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sexta-feira, 16 de outubro de 2020

O FANTÁSTICO MUNDO DE DAVID BYRNE

 Por: Juliana Vannucchi
 
David Byrne, o prestigiado vocalista do Talking Heads, nasceu na Escócia, no ano de 1952. Durante a infância, mudou-se para os Estados Unidos, país no qual mais tarde consolidou sua brilhante carreira artística que o projetou para o mundo todo.

Seu destaque no meio musical sempre chamou a atenção e lhe rendeu elogios, e o escocês logo encantou o mundo todo com sua singularidade sonora e experimentos ousados. A música esteve presente na vida de Byrne desde a tenra idade. De acordo com seus pais, aos três anos, ele tocava um fonógrafo e, aos cinco, aprendeu a tocar gaita. Foi também na infância que algumas peculiaridades começaram a fazer parte de seu comportamento. Ele foi diagnosticado com síndrome de Aspenger. Mais tarde, antes de ingressar no Ensino Médio, Byrne já sabia tocar guitarra, acordeão e violino. Apesar da familiaridade do jovem com esses três instrumentos, curiosamente, ele chegou a ser dispensado do coral de escola, pois alegaram que era muito desafinado e retraído... Estavam despachando um dos maiores nomes da Art Rock.  

Mas apesar do seu notável destaque no meio musical, nossa intenção através desse texto é mostrar que o talento de Byrne e sua inventividade sempre estiveram muito além dos palcos e suas contribuições artísticas e culturais merecem ser reconhecidas e contempladas. Vale a pena mergulhar mais a fundo na trajetória desse gênio! E desde já, é importante dizer que sua frutífera carreira se estende muito além dos horizontes que vamos apresentar... poucos músicos foram tão longe e com tanto êxito. 
 
Byrne é um grande admirador da música popular brasileira
 
BYRNE CRIA SUA PRÓPRIA GRAVADORA E SUA PRÓPRIA ESTAÇÃO DE RÁDIO:
 
Byrne inaugurou sua uma gravadora autoral, chamada Luaka Bop, em 1991, em New York. A intenção por trás de sua fundação era dar espaço para bandas e músicos da América Latina. Isso se concretizou e muitos artistas desse continente foram promovidos pela Luaka Bop, sendo que uma dessas bandas nos é bem familiar: Os Mutantes. Aliás, a gravadora teve uma forte inclinação para a música brasileira, que sempre foi de grande interesse para Byrne (as músicas de Moreno Veloso e Tim Maia, por exemplo, também marcaram presença na Luaka Bop, que lançou materiais desses lendários artistas nacionais). Byrne é um admirador da música brasileira e já lançou mais de uma compilação de clássicos com canções populares do Brasil. A esse respeito e se referindo ao seu apreço pela cultura de nosso país, no site oficial da gravadora o artista reflete: “A música popular brasileira desempenha um papel maior na vida cultural do Brasil do que a música popular parece desempenhar em outros lugares. Somente na segunda metade do século XX é que a maioria da população do país se tornou, de fato, alfabetizada. E a grande maioria dos brasileiros ainda vive abaixo da pobreza. Talvez esses fatos contribuam para a importância da tradição oral no Brasil [...] Apesar da pobreza e do isolamento de grande parte do Brasil, a parcela alfabetizada da população é excepcionalmente informada. Eles têm uma consciência aguda dos desenvolvimentos culturais no resto do mundo”. Eis aqui uma ótica a respeito da tradição de nosso país que, por vezes, nós próprios não temos. O frontman do Talking Heads, certa vez, deu uma declaração bem interessante em relação ao logo da gravadora, já que a imagem sempre despertava curiosidade: “É um símbolo maçônico bastante obscuro, vinculado em vários momentos à Trindade dos Illuminati e aos Cavaleiros Templários egípcios. Os cavaleiros eram os guardiões dos segredos da harmonia. Daí a conexão óbvia e apropriada com a música. Mas seu conceito de harmonia era muito maior e abrangente do que o nosso - não apenas abrangendo a harmonia das esferas, dos céus, mas a harmonia dos fluidos internos e forças dinâmicas - e no caso dos Cavaleiros Egípcios, estes eram governados pelos mortos. Os Cavaleiros acreditavam que os mortos são os guardiões dos dias atuais e que nenhuma harmonia pode ser verdadeira e duradoura sem a sua ajuda. O olho do tronco Luaka Bop é o olho de Vilaç Trimegistes, o alquimista balcânico que deu os olhos à sua obra e foi o primeiro a desvendar os segredos dos Cavaleiros Egípcios. A forma e o significado do Olho de Vilaç têm uma relação matemática com a embarcação, ou “coração”, sendo o coração considerado um vaso não apenas para o sangue, mas para os mortos. Os raios, “espinhos” ou pregos que revestem e protegem o vaso foram incorporados durante a Idade Média, acréscimo que se julgou necessário pelo poder do Papado”. Certamente essa revelação abre margem para que se coloque mais um grande nome da música em meio a teorias da conspiração!

Em 2005, percebendo o potencial da internet, David Byrne criou sua própria emissora de rádio. Mensalmente, ele organizava uma lista de músicas de que gostava, passeando por diversos gêneros, como música africana, ópera clássica, trilha sonora de filmes italianos, dentre outras abordagens... Eis aqui mais uma jogada criativa do nosso visionário mestre!
 
Byrne vestindo um de seus tradicionais trajes largos...

E O OSCAR VAI PARA...
David Byrne foi a mente criativa por trás da trilha sonora do longa “O Último Imperador”, um dos filmes mais exaltados dos anos oitenta. Esse feito não é para qualquer um. E além de levar esse tão almejado prêmio para a casa, esse trabalho musical também levou Byrne a conquistar o Golden Globe de melhor trilha sonora.   

E as relações de Byrne com a Sétima Arte não param por aí. Em 1986, ele deu o pontapé inicial em suas aventuras fílmicas, dirigido “True Stories”, que embora tenha se tornado um clássico cult, não obteve sucesso comercial significativo. Daí em diante, sua carreira cinematográfica foi prolífera: dirigiu o documentário “Île Aiye”, filmado na Bahia e cujo foco é o Candomblé. Conforme consta no renomado “The Wall Street Journal”, “o documentário explora a maneira pela qual o Candomblé influenciou a vida diária e a cultura do povo brasileiro na música, arte, religião, teatro, comida, dança, poesia e muito mais (...) Byrne fez justiça a uma cultura maravilhosa”.

O produtor escocês também foi o responsável pelo design e pela discografia de “Stop Making Scene”. Além disso, o frontman do Talking Heads também teve participação colaborativa na produção musical do famoso filme “Wall Street”, de 2010, dirigido pelo célebre Oliver Stone.

DAVID BYRNE EM VERDE E AMARELO - O APREÇO DO MÚSICO POR TOM ZÉ E CAETANO VELOSO:

Numa das vindas de David Byrne ao Brasil, ele adquiriu um apanhado de LPs que levou com ele para os Estados Unidos. Dentre os tantos discos e músicas que passavam por seus ouvidos, algumas prenderam de imediato a sua atenção: tratava-se de faixas como “Mã” ou “Tô”, de Tom Zé, nas quais o músico brasileiro usou sons de liquidificadores, máquinas de escrever e serra elétrica. O encanto de Byrne o levou a entrar em contato com Zé, que nesse período vivia uma das fases mais conturbadas de sua existência, conforme ele mesmo revelou ao Jornal Folha de São Paulo: “Eu estava tão confuso na minha vida que isso só tem explicação na psiquiatria. Como chama aquele negócio que a cabeça racha e você não sabe o que pensa de lá e de cá? Esquizofrenia. Ser afastado do colo da mãe, um artista ser afastado do colo do público… Fiquei doente de todo jeito, estive para morrer três ou quatro vezes. Não tinha doença, era a cabeça que enrolava. Em 85, não digeria nada. Ficava em pé para enganar Neusa (sua mulher), para ela pensar que eu estava vivo. Estômago, intestino, nada funcionava, tudo deteriorado, a pele da mão apodrecendo, alergias. Fui à macrobiótica, me curei com dez dias de arroz”. (Declaração concedida à Alexandre Sanches na Folha de S. Paulo em 2000).

Byrne valorizou Tom Zé de uma maneira que os brasileiros não faziam. Ele enalteceu um artista praticamente ignorado pelo seu próprio povo e em pouco tempo o lançou na cena musical mundial.

Caetano Veloso e David Byrne
Mas é válido notar que Tom Zé não foi o único artista que cativou Byrne. Houve ainda uma apresentação inesquecível de Byrne e Caetano Veloso, ocorrida em 2004, no VMB, da MTV. Foi um momento icônico e inesquecível, marcado por um ataque de fúria do músico brasileiro, que ficou frustrado pelas falhas apresentadas em seu microfone e teve um chilique em cima do palco. Por fim, o equipamento funcionou e eles se apresentaram com maestria. Nesse mesmo ano, o duo tocou junto no Carnegie Hall, em Nova Iorque, e esse show se transformou num álbum antológico intitulado “Caetano Veloso and David Byrne Live at Carnegie Hall”. No encarte, Byrne descreve a singularidade musical de Caetano, demonstrando sua imensa admiração pelo músico brasileiro: “Não vou tentar descrever o que Caetano faz, porque seu trabalho é extremamente variado e não é fácil comparar com ninguém da América do Norte ou da Europa”. E além disso, ele também já subiu aos palcos com Gilberto Gil.

O aclamado vocalista do Talking Heads também já colaborou com muitos outros gênios da música, como o amigo Brian Eno, Fatboy Slim e St. Vincent.

UM AUTOR RESPEITÁVEL:

Ao longo de sua magnífica carreira, Byrne também se aventurou como escritor, sendo bem sucedido nesse meio. E a boa notícia é que podemos encontrar seus livros em português. No catálogo disponível em nosso país, encontram-se: “Diários de Bicicleta” e “Como Funciona a Música”. O segundo, ao longo de suas 397 páginas, dentre outros assuntos, aborda reflexões referentes ao vasto e complexo mercado sonoro e à produção musical e, certamente, é indispensável na prateleira de músicos e amantes da música. Esse livro, em particular, foi bem elogiado desde o seu lançamento, cativando o público e os fãs brasileiros e revelando o lado intelectual de Byrne.

Referências:

https://www.google.com.br/amp/s/brasil.elpais.com/brasil/2016/09/19/opinion/1474289224_588882.html%3foutputType=amp

https://en.m.wikipedia.org/wiki/Luaka_Bop

http://almanaque.folha.uol.com.br/tomze.htm

https://www.google.com.br/amp/s/oglobo.globo.com/cultura/musica/tom-ze-ganha-biografia-italiana-com-prefacio-de-david-byrne-23861372%3fversao=amp

https://www.google.com.br/amp/s/rollingstone.uol.com.br/amp/noticia/david-byrne-revela-por-que-nao-vai-reunir-o-talking-heads/

https://www.google.com.br/amp/s/www.publico.pt/2018/04/20/culturaipsilon/entrevista/david-byrne-somos-apenas-turistas-nesta-vida-mas-a-vista-nao-e-ma-1810799/amp

https://www.google.com.br/amp/s/brasil.elpais.com/brasil/2014/05/01/cultura/1398938213_366136.html%3foutputType=amp

https://www.google.com.br/amp/s/www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2020/07/21/chris-frantz-david-byrne-talking-heads/amp/

https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/ex-diretor-da-mtv-lanca-livro-e-revela-bastidores-de-piti-de-caetano-2333

https://www.google.com.br/amp/s/www.redebrasilatual.com.br/blogs/2012/05/caetano-veloso-e-david-byrne-juntos-e-ao-vivo-em-cd-historico/amp/

https://en.m.wikipedia.org/wiki/David_Byrne

https://luakabop.com/catalog/brazil-classics-1-beleza-tropical/

http://davidbyrne.com/explore/ile-aiye-the-house-of-life/about

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