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domingo, 5 de março de 2023

RUÍDO QUE DESORGANIZA: CONHEÇA O NOVO EP DO BALLET CLANDESTINO

 Por Juliana Vannucchi

A cena brasileira de música independente segue em alta com o surgimento constante de novas bandas e com a persistência de grupos tradicionais, como o Ballet Clandestino, que com mais de uma década de carreira, permanece consistente nos palcos e firme na qualidade de suas produções musicais. 

Em 2012, enquanto muitos conspiracionistas se preparavam para o fim dos tempos, o Ballet Clandestino se preparava para dar os primeiros passos de uma carreira musical bem sucedida. Era o início de uma trajetória longa, que está completou dez anos em 2022. 

A banda surgiu no meio das sombras e da atmosfera funesta do caos urbano que rege a cinzenta capital paulista. No início, o grupo era composto por Vinícius Primo (guitarra e voz), Natan (baixo e voz) e Cecília (bateria). Não demorou muito para que a baterista fosse substituída por Rocero e este, por sua vez, deixou o trio em 2019, quando Tiofrey assumiu as baquetas. 

Desde os primórdios, gradualmente a banda foi crescendo e se consolidando como uma das principais representantes do pós-punk nacional. Na bagagem, o Ballet Clandestino carrega uma discografia composta por 4 EPs, todos lançados em formato físico. De modo geral, as músicas mesclam distorções e ruídos com versos reflexivos sobre o cotidiano nas grandes cidades e seu desfecho existencial. Nas letras, de maneira geral, encontramos temas politizados e sentimentais, como menções ao tempo que se esvai no trabalho sufocante e mecânico que tange o sistema capitalista, além de menções ao visual mórbido do meio urbano e referências ao consumismo desenfreado, à solidão, etc. 

Neste início de março, a banda paulistana, uma das mais icônicas da história do pós-punk nacional, presenteou os fãs com o lançamento de seu novo EP, intitulado “Ruído Que Desorganiza”, nome originado a partir de uma faixa chamada “Ruído”. Vinicius Primo, guitarrista e vocalista do Ballet Clandestino, explica o significado do título: “É um nome que, de certa maneira, sintetiza um pouco a nossa intenção enquanto criadores de música (ou ruído). Além do que, nesse momento de crescente avanço das ideias conservadoras, temos que ser o ruído, ou seja, aquilo que incomoda, que desorganiza. Temos que ser a subversão desses valores que oprimem e esmagam quem nasceu pobre”.

 A última produção original da banda data de 2020, ano em que o trio se afastou dos palcos em função da pandemia. Esse período, contudo, não foi infrutífero, pois os integrantes continuaram ativos em suas casas, esboçando ideias de riffs, de letras e esboços para novas faixas. Consequentemente, o lockdown teve reflexos diretos no EP de 2023, conforme nos contou Vinicius: “O último EP que lançamos foi em 2020, durante a pandemia, e de lá pra cá, como não estávamos fazendo shows e nem ensaiando, devido às restrições da pandemia, acabamos cada um na sua casa tendo várias ideias que estavam soltas e, conforme fomos retomando os ensaios, começamos a dar continuidade a esses riffs, vendo o que seria mais legal, o que fluía melhor, até realmente concluir uma música com letra e tal. Óbvio que no meio de tudo isso alguns riffs foram descartados, outros perdidos (rsrs) e outros optamos por não usar”. Natan, baixista do grupo, considera que esse foi o trabalho mais bem gravado da história da banda, embora também, justamente em função da pandemia, tenha sido o mais longo e doloroso: "Os ensaios foram espaçados e tomamos os cuidados necessários para evitar uma possível transmissão da covid. Longos ensaios deram origem a um grupo de músicas, elegemos os quatro sons para a gravação. O resultado final superou nossas expectativas". 

 

O Ballet Clandestino segue firme como uma das bandas mais duradouras, cults e interessantes do pós-punk nacional
 

Para dar vida ao EP “Ruído Que Desorganiza”, a banda procurou Luis Tissot, que já havia produzido os 2 EPs anteriores (“Impróprio Necessário”, de 2018, e “Descompasso Cinza”, de 2020) e que ao ser contatado pela banda, logo sugeriu que o grupo gravasse o novo material no Estúdio Aurora. A esse respeito, Vinicius comentou: “Pra mim, o fato de termos tocado lá, juntamente com a produção do Luis, foi uma combinação ideal que fez toda a diferença no resultado final”.

 De modo geral, a sonoridade do álbum lembra o New Order em seus primórdios, mas é mais sombria e menos eletrônica do que as produções embrionárias da banda inglesa. Mesmo com essas diferenças, nada nos impede de apelidar o Ballet Clandestino de “New Order Tropical”, sem deixar de esclarecer, no entanto, que a banda brasileira é mais charmosa, possui linhas de guitarra mais cativantes e é, definitivamente, mais intelectualizada do que os britânicos. Para Tifery, baterista da banda, esse é "o álbum mais criativo e corajoso do Ballet Clandestino. A gente tentou coisas diferentes, buscou algumas outras influências e o resultado foi bem satisfatório". Nas letras, percebemos um desabafo sentimental pautado em preocupações sociais, dramas existenciais e problemas urbanos. De acordo com os integrantes, as canções centram-se em assuntos diversificados e não possuem nenhuma conexão temática entre si, sendo que todos os integrantes participaram ativamente da composição lírica. Sobre esse aspecto do álbum, Vinicius declarou: “As letras se deram de forma subjetiva e bastante poética, para expor nossas aflições em relação ao que nos incomoda no dia a dia, nesse modus operandi do mundo”. Natan, refletiu sobre o conceito de "ruído" em meio ao contexto cotidiano da capital aulista: a buzina de um carro diz se podemos avançar ou parar, a sirene de uma ambulância sinaliza atenção, um trovão é o prenúncio de que vai chover, então corra! Ou pegue um guarda-chuva. As palavras em coro em uma manifestação na avenida Paulista falam sobre lutas, reivindicações por melhorias. São barulhos, são ruídos que bloqueiam, sintonizam, organizam e desorganizam. Os sons que as cidades apresentam dizem muito sobre ela, e sua ausência pode significar alguma repressão. Escute o barulho da cidade, escute Ballet Clandestino. 

 

Capa do novo EP da banda

O EP é empolgante e suas faixas enérgicas mantêm a clássica assinatura dark e funesta que sempre acompanhou o grupo ao longo de seus dez anos de existência. As músicas são tão melancólicas que temos a impressão de que a composição foi feita com auxílio de Arthur Schopenhauer, enquanto o filósofo esboçava as primeiras linhas do livro “As Dores do Mundo”. Em “Ruído Que Desorganiza”, encontramos uma sequência de melodias saborosas e, apesar do clima sombrio, as atraentes linhas de guitarra portam aquela tradicional selvageria punk. Esse conjunto faz qualquer coração instintivamente se agitar, reagindo espontaneamente às emoções desencadeadas pelas músicas da banda. 

Com essa nova produção digna de elogios, o Ballet Clandestino segue firme como uma das bandas mais duradouras, cults e interessantes do pós-punk nacional, que em sua genética carrega a resistência, o talento e a criatividade. Os trabalhos da banda despertam um interesse cada vez mais crescente, e a sua contribuição legada ao universo da música independente é digna de administração. Precisamos reconhecer o êxito do Ballet Clandestino, que evolui cada vez mais, tanto em relação às gravações e produções, que contam com uma qualidade refinada, quanto em relação aos shows realizados, que têm  uma adesão cada vez maior por parte do público brasileiro. Perguntei a Natan o que podemos esperar da banda no restante do ano. A resposta do baixista foi segura e repleta de entusiasmo: "Pretendemos ir o mais longe possível com a música, tocar em espaços onde ainda não tocamos. Queremos tocar fora de São Paulo e até o final do ano esperamos que esse projeto aconteça". O novo da EP da banda está disponível nas plataformas digitais.

MARC BOLAN: O DANÇARINO CÓSMICO

Por Juliana Vannucchi

Marc Bolan sempre foi conhecido por ser um exímio guitarrista. Seu primeiro contato com o instrumento se deu aos 9 anos de idade e, nessa faixa etária, o futuro vocalista do T. Rex fascinou durante algum tempo os colegas de escola, até ser expulso por suas posturas reprováveis. Esse talvez tenha sido o primeiro público que ele conquistou com seu talento. Fora dos limites desses muros da escola que reprovou seu comportamento, havia um mundo todo aguardando por ele.

Em 1967, um dos anos mais especiais da história do rock, em que os EUA viviam a experiência do “summer of love”, e bandas experimentais como o Velvet Underground despontavam, surgiu o grupo Tyrannosaurus Rex, que logo se tornou o “T.Rex”. E foi precisamente com o T.Rex que Bolan tornou-se uma lenda atemporal, atingindo o ápice de sua carreira no início nos anos setenta, período no qual a banda se tornou um verdadeiro sucesso comercial. Visualmente falando, a estética da banda foi especialmente marcada pela extravagante sensualidade androgênica do vocalista, que em seu figurino abusava do glitter, do brilho e das cores. Bolan sacudiu os anos setenta londrinos e parecia ter vindo de outra dimensão para oferecer ao mundo um estilo musical e performático altamente criativo, que atravessou o tempo como uma flecha e que ainda atinge o coração de várias gerações. Vale lembrar que nos bastidores do estrondoso sucesso do T. Rex estava Tony Visconti, “guru do Glam”, que trabalhou com outras lendas do gênero, como Bowie e Sparks, e que chegou a declarar que, ao ver Bolan pela primeira vez, o que viu foi “um verdadeiro gênio”.

 

Bolan, o rei do glitter, criou riffs de guitarra memoráveis
 

Bolan chegou a acompanhar de perto os primeiros passos do punk rock. O T. Rex fez, inclusive, uma turnê com o The Damned, em 1977. Ademais, o músico chegou a apresentar publicamente a banda Generation X, antes de uma apresentação do T.Rex, e na ocasião enalteceu carismaticamente a figura de Billy Idol. Também acompanhou de perto e atenciosamente o primeiro show dos Ramones em solo britânico. Não à toa, o T.Rex faz parte das clássicas bandas de protopunk, que são aquelas cujo legado reverberou fortemente nas produções dos primeiros materiais e shows de grupos punk.

Marc Bolan, que era grande fã do rebelde James Dean, faleceu tragicamente num acidente de carro apenas quinze dias antes de completar trinta anos. O veículo era dirigido por sua parceira Gloria Jones, com quem o vocalista do T.Rex teve um filho, nascido em 1975.


Referências:

https://amp.theguardian.com/culture/2011/jan/30/underground-arts-60s-rebel-counterculture

https://www.theguardian.com/music/2015/feb/09/tony-visconti-marc-bolan-was-raw-talent-i-saw-genius

https://www.theguardian.com/music/2020/sep/04/marc-bolan-perfect-pop-star-t-rex-singer-tribute-album-elton-john-u2

https://amp.theguardian.com/tv-and-radio/2017/sep/16/marc-bolan-cosmic-dancer-review-bbc4-documentary

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