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quinta-feira, 24 de abril de 2025

CONHEÇA ZÉ NINGUÉM, O FAMOSO POETA MARGINAL DAS RUAS SOROCABANAS

 Por Juliana Vannucchi

Muitos sorocabanos certamente já se depararam com Zé Ninguém, poeta marginal que ocupa ruas, vielas, encruzilhadas e transportes públicos da cidade, recitando seus versos para qualquer um que esteja disposto a ouvi-los. Ele usa seu dom poético como um grito de guerra, fazendo dele a mais poderosa arma de revolução existencial, cujo propósito é invadir corações e, com isso, salvar e ajudar as pessoas de alguma forma. É muita sorte ter um poeta tão sensível vagando por Sorocaba e figuras artísticas assim, tão criativas como Zé Ninguém, merecem nossa atenção e sempre devem ser valorizadas. Mas apesar de atualmente brilhar por nossa querida Terra Rasgada, a trajetória de Zé Ninguém começou em outro espaço e em outro tempo...

Por trás desse pseudônico, está o jovem Gabriel Gomes Almeida. Ele nasceu em Campinas, no hospital universitário da Unicamp, no dia 24 de novembro de 2000. É o oitavo filho da dona Josefa Gomes de Almeida, que tem mais sete filhas e outro menino. Almeida terminou os estudos escolares em 2019, aos 19 anos, poucos meses antes do início da pandemia. Posteriormente, ingressou na faculdade, matriculando-se no curso de Letras. Ao longo dos anos, trabalhou em diversos ramos, assumindo vários cargos diferentes. Atualmente, no entanto, é servente e trabalha com seu cunhado. Em meio a todas essas experiências de vida, sempre houve uma poderosa conexão entre ele e a arte, sendo que seu percurso poético começou ainda na tenra idade, quando Gabriel envolveu-se com a música: “Eu sempre gostei de rap, funk, música clássica e pagode”. A partir dessa afinidade, aos doze anos ele começou a escrever, e tinha a intenção de se tornar cantor de rap: “Foi exatamente com essa idade que eu passei a escrever alguma coisa, rabiscar, anotar os meus sentimentos e foi a partir daí que peguei gosto pelo conhecimento e, a partir disso, simplesmente não parei mais de buscá-lo”.

 

Zé Ninguém e sua companheira Fernanda.   
 

Desde então, seus escritos foram aumentando e a poesia foi ocupando um espaço cada vez maior em seu dia-a-dia, se tornando uma paixão sem a qual o jovem não vive: “A poesia, pra mim, é a própria vida. Não existe nada se não existe poesia. Antes mesmo de começarmos a nos comunicar, a poesia já existia... antes mesmo do primeiro átomo se formar, a poesia já estava versando o universo. Então, na vida das pessoas a poesia é a emoção de viver, de ser e de sonhar. Sem poesia, penso que não haveria vida”. No entanto, apesar dessa ligação com os versos ter se iniciado cedo, foi apenas mais tarde, precisamente em 2023, que a slam poetry entrou em seu caminho, fazendo com que Gabriel encontrasse de vez o seu verdadeiro rumo, ao qual tanto se dedica atualmente. Afinal, foi através dessa expressão poética que ele, aos poucos, foi se tornando um notável expoente poesia marginal de Sorocaba: "Eu desenvolvi com outros artistas o projeto Slam Trincheira que vai estrear oficialmente no mês que vem, na zona norte da nossa cidade. Em suma, o objetivo do projeto é revigorar a poesia sorocabana, trazendo novos poetas para a nossa cidade e criar, assim, uma nova frente de poemas, remetendo especialmente à zona norte que acredito ser ainda muito negligenciada na arte".  E foi justamente nesse meio poético da slam que Gabriel assumiu o pseudônimo de Zé Ninguém, pelo qual está consolidando seu reconhecimento. A respeito desse nome artístico, explicou: “Tento levar às pessoas que me veem recitando, a essência não só da poesia, mais das próprias pessoas, pois busco refletir ali a dor do mundo para que saibam que não estão só, que tem um outro alguém com elas. Porque geralmente, quando nos sentimos sós, pensamos que não somos nada, que não somos ninguém. Que somos só mais um em meio de tantos. E isso me inspirou a criar meu pseudônimo de Zé Ninguém, que representa a todos, além de ser mesmo tempo, um nome que serve como ato de resistência, força e coragem”. 

 

Zé Ninguém é um poeta que tem muito a nos ensinar e que possui uma maneira cativante e inspiradora de recitar seus versos.

Gabriel acredita que pessoas de todo o mundo podem se encontrar em seus versos, reconhecendo-se neles, como se fossem espelhos de suas almas, nos quais se sentem acolhidas e representadas de alguma maneira. E o cenário atual da arte sorocabana que, segundo o jovem poeta está evoluindo e se fortalecendo gradualmente, parece ser justamente o espaço ideal para que ele possa fazer com sua arte atinga um número de pessoas cada vez maior. Zé Ninguém, afinal, entende que a arte porta em si um potencial transformador, necessário para que as pessoas possam ter uma formação mais humana e digna, elevando o patamar de suas consciências. Nesse âmbito, refletiu: “Acho que aqui em Sorocaba devemos ser mais ativos no meio artístico. Essa cena, afinal, pode fazer muita gente mais feliz e tirar as crianças do caminho errado”.

Zé Ninguém é um poeta de rua que tem muito a nos ensinar e que possui uma maneira cativante e inspiradora de recitar seus versos. É um militante heroico da zona norte, nobre em seu propósito de difundir a arte por todos os cantos da cidade e abrir espaço para que outros artistas possam ter voz e, assim como ele, mostrando seus talentos ao mundo. Devemos nos orgulhar de ter um poeta como ele peranbulando por nossas terras. 

Um comentário:

  1. Poesia é cor para os dias sem vivacidade dos Zé ninguém, parabéns, saúde e realizações!

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