Fanzine Brasil

terça-feira, 2 de agosto de 2022

OLHEM PARA AS RUAS: MAKING OFF

Por Juliana Vannucchi

A Gangue Morcego já se firmou como um dos principais nomes do pós-punk nacional. Olhem Para as Ruas é um dos álbuns mais célebres do gênero e um dos mais admirados pela equipe do Fanzine Brasil. Nossa paixão nos levou a destrinchar alguns detalhes que marcaram os bastidores da gravação do EP. Confira a seguir, com exclusividade, uma série de curiosidades e histórias que se ocultam por trás dessa obra-prima. 

Um tour pelas faixas do álbum:

Dias Escuros:

A letra dessa icônica faixa inaugural aborda o inconformismo e o sufocamento impostos pelo ambiente urbano. “Dias Escuros” não apenas abre o EP como também foi a primeira música criada pela banda, embora  tenha sido a última a ser escolhida para compor o álbum.

É válido citar que a música tem uma particularidade: ela foi quebrada ao meio pela banda e, com imensa criatividade, foi usada tanto na abertura quanto no encerramento do álbum.


Olhos Incertos:

Curiosamente, a letra dessa faixa não foi escrita por nenhum membro da GM, mas sim por um amigo dos músicos, chamado Kal Reis. Querido pelos integrantes da banda, Kal sempre foi um grande apoiador do grupo, tendo ajudado a Gangue com peças gráficas e também com a administração de redes sociais. Aliás, foi ele que elaborou o primeiro logo da banda.

Um fato digno de menção é que essa música foi a mais desafiadora do álbum para o talentosíssimo Daniel Kaplan, pois ele nos contou que a faixa já estava criada antes de sua entrada na GM e, por isso, o seu processo de composição, naturalmente, era diferente do estilo do músico.


Sobrenatural:

Essa composição fala a respeito da maneira pela qual todos nós somos obrigados a estar ao lado de outsiders e desajustados, com os quais, felizmente, muitas vezes nos identificamos.

Um fato curioso é que no início dessa faixa é possível perceber ruídos de garrafas sendo batidas. Essa sonoridade foi extraída de uma cena do filme “Warriors, Selvagens da Noite”, no qual há uma cena em que o vilão provoca a gangue dos Warriors batendo garrafas com as mãos (você pode conferir isso no vídeo abaixo).


Zero Hora:

Durante a gravação da faixa “Zero Hora”, alguém abriu a porta do estúdio, no final da sessão de gravação da voz, fazendo com que o som de um latido vindo de fora fosse captado pela gravação. Thiago Halleck nos contou que os membros do grupo optaram por manter o som canino na faixa, levando em conta que a letra aborda uma temática urbana.

Não Quero Mudar:

“Não Quero Mudar” não foi gravada sem metrônomo por ser uma faixa mais punk. Segundo Thiago Halleck, havia uma intenção de mantê-la mais “crua”.

Originalmente, a música é de uma outra banda punk, chamada Infected, na qual DaniEl Sombrio tocou como baixista. Os membros desse grupo autorizaram que a GM a usasse. Ricardo Moralha foi o compositor. A letra fala sobre o sentimento de revolta em relação à sociedade. A esse respeito, DaniEl reflete: “É sobre ter opinião forte e não se guiar pela opinião alheia. É sobre não querer mudar em função do que os outros pensam e dizem”.

Gato Preto:

A letra, em suma, é sobre o Gato Félix. Na composição dessa faixa, foi aplicado um efeito de fita K7 antiga com algumas oscilações. Isso foi feito para modular o som e dar uma sutil sensação de incômodo nos ouvidos. Tampa da caneta e isqueiro foram usados para arranhar as cordas da guitarra e do baixo.

 A Dança Não Para:

A letra foi composta após o falecimento do baixista Menescal, que fez parte da GM entre os anos de 2013 e 2014.

Além de ser motivada pela perda desse integrante, a canção também é encoberta por uma carga de inspirações provenientes do Hinduísmo.

No dia em que a compôs, Thiago Halleck acordou muito cedo e agitado.  Nesse estado de inquietação, ligou rapidamente seu computador e logo começou a criar o arranjo da música. Ele nos contou que esse processo foi espontâneo e intuitivo. Em seguida, o baixista compartilhou essa composição inicial com os outros integrantes do grupo, que deram suas respectivas pinceladas colaborativas.

Poucos dias depois, ele escreveu a letra da música. Um trecho em particular foi escrito pelo pai - que é hinduísta - do tecladista do grupo. Ele escreveu um texto no qual reflete sobre o falecimento de Menescal, dizendo que acreditava que seu espírito estava do outro lado da lua, sendo recebido com uma grande festa por deidades hindus e por entes queridos já falecidos. Lá eles celebrariam a obra de arte que foi a vida de Menescal. A letra foi baseada em passagens desse texto e também foi inspirada numa mensagem de conforto que um amigo, o Fábio, vocalista do Clashing Clouds, escreveu para a mãe do jovem músico falecido.

Uma curiosidade aos fãs: a música quase se chamou “Perdidos no Céu”, que é uma frase da letra. Outro aspecto interessante que vale a pena ser mencionado é que quando DaniEl Sombrio estava tocando o teclado para gravá-la, ele esbarrou numa tecla qualquer que foi captada pela gravação. Os integrantes da banda optaram por manter o som, mas adicionaram alguns efeitos em cima, transformando-o num ruído estranho que pode ser percebido na introdução.

 

A Dança Não Para (No Outro Lado Da Lua) é a faixa mais popular da banda

Album Cover:

As artes da capa e contracapa foram feitas por Alexandre e Daniel. As cenas presentes em cada janela fazem alusão a cada uma das faixas do álbum. A lua ouvindo música, por exemplo, remete à faixa “A Dança Não Para…”. Em relação ao processo criativo, Daniel explicou: “Eu fiquei encarregado da direção de arte. O Alexandre foi quem realmente colocou a mão na massa, elaborando a ilustração e a finalização através de um programa gráfico”. As principais inspirações estéticas foram os Film Noir e os desenhos animados dos anos 20. Nesse contexto, vocalista nos relatou sua afeição pelo Gato Félix: “Gosto do desenho desde a infância. Tinha algumas fitas VHS e me lembro de ter tido muitos sonhos bizarros depois de ter visto o filme de 89. Não lembro mais se o filme era realmente bom, acho que vou procurar para assistir (hahaha), mas me recordo que tinha momentos bem psicodélicos”. 

 


 

Memorabilia: 

Confira algumas das recordações mais marcantes que os integrantes da banda carregam com eles.

Daniel: 

Daniel guarda com carinho o conjunto de memórias das sessões de gravação feitas com o Sérgio Filho [proutor], pois os integrantes da banda adoravam jogar conversa fora e davam muita risada com o Sérgio. Aliás, vale citar que uma parte dos teclados foi gravada na casa do produtor e a outra parte no Estúdio Overlud, na Vila Isabel, onde a Gangue gravou o "Olhem para as Ruas".

Kaplan:

“Lembro-me de, durante uma das viagens pra São Tomé das Letras, comandar a gravação/produção do 1º take instrumental de Dias Escuros só com um laptop e interface. Esses processos de gravação DIY feitos em galera são sempre interessantes, são como um pedaço de férias no meio da vida. Além disso, dar essa primeira escutada no que a gente é capaz de fazer numa situação de gravação antes do processo do disco começar dá uma confiança extra na hora de entrar no estúdio”.

Alexandre:

Para Alexandre, cada layer a mais com os instrumentos e texturas trabalhados o deixava progressivamente mais satisfeito. O vocalista declarou: “Quando o Sérgio mostrou algumas possibilidades de distorção para alguns trechos das músicas para parecer uma gravação antiga, eu fiquei muito feliz”.

Thiago:

Thiago se recorda que esfihas foram o principal combustível da banda. A tradicional tortinha de origem síria foi uma marca registrada do período de gravação e foi o principal alimento que os manteve em pé!

Raio X da morcegada:






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