Fanzine Brasil

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

LOOMING FLAMES:

Por: Vannucchi

O Looming Flames é um projeto musical criado pelo multi-instrumentalista brasileiro Marcelo Badari, residente em Joanópolis, São Paulo. É difícil, e talvez até mesmo desnecessário tentar definir qual é o gênero musical desse projeto. Porém, de maneira geral, é possível dizer as músicas do Looming Flames são especialmente conduzidas por uma guitarra maravilhosamente distorcida e alucinante, cuja sonoridade ilumina o caminho para as outras combinações instrumentais ousadas criadas por Badari.

Algumas faixas parecem herdar traços sonoros característicos do Glam Rock, outras carregam uma atmosfera ligeiramente sombria, e outras abusam agradavelmente de efeitos bastante diversificados e ruídos bem originais. Assim, moldado nessa curiosa onda de variadas temáticas e influências, o Looming Flames oferece tanto músicas agressivas, quanto músicas mais delicadas. Trata-se, em suma, de um devir – nunca sabemos exatamente o que Badari oferecerá aos nossos ouvidos e como ele instigará nossas almas. Entretanto, o que sabemos por certo, é que ele nos cativará com suas músicas. O Looming Flames é um projeto versátil e espiritualmente underground, inspirado, em partes, na gloriosa ideologia “D.I.Y”, herdada pelo Punk Rock. Essa rica variedade de conteúdo instrumental é capaz de levar o ouvinte para universos distantes, e fazê-lo perder-se dentro de tantas melodias apaixonantes... As músicas de Badari podem conquistar qualquer um, em qualquer contexto no qual a pessoa se encontre.

Precisamos admitir que o cenário underground do nosso país é agitado na questão de lançamentos musicais e eventos. Não é exagero nenhum dizer que o Looming Flames chega nessa rica cena de maneira soberana, se firmando como um dos projetos mais autênticos e bem elaborados dos últimos tempos. Podemos esperar muitas coisas boas com as quais a imaginação e o talento de Badari irão nos presentear. Ele está inovando. Inovando bastante e jamais copiando. Sempre criando algo genuíno, altamente qualificado e digno de reconhecimento. Nunca estagnado, nunca preso a estereótipos, e eis esse o grande diferencial do grandioso projeto Looming Flames, que certamente se firmará cada vez mais como um dos principais nomes da cena underground brasileira. 

1. Como surgiu a ideia de criar o Looming Flames? Quando esse projeto foi oficialmente inaugurado?

A ideia começou a tomar forma em 2009/2010 numa temporada que passei em Dublin, na Irlanda. Eu tinha visto um pedal de loop, que grava um som e reproduz em seguida esse som infinitamente. Aí fiquei imaginando em montar um esquema com guitarra, samples e ritmos eletrônicos… e tudo passando por esse pedal. O debut se deu com esse vídeo: https://youtu.be/oQeNCqFTUZ0, mas o primeiro registro com o pedal de loop foi este: https://youtu.be/Zxy2hb-O9zo Em youtube.com/marcelobadari dá pra ver a evolução do projeto… praticamente todos os vídeos estão lá.

2. Qual foi o primeiro instrumento musical que você aprendeu a tocar? E afinal, quantos e quais você toca?

Foi um tecladinho calculadora Casio VL-tone VL-1 (aquele da música ‘Da da da’, da banda alemã Trio) e também um violão. Basicamente toco bateria, guitarra e violão.
Casio VL-tone VL-1.

3. Existe algum conceito específico por trás desse projeto?

Sim. A ideia de fazer post rock no esquema live looping.

4. Como funciona o processo de gravar vários instrumentos? Você faz tudo sozinho?

Sim, faço tudo sozinho e é tudo gravado ao vivo. Geralmente a base é um ritmo eletrônico, ou uma linha de guitarra, pode ser também um beat sampleado de bateria acústica. Mas, nessa música, por exemplo, só tem a guitarra: https://youtube/bRVBIpvVRVE e eu gravo ao mesmo tempo em vídeo o áudio que está sendo gravado. Aí depois edito o vídeo inserindo algumas imagens ou não. Nesse som: https://youtube/CqxIYR5zbIc, foi tudo gravado ao vivo e, depois, na edição do vídeo, inseri imagens minhas tocando bateria.

5. Quantos álbuns ou EPs você já lançou? Chegou a lançar algum material físico? 

Desde 2011 lancei virtualmente 7 álbuns: loomingflames.bandcamp.com. Montei também um DVD, do álbum Flutuações Distantes, e distribuí entre amigos. No início dos anos 2000 costumava lançar fitas K7, CD-r’s, fitas VHS… mas hoje é mais viável distribuir online.



6. Você é um artista muito versátil, pois cria faixas bem distintas umas das outras, embora sejam todas notavelmente qualificadas. Quais são suas principais influências sonoras?

Obrigado. Antes eu curtia bandas/artistas e, claro, suas músicas, hoje eu curto mais só as músicas mesmo, independentemente da banda/artista. Vou citar algumas músicas que eu gosto e que me influenciaram muito mais do que os próprios artistas, porque a música sempre vai ser a mesma, já o artista pode mudar e de repente não te agradar mais - o que é normal e acaba acontecendo mesmo; por isso você tem que fazer o seu próprio som (e não se preocupar em agradar seus fãs.) Mas vamos lá: Tomorrow Never Knows (The Beatles), Walking on The Moon (The Police), Paradise Place (Siouxsie and The Banshees), Outono (Violeta de Outono), Slow (My Bloody Valentine)… Essas músicas mexeram comigo desde os primeiros segundos que as ouvi.

7. E os pedais para guitarra? Percebi que você utiliza vários! Tem algum que seja de sua preferência? Você mencionou que também utiliza efeitos extras na bateria. Como funciona isso?

Tento usar o mínimo possível, cheguei até a usar somente o iPad para substituir todos os pedais, mas não rolou do jeito que eu precisava. De 2011 pra cá venho experimentando vários pedais e hoje montei um esquema que supri bem o que eu quero. Uso um sampler Boss SP-202 e um iPad no meio dos pedais. Isso me permite adicionar outros sons nas músicas. O iPad uso como pré-amplificador, sintetizador (https://youtube/Soy3_v2kV2A) e tem também nele alguns beats armazenados. Gravo esses beats no pedal de loop e outros já estão armazenados num segundo pedal de loop (este com memória). Fiz isso pra agilizar no caso de uma apresentação ao vivo.

Em 1998, com um sampler de 8-bit conectado no Amiga 1200, fiz umas experiências e gravei a bateria utilizando o Amiga como processador de efeitos: https://youtu.be/3l_Y_INcfNw e recentemente, no Looming Flames, experimentei de alterar o pitch da bateria no próprio programa de edição de vídeo e fiquei bastante satisfeito com o resultado: https://goo.gl/CEsKtm. Como eu uso sons eletrônicos de bateria, acabo não aplicando muitos efeitos na bateria acústica… também gosto do som natural dela, tanto é que não abafo os tambores e não curto peles tipo pinstripe neles.


"Hoje montei um esquema que supri bem o que eu quero."

8. Você já tocou em outras bandas? Até o momento, como foram suas experiências e aventuras como músico?

Sim, toquei bateria e glockenspiel no Cadão Volpato & trio, em 2006 e também no Momento 68, fizemos apresentações em São Paulo, Rio e Curitiba. E no início dos anos 2000 tive alguns projetos musicais, todos gravados em portastudio de 4 canais, em fitas k7: Voluta Glifos, Manta e Dellatrons (este em parceria com o Sandro Garcia, do Momento 68/atual Continental Combo). Me apresentei com esses projetos em algumas casas noturnas de São Paulo, como Matrix e Cais. Nesses projetos costumava usar um computador Amiga 1200 munido de sampler de 8-bit. Sequenciava nele samples e acrescentava a guitarra (Voluta Glifos) - https://youtube/m6NG8DV_RXQ - e alguns tambores (Manta). Recentemente adquiri novamente um Amiga 1200 com um sampler e usei no Looming Flames, na música Weirdscarlet: https://youtu.be/LxoGifDbCkE

Entre os projetos do início dos anos 2000 e o Looming Flames, rolou o Gunnar Lou (nome que peguei emprestado do terceiro álbum do Dellatrons). Nesse projeto a ideia era gravar tudo separado, ao contrário do Looming Flames. Entre 2007 e 2008 lancei 2 DVDs com esse projeto, fiz algumas apresentações e incluí alguns vídeos nessa playlist do YouTube: https://tinyurl.com/ycaazbkg.

Em 2004 participei do CD tributo à banda Fellini, gravando ‘Rock Europeu’. Toquei todos os instrumentos e convidei uma amiga, a Julia Ayerbe, pra fazer os vocais. O CD só veio a ser lançado em 2015, pela 2Discos".

*Acesse também:  https://youtu.be/zBrWA0qGSDc







9. Aparentemente suas produções são inteiramente feitas aos moldes do D.I.Y. Você realmente compactua com essa “filosofia” que o Punk nos deixou como legado? E você mesmo que filma e edita seus vídeos? Ou tem algum apoio?

Sim, totalmente no esquema DIY. Sim, compactuo com essa filosofia! E sim, eu mesmo gravo e edito os vídeos. Em 1984 descobri um programa na Rádio Bandeirantes chamado New Music (tenho aqui alguns programas gravados em fitas k7). Ele rolava meia-noite de sexta-feira. Ali conheci Joy Division, Gang of Four, Legião Urbana, Finis Africae, Capital Inicial, Zero… e tirava alguns desses sons no tecladinho Casio e também no violão. Era um som mais primitivo e direto, ao contrário do que conhecia até então: tipo Queen, por exemplo. E era um som bem no esquema ‘faça você mesmo’. Nessa época conheci também Mercenárias, Smack, The Cure, Bauhaus etc. Tudo isso me encorajou/estimulou a criar e gravar meu próprio som.

Fita K7 com gravações do programa "New Music".

10. Se pudesse dividir o palco com um artista, quem escolheria?

Escolheria o Erik Satie. Acho que faríamos um som bem inusitado!

PS: já dividi o palco (um bedroom stage na verdade) comigo mesmo: https://youtu.be/jEWH4xiUmWM

Se quiser conhecer melhor as produções musicais de Badari, acesse: https://loomingflames.bandcamp.com

0 comentários:

Postar um comentário

TwitterFacebookRSS FeedEmail