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terça-feira, 26 de março de 2024

MUSA DO CAOS E DA DESORDEM: COMO PAM HOGG ENGRANDECE O MUNDO POR MEIO DA IMPERFEIÇÃO

 Por Gregory Ferraz

Embora, de modo geral, em seu trabalho artístico, a fashion designer Pam Hogg busque de alguma forma a perfeição, ela prefere sempre encontrar no mundo a beleza da imperfeição. Em suas memórias afetivas, Hogg fala que quando não se tem nada, é possivel enriquecer-se com contos e invenções... nesse caso, sugere que se sintonize num rádio, mistérios e suspenses para tocar, e que sempre sobrevivamos e floresçamos com o poder da imaginação, que diante de qualquer carência, é capaz de nos prencheer e nos enriquecer.

Original, inventiva, criativa, provocativa, audaciosa, dentre outras diversas outras qualidades, Pam Hogg é uma designer de moda/musicista/cineasta de uma força caleidoscópica e de uma exuberância caótica que dificilmente se consegue observar em uma única pessoa, devido à intensidade e obstinação que são requeridas para ter esee raro perfil. Por isso, sempre vi a Pam como uma das poucas pessoas capazes de se fazer de recetáculo para suas próprias criações. Hogg consegue capturar as ideias que flutuam em sua cabeça, o caos das suas colisões mentais e os fragmentos que daí partem. É capaz de capturá-los e juntá-los, fazendo com eles uma espécie de quebra-cabeça mágico. Esse processo criativo tão único faz com que Pam ocupe um local de abordagem não ortodoxo e muito específico dentro da moda, um local permeado pelo caos, que surge dessas colisões e capturas das suas experiências mentais.

Contadora de histórias, romântica, ousada, feroz, frágil, forte, com um background pós-punk londrino típico dos anos 80, ela consegue com seu design, tecer, costurar e conduzir sua imaginação em representações imagéticas de forma muita íntegra. Pam cria, dirige, produz e estiliza sozinha suas coleções, sempre tendo a autoconsciência da sua prosperidade na perturbação e na desordem, e é com esse pensamento que ela nunca se esquiva da política, sendo por isso, uma grande defensora dos oprimidos e renegados, carregando em si a missão ética pela qual vive, fomentando a crença na força das mulheres, na defesa dos direitos homossexuais e militando contra o imperativo do individualismo face à pressão para um conformismo medíocre.

Assim, extravagante, caótica, contraditória, não convencional e dona de um profundo subconsciente, Pam leva seu coração nas mangas, sua honra em suas taxinhas, sua justeza no seu látex e no seu pvc, e creio que entre suas fitas, tesouras, agulhas, botões, colorblock e upcycling, nos resta o agradecer a Pam por nos mostrar que de uma punk bem atípica, de uma intransigente praticamente do DIY e de uma autoditada, é possível saber que a desordem divina que convive dentro de cada um de nós, pode ser validada no mundo em que vivemos e estar associada a sucesso e construções positivas.

Um momento divino é quando uma pessoa me retira da ignorância.

Pessoalmente, acho que um momento divino é quando uma pessoa me retira da ignorância, e essa é a Pam, uma pessoa sempre disposta a dar ao mundo o que o mundo não sabe o que quer, por isso, penso não haver possibilidade de se deparar com a obra de Pam Hogg sem ser arrebatado. Se ela se dirige na entrega do não óbvio, de remover barreiras do normativo e quebrar as regras que podem nos sufocar e nos enrijecer como sociedade realmente, não há outra forma de abordar Pam a não ser pelo senso de agradecimento. Qualquer um que busque viver nessa vida de forma intensa, real e que queira acordar para a densa realidade, sabe o quanto são custosos os incômodos do caminho e, em tal sentido, nos depararmos com o ritmo alucinante da Pam equivale a nos depararmos com uma grande guerreira que tem uma jornada de muita reclusão autoimposta e que tem como caminho uma jornada que migra através da escravidão e da restrição, até a aquisição de uma iluminação espiritual individual e coletiva.  Um grande salve para a querida Pam Hogg.

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