Se você mora em Sorocaba/SP, e gosta de Rock And Roll, certamente já ouviu falar no Vinnie Mariano. E, se por acaso, você mora em Sorocaba/SP, gosta de Rock e ainda não ouviu falar no Vinnie Mariano, então, certamente deveria conhecê-lo, pois ele é uma referência lendária nessa cena musical. O Fanzine Brasil teve a honra de bater um papo com o Vinnie, que, de uma maneira ou de outra, dedicou praticamente sua vida inteira ao Rock: ele já foi vocalista de banda, colaborador de revistas especializadas no assunto, trabalhou numa conceituada loja de discos, e já esteve cara a cara com alguns dos mais aclamados mitos do Rock. O Vinnie nos contou um pouco dessas suas aventuras fantásticas que fizeram parte de sua trajetória de vida, então coloque um som massa para tocar, aumente o volume, e confira essa entrevista exclusiva e especialíssima!
1. Vinicius, eu te conheci justamente através da música, numa ocasião em você estava se apresentando com a banda Oz Machine, no Back Road Bar, em Sorocaba. Poderia nos contar um pouco sobre esse grupo do qual você fez parte? A qualidade musical era incrível... lembro que seu estilo vocal era sempre muito elogiado!
Olá, Juliana! Muito obrigado pela oportunidade da entrevista e pela oportunidade de falar um pouco sobre minha história no meio musical.
Antes da Oz Machine, nós nos apresentamos muito com a BORDERLINE, que foi a minha primeira banda. Tudo começou como uma brincadeira. Estava ajudando o Samuca (guitarrista) a encontrar os músicos. A ideia era se apresentar num festival no Pirilampus da Avenida SP. Só faltava um vocal. E acabei fazendo um teste e sendo efetivado...rs. A ideia, no início, era ser uma banda tributo ao AC/DC. Fizemos isso por um bom tempo, mas aquilo acabou sendo pouco para o tanto de bandas que gostávamos. E abrimos o leque incluindo no set clássicos de bandas que amamos como KROKUS, DOKKEN, SAXON, ACCEPT, MOTÖRHEAD, TWISTED SISTER, WHITESNAKE, THIN LIZZY, UFO, SCORPIONS etc. Foi um tempo animal. Um dos melhores de nossas vidas. Infelizmente, alguns problemas começaram a aparecer e a banda acabou. Eu fui morar em SP, passei cinco anos lá. E no último ano, os caras da Oz me procuraram pra saber se eu poderia fazer alguns shows pra cobrir o vocal deles, que acabara de ter saído. Era a oportunidade de tocar os bons e velhos clássicos do rock ‘n roll e não pensei duas vezes. A coisa deu tão certo que acabei sendo efetivado como vocalista e foram anos mágicos, recheados de apresentações memoráveis, e tenho certeza que digo isso por todos. Nossas apresentações sempre foram muito elogiadas, tanto por sermos fieis ao termo Heavy/Rock/Hard Rock 70s, quanto pela energia e competência de todos. Eram apresentações energéticas, cheias de feeling e performances. Ainda é assim quando nos apresentamos. O que tem se tornado cada vez mais raro, infelizmente.
2. Falando na Oz Machine, gostaria de saber qual foi o momento mais memorável que você viu com essa banda...
Pergunta difícil de responder. Tocamos até num casamento...rs. Mas acho que um dos melhores shows nossos ocorreu num festival dos metalúrgicos no Parque das Águas, onde a galera simplesmente enlouqueceu. Nossos shows no Pirilampus sempre foram ótimos, bem como nossas apresentações no Back Road, que por ser um lugar menor, tinha muito proximidade com o público. Dizer um, especificamente, não sei dizer.
A banda Oz Machine em ação |
3. Mais recentemente, você fez parte do grupo Dogs of War, que tocava covers do Saxon. Como foi o processo de formação desse grupo? Eu vi que vocês toscaram no “Rock Of Ages”, que é um dos mais notáveis festivais de Rock da região de Sorocaba e, certamente, de todo o interior paulista...
Essa já era uma ideia antiga também do Samuca, de formarmos uma banda tributo à banda que ele mais ama no planeta. Quando ele quer fazer uma coisa, ele corre atrás de tudo. TUDO MESMO, pra vc não ter que se preocupar com nada a não ser tirar as músicas e tocar. O Samuca também é o idealizador do Rock Of Ages, então nossa apresentação por lá foi mais do que natural que acontecesse.
Vinicius Mariano se apresentando no festival Rock Of Ages |
4. Aliás, já que mencionei o Saxon, aproveito para perguntar se você assistiu ao vídeo do Biff Byford tocando com o Seb. Foi postado em abril, no canal “PlanetSaxon”. Devido às atuais circunstâncias, muitos músicos tem utilizado plataformas digitais para divulgarem seus trabalhos. Como você vê o atual cenário musical em relação ao contexto em que vivemos, marcado pela pandemia? E quais são suas perspectivas para o futuro no que diz respeito ao universo musical?
Eu, sinceramente, não vi esse vídeo, mas soube da existência dele. Acho que as chamadas “lives” foram uma saída bem bacana de o pessoal se apresentar de forma segura e sem aglomeração. São legais, mas ainda estão longe de passarem a sensação de estar lá, in loco. Eu não sei muito o que esperar sobre o futuro da música e das apresentações ao vivo. Mas acho que ainda vai demorar pra tudo voltar ao normal, se é que voltaremos ao normal...
5. Você acha que apresentações musicais drive-ins podem elitizar (ainda mais) a música?
Eu não tenho certeza. As apresentações que eu vi nesse sentido que ocorreram foram todas gratuitas. Se forem pra esse caminho, acho uma boa saída. Mas eu não vejo muito sentido em assistir um show de rock dessa forma. Pra ver num telão, eu prefiro assistir no conforto da minha casa, sentado no melhor lugar, sem stress e tomando uma cerveja realmente bem gelada...rs.
6. Falando em “elitizar”, você considera que a música é uma forma cultural elitizada no país? Talvez o advento da internet tenha melhorado um pouco essa situação, mas a aquisição de produtos físicos não é tão simples. Eu vejo que muitos colecionadores que antes compravam muita coisa, hoje reclamam dos valores elevados dos produtos. Além disso, não é fácil ter condição e investimento para frequentar shows e festivais... Gostaria que você refletisse sobre o assunto.
Eu acho que o grande problema do nosso país é a nossa economia. Muitos impostos que encarecem o produto final. Bem como a desvalorização da nossa moeda. A maioria dos discos de rock/metal são importados, e aí entre comprar um CD simples por 100 reais ou um vinil por 300, ou ainda, pagar quase 2mil reais pra comprar uma pista VIP e ver melhor um show por cerca de 2h, valor do aluguel de muitas casas ótimas por aí, quase a prestação de um carro ou moto, fica difícil. Só pra quem hj realmente pode. Os CDs nacionais também são bem caros, mas porque incidem muitos impostos sobre os produtos. Na minha opinião, o que é de cunho cultural, deveria se ter o mínimo de impostos sobre. Mas estamos num país onde a cultura de que “quanto mais ingênuo e ignorante, melhor”. Então não vejo uma saída enquanto algo REALMENTE GRANDE mudar.
7. Falando em produtos físicos, como CDs e LPs & afins, sei que um período marcante na sua vida foi quando você trabalhou na Transa Som Discos. Como era essa rotina cercada de discos e músicas?
Posso dizer que foi o melhor emprego que eu já tive e o melhor lugar em que eu já trabalhei. Sinto muita falta de não trabalhar mais lá, da rotina que tínhamos, da alegria quando chegavam os pacotes com as novidades em CD/LP/DVD, do prazer em explorar mais de 1 milhão de itens... sempre fui mente aberta pra música. E trabalhar lá, do lado de um mestre como o Vilmar, só fez eu explorar ainda mais e expandir a mente para novos e viajantes caminhos.
8. Foi na Transa Som que descobri que você gosta de Depeche Mode. Acho que muitas pessoas que o conhecem, o vem como fã e entendedor de vertentes do Hard Rock e do Heavy Metal mas, infelizmente, talvez não saibam o quanto seu conhecimento musical é mais abrangente. Eu sei da sua afinidade com esses dois últimos gêneros citados, mas também sei que uma das bandas que mais marcou sua existência foi... o The Smiths! Então, nos conte, por favor, sobre sua relação com o Depeche e The Smiths e diga qual seu álbum favorito das respectivas discografias dessas bandas! Graças a você eu conheci o “Black Celebration"...
Hahahaha! Como eu disse, eu sempre fui mente aberta pra boa música. Sempre gostei de bandas que enfrentaram desafios, gravaram discos diferentes do habitual e foram pioneiros nisso. Adoro Depeche Mode, Duran Duran, New Order, Joy Division, Sisters Of Mercy, The Cure, Morrissey e, claro, The Smiths. Algumas músicas dessa última banda que citei me marcaram demais numa época. E posso dizer que parece que a “How Soon Is Now?” foi escrita pra mim...rs. Foi, por muito tempo, a história da minha vida. Acho que, de certo modo, ainda faz...rs. Assim como a “Regret”, do New Order. Meu disco favorito do DM é o “Music For The Masses”. Do Smiths eu não tenho um disco específico, mas acho que as coletâneas e a coletânea de singles são beeeem completas e tem todas as minhas músicas favoritas da banda.
9. Você já encontrou álbuns ilustres por acaso lá na TSD, né? Como foi o caso do “Phantom, Rocker & Slick”. Quais outros bons álbuns já caíram nas suas mãos lá na loja?
Ah, isso acontecia toda a semana. Praticamente todo dia. Não tenho nem como enumerar quantos discos clássicos e quantas versões espetaculares – em principal, as japonesas – passaram pelas minhas mãos. Algumas delas vieram parar na minha coleção...rs.
10. A mudança de mídias é grande e vem acontecendo de uma maneira rápida. O que ainda leva as pessoas a ainda comprarem produtos físicos? O que você observou em suas experiências na Transa Som? A geração mais antiga é que, de fato, mais consome esses produtos?
Acho que quem passou pela incomparável experiência de trocar cartas com materiais de bandas nacionais por bandas estrangeiras, comprava fitas K7 para gravar os discos dos amigos, quem ficava ligado pra saber o que estava chegando de discos nas principais lojas da cidade... enquanto ainda puder, vai reservar um pouco da sua grana para comprar seus discos favoritos e os lançamentos de novas bandas boas que tem aparecido no mercado. Quem gosta, vai continuar comprando, até quando puder. O prazer de chegar em casa e ouvir um bom disco de vinil... só quem já sentiu esse prazer sabe do que eu estou falando. Pra mim o estranho, na verdade, é alguém falar que gosta de Rock/Metal e não ter sequer um CD em casa.
11. Qual é o primeiro CD ou LP realmente marcante que você se recorda de ter comprado? Qual é a memória mais antiga em relação a isso? E, em contrapartida, qual foi o último LP ou CD que você comprou?
O primeiro disco de vinil que eu comprei foi o “Live After Death”, do Iron Maiden. Em CD, foram dois de uma vez: “Into The Unknown”, do Mercyful Fate e “Cowboys From Hell”, do Pantera. Mas, sinceramente, eu já não me lembro das datas...rs. Todo mês eu compro alguma coisa nova. O último disco de vinil que eu comprei foi o “Fatherland”, do Ancient Rites, que, inclusive, acabou de chegar aqui enquanto eu respondo esta entrevista...rs.
12. Vinicius, você trabalhou na revista Valhalla, que foi uma das mais conceituadas em relação ao Heavy Metal, e ao Rock, em geral. Você entrevistou artistas importantes quando esteve lá, né? Como, por exemplo, os membros do Angra... Poderia nos contar qual foi a entrevista mais icônica que você já realizou nesse período em que esteve na Valhalla?
Sim. Eu era redator e depois assumi a parte de redator-chefe. Foi um período mágico. É impossível de descrever. Eu falei da Transa Som, mas, na realidade, trabalhar na Valhalla foi, até hoje, o grande trabalho da minha vida. Você estar em contato diariamente com o mundo do Rock e do Metal, entrevistar seus músicos favoritos.... ter contato com tudo o que envolve o meio... é algo surreal até hoje. Entrevistei muitas bandas, fui a inúmeros shows, e tive experiências visuais que algumas pessoas nem sonharam ter. Todo dia chegavam centenas de CDs, nacionais e importados, para resenha.
A entrevista mais icônica que eu fiz foi ter falado por telefone com o Max Cavalera (Sepultura, Cavalera Conspiracy, Soulfly), quando houve o lançamento do disco “Dark Ages”, do Soulfly. Meu ídolo do Metal nacional. Mas um dos momentos que mais me marcaram foi ter falado poucos segundos com o Gene Simmons (KISS) ao telefone e um pouco também com o mestre Quorthon, do BATHORY, uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos e um dos meus maiores ídolos do Metal. Pouco depois ele morreu e foi a única entrevista que ele deu para um veículo nacional antes de morrer. Além de ter passado varias horas com o Leo Leoni e o Steve Lee, do Gotthard, passeando por lugares históricos de SP, enquanto entrevistávamos a banda. Pouco depois o Steve Lee também morreu num acidente de moto, nos EUA.
Matéria com a Pitty |
Steve Lee (R.I.P.) e Leo Leoni, do Gotthard |
13. Foi por intermédio do trabalho na revista que você conheceu o Ronnie James Dio pessoalmente? Poderia nos contar como foi esse encontro? “Always meet your heroes”, como diz a Pam Hogg!
Na verdade, quando eu tirei essa foto eu já não fazia mais parte da revista. Foi no ano que ela encerrou as atividades. Tudo aconteceu por muita sorte. Minha ex-esposa tinha uma conhecida, na verdade uma “groupie” lá de SP, e ela nos colocou lá dentro. Conhecê-lo foi algo surreal. Eu fiquei travado! Ele percebeu e foi muito paciente, um verdadeiro gentleman. Brincou com nós, contou piadas e até tirou um sarro gritando “Viva a Itália”, que tinha acabado de ser campeã mundial em cima da França. Não é à toa que ele foi o mestre. Ainda me emociono quando me lembro desse dia.
Ronnie James Dio e Vinnie Mariano |
14. Você também conheceu o Udo... e, aliás, eu estava lá! Haha. Como foi esse show que ele realizou em Sorocaba?
Sim, estávamos lá...rs. Foi um show só do Udo tocando clássicos do Accept. No caso do Udo, ele não estava muito de bom humor, mas até que nos atendeu bem. Também foi uma honra, um cara que eu sempre admirei e é uma das minhas principais influências vocais.
15. Você também já foi colaborador da Roadie Crew e da SL Music, né? Ainda escreve para alguma dessas revistas?
Sim. Eu fui colaborador da Roadie Crew no período que estive morando em SP. Eu morava perto do mestre Ricardo Batalha, editor chefe da revista. Ele já era um amigo de longe nos tempos da Valhalla e passar a colaborar com eles foi mais um sonho realizado, por estar fazendo o que eu mais gosto na vida. Ao mesmo tempo eu era editor da SL Revista Eletrônica, do Souza Lima, que já era um campo mais eclético, com entrevistas e matérias sobre bandas e grupos de Jazz, MPB, Pop, etc. Infelizmente, hoje eu não colaboro mais com nenhuma delas. É meio decepcionante, porque não tenho mais tempo de fazer o que eu mais gostava na vida.
16. Consegue listar suas dez bandas favoritas?
Ah, novamente impossível. Não quero ser injusto com ninguém...rs. E música, pra mim, vai muito de estado de espírito. E outra: eu sou apaixonado por todas as bandas da NWOBHM e as que seguem essa sonoridade, até os dias de hoje. Mas as que nunca saem da lista: Iron Maiden, Metallica, Black Sabbath, Thin Lizzy, Bathory, Running Wild, Dokken, Motley Crue, W.A.S.P., Mercyful Fate/King Diamond, Diamond Head, Grave Digger, Candlemass, Katatonia, Sodom, Motörhead, Lynch Mob, Mayhem, Rough Cutt, UFO... e por aí vai...rs.
17. Se você se mudasse para uma ilha deserta, e só pudesse levar um álbum com você, qual escolheria?
Acho que levaria o Hammerheart, do Bathory.
18. Se pudesse escolher apenas quatro das bandas abaixo para tocar numa festa sua, quais escolheria?
AC/DC
Queensrÿche
Alice Cooper
Led Zeppelin
Black Sabbath
Running Wild
Thin Lizzy
King Diamond
Kreator
Venom
Black Sabbath, Running Wild, King, Thin Lizzy e Diamond.
19. E agora, o Fanzine Brasil te convida para um bate-bola. Pega aí camisa 10 aí, e a vamos lá!
Vamos lá!
a) Uma banda de Rock que todo mundo gosta e eu não...
Não diria que eu não gosto, mas não sou tão fã: Queen.
b) Uma música/banda/álbum que eu adoro, mas tenho vergonha de admitir que escuto...
Hahahaha! Não tenho vergonha de admitir que eu escuto, mas adoro Dead Or Alive e Gene Loves Jezebel.
c) Afinal, entre os Sex Pistols e os Ramones, o melhor é...
Pra mim, sem dúvida, Sex Pistols.
d) Uma música que faz você chorar...
Váriasssssss......kkkkkk! Sou um chorão de mão cheia! Um cara que chorou até no filme “Leão Branco”, do Van Damme... o que você espera? (risos). Mas se tem uma que é “batata”, esta música se chama “Night And Day”, do Axel Rudi Pell, por me lembrar de um período muito triste da minha vida. E também, “We Might as Well Be Strangers”, do Keane. É choradeira na certa....rs.
e) Uma música cuja letra te emocione...
Muitas letras para mencionar... “Forever Free”, “Hold On To My Heart” e “The Idol”, do W.A.S.P., seguramente. “Song to Hall up High”, do Bathory, “Ballad Of The Willian Kid”, do Running Wild, “Pieces”, de Paul Shortino e John Northrup, “Home Sweet Home, do Motley Crue, “Criminal”, do Katatonia, “Willian Wallace”, do Grave Digger e “The Highwayman”, de Loreena McKennitt, são algumas delas.
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