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terça-feira, 17 de agosto de 2021

ALICE COOPER: O REI DO SHOCK ROCK

 Por: Juliana Vannucchi


Quando todo mundo é normal eu sou estranho, quando todo mundo é estranho eu sou mais ainda”. (COOPER, Alice
).


APRESENTADO VINCENT FURNIER:


Quando Vicent Furnier assumiu o nome artístico Alice Cooper, um personagem lendário ganhou vida e o Rock and Roll se transformou para sempre. Cooper é uma figura eterna no sentido de que não se esgotam as especulações e reflexões a respeito de sua vida e de sua obra. Hoje vamos conhecer e examinar um pouco mais de perto esse artista caricato.

Vincent Furnier nasceu em Detroit, em 4 de fevereiro de 1948. Quando tinha aproximadamente sete/oito anos, afirmava que queria ser o Elvis Presley. Além de admirar o Rei do Rock, era um grande fã de baseball. Para o pequeno Vincent, no entanto, praticar seu esporte predileto ou pular e cantar como Elvis era um tanto complicado, pois sua saúde era exatamente frágil.

A morte se aproximou do garoto na tenra idade. Quando ele tinha 11 anos, ficou seriamente doente, e foram extraídos quase 5 litros de veneno do seu corpo. A quantidade de veneno era tão grande que seu sangue ficou mais grosso do que o normal, e os médicos disseram que a sua chance de sobrevivência era de 10%. O menino perdeu peso e teve uma séria queda capilar. Foram três meses no hospital, mas ele sobreviveu, apesar de ter visto de maneira impactante a sua finitude! Certamente, esse contato com a morte foi refletido em sua carreira musical. Ele próprio já admitiu isso ao mencionar a morte como uma temática presente em seu lirismo, ao passo que, por sua vez, engajamento social e político seriam componentes ausentes no universo de Alice Cooper: “Vamos admitir, política e religião são um tédio (...) A maior parte das pessoas não se importa realmente com elas. As únicas coisas que importam para elas são morte, sexo e dinheiro. Então escrevermos música basicamente sobre esses assuntos”. (2013, p.270). Aqui, é válido citar um outro aspecto que marcou sua juventude e também influenciou toda a estética de Cooper: os filmes de terror. Ele era apaixonado por esse gênero. Dentre os seus preferidos estavam “A Filha de Drácula” e “O Monstro da Lagoa Negra”. Tudo isso foi levado para os palcos, nos quais Cooper não subia apenas para cantar. Ele sempre fazia questão de deixar claro que não realizava um “show”, mas sim, um “evento”: “É tipo: Alice está chegando em quatro meses! (...) Eu quero que as pessoas fiquem ansiosas com o fato de que estamos chegando na cidade, nada do tipo ‘Quem vamos ver essa semana? Bom, vamos lá ver Alice...’; eu quero que eles falem, ‘Uau, Alice está aqui! Cara, o que será que vai acontecer nesse novo show?!’”. (2013, p. 181).

 

(...) me chamar de satânico é pisar no que eu realmente acredito (...)

De fato, ele se tornou um mestre performático que sempre chocou o público com apresentações sanguinárias e aterrorizantes que fizeram dele o grande e genial rei do Shock Rock!

Na época da escola, era um garoto tímido, mas tinha um aproveitamento bom. Gostava muito de James Bond e era fã de Salvador Dalí. Apreciava jogar golfe e lia HQs do Homem-Aranha e do Quarteto Fantástico. Mesmo após formar uma banda, Vincent frequentava a igreja. Seu pai, homem de muita fé, era pastor, e todos encaravam o jovem com certa desconfiança e desdém, pois ele apresentava traços de excentricidade que geravam polêmica. Ele teria outros problemas com a igreja ao longo de sua vida, pois em inúmeras ocasiões foi acusado de satanismo. Mas os olhares tortos e as críticas de cristãos fervorosos não afetaram sua fé: “(...) não é muito surpreendente que eu tenha buscado o cristianismo. Meu pai era um pastor (...) me chamar de satânico é pisar no que eu realmente acredito (...) eu acredito em Deus”. (2013, p. 255-256).

Na verdade, seu comportamento sempre foi controverso e passível de críticas: houve uma ocasião, por exemplo, na qual durante um show da banda ele arremessou uma galinha no público, esperando que a ave fosse devolvida. Contudo, ela foi simplesmente destroçada. Após esse acontecimento, ele precisou se retratar com a Human Society toda vez que ia fazer um show. Houve outras encrencas. Mais tarde, uma turnê que Cooper faria na Austrália para apresentar seu projeto solo foi cancelada porque o governo se preocupou com o impacto que sua imagem decadente poderia ter na juventude do país. Na ocasião, o ministro que freou Cooper declarou: “Eu não vou permitir que um degenerado, com uma forte influência sobre a juventude e os de mente fraca entrarem no país (...)”.


Ele teve fãs ilustres, como é o caso de Johnny Rotten e tantos outros. Para ser ter uma ideia, “Elected” foi uma das faixas preferidas de Lennon, e o vocalista dos Beatles disse que chegou a escutá-la umas cem vezes...


SAI FARNER, ENTRA COOPER...


O nome “Alice Cooper” envolve especulações bizarras: segundo alguns, proveio de uma brincadeira com tabuleiro ouija feito na casa do empresário das turnês, chamado Dick Philips. Supostamente, um espírito entrou em contato e se identificou com esse nome. A entidade disse que havia se suicidado com veneno após ser acusada de bruxaria e ter sido perseguida por autoridades. Essa é apenas uma das narrativas sobre o nome que foi usado tanto por Vince, quando para a banda. Aliás, ele usou esse nome em seus dois projetos musicais, sendo que o primeiro era propriamente a banda “Alice Cooper”, e o segundo, uma espécie de carreira solo em que era usado esse mesmo nome.

Aliás, foi justamente durante o período de sua carreira solo que Cooper entrou na sua fase de declínio, tanto no que diz respeito à sua vida pessoal quanto em relação aos seus feitos artísticos. Ele se tornou um alcoólatra e precisou ser internado num hospital psiquiátrico. Ficou numa ala destinada a viciados e pessoas com problemas mentais graves. Mas tudo valeu a pena, e o tratamento teve um efeito benéfico em seu organismo. Cooper até optou por ficar lá durante mais tempo do que era necessário, pois encontrava inspiração para letras na convivência com os pacientes mentalmente insanos. E, claro, aos poucos, a fase decante foi ficando para trás para dar espaço a um novo período de criatividade. Ele se reergueu.

DALÍ TRANSFORMA COOPER NUM HOLOGRAMA:

Um dos encontros culturais mais célebres de todos os tempos merece ser lembrado aqui. Até porque Alice Cooper já admitiu que esse episódio foi um dos melhores momentos de toda a sua vida. Essa história, definitivamente, não poderia ficar fora do nosso texto!

Dalí e Cooper se conheceram em 1973, na cidade de Nova Iorque. Nessa época, o pintor tinha 69 anos e o músico tinha 25. Após esse primeiro encontro, passaram duas semanas bebendo, comendo e conversando. Foi uma ocasião extremamente significativa para o jovem Alice Cooper, já que desde a infância, tanto ele quanto o baixista Dennis Dunaway eram fãs do artista espanhol: “Antes de os Beatles aparecerem, ele era a única coisa que tínhamos. Olhávamos suas pinturas e conversávamos sobre elas por horas. Suas pinturas também tinham muito humor. Então, quando formamos nossa própria banda, foi natural que pegássemos algumas dessas imagens - como a muleta - e as usássemos em nossas apresentações”. Cooper ainda disse que foi como encontrar os Beatles ou Elvis.


Segundo Alice Cooper, Dalí era uma figura brilhante, bizarra, caricata, e tudo que fazia era performático.

Cooper também encantou o mestre do surrealismo, que decidiu transformar o astro do Rock num holograma, “First Cylindric Chromo-Hologram Portrait of Alice Cooper`s Brain”. Esse seria o primeiro holograma vivo do mundo.

Dalí e Cooper: um encontro memorável.
 

Na ocasião, Dalí também criou “The Alice Brain”, uma escultura feita com bombas de chocolate, formigas, diamantes e tecnologia holográfica antiga. Segundo Alice Cooper, que obviamente gostou da ideia, Dalí era uma figura brilhante, bizarra, caricata, e tudo que fazia era performático. O vocalista relatou: “Sua genialidade era que você nunca sabia quando ele estava sendo engraçado e quando não estava”.

Essas aventuras do king Cooper, sua originalidade e sua carreira brilhante fascinam. São coisas que estão além do tempo e do espaço. Ele teve fãs ilustres, como é o caso de Johnny Rotten e tantos outros. Para ser ter uma ideia, “Elected” foi uma das faixas preferidas de Lennon, e o vocalista dos Beatles disse que chegou a escutá-la umas cem vezes...

Referências:

THOMPSON, Dave. Alice Cooper: Bem-vindo ao meu pesadelo. São Paulo: Editora Madras, 2013.

https://www.openculture.com/2020/08/when-salvador-dali-met-alice-cooper-turned-him-into-a-hologram.html

https://www.anothermanmag.com/life-culture/10269/alice-cooper-remembers-his-encounter-with-salvador-dali

https://www.google.com.br/amp/s/arteref.com/gente-de-arte/30-fatos-curiosos-sobre-salvador-dali/amp/

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