Fanzine Brasil

sábado, 20 de agosto de 2022

SHOWS MEMORÁVEIS, UMA VISÃO LIBERTÁRIA DO MUNDO E LANÇAMENTOS FUTUROS: A JORNADA ÉPICA DA BANDA BALLET CLANDESTINO

 Por: Vannucchi

A banda paulistana Ballet Clandestino celebra 10 anos de carreira em 2022. Atualmente, o grupo figura entre os principais nomes da cena independente do país. Conversamos o guitarrista e vocalista Vincius Primo, que nos contou sobre os momentos mais marcantes da história do trio, sobre os planos futuros, sobre a cena underground brasileira e outros assuntos. Confira e deixe sue comentário aqui nos contando se você já assistiu algum show da banda e qual é a sua música favorita! 

1. Parabéns pelos dez anos do Ballet Clandestino! Você imaginava que chegaria tão longe? Qual foi o maior desafio enfrentado nessa década?  

Poxa! Muito obrigado, Juliana! E queria aproveitar aqui o espaço pra agradecer a matéria que você fez sobre esses nossos 10 anos para o Fanzine Brasil. 

Bem, sinceramente, imaginar, nós imaginamos, sim, ainda que tenha sido de forma despretensiosa e inocente – já penso, aqui, por exemplo, nos 20 anos rsrs – mas não tínhamos certeza de que realmente fôssemos chegar a essa marca tão simbólica e especial, primeiramente, porque esses 10 anos se passaram muito rapidamente. Ademais, em 2015, quando entramos no estúdio para gravar nosso primeiro EP, foi justamente por medo de que a banda acabasse sem ter deixado nada registrado. Isso já havia acontecido com outros projetos musicais que eu tive e o Ballet, desde quando era só um projeto de estúdio sem maiores pretensões, sempre foi para mim algo diferente e especial. Então, levando tudo isso em conta, eu simplesmente não queria deixar de fazer um registro, nem que fosse só para eu ouvir depois de anos e lembrar da experiência, sabe? E foi justamente a partir da gravação desse EP inaugural que o projeto se solidificou e nossa história começou a fluir de uma maneira incrível.

2. Qual é a melhor memória que você tem dos momentos vividos com a banda? 

Já são 10 anos, então há muitas boas recordações de shows e pessoas especiais que conhecemos em decorrência da banda. É difícil citar uma memória ou outra em particular, mas posso dizer que as viagens para tocar fora da nossa cidade sempre deixam histórias legais gravadas na mente. Foi o caso do Woodgothic, em 2017, da Decadence em Araras, no interior de São Paulo, em 2018... das vezes em que fomos ao RJ, de quando tocamos em Juiz de Fora, que também foi uma ocasião muito legal e etc. Essa possibilidade de podermos ir para outros lugares em consequência da música que fazemos é sempre muito boa e é algo gratificante!

3. Vocês têm um calendário de shows bem cheio, né? Pelo que sei, há planos para tocar fora do país. Já há data para isso? 

Com essa trégua da pandemia e com os shows voltando a acontecer, esperamos mesmo ter uma agenda mais cheia, seja para tocar aqui em São Paulo ou fora da capital. Nas apresentações que fizemos em 2022, reparamos que o público tem comparecido em maior número do que antes da pandemia e isso motiva bastante! Nos faz querer tocar mais. Vale dizer que lançamos nosso último EP, o Descompasso Cinza, em 2020, durante a pandemia e não tivemos show de lançamento e nem nada disso. Então, devido a esse contexto, agora queremos mesmo é estar nos palcos.

Sobre uma possível turnê fora do Brasil: é uma vontade grande que temos. Antes da pandemia estávamos tentando “desenhar” a melhor forma de colocar esse plano em prática. Agora, porém, temos que repensar isso e tentar viabilizar a possibilidade de isso acontecer da melhor forma possível para nós dentro dessas circunstâncias atuais.

 

"Muitas letras que escrevo inspiradas em livros que leio".

4. Como você vê a atual cena independente do país? Está mais fortalecida desde que você iniciou sua trajetória? 

O cenário dito independente hoje no Brasil, eu enxergo da seguinte forma: como não há um grande espaço da grande mídia hoje para o rock – como havia há alguns anos atrás, por exemplo – existe, então, dentro da própria cena independente um certo “mainstream underground”, que diz respeito às bandas que tem um selo apoiando os seus lançamentos, são vinculadas a agências que marcam seus shows e etc., mas, seguem tendo o status de banda independente, porque não estão na grande mídia. E existe, de fato, as bandas que são independentes de tudo, sem selo, sem qualquer apoio e tudo é feito pelos integrantes da melhor forma que conseguem fazer.  E é onde nós nos incluímos.

Não vejo isso de forma ruim e tampouco sei explicar por quais razões isso ocorre. Mas é como enxergo a cena independe hoje no Brasil. Todo o rock parece ter ficado “independente”. Nós somos uma banda oriunda da cena punk de São Paulo e, por isso, sempre estivemos bem à margem de muita coisa. E foi dessa forma que aprendemos a fazer as coisas como banda.

5. Qual foi o acontecimento mais inusitado que vocês viveram na carreira? 

Com certeza chegar aos 10 anos, haha. Seguimos tocando, compondo e ainda acreditando no grupo, simplesmente pelo fato de que amamos tocar e fazer música, antes de qualquer coisa, para nós mesmos!

6. Vocês pretendem lançar algum material novo este ano? 

Queremos lançar um novo EP até o final desse ano (2022). Já temos o nome dele definido e a capa. Serão 4 sons e já estamos ensaiando e terminando os arranjos para que possamos gravar e lançar tudo ainda esse ano.

7. Qual membro da banda é o principal letrista? Quais são os temas que mais se destacam ao longo da discografia de vocês?

Todos na banda escrevem letras. Assim como também todos chegam com riffs, ou linhas de baixo, esboços a partir dos quais desenvolvemos algo que virá a ser uma música. Às vezes acontece de alguém já trazer a música pronta, com introdução, letra e tudo. É assim, desde o início, todos compõem. Quando o Rocero estava na bateria ele também trazia ideias para a guitarra, linhas de baixo e letras. Ele é autor de algumas letras como Escolhas, "Eterno Vazio, Contra o Tempo... E com o Tiofrey também rola assim, a letra da faixa Pés Descalços - que está no nosso último EP, o Descompasso Cinza – é dele. Assim como a ideia do nome do EP - Descompasso Cinza - também foi dele.  E tudo isso acontece de forma muito natural, pois todos se sentem à vontade para trazer as ideias de música, letra e arte. 

Sobre os temas, mesmo que abordados de diferentes maneiras, às vezes uma visão mais ampla pensando na sociedade, às vezes trata-se de algo mais voltado para o sentimento do indivíduo no meio da sociedade, sempre expomos uma visão libertária do mundo. Questionamos nas letras os valores da sociedade capitalista e alienada, propondo uma ruptura com está forma de viver que está posta para todos nós.

No caso, por exemplo, das letras que eu escrevo, posso dizer que muitas são inspiradas em livros que leio. É o caso da Substantivo Abstrato, Falsas Necessidades, Impróprio Necessário e por aí vai. Praticamente todas as minhas ideias para letras surgem a partir de algo que leio. Seja uma notícia, uma poesia ou na maioria dos casos, ou, conforme citei, livros.

 

"Espero que nossa música sirva como companhia, que ajude a aliviar alguma possível tensão e, sobretudo, que desperte alguma reflexão (...)"
 

8. Por que vocês optam por lançar materiais físicos. Eu, particularmente, sempre prefiro materiais assim. Mas atualmente, a maioria opta por conteúdos digitais. Quais são as vantagens e desvantagens de ambos?

Acredito que o material físico ainda tenha seu charme e valor para nós que começamos a ouvir música dessa forma. Através desses suportes, seja vinil, CD, etc... Porém, atualmente a questão do digital deixa o acesso à música muito mais fácil, seja pelo valor que uma plataforma de streaming cobra, seja pela praticidade de você estar em qualquer lugar e poder ouvir ali a faixa que quiser no seu celular, por exemplo. E a música não deixa de ser “menos” música porque você está ouvindo em streaming ou qualquer outro formato digital. Além disso, é inegável que mesmo quem compra o material físico, muitas vezes acaba também consumindo música via plataformas digitais.

Como disse acima, o material físico tem seu charme e também tem seu “fetiche” de colecionador. E há também a questão do valor alto, que muitas vezes deixa desinteressante a possibilidade de lançar o material desse jeito.

Às vezes vejo o custo de que algumas bandas cobram pelo merchan (camisetas e tal) e isso me faz entender o porque o rock hoje em dia possui seu maior público composto por pessoas na faixa dos 30 anos. Um adolescente, sem emprego e pertencente a uma realidade como está em que nós viemos, jamais teria condições de comprar uma camiseta de banda no valor que é cobrado atualmente por muitos grupos. Hoje, há bandas que vendem até café com seus nomes. Certas coisas eu não entendo. Nem é crítica. Mas é que realmente não consigo entender esse lance de vender café, cerveja, uma linha de um monte produtos com o nome da banda que não tem nada a ver com a o universo musical. Daqui a pouco tem até sabonete... hahaha.

Claro que acabo enxergando nisso tudo um movimento existente para compensar o fato de as pessoas não precisarem comprar o material físico sobre o qual comentei acima, para poder ter aceso à música da banda. E eis que então cria-se essa gama de produtos diversos, de certa forma, até meio bizarros, contendo a logomarca da banda.

Imagine, por exemplo, um rapaz de 16 anos saindo de casa pra ir a um show. Ele pede dinheiro aos pais e quando volta diz que comprou um café da banda... É surreal isso... Por essas e outras o rock está deixando de dialogar com o público jovem.

Sobre nossos lançamentos físicos, na verdade rolou com nossos 3 primeiros EPs, que saíram em fita K7, com uma tiragem de 50 cópias cada um e foram feitos por nós mesmos. Algum deles saiu como .RUIR.Records que, na verdade, sou eu mesmo.

E teve o split ao vivo com a banda Tempos de Morte, que também saiu em K7 graças ao Filipe da VladTapes, que idealizou tudo, desde o show, captação do áudio, gravação das fitas e outros detalhes... O cara é um guerreiro do underground! Além de sempre apoiar as bandas nos shows ainda mantém a VladTapes como selo que dá a oportunidade de bandas terem os seus sons lançados num formato físico super caprichado. A produção de trabalho K7 é praticamente um trabalho artesanal.

9. Que papel vocês esperam que a música de vocês desempenhe não vida dos ouvintes? 

Espero que sirva como companhia, que ajude a aliviar alguma possível tensão e, sobretudo, que desperte alguma reflexão para algo de maior importância. Mas que também sirva como diversão. A música tem que ser tudo isso, né?

10. Como vocês gostariam de estar daqui dez anos? 

Esperamos continuar tocando, lançando material novo e podendo seguir com essa grande aventura que é manter uma banda na ativa. Também espero que continuemos conhecendo pessoas e lugares através de algo que nós fazemos com tanto prazer!

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