Por Juliana Vannucchi
Em 1971, o The New York Dolls ganhou vida e chocou a cidade de New York com sua ousada estética glam, caracterizada pelo visual andrógeno de suas integrantes que se adornavam com gliter, maquiagem e trajes tipicamente femininos. O grupo, que gravou dois inspirados álbuns de estúdio e faliu logo em seguida após ambos fracassarem comercialmente, seria uma das maiores influências do punk rock, ao lado de bandas como MC5, The Stooges e Velvet Underground. E quem assumiu a guitarra do The New York Dolls foi um jovem até então pouco conhecido, chamado Johnny Thunders. O cargo de guitarrista de uma banda de protopunk tão lendária já bastaria para que seu nome entrasse de vez para a história do rock. Seu nome real era John Anthony Genzale. Ele nasceu em 1952, numa família de classe média. Abandonado na tenra pelo pai, viveu sob os cuidados da carinhosa mãe e de sua protetora irmã. Na adolescência, ao lado do beisebol, sua grande paixão foi o rock and roll. Nessa época começou a tocar guitarra e se mudou para NYC com sua namorada...
Depois do fiasco vivido com o The New York Dolls, Thunders, que estava inserido no fervor do meio musical nova iorquino dos anos setenta, formou o grupo Johnny Thunders & The Heartbreakers. Com ele, estavam o baixista Richard Hell, ex-Television e o talentoso baterista Jerry Nolan. Hell logo abandonou o projeto e, então, dois novos músicos se uniram à banda para contribuir com o icônico álbum “L.A.M.F.”, de 1977, que, embora tenha sido a única produção de estúdio do novo grupo de Thunders, foi suficiente para se tornar um dos maiores álbuns de punk rock de todos os tempos, contribuindo para que a identidade sonora e visual desse gênero se solidificasse. Os anárquicos Heartbreakers, guiados pelo depravado poeta e vocalista Johnny Thunders se tornaram, nessa época, figuras emblemáticas em New York. Fizeram uma série de shows no CBGB, enquanto viam seu atraente trabalho musical se espalhar aos poucos, inicialmente por Londres e depois, por outros vários países. No entanto, a banda, seguindo o roteiro mais clichê possível de um grupo nova iorquino desse período, logo se viu vítima de um uso excessivo de drogas que culminou em sua dissolução.
Porém, pouco mais tarde, em 1978, o incansável Johnny Thunders lançou seu debut solo, o “So Alone”. Contando com uma assinatura propriamente punk, mas com solos de guitarra extensos e enérgicos que superavam as fórmulas mais convencionais do gênero, o debut emplacou até mais do que sua carreira com o The Heartbreakers. Foi através desse disco que ele se tornou efetivamente uma lenda da cena underground de New York. A gravação contou com uma surpreendente quantidade de músicos, como Peter Perrett, famoso vocalista e guitarrista da banda inglesa The Only Ones, os ex-Pistols Paul Cook e Steve Jones, Chrissie Hynde, do The Pretenders e outros grandes nomes dessa mesma geração. Resquícios de R&B e rockabilly percorrem algumas faixas e as enriquecem. E claro que, como era de se esperar, esse elenco de músicos exageradamente mesclado que Johnny escalou, entregou um trabalho de qualidade. Em suas letras, encontra-se um pouco de niilismo e muito romance.
A lista de admiradores de Thunders é extensa. Bob Dylan é um dos fãs do “So Alone” e chegou até mesmo a declarar que desejava ter sido o compositor da faixa “Memory”, que até hoje consiste num verdadeiro hino da carreira de Thunders. Billy Duffy, do The Cult, também já se declarou para a banda e disse que desde sua juventude, quando ainda estava engatinhando no mundo do rock, Thunders foi uma inspiração para ele. Já Steve Conte afirmou que como guitarrista, Thunders era simplesmente um combo de Chuck Berry e Keith Richards. Por sua vez, Michael Monroe, o saxofonista afirmou numa entrevista que o Johnny jamais viu seus álbuns ou sua música como negócios. Ele simplesmente os via como pura arte e compunha livremente, como exercício espontâneo de autoexpressão. Essa postura, por si, é essencialmente punk, convenhamos.
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Thunders dominava as platéias com seu enérgico estilo performático. |
Enquanto seu álbum solo fazia sucesso, Johnny se perdia cada vez mais em seu uso descontrolado de heroína. Continuou gravando uma série de aleatoriedades sem grande destaque. Esboçou um projeto com o rebelde Sid Vicious e outro com Stiv Bators e Dee Dee, mas nada fluiu tão bem. Aliás, a banda que ele formou com esses últimos dois músicos citados, não teve fôlego para sobreviver e deu seu último suspiro quando Johnny, num ato imprevesível de fúria, quebrou impiedosamente um copo cheio de cerveja na cabeça de Dee Dee. O excesso de agressividade e confusão na vida e carreira do músico crescia exponencialmente junto com o abuso das drogas. Thunders, cada vez mais autodestrutivo, conseguiu gravar ainda mais cinco álbuns de estúdio. No geral, são bons trabalhos, embora estejam absolutamente aquém do clássico “So Alone”, o único que realmente triunfou com todos os méritos. Dentre esses demais discos, o único que possui uma identidade mais original e que flui de maneira agradável é o “Copy Cast”, de 1988, que contou com a calorosa presença de Patti Palladin.
Johnny Thunders faleceu aos 38 anos, em 1991, sob circunstâncias incomuns e pouco claras. O mundo perdia um dos melhores compositores e talvez o mais elegante guitarrista da história do punk rock, que munido de sua inseparável TV Yellow Les Paul Junior, entrou para a história, sendo até hoje ovacionado pelos admiradores do gênero. Seu primeiro álbum solo, o “So Alone” e o único trabalho de estúdio que gravou com o The Heartbreakers, o “LAMF”, permanecem sendo imensamente influentes e amplamente populares.
https://www.loudersound.com/features/johnny-thunders
https://www.guitarworld.com/features/the-life-and-times-of-johnny-thunders
https://en.m.wikipedia.org/wiki/Johnny_Thunders
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