais influentes da história.

ATÉ O FIM DO MUNDO

Com custos acima de mais dez milhões de dólares, é um filme encantador, artístico, típico das obras de Wim Wenders, realmente, é uma obra fascinante, mais uma certo do diretor alemão.

AFINAL, COMO SURGIU O CINEMA?

Um breve questionamento e historio sobre o assunto.

ATÉ O FIM DO MUNDO

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WOLF CITY - AMON DUUL II

Wolf City é um dos maiores clássicos do Rock Progressivo. É um álbum que celebra magicamente este gênero musical, e que é foi gravado por artistas imensamente talentosos

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

IAN CURTIS E SEUS PRAZERES DESCONHECIDOS


Por: Vannucchi


No dia 18 de maio de 1980, Ian Curtis, vocalista da banda Joy Division, enforcou-se em sua residência aos 23 anos. Antes do ocorrido assistiu a um filme do genial cineasta alemão Werner Herzog e escutou o álbum The Idiot, de Iggy Pop. Era mais um caso de suicídio envolvendo um músico de sucesso. Certamente você deve estar se perguntado quais foram as causas para esse trágico acontecimento. É impossível afirmar, pois a mente e as emoções Ian não nos pertencem e jamais teremos com dizer por absoluto o que o levou a tirar a própria vida.  Alguns se atrevem a especular a situação proferindo que o vocalista não suportava seus ataques epiléticos. É bem possível que isso o tenha influenciado, mas, repito: não podemos postular nenhuma causa do incidente de maneira absoluta. Dessa forma, Ian Curtis se foi deixando para nós um precioso legado musical caracterizado por imensa sensibilidade e por um lirismo perigosamente denso.

O SENTIMENTALISMO EXISTENCIAL NA OBRA DE IAN CURTIS:

O primeiro álbum de estúdio lançado pelo Joy Division é considerado por muitos com o primeiro disco de Pós-Punk. Isso demonstra grande inovação técnica e criativa. Se não foi o primeiro, certamente um dos primeiros. E há um ponto interessante a ser destacado no posicionamento de Ian diante do contexto que o cercava naquele período: em suas letras, ele abordava questões humanas profundas e intrínsecas, que permeiam pelo coração e consciência de um homem. Isso o diferenciava do que acontecia no período em que sua banda eclodiu porque naquele momento, o Punk era o movimento musical que dominava o mercado e que focava suas letras em problemas urbanos e temas sociais e políticos. Ou seja, Ian Curtis rompeu com essa temática no momento em que impôs seu espírito bayronista como motivação de suas criações artísticas. Essa atitude de Ian significou uma ruptura na história da música e simbolizou as portas de entrada para uma estrada melancólica do Rock And Roll (pós-punk/gótico).


As letras que Ian escrevia eram sombrias e pessimistas aos olhos da maior parte das pessoas que as liam. Lembra-me de Arthur Schopenhauer que, até hoje, é taxado como um filósofo pessimista. Certamente há uma semelhança entre ambos, pois tanto Curtis quanto o pensador, propuseram-se a retratar os lados negros e a dor da existência humana. Eles empenharam-se a sair debaixo da segurança da luz e das proteções que ela nos oferece, e experimentaram explorar corajosamente a miséria e a dor da nossa condição. Reconhecer o lado escuro do se humano os proporcionou associações com o pessimismo. Certa vez, o músico fez uma declaração importante a respeito de suas composições: "Escrevo sobre as diferentes formas que diferentes pessoas lidam com certos problemas, e como essas pessoas podem se adaptar e conviver com eles". Isto é, Ian Curtis, de fato, reconhecia os problemas que permeavam pelo mundo, e não os negava.

Além dessas observações em sua maneira de escrever, é válido ressaltar que o jovem compositor teve algumas influências para moldar esse perfil. De acordo com uma biografia escrita por sua viúva, ele foi fortemente influenciado por nomes como Nietzsche, Rimbaud, Oscar Wilde, Aldous Huxley, Sartre e Dostoiévski. Ian Curtis foi um híbrido de todos estes ídolos. Parece ter herdado o “amor fati” do primeiro, a aventura do segunda, o sarcasmo de Wilde, a postura reflexiva de Huxley, de Sartre e do escritor russo, certamente uma visão angustiante diante da realidade. Uma série de gênios que formou um outro gênio. Certamente sua retração e sensibilidade emocional fizeram de Curtis mais um artística enigmático e um tanto complexo de ser compreendido. Sua dança no palco era feita com singularidade, repleta de movimentos espalhafatosos e um tanto quanto desengonçados. Era uma forma de ironizar seu pior inimigo: o ataque epilético. Isso é bem nietzschiano.

 “ISTO NÃO É UM CONCEITO, É UM ENIGMA”:

A imagem da capa de “Unknown Pleasures” é intrigante. Foi feita por Peter Saville e Chris Mathan, mas foi Bernard Sumner quem teve a ideia da imagem. Trata-se de um de gráfico do sinal de rádio captado por um radiotelescópio do pulsar PSR B1919+21, a primeira estrela de nêutrons descoberta. Isto é, a imagem consiste numa visualização monocromática das ondas eletromagnéticas emitidas por uma estrela enquanto ela morria.

Na contracapa do álbum, consta a seguinte sentença: "Isto não é um conceito, é um enigma". É uma frase que possibilita nossa mente a viajar por inúmeras possibilidades. Talvez seja uma alusão à nossa própria jornada de pensamento. Será que é possível conceituar o mundo ou a tentativa de formular respostas sempre nos levará, inevitavelmente a problematizar algo novo, nos prendendo a dúvidas circulares? É filosófico e bastante intrigante. Para o filósofo Hegel, o mundo poderia ser sistematizado racionalmente. Schopenhauer o criticou colocando em destaque um aspecto que não pode ficar de fora de quaisquer afirmativas quanto ao mundo: a emoção. Portanto, para este última pensador, não podemos simplesmente tentar enquadrar a natureza em um sistema lógico deixando de lado as nossas próprias sensações particulares e experiências sensíveis.

Ou talvez, Ian não tenha tentativo dizer absolutamente nada do que foi mencionado acima. Pode ser sido apenas uma frase... algo relacionado com o cosmos ou com a morte de uma estrela.

*Texto anteriormente publicado em: www.acervofilosofico.com.br

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

IGGY POP: O GÊNIO INDOMÁVEL DO ROCK AND ROLL

Por: Vannucchi

O que, afinal, é o Rock And Roll? Como podemos defini-lo? Alguns dizem que é absolutamente tudo. Outros dizem que é liberdade. Alguns afirmam que é rebeldia e há quem diga que é apenas barulho. Qualquer definição que o Rock And Roll possa vir a ter, esta, certamente foi representada por Iggy Pop. O músico incorporou todo o espírito do Rock durante toda a sua carreira. Ele foi absolutamente tudo! Criou álbuns que soam distintos uns dos outros, tendo sido versátil, representou a liberdade quando não se importou com críticas e julgamentos, vivendo dentro de sua insana e poética natureza, foi rebelde quando rompeu paradigmas e demonstrou sua fúria, e também fez muito, mas muito barulho. 
 
Iggy Pop é uma lição sobre a essência do Rock And Roll. Sua energia vital e sua maneira de conduzir seus shows serviram de influência para milhares de cantores e bandas póstumas. Por mais que ele possa ser odiado, ele merece reconhecimento. De um garotinho tímido e quieto que foi em sua infância, tornou-se um furacão que se alastrou pelo mundo todo. Com apoio de David Bowie, cresceu cada vez mais como músico, tendo se destacado com os The Stooges, e também em sua carreira solo, na qual deixou legados elogiáveis como “The Idiot”, “Lust For Life”, “Beat 'Em Up”, “Avenue B”, entre outros. Se você, leitor, ainda não se deu ao luxo de mergulhar no som de Iggy Pop, anote os nomes dos álbuns mencionados logo acima, e manda bala!

* Texto anteriormente publicado no site Whiplash.




 

SEX PISTOLS: A QUALIDADE QUE O SENSO COMUM IGNORA (ou não percebe):

Por: Vannucchi e Marinho

O Sex Pistols sempre foi alvo de controvérsia. Mas a maior parte das críticas direcionadas à banda, são essencialmente vazias e desprovidas de justificativas e embasamentos históricos. Há de se levar em conta inúmeros fatores que nortearam o surgimentos da banda (contexto político, social, ideologia, aspectos musicais da época, objetivo da banda, etc).

No entanto, aparentemente, a maior parte das pessoas que ataca o Sex Pistols com clichês, tais como dizer que eles são mero "produto comercial" ou que são uma "farsa da música", esquecem-se de considerar em suas críticas, vários detalhes importantes sobre a banda.

Dificilmente alguém menciona/recorda/conhece/considera, por exemplo, o fato de que as letras ácidas do Sex Pistols criticavam árdua e diretamente a rainha da Inglaterra que, até então, era odiada por muitos cidadãos, embora quase ninguém se atrevesse a enfrentá-la ou tampouco, dirigir-se a ela. A apatia pela monarquia e pelos valores conservadores foi uma marca explícita da banda. Logo, se há algo que pode ser considerado válido no Sex Pistols, é o cunho político e social das composições. E é válido ressaltar que quando se avalia um objeto (artístico, por exemplo), há de se considerar seus inúmeros elementos, e não apenas detalhes tendenciosos específicos.

Como consequência da bagagem de suas letras, a banda foi notável porta-voz de uma nação. Podemos considerar o seguinte fato como prova disso: na época do lançamento de "Never Mind The Bollocks, Here Is Sex Pistols", o governo britânico proibiu a venda do álbum, de forma que adquirir um exemplar era praticamente contrabando. É o que costuma acontecer quando o poder é afrontado diretamente, e quando há uma arte potencialmente capaz de tirar os indivíduos de suas zonas de conforto.
Como consequência da bagagem de suas letras, a banda foi notável porta-voz de uma nação.
E claro, quando se fala sobre o Sex Pistols, não pode passar branco um detalhe valioso: a banda nunca quis ser brilhantes em termos técnicos. E um dos principais motivos para a banda ser tão odiada é exatamente devido a tal fato, pois a simplicidade provocativa e proposital tornou-os alvo de ataques por parte de músicos e críticos de cunho conservador e ortodoxo. Entretanto, atingir as pessoas, era exatamente o objetivo do minimalismo da banda. Há uma entrevista na qual Johnny Rotten afirma que o principal objetivo dos Sex Pistols era acabar com o Rock, e quando eles perceberam que estavam se tornando uma moda desse próprio gênero musical, eles se separaram.

Logo, os clássicos ataques do tipo: "mas eles só tocam três acordes", “mas eles são minimalistas”, praticamente perdem qualquer sentido lógico considerável. O Punk Rock nasceu como uma ressaca do Rock Progressivo. Todo o movimento Punk provou e tentou mostrar objetivamente que três acordes podem ser suficientes para se criar música e até mesmo para se obter sucesso. Assim, é preciso levar em conta a intenção conscientemente objetiva do Pistols.

E um detalhe válido: os membros iniciais da banda (Johnny Rotten, Paul Cook, Steve Jones e Glen Matlock) eram típicos rebeldes críticos da realidade que os cercava no contexto da época. Eles carregavam uma ideologia, eles estavam frustrados por causa da quantidade de lixo que havia pelas ruas de Londres e também se sentiam descrentes devido ao alto índice de desemprego que permeava pelo país. E nada disso foi uma farsa, era apenas a maneira como pensavam e se comportavam.

Malcon McLaren surgiu apenas como um catalisador. O estilista foi um visionário. Quando conheceu os futuros membros do Pistols, disse a eles que deveriam formar uma banda, e então, os quatro rebeldinhos revoltados viram a chance de expressar publicamente tudo que só diziam em casa, entre amigos e na Sex (loja de Malcon que era um clássico ponto de encontro de jovens deslocados ou insatisfeitos com seus cotidianos). Aliás, uma das críticas constantemente feitas à banda e que chega a ser cômica por sua futilidade, é o fato de que Malcon supostamente escolhia ou criava as roupas dos membros do Sex Pistols. Como se inúmeras outras bandas/músicos do Rock And Roll não vestissem peças extravagantes ou aproveitassem profissionalmente seus visuais (sendo que esses muitas vezes eram confeccionados por estilistas).

Portanto, para criticar ou se posicionar em relação a qualquer coisa, é necessário embasamento reflexivo/argumentativo e desvinculação com qualquer tipo de especulação provinda do senso comum. Dizer o que todos dizem é inércia, pensar o que todos pensam é uma forma de alienação. É preciso, no mínimo, considerar os inúmeros aspectos acima mencionados antes de afirmar falaciosamente que o Sex Pistols é "ruim". 

* Texto anteriormente publicado no site Whiplash. 

SEX PISTOLS: UM FENÔMENO SOCIAL

Por Vannucchi

Os Sex Pistols foram uma das bandas de Rock mais influentes da história. Representantes ávidos do gênero Punk, eles conduziram a ideologia de uma geração e, mesmo tendo lançado apenas um álbum de estúdio (Never Mind The Bollocks), tornaram-se influentes o suficiente para não serem mais esquecidos. Eles levaram consigo a alma rebelde do Rock And Roll (que existia já em seu primórdio), criaram um estilo musical de seus gostos, sem se preocupar com possíveis condenações midiáticas, e buscaram sempre, se expressar livremente, independente do que viessem a dizer.

Embora haja controvérsia, a maior parte da crítica especializada afirma que os Sex Pistols foram o grupo responsável pela introdução do gênero Punk Rock (tanto como música, quanto movimento no Reino Unido). Isso aconteceu em 1975, quando a banda foi formada em Londres, composta inicialmente pelo vocalista Johnny Rotten, o guitarrista Steve Jones, o baterista Paul Cook e o baixista Glen Matlock. Matlock foi substituído por Sid Vicious no início de 1977. O sucesso musical que obtiverem, foi conduzido por um nome bem familiar na história da música: Malcolm McLaren. O empresário os notou e enxergou potencial na rebeldia do grupo. Aliás, essa rebeldia, certa tarde, invadiu os lares da maior parte das famílias da Inglaterra, através de um programa televisivo. Narremos aqui um dos dias mais inesquecíveis (e brilhantes) da história do Rock And Roll: 1 de dezembro de 1976, Siouxsie Sioux (que posteriormente se destacaria com seus Banshees), os Pistols e outros punks, participavam de um dos programas de maior audiência da TV inglesa, levado ao ar às cinco da tarde, a famosa “hora do chá”, em que famílias concentram-se frente à TV. E então, durante a transmissão do programa, pela primeira vez na história, a expressão "Fuck Off" (Foda-se) é dita diante das câmeras. O protagonista da história só podia ser Johnny Rotten.

Pouco depois de o Sex Pistols dar as caras no cenário musical britânico, bandas semelhantes começaram a surgir e o movimento Punk, foi se alastrando pelo país e, consequentemente, por outros lugares no mundo. Rotten, certa vez, comentou o motivo social que levou o movimento a eclodir com tamanha intensidade: “A Inglaterra no início da década de 1970 era um lugar muito deprimente. Estava completamente degradada, havia lixo nas ruas, desemprego total, praticamente todos estavam em greve... Todos foram criados em um sistema de educação que deixava bem claro que se você veio dos subúrbios, você não tinha mais a menor esperança e nenhuma perspectiva de emprego. Foi daí que surgiu a minha pessoa pretensiosa e os Sex Pistols e depois de nós uma série de imitadores imbecil”.

Portanto, os Sex Pistols representaram (e ainda representam) o sentimento de fúria e revolta de muitos jovens que sentiam-se reprimidos e incapazes de construir um futuro promissor. “E ainda representam”, significa dizer que muitas pessoas ainda carregam esse sentimento e, com certeza, os Pistols ainda fazem sentido no cotidiano de muitas pessoas.

No jubileu de prata da rainha Elisabeth II, que completava 25 anos no poder Inglaterra, a banda lançou o compacto de "God Save The Queen". Um presente inusitado para a rainha, e que deixava bem clara a insatisfação da banda com o regime que estava no poder. Muitos britânicos (por mais que alguns não assumissem) abraçaram a letra e sentiram-se aliviados por alguém, finalmente, estar condenando o poder. Era uma crítica ousada que carregava trechos como "não há futuro na Inglaterra” ou “Deus salve a rainha, seu regime fascista”.

Foi uma banda polêmica e controversa. Odiada por muitos, amada por muitos outros. Mas foi mais do que uma reunião de jovens rebeldes reunidos para fazer Rock And Roll, foi um verdadeiro movimento social que influenciou jovens de todo o planeta, e que, até hoje, conquista seguidores e fãs. Os Pistols foram corajosos, e isso já é o suficiente para torná-los bons.

"…Never Mind The Bollocks, todos concordam, é um dos melhores discos do século XX." Pete Townshend (Guitarrista do The Who /Q Magazine - junho/96).

* Texto anteriormente publicado no site Whiplash.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

PETUR HALLGRIMSSON:

 Por: Vannucchi

Na primeira semana que passei em Londres, em outubro de 2015, tive a felicidade de conhecer e assistir a apresentação de um músico brilhante: Petur Hallgrimsson. Recentemente, ele bateu um papo comigo e o Audiograma publicou o resultado dessa conversa. Agora, a Fanzine Brasil, tem a honra de reproduzir o material. CONFIRA!

1. Petur, você pode nos contar um pouco sobre como começou sua carreira musical?
Comecei a tocar numa garagem quando ainda era adolescente.

2. Quais instrumentos sabe tocar?
O que mais toco é guitarra. Mas também já toquei lapsteel/pedalsteel, além de ukulele e banjo em apresentações ao vivo.

3. Sabemos que você aprecia musicas brasileiras. De quais bandas e cantores você gosta? Como conheceu a música brasileira?
Tom Zé, Os Mutantes, Pedro Santos, Marcos Valle, Joyce, Caetano e muitos outros.

4. Você conhece bastante gente na Europa que aprecia música brasileira? Ou acha raro encontrar alguém que goste?
Sim, acho que todo mundo por aqui conhece Bossanova e gosta e de música brasileira.

5. De que outros tipos de música você gosta? Poderia citar alguns cantores e bandas?
Meus artistas favoritos são o Television/Tom Verlaine, Tom Waits, David Bowie, John Fahey, PJ Harvey, Nick Cave… e outros.

6. Faz quanto tempo que você toca com John Grant? Vão fazer turnê em 2017?
Não haverá nenhuma turnê com ele em 2017…

7. Algum plano de virem para a América Latina?
Eu tenho certeza de que vamos para a América Latina. Só estivemos aí uma vez!

8. No livro “Rumo à Estação Islândia”, escrito por Fábio Massari, há uma página na qual você é mencionado. Como isso aconteceu? Como você conheceu o Fábio?
Eu conheci o Fábio na Islândia, ele estava visitando o país para assistir alguns shows e, na ocasião, eu estava tocando em muitas apresentações em Reykjavik, ao lado de pessoas diferentes. Ele é um cara legal e foi divertido sair com ele!

9. Eu não conheço muito sobre as músicas islandesas. Você poderia sugerir algo para mim e para os leitores que também não conhecem o som do seu país?
Primeiramente, sugiro que conheça uma banda chamada Sigur Ros, (eu participei do no álbum Ágætis byrjun). Também indico Sóley, Samaris, Amina, Ólöf Arnalds…

10. O que você acha da atual indústria musical? Há muita padronização nas musicas atuais?
Na verdade eu não penso sobre as músicas padronizadas.

11. Com a internet, ainda existe espaço para formatos como Cds e LPs? A internet é uma ameaça ou ela ajuda na divulgação?
Eu não tenho certeza… Eu sou muito “old school”… Eu sempre comprei LP’s e até hoje continuo comprando.

* Texto anteriormente publicado no site Audiograma. 

SIGUR ROSS:

Por: Vannucchi

Recentemente, por indicação de um músico islandês que, felizmente, é meu amigo, aventurei-me no trabalho artístico de uma curiosa banda da Islândia, chamada Sigur Ross.

E, portanto, como consequência da agradável experiência que tive nesta referida aventura, nesta primeira indicação que escrevo para Fanzine Brasil, faço a sugestão desta banda islandesa e aconselho que o leitor escute o álbum "Takk", de 2005.  O Sigur Ross é uma banda clássica e respeitada em seu país de origem, além de ser bastante conhecida pelo resto da Europa, conhecida pelo talento artístico de seus integrantes e pelo constante e elogiável experimentalismo.

A maior parte das músicas do Takk são leves e cativantes, além de carregarem uma marca clássica da banda, que é o experimentalismo. Também é possível notar a presença de construções minimalistas que se dissolvem em melodias doces e potentes. Indicado especialmente para quem busca conhecer algo novo, que se difere de certas mesmices habituais.






WOLF CITY - AMON DÜÜL II:

Por: Vannucchi

O Amon Düül II é uma das mais prestigiadas bandas de Rock da Alemanha. Provindos do cenário underground local, destacaram-se pelo criativo psicodelismo de suas músicas. O primeiro álbum, chamado Phallus Dei foi lançado em 1969, e sua singularidade sonora era um anúncio da qualificação de uma banda que se estabeleceria como um dos maiores ícones do Krautrock alemão.

O Wolf City, quinto álbum de estúdio, foi lançado em julho de 1972. Possuí sete faixas e é relativamente curto, com um total de pouco mais de 30 minutos de música. As faixas são mais curtas em relação aos álbuns anteriores, fato que os ajudou o Amon Düül II a conquistar maior visibilidade na mídia, fato este, que tornou a banda mais comercial. A complexidade de sua construção merece ressalvas: mais dez músicos participaram da gravação (contanto com os integrantes fixos da banda) e, assim, uma grande diversificação de instrumentos moldam a sonoridade do álbum. Há ruídos de saxofone, sintetezador, clavioline, órgão, tambura e outros instrumentos excêntricos que garantem uma atmosfera experimental e delirante.  
O Wolf City é um dos maiores clássicos do Rock Progressivo. É um álbum que celebra magicamente este gênero musical, e que é foi gravado por artistas imensamente talentosos.

O álbum, de início ao fim, é marcado por um vocal que varia entre vozes masculinas e femininas e que é incrivelmente dividido entre seis músicos. A faixa de abertura é a poderosa Surrended By Stars, que se tornou uma das mais populares de toda a carreira da banda. Esta música é brilhante, impactante e foi a primeira maluquice musical que conheci do Amon Düül II, e que para mim, tornou-se um verdadeiro cartão de visita as, instigando-me a explorá-los com maior profundamente. A segunda faixa também merece menção, pois é carregada de combinações formuladas por instrumentos diversos e possuí um aspecto alucinante, tipicamente característico do Rock Progressivo. Há ainda a intensa Jail-House-Forg, caracterizada por curiosas oscilações melódicas e rítmicas, e que incrivelmente, devido à tais alternâncias, não parece sequer ser apenas uma música, e a impressão que fica é que mais de uma faixa rodando. Por fim, a potente Sleepwalker's Timeless Bridge, fecha o álbum com chave de ouro, oferecendo certa delicadeza e esbarrando em uma espécie de Folk com um vigoroso toque de guitarra. 

Wolf City é um dos maiores clássicos do Rock Progressivo. É um álbum que celebra magicamente este gênero musical, e que é foi gravado por artistas imensamente talentosos. Possivelmente, ao lado do Yeti (de 1970), é um dos melhores trabalhos mais geniais da fabulosa e respeitável carreira do Amon Düül II, e uma das maiores pérolas da história do Rock And Roll. Boa viagem.

* Texto anteriormente publicado no site Whiplash.   

THE CURE: NEM GÓTICO, NEM PÓS-PUNK, APENAS THE CURE

                                                                    Por Juliana Vannucchi

O The Cure é uma banda inglesa surgida no final dos anos setenta, e que foi aclamada durante a década de oitenta, tendo enorme reconhecimento até os dias de hoje. Liderada por Robert Smith, único membro que permaneceu no grupo desde a sua formação até os atuais, o The Cure conta com 14 álbuns de estúdio, todos elogiados e, de forma geral, bem recebidos pela crítica. Além da forte presença de Smith na criação de todos os álbuns, a banda é sempre lembrada devido a aparência do vocalista, que manteve um visual bastante peculiar durante sua carreira, usando seu cabelo desgrenhado, e um batom vermelho borrado em seus lábios. Durante os anos 80, a banda foi considerada  “gótica”, característica constantemente repudiada pelo vocalista e líder da banda, Robert Smith.

ÁLBUNS DO THE CURE:

Three Imaginary Boys – 1979:

O primeiro álbum de estúdio do The Cure, o “Three Imaginary Boys”, de 1979 é um trabalho da banda que se assemelha com o disco seguinte “Boys Don’t Cry”, e se difere da sonoridade próximos outros álbuns que o The Cure viria a lançar postumamente em sua carreira.

Three Imaginary Boys conta com um instrumental em que a guitarra se destaca, e a bateria é tocada com velocidade. As músicas assumem um perfil mais “Punk” (bastante evidente em músicas como “So What”, “Grindin Halt”, “It’s Not You”) com os instrumentos tocados de maneira rápida e, em parte das músicas, de forma agressiva. O vocal de Smith acompanha harmoniosamente o contexto instrumental. Dessa forma, esse trabalho do The Cure, junto ao disco seguinte, possuem um perfil mais voltado ao Punk Rock.

Interessante ressaltar um conceito do álbum, que é a capa do Three Imaginary Boys. Ela não possui imagem de nenhum dos três integrantes do The Cure, e nem carrega o nome da banda, há somente três objetos, e isso aconteceu porque os membros queriam que a banda fosse reconhecida pela qualidade musical, e não por sua imagem.

Boys Don’t Cry – 1980:

No ano seguinte ao lançamento do primeiro álbum, o The Cure produziu o “Boys Don’t Cry”.   Conforme já me citado anteriormente, o esse trabalho da banda, assemelha-se ao anterior na questão instrumental e vocal, e também leva algumas faixas do Three Imaginary Boys. Porém, apesar de repetir algumas das músicas, tem novidades como a faixa “Boys Don’t Cry”, que foi responsável por lançar o The Cure na mídia e no mercado musical da época. Outra faixa que se destacou foi “Killing An Arab” (em português: “Matando Um Árabe”), escrita por Robert Smith com base na obra “O Estrangeiro”, do escritor e filósofo francês Albert Camus, e que apesar de bem aceita e elogiada, causou certa polêmica devido à letra e ao título.

Seventeen Seconds – 1980:

No mesmo ano em que lançou o “Boys Don’t Cry”, disco responsável pelo sucesso da banda na indústria musical e comercial, o The Cure lançou também o “Seventeen Seconds”.  Esse trabalho rompe musicalmente com as características que marcaram os trabalhos anteriores, e a partir desse disco, a banda começa a usar constantemnete o sintetizador e amadurecer instrumentalmente. Além disso, Seventeen Seconds é importante porque é com ele que o Cure começa a assumir sua identidade musical, ou seja, seu instrumental e vocal singulares, que tanto o diferenciaram de outras bandas oitentistas. Robert Smith declarou certa vez que o Cure não é uma banda punk, gótica, ou de pop rock, disse que é apenas o The Cure, e que tocam o “estilo The Cure”. E de fato, eles são uma banda peculiar, e é nesse álbum que essa peculiaridade começa a dar as caras. 

Apesar de tal declaração de Smith, foi devido ao Seventeen Seconds que o The Cure começou a ser considerado, no mundo todo, como uma banda gótica. E não foi a toa que esse adjetivo surgiu por parte de fãs e críticos. As faixas desse álbum, conforme já mencionado, abandonam o instrumental agitado, tornam-se parcialmente melancólicas (tanto no instrumental quanto nas letras). O álbum possui uma sonoridade e vocal levemente mais lentos, e contam com maior presença do sintetizador. A faixa de abertura do disco, “A Refletion”, já “reflete” o que está por vir nas canções seguintes, e carrega o clima de todo o trabalho.  A música de maior sucesso do Seventeen Seconds é “A Forest”, até hoje, considerada com uma das melhores músicas já feitas pela banda. Esse álbum também começou a contar com as profundas, e artísticas letras de Robert Smith. Baseadas em suas emoções, em seu interior, em sua forma de viver a vida, as palavras de Smith começam a ser belas e, por mais que fossem melancólicas, tornaram-se mais um destaque da banda e um ponto elogiável e reconhecido por muitos críticos.

Faith – 1981:

Se o The Cure já estava sendo taxado como uma banda gótica, o álbum de 1981, só fortaleceu essa imagem que a banda carregava desde o ano anterior. O álbum tem 9 canções, todas com forte presença do sintetizador e com uma notável harmonia instrumental. As músicas que compõe o Faith são mais melancólicas ainda do que as do Seventeen Seconds, especialmente nas letras, com trechos pessimistas, como por exemplo: “Mão em mão com medo das sombras, chorando na festa funerária..” (Funeral Party), ou ” Me pegue se eu cair, eu estou perdendo o suporte, eu apenas não posso continuar deste jeito” (Faith).

É uma obra admirável, lírica, bem estruturada e digna de elogio. Nas faixas que compõe o disco, o instrumental é acompanhado pela presença melancólica das letras e vocal, e mesclado com uma leve agressividade da bateria e guitarra em algumas canções como Primary e Doubt.

“Eu não me apercebi do efeito que teria na banda. Eu pensei que poderíamos juntar as músicas quando tocássemos ao vivo e as outras canções iriam criar um equilíbrio, mas acabou por afetar todos. Aquelas canções tiveram um efeito negativo em nós — quanto mais as tocávamos, mais deprimidos e desolados ficávamos”. (Robert Smith, acerca do álbum Faith, Ten Imaginary Years, 1988).

Pornography – 1982:

Em 1982 o The Cure lança o Pornography, que para alguns fãs, é o melhor disco da carreira da banda. Trata-se de um trabalho instrumentalmente mais qualificado e mais maduro do que os anteriores, embora bem parecido, ao ponto de que junto ao Seventeen Seconds e o Faith, essa é considerada e chamada de “a fase sombria do The Cure”. Pornography tem uma aura depressiva, um instrumental mórbido e um vocal abatido.

Com oito faixas, esse álbum soa semelhante ao Seventeen Seconds, e ao Faith. O disco segue com um perfil melancólico, mas possui uma característica mais sombria e deprimente, ao mesmo tempo em que as canções são explosivas e raivosas. E é nessa fase que o Cure começa a registrar uma verdadeira marca que tem até os dias atuais: a aparência de seus integrantes. Aí, surgem as roupas pretas, terços pendurados, o cabelo desgrenhado, e a maquiagem.

Até 1982, todos os discos do The Cure estavam sendo elogiados pelos críticos musicais e a banda seguia muito bem aceita no mundo conquistando cada vez mais fãs por todos os continentes. Durante a época de apresentações do Pornography, Smith chegou a chorar no palco e se recusar a tocar algumas músicas, de tão profundas e depressivas que eram para ele.
O The Cure é uma banda inglesa surgida no final dos anos setenta, e que foi aclamada durante a década de oitenta, tendo enorme reconhecimento até os dias de hoje


The Top – 1984:

Desta vez, com um intervalo de dois anos, o The Cure lançou o The Top. Apesar de ter levado mais tempo para ser produzido do que levaram os álbuns que o precederam, o The Top, é para muitos – inclusive para Robert Smith – o pior disco que o The Cure já fez.

Marcado por uma fase em que a banda, e principalmente Smith, abusavam dos entorpecentes, The Top é um álbum psicodélico e turbulento. Se antes, os discos possuíam capas minimalistas e com poucas cores, esse possui uma capa que tem uma mistura de cores psicodélicas - cores quentes e frias todas misturadas - que remetem de cara o que está por vir nas canções, e retratam a fase confusa e alucinante em que Robert Smith vivia.

Apesar de não ter sido o disco mais elogiado que o The Cure fez, há três faixas que são boas: “The Caterpillar”, “Shake Dog Shake”, e “Bananafishebones”. O resto é quase que só um monte de palavras e melodias resmungadas por Smith. As canções são um pouco de tudo: sombrias, alucinantes, misteriosas, e perdidas entre um sintetizador pop, e uma guitarra tocada de maneira desleixada e eufórica. As letras, diferentemente daquelas dos discos de antes, da fase sombria do Cure, são confusas e pouco poéticas, tratando de temas como drogas, e alucinações, puro reflexo do momento difícil que Robert Smith atravessava, marcado pelo uso exagerado de drogas e bebidas.

The Head On The Door – 1985:

Se o The Top, disco anterior ao The Head On The Door, não havia sido a melhor produção do The Cure, em contrapartida, este, para muitos, é considerado o melhor disco da banda. The Head On The Door é persuasivo, e mais delicado do que os álbuns de antes.

Neste, a fase mais sombria e a fase alucinógena são deixadas de lado. O disco não se concentra no vocal mórbido, e no instrumental soturno que prevaleceram nas fases de 80, 81 e 82. Também não carrega o devaneio do The Top. É um trabalho mais singelo, mais romântico, e bem mais pop. E nesse álbum havia duas grandes preciosidades do The Cure que viriam a se eternizar. Trata-se da faixa de abertura, e da faixa final, “In Between Days” – romântica e graciosa, responsável pelo sucesso da banda no Brasil - e “Close To Me” – com uso de trompete e muito harmoniosa, uma melodia doce e contagiante-, respectivamente. As duas músicas fizeram, e fazem até hoje enorme sucesso. Além dessas canções, outras como “Kyoto Song” – fala sobre um pesadelo onde acontece um assassinato ao lado de uma piscina, - “Push” – talvez a mais dançante e pop do álbum-  e “The Blood” – belíssima música que conta com um ritmo flamenco muito bem trabalhado pelo The Cure - , todas, foram também alvo de elogios.

Kiss me, Kiss me, Kiss me - 1987:

The Head on The Door já soava mais pop e dançante, e o álbum seguinte, gravado em 1987, no Sul da França, o  “Kiss me, Kiss me, Kiss me”, seguiu esse mesmo caminho.

Esse álbum mescla um pouco de pop, tendo canções bem dançantes e empolgantes, românticas e agitadas, com algumas faixas cujo instrumental tem um aspecto mais negro, lembrando da fase anterior do The Cure, no início da década.  O grande sucesso do álbum é “Just Like Heave”, uma das canções que rendeu grande sucesso e críticas favoráveis ao The Cure e ao disco. Destaque também para as dançantes e fervorosas “Why Can't I Be You”, “Hot Hot Hot”.

Simon Gullap, instrumentista que participou da gravação do disco, declarou sobre o mesmo: “É como uma mistura entre o Pornography e o The Head On The Door - os melhores elementos de ambos. Resulta muito bem porque num momento entras no desespero e no próximo sentes-te entusiasmado. Estou cem por cento satisfeito com a banda, e sem colocar demasiado ênfase nisto, penso que este álbum é perfeito”.

Desintegration – 1989:

Se The Head On The Door e Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me, transmitiam um clima mais ameno do que os trabalhos anteriores do The Cure que compuseram a fase mais obscura da banda, Desintegration não somente voltou com uma atmosfera soturna, mas, muito provavelmente, foi inclusive mais sombrio do que Seventeen Seconds, Faith e Pornography. Desintegration é um trabalho romântico ao estilo gótico, uma obra tipicamente byronista, ou seja: angustiante, pessimista, e melancólica.

No período de gravação do Desintegration, Robert Smith vivia um período de tristeza e angústia em sua vida particular. Robert transpôs com excelência o seu sofrimento e desespero para as faixas do álbum. Nessa trabalho surgiram verdadeiros clássicos do The Cure, como “Fascination Street”, “Lullaby”, “Pictures Of You”, e “Lovesong”. Essas canções tornaram-se rapidamente conhecidas e tocadas no mundo todo.

É uma obra fascinante, tocante, e profunda. Fascinante, porque encanta. Tocante pela sensibilidade, e profunda, pela sinceridade e entrega com que foi produzida pelos músicos do grupo. O álbum pode ser considerado como um retrato do tormento de uma alma. 

 Wish – 1992:

Wish é o primeiro de dois álbuns inéditos que o The Cure lançou durante a década de noventa. Embora tenha algumas faixas boas, com destaque para “Friday I’m In Love” e “End”, no geral, o disco soa um tanto fraco se comparado com os trabalhos feitos pela banda durante a década de 80. Aliás, os trabalhos do The Cure na década de 90, o “Wish” e a produção seguinte, de 1996, não foram realmente grandes sucessos, e, definitivamente, diferentemente da década anterior na qual se consagrou atingindo sucesso global, dessa vez manteve-se mais apagada.

De Wish, somente Friday I’m In Love realmente rendeu sucesso (e não foi pouco), e foi muito tocada nas rádios durante 1992, e também durante os anos seguintes. A aceitação de Wish não foi ruim, mas não alcançou as expectativas dos fãs da banda. Wish é carismático, mas ao mesmo tempo soa um tanto raso.

Wild Mood Swings – 1996:

Depois de quatro anos sem gravar, a banda lançou o Wild Mood Swings, o décimo álbum do The Cure, que é quase que unanimemente tido como a pior produção da história da banda.

Uma música, ou outra, até pode agradar. Porém, para uma banda como o The Cure, que até então, tinha mantido-se firme e talentosa por pelo menos uma década, o trabalho, num contexto geral, foi enfadonho, sem criatividade, e decepcionantemente fraco.

“Os fãs também o odiaram. Foi a única vez que eu fiquei tremendamente desapontado. Eu penso que foi porque a The 13th foi a primeira coisa que eles ouviram da banda em muitos anos, e penso que depois disso não lhe deram mais uma chance”. (Robert Smith, acerca da reação a Wild Mood Swings , Never Enough - The Story of The Cure, 2005).

Bloodflowers – 2000:

Bloodflowers, o disco do The Cure de 2000, foi o álbum laçando depois de maior intervalo de tempo até então na história da banda. Esse seria o primeiro de mais duas produções que o The Cure prepararia para essa década.

Depois do sucesso parcial de Wish, e do decepcionante Wild Mood Swings, Bloodflowers foi bem recebido pelos fãs, e tornou-se mais um ótimo trabalho do Cure. Com um total de 9 faixas, o clima do CD lembra os trabalhos mais obscuros. Bloodflowers não tem exatamente uma atmosfera sombria, mas o instrumental e as letras, em conjunto, transpõem uma sensação de pessimismo nas músicas. Os instrumentos alternam-se entre um som mais meigo e uma melodia pesada, sendo que letras mantém-se praticamente todas com frases obscuras. A melhor faixa é a última, com o nome do próprio disco, Bloodflowers. A canção é simplesmente maravilhosa, é linda por seu pessimismo e tocante por sua intensidade. Bloodflowers fecha o álbum com chave de ouro.

The Cure – 2004:

Em 2004 a banda lançou no mercado um CD intitulado “The Cure”. Novamente, um trabalho relevante em sua totalidade, embora talvez tenha agradado um pouco menos aos fãs do que o disco o primeiro álbum do novo milênio, o Bloodflowers e, se comparado a este, talvez tenha sua qualidade, de fato, um pouco baixa. “The Cure” não é nem de longe o melhor trabalho da banda, mas também não é o pior. É mais um acerto, mas nada memorável. Embora algumas músicas sejam boas, o álbum no geral soa um tanto repetitivo, o que o torna um pouco cansativo de ser ouvido.

A primeira faixa do CD, intitulada “Lost” talvez seja a música mais qualificada do álbum todo. Lost é uma música mórbida, negativa, e ao mesmo tempo agressiva e profunda. As outras canções têm aquela velha característica de alguns outros álbuns do The Cure, umas faixas são mais dançantes e beiram o pop, outras possuem uma sonoridade mais sombria.

4:13 Dream – 2008:

Quatro anos depois do lançamento do álbum The Cure, a banda apresentou o 4:13 Dream.  Nenhuma faixa do CD fez grande sucesso comercial e, no geral, em questão de qualidade, é praticamente igual ao CD anterior, o “The Cure”. 4:13 Dream é um CD razoável, mas nada de esplendido.

Uma guitarra mais agressiva tange o clima da maior parte das músicas. As faixas são, no geral, bem agitadas e o CD é um tanto barulhento, talvez o mais barulhento entre todos os álbuns do The Cure. O melhor aspecto do álbum é a energia da voz de Smith que canta com intensidade e envolvimento.

O The Cure fecha, assim, mais uma década de bons trabalhos, embora não tenha conseguido com esses três álbuns dos anos 2000, o mesmo sucesso ou a mesma qualidade que a banda teve na década de oitenta. Criatividade e ideais não faltam para a banda, e, em especial, para Robert Smith. Aguardemos por novos álbuns.

NOTAS:

1.       Este trabalho consiste numa análise particular dos álbuns de estúdio do The Cure. Tal análise é complementada por informações concretas de fontes seguras como alguns portais da internet referentes à banda, e mídias impressas com matérias sobre o The Cure.

2.       O The Cure, recentemente, em 2014, anunciou que lançara mais um álbum ainda neste ano.

3.       Não constam aqui análises de todos os discos oficiais lançados pela banda, que tem uma discografia ampla composta por singles, compilações e álbuns de shows ao vivo. Foram aqui analisados somente os trabalhos oficiais de estúdio.


   





 

DE MICKEY GANG PARA WE ARE PIRATES: O FENÔMENO MUSICAL DE COLATINA:

Por: Vannucchi

Houve uma época da minha vida em que eu e um primo costumávamos, sempre que possível, ir ao cinema para matar o tempo. Uma dessas várias sessões que frequentamos no período, tornou-se especial pra mim. Estávamos em São Paulo e decidimos encarar o filme "Muita Calma Nessa Hora". Confesso que o enredo não estava me agradando muito, embora houvesse algumas cenas cômicas que, de maneira geral, renderam-me uma boa dose de diversão e alguns risos.  Porém, foi durante as cenas finais que o filme me proporcionou uma surpresa muito positiva que fez com que o ingresso realmente tivesse valido a pena. A história estava prestes a se encerrar, as soluções da trama já estavam postuladas, quando, de repente, uma animada música passou a acompanhar algumas imagens e, a cada segundo que se passava enquanto o som tocava, fui me envolvendo cada vez mais naqueles curiosos e até então, desconhecidos acordes. Aquele som me absorveu completamente e da melhor maneira possível. 

Eu precisava descobrir o nome da banda que tocava aquela música e assim, saí da sala de cinema disposta a desvendar esse mistério. Uma coisa eu suponha: deveriam ser gringos dos anos 80, afinal, tratava-se de um som divertido e dançante, parecemdp uma mistura de Pop com Indie e New Wave, sendo, enfim, diferente de grande parte das mesmices que me eram contemporâneas! Voltei para a casa intrigada e, após algumas breves pesquisas na internet, percebi, para minha surpresa, que estava enganada: não eram gringos e não eram oitentistas, tratava-se de uma banda brasileira chamada Mickey Gang, formada em 2007. E durante essas pesquisas, percebi também que eu não era a única admiradora do grupo, pois eles já haviam até mesmo tocado em solos londrinos e feito enorme sucesso por lá! Agora que já descrevi como conheci o Mickey Gang, acho que devo apresentar melhor a banda e também penseo que seja válido darmos alguns passos para trás, antes de Londres e antes da minha sessão de cinema. Voltemos, então, para o local em que tudo começou...

Colatina é uma cidade relativamente nova, não tem nem um século de existência. Localiza-se no Espírito Santo e possui pouco mais de cem mil habitantes. Foi neste pedaço de terra que a história do Mickey Gang começou a ser escrita quando quatro amigos (Arthur Marques, Bruno Moreira, Ricardo Vieira, João Paulo Dalla) decidiram formar uma banda com timbres legais. Certamente você já conheceu várias histórias semelhantes, embora muitos enredos parecidos com este terminem sua jornada na garagem. Porém, com a banda capixaba, o desfecho foi outro. O Mickey Gang durou pouco, mas voou alto. Aliás, literalmente, pois este voo, conforme já escrevi acima, os levou, inclusive, para fora do país. Mencionei acima que estiveram em Londres e esta, definitivamente não é uma cidade qualquer. É o berço de grandes nomes da música, como, The Beatles, do Pink Floyd e do Led Zeppelin! Solo que foi chacoalhado pelo Punk Rock e de onde surgiram o Sex Pístols e o The Clash!! E mesmo carregando toda a essa história musical fantástica formulada por bandas que moldaram o Rock And Roll, Londres abraçou, valorizou e venerou os quatro meninos brasileiros que, inclusive, viraram pauta do renomado “The Guardian”. Acredite, isso não aconteceu à toa. Eles eram especiais. João Paulo contou que "o convite para fazermos um show na Inglaterra veio por e-mail e achamos que era um vírus, até recebermos as passagens e notarmos que a coisa era realmente séria". O músico disse ainda, que foi um momento muito especial e surpreendente para a banda que pode conhecer pessoalmente um ambiente que sempre apreciaram e que sonhavam em visitar. E tem mais: durante essa pequena turnê, uma loja de discos chamada Pure Groove, através do selo 50bones Records, lançou um LP da banda (o primeiro e único). Ricardo se recorda, com entusiasmo: "Eles escutaram as músicas, gostaram e fizeram a proposta. Fechamos!! Vinil amarelo, 300 cópias. Todos foram vendidos!".

Mas não foi apenas no exterior que os meninos conquistaram fãs e reconhecimento. O Brasil também os abraçou e tiveram apreciadores por aqui. Em 2009, a banda recebeu indicações no VMB, da MTV, e também no Prêmio Omelete Marginal. Além disso, foram manchete da Folha de São Paulo e de outras grandes mídias. Chegaram a gravar um videoclipe no apartamento de Arthur Marques para a música “I Was Born In The 90’s”. Trata-se de uma sequência de cenas que se passam em uma festa na qual um bando de jovens dança freneticamente. Alguns se drogam, outros se beijam, mas todos parecem alucinadamente felizes e empolgados ao som do Mickey Gang!

Na sequência dessa explosão de reconhecimento midiático nacional e internacional, durante um período de tempo um tanto breve, a banda continuou o seu trabalho. Contudo, em meados de 2010, enfrentou um momento de desgaste que culminou em seu fim.

Felizmente, nem tudo estava perdido, pois não muito tempo depois do final desse ciclo, uma nova história começou a ser escrita. Em novembro de 2011, Bruno Moreira, João Paulo Dalla e Ricardo Vieira deram início a um nosso projeto, o We Are Pirates, cuja sonoridade seguiu linhas diferentes do trabalho anterior.

As músicas do We Are Pirates possuem notável capricho técnico e são mais sofisticadas do que as do Mickey Gang. As letras também mudaram, tornaram-se mais reflexivas. João Paulo justificou a razão deste avanço, dizendo que "isso é questão da nossa verdade, do que éramos na época. Sempre fizemos a música que sabíamos tocar. É natural evoluir". O primeiro EP do We Are Pirates, chamado “Kids Practice” é extremamente potente e prazeroso. De maneira geral, as canções são vibrantes e balançam entre uma doçura sublime e curiosas melodias parcialmente psicodélicas. Não houve lançamento de material físico, o EP foi inteiramente disponibilizado em formato virtual. Aliás, este tem sido o único formato com o qual a banda tem trabalho, embora Ricardo Vieira confesse que já foram procurados por alguns selos que demonstraram possíveis pretensões de criar material físico. Parece que os meninos realmente preferem o clássico Punk método D.I.Y ou “faça você mesmo”.

O baixista Bruno Moreira deixou a banda após a concretização do Kids Practice. Desde então, o We Are Pirates sobrevive como um duo composto pelos dois outros membros. João Paulo Dalla e Ricardo Vieira dividem as gravações, as edições e mixagens e essa fórmula tem tido resultados eficientes. Alguns e certos autores que escreveram notas sobre o duo classificam-no como Indie. Perguntei aos meninos se eles se enquadram neste gênero e a resposta foi negativa. Eu preciso concordar com essa recusa e esteriótipo feita pelos membros da banda. Enquadramento musical costuma ser uma atitude clássica de romantismo jornalístico. Até porque, escutando as faixas com mais atenção, fica perceptível que eles produzem suas músicas de maneira espontânea, distanciando-se, assim, de possíveis pretensões de ter um produto final pautado em determinado gênero.

Em 2016, o We Are Pirates lançou o Golden Crimes, um EP com três faixas que que deixa evidente que a banda progride e impressiona cada vez mais e que demonstra que, definitivamente, eles não precisam de interferências mercadológicas para produzirem um trabalho qualificado. Os meninos realmente são talentosos e muito, muito criativos. No início de 2017, a faixa “Happy Days” foi ar. É animada e o refrão é daqueles tipo que facilmente cola na cabeça do ouvinte. Essa lembra um pouquinho os tempos de Mickey Gang, mas com uma pitada de... We Are Pirates.

* Texto anteriormente publicado no site: Audiograma. 



SIOUXSIE SIOUX: SOPROS DE VIDA

Por Vannucchi
Certa vez eu estava relendo o livro "O Crepúsculo dos Ídolos", escrito por F. Nietzsche, quando, repentinamente, meus olhos se depararam com um conjunto potente de palavras que, imediatamente, trouxeram à tona em minha consciência, a imagem de Siouxsie Sioux. O referido trecho ao qual me refiro é um aforismo intitulado "Minha Concepção de Gênio". Abaixo, transcrevo uma parte do mesmo. 
"Grandes homens, assim como grandes tempos são um material explosivo interior do qual uma força imensa é acumulada (....) Os grandes homens são necessário, o tempo em que aparecem são casuais; o fato de eles quase sempre se tornarem senhores sobre o seu tempo não se sustenta se não através do fato de eles serem mais fortes (...) ele extravasa, ele transborda, ele não se poupa (...)" - Nietzsche.
As relações que estabeleci enquanto lia a passagem acima com a personalidade de Siouxsie Sioux, definitivamente fazem sentido. Ela foi um material explosivo para seu tempo e, certamente também para as gerações futuras. Sioux transcendeu seu próprio tempo. Isto significa que suas diversificadas contribuições (ideológicas, comportamentais e musicais) são simplesmente atemporais. Mesmo que sua geração não estivesse completamente preparada para recebê-la, ela estava plenamente presente, abraçando corajosamente o mundo que lhe envolvia, enquanto, por sua vez, ela própria construía também o um novo mundo através de incríveis expressões artísticas. Tentar descrever seus feitos é um desafio grande, pois eles foram muitos. Mas de maneira geral, posso mencionar que o legado de Siouxsie Sioux, é traçado por um enorme brilhantismo criativo e por uma aura de imensa singularidade. As letras que ela escreveu são emblemáticas! Muitas baseiam-se em filmes (por exemplo, Head Cut), outras falam sobre assassinato (Night Shift) e também houve inspiração provinda de sonho (como em Lunar Camel). 
Siouxsie Sioux é uma espécie de coelho branco que nos convida, poeticamente, para adentrar em um místico universo atípico é instigante!   
 
A vocalista dos Banshees, com sua curiosa extravagância, sacudiu Londres durante a década de setenta durante a eclosão do movimento Punk Rock, tornando-se uma das principais representantes da cena. Posteriormente, afastou-se desse gênero sonoro que refletiu diretamente em seus dois primeiros trabalhos musicais. Os Banshees mudaram de rumo e tornaram-se mais sublimes, sempre se diversificaram e até mesmo, em alguns trabalhos, beiraram o Pop. O The Creatures, por sua vez, apoiou-se em uma sonoridade singular. 

Sioux, portanto, se reconstruiu, sempre, de tempos em tempos com imensa originalidade. Entregou-se firmemente às suas próprias transformações. Concretizou desejos. Foi ousada e muito, mas muito corajosa, fazendo da autenticidade uma assinatura. Durante o extenso trajeto de sua carreira, balançou harmoniosamente entre fases apolíneas e dionisíacas que resultaram em canções fantásticas! Siouxsie Sioux é uma espécie de coelho branco que nos convida, poeticamente, para adentrar em um místico universo atípico é instigante! Ela não foi apenas uma cantora que marcou a história do Rock And Roll, ela do genial. 
 
Atualmente, prefere ficar em seu lar, caminhando pelo jardim e cuidando das plantas. Além disso, diverte-se brincando com seus gatos e entregando-se à leitura. Gosta de Jean-Paul Satre, Albert Camus, Proust e outros autores. Certamente, de vez em quando, encontra tempo para algum filme. Ela sempre foi apaixonada pelo cinema... Conta-se, por aí, que aprecia obras de diretores como David Cronenberg e Alfred Hitchcock. 
Ela já fez o suficiente e não deve mais nada a ninguém. Pobres de espírito são aqueles que lhe cobram algo. 

Hoje, no dia 27/05/2017, Susan Janet Ballion está completando 60 anos. É uma honra conhecer o seu legado e poder apreciar a sua arte! 

* Texto anteriormente publicado no site Audiograma.  

“DISCO DA BANANA”- A OBRA PRIMA IGNORADA:


Por: Vannucchi
Eu sabia que a música que fazíamos não podia ser ignorada. Havia muitos elementos de classicismo no que estávamos fazendo para as pessoas encararem isso como se fosse alguém simplesmente fazendo barulho. Era muito construído. Pensava ser inevitável que alguém pudesse perceber a incomparável natureza do que estávamos fazendo.” – John Cale

Em março de 2017, o icônico “disco da banana” completou 50 anos. O título original desta obra é “The Velvet Underground & Nico”, e este foi o primeiro álbum de estúdio lançado pela banda The Velvet Underground. Brian Eno, músico de enorme respeito e de grandes feitos, certa vez disse que poucos foram os que compraram este álbum em 1967, mas que "todos aqueles que compraram uma das 30 mil cópias formaram uma banda". Eno estava certo quando fez este comentário, pois hoje sabemos que inúmeras bandas somente arriscaram começar a escrever suas histórias por inspiração do The Velvet Underground & Nico. Por certo, este trabalho inicial da banda, pautado no “do it yourself”, foi o berço do próprio Punk Rock.

Os integrantes deste álbum foram Lou Reed, que compôs a maior parte das letras, o baterista Maureen Tucker, que chegou a usar latas de lixo em seu kit de bateria, John Cale, multi-instrumentalista de extrema criatividade, Sterling Morrison, potente guitarrista e, claro, Nico, atriz alemã que se tornou o “mito do Velvet”. Além disso, o artista Andy Warhol foi o padrinho da banda que, além de ter criado a identidade visual da capa, também foi responsável por conseguir que Tom Wilson assumisse a produção do álbum. Foi ele também que, mesmo a contragosto dos integrantes do Velvet, inseriu Nico no projeto. 
Em 1967, o Rock Progressivo prevalecia no cenário musical e os hippies ditavam a moda e a ideologia do período. Este contexto, naturalmente não foi favorável para que o The Velvet Underground & Nico fosse aceito. Na época de seu lançamento, de fato, o álbum não obteve méritos. É o que costuma acontecer quando um trabalho artístico é visionário. Definitivamente, o mundo não estava preparado para as desconstruções temáticas e estéticas deste álbum. Mas felizmente, os membros da banda pareciam estar despreocupados com qualquer tipo de aprovação. Lou Reed, em suas composições, captava com sensibilidade uma atmosfera existencial sombria e que parecia oculta para o restante de sua geração. Ele era um poeta “outsider”, um gênio de vanguarda que caminhava por estradas incomuns. Muitas faixas do álbum abordam temáticas provindas do submundo que provocava as emoções do músico. Assim, Reed escreveu sobre temas como o sexo, o sadomasoquismo e as drogas. Além disso, algumas letras possuíam influência literária, especialmente de Allen Ginsberg, e William Burroughs. De maneira geral, suas palavras pareciam misturar leituras subjetivas de um universo sombrio e perverso que se insinuava instigantemente para o músico.
 E certamente foi por intermédio destas características peculiares de Reed que Warhol, encaixou-se tão bem no projeto da banda, pois afinal, ele também possuía uma mente artística repleta de novas propostas. Somado a isso, os meninos do Velvet estavam presentes no cenário e assimilaram com precisão os sentimentos de Lou. Neste ponto, John Cale merece destaque. Ele era estudante de música e possuía uma enorme força imaginativa, que o levou a produzir sonoridades instrumentais totalmente distantes do habitual, traçadas especialmente por experimentalismos. Essa interessante fusão de personagens excêntricos que se misturaram para dar luz ao álbum resultou em um esplêndido trabalho estético que alteraria para sempre os rumos do Rock And Roll. Todas as faixas são envolventes e marcadas por sonoridades bastante alternativas que parecem ser uma mistura de delírios sublimes que se amarram harmoniosamente à poesias honestas, profundas e que retravam com crueza realidades individuais. Aqui fica minha singela menção, gratidão e homenagem a este mítico álbum. 

Texto anteriormente publicado no site Audiograma. 

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