Fanzine Brasil

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

RICARDO SANTOS FALA SOBRE A CENA GÓTICA, POLÍTICA E SEUS PROJETOS MUSICAIS

 Por Juliana Vannucchi 

Hoje, o protagonista do nosso site é Ricardo Santos, um dos instrumentistas e produtores mais prolíferos e conhecidos da história da cena dark nacional. Mas seu sucesso não se restringe apenas às nossas terras: seu talento já atravessou as fronteiras do nosso país, fazendo com que seus trabalhos musicais obtivessem um merecido reconhecimento também no exterior. No intuito de entrevistá-lo, fui encontrar o Ricardo nas covas funestas do fim do mundo – e ele me recebeu muito bem em seu universo sombrio!

1. Ricardo, seja muito bem-vindo ao Fanzine Brasil. É uma grande honra conversar com você! Estamos vivendo um momento muito atípico, então, inicialmente, gostaria que você comentasse como tem sido esse período pra você no que âmbito das produções musicais.

A honra é minha em colaborar com esse trabalho fantástico que você tem feito em prol da cena! Nesse período de quarentena/pandemia eu tenho composto algumas coisas, e trabalhado em umas ideias novas...

2. Você é um artista muito ativo e já participou de vários projetos musicais. Poderia citá-los para os leitores?

Além do Downward Path e In Auroram que são provavelmente os que vem à mente quando meu nome é citado, eu fui tecladista do H.A.R.R.Y. And The Addict (spin off eletrônico da banda Harry) até o falecimento do Hansen. Sou tecladista/baterista do Klaustrophobik, responsável pela parte eletrônica do Clube da Miragem, responsável pela eletrônica também da banda de grind/noise Derrame, participei por algum tempo do Dead Roses Garden, Tears Of Blood e também do Sintético Ministério. Também tenho um projeto pessoal de neofolk chamado A Lifetime Of Trials e um de black/doom metal chamado Excisio, além de tocar baixo em uma banda de thrash/black chamada Evil’s Attack e teclado em uma de occult metal chamada Mávra. Toco guitarra em uma banda punk chamada Raids e faço parte de um projeto recente chamado Stella Tacita. Além disso, ao longo dos anos colaborei com bandas como Individual Industry, Pecadores, Wintry, Dawnfine, Florence Foster Fan Club, Dominion e, esporadicamente, colaboro com bandas de alguns amigos...

3. Qual das bandas mencionadas acima é a mais marcante para você? E com qual delas você realizou a apresentação mais memorável da sua trajetória?

O Downward Path é o meu orgulho, é onde eu consigo desenvolver ideias que não consigo trabalhar em outros projetos. Acho que as apresentações mais marcantes foram do In Auroram, no Inferno e no Sesc.

In Auroram.

4. Em contrapartida, qual foi o pior show que você já fez na vida?

Putz… difícil dizer. Ao longo dos anos foram muitos eventos que não foram legais por um ou outro motivo, mas nenhum especialmente marcante. 

Ricardo e Hansen.

5. Como foi a experiência de tocar com a aclamada banda H.A.R.R.Y. & THE ADDICT? Qual é a melhor memória que você tem dos momentos que viveu com o Hansen?

Para mim foi uma realização pessoal, já que eu já era fã do Harry e eles eram uma referência fortíssima para mim. Minha melhor memória com o Hansen é de muito antes de eu realmente conhecê-lo. No início dos anos 90 ele era dono de uma loja de discos localizada em uma galeria ao lado da famosa Galeria do Rock, que se chamava Blood (loja que teve como balconista por um tempo o Rodrigo Cyber que, há alguns anos, é DJ residente do adame e um dos organizadores do projeto Ferrovelho). E em algumas ocasiões em que fui comprar discos na loja, fui abordado por alguns skins que levaram toda a grana que eu tinha além tomaram os meus discos. O Hansen viu o que aconteceu, me chamou na loja e pediu que eu esperasse lá. Ele saiu e alguns minutos depois voltou com os discos e com o meu dinheiro. Acho que foi o momento em que eu passei a respeitá-lo como pessoa além de artista.

6. Como você imagina que o mundo vai ser após a vacinação? Quais serão as sequelas que essa pandemia deixará na humanidade?

Eu gostaria que as coisas mudassem, mas não tenho essa esperança. Infelizmente, conforme temos acompanhado pela mídia, uma grande parcela da população está ignorando as recomendações de segurança e demonstrando quão pouco importa o bem-estar coletivo. Para a arte, essa  situação vai acabar virando uma referência assim como a gripe espanhola ou a peste negra, e é possível que tudo isso leve uma pequena parcela da população a um novo nível de conscientização, mas, no geral, não acho que vai mudar muita coisa.

7. O que podemos tirar de lição desse momento que estamos vivendo?

A voz da maioria é burra (vide a escolha do atual presidente). Mantenha as mãos limpas, viva o melhor possível, pois estamos todos sujeitos a ser vítimas a qualquer momento.

8. Eu assisti a live da qual você participou no ano passado... Foi bem legal! Há alguma apresentação programada para 2021? E além dessas possíveis apresentações online? Que novidades podemos esperar?

No momento, não há nada programado, nem mesmo online. Planejo lançar algumas coisas ainda esse ano e assim que a situação se normalizar (se é que isso vai realmente acontecer), pretendo retomar os shows.

"Eu acredito que a indústria musical é escrava do gosto popular".

9. Ricardo, desde quando você acompanha a cena gótica brasileira? E quais são as maiores diferenças ocorridas entre essa época e a cena atual?

Acompanho a cena desde 1992. O que vejo como maior diferença entre aquela época e hoje é o comodismo das pessoas. Hoje em dia, com alguns cliques consegue-se informação, música, referência, livros, contatos e tudo mais que se desejar para sentir-se parte de algo e, em contrapartida, naquela época tínhamos de realmente ir atrás, negociar, ter paciência e travar contato real com pessoas para conseguirmos adquirir cultura.

10. Se você for comparar o início da sua carreira musical com as suas produções atuais, em que aspectos acha que progrediu?

Eu aprendi muito sobre tecnologia, equipamento, improvisação e desenvolvi um pouco mais de desenvoltura com os instrumentos que toco e, hoje, apesar de ainda não gostar, já consigo cantar.

11. Acha que é possível um músico manter sua autonomia criativa e, ao mesmo tempo, fazer parte da grande indústria musical? Ou são coisas incompatíveis?

Eu acredito que a indústria musical é escrava do gosto popular e isso torna praticamente impossível manter a autonomia criativa intacta.

12. Algumas bandas de Rock (das mais variadas vertentes) conseguem ter sucesso no Brasil. Mas esse não é o destino da maioria. Por que isso acontece? Por que você acha que algumas “engrenam” e outras nem tanto?

É uma conjunção de fatores complexos que geralmente envolve momento (bandas como os Mamonas Assassinas ou Raimundos não funcionariam hoje em dia, dadas as suas respectivas temáticas e o viés politicamente incorreto), oportunidade (estar no evento certo, com o público certo e agradar alguém que tenha poder de influenciar), publicidade e muito trabalho.

13. Se você encontrasse uma máquina do tempo que permitisse que você voltasse para o passado, para qual momento desejaria ir?

Aquele show dos Pistols! 


14. Gostaria de deixar alguma mensagem aos leitores e fãs?

Conheçam o trabalho de bandas locais, apoiem bandas independentes indo aos shows, compartilhando o trabalho e sempre que possível, adquirindo CD, camisetas e etc...

BATE-BOLA:

Ricardo, o Fanzine Brasil está com um quadro novo esse ano, chamado “Bate-bola”, no qual todos os entrevistados são convidados para responder as mesmas perguntas que, são bem objetivas e, talvez, um tanto desafiadoras!  Então, pega camisa 10 aí, meu craque, e vamos lá!

a) Uma banda de Rock que todo mundo gosta e eu não...

Misfits.

b) Uma música/banda/álbum que eu adoro, mas tenho vergonha de admitir que escuto...

Skid Row! (mentira, eu não tenho vergonha disso hehe)

c) Afinal, entre os Sex Pistols e os Ramones, o melhor é...
 
Pistols!

d) Uma música que faz você chorar...

New Model Army – Vagabonds

e) Uma música cuja letra te emocione...

Anathema – Fragile Dreams

P.S.: odeio futebol! :p

3 comentários:

  1. Ótima entrevista. Conheço o Ricardo destes os tempos dos roles em Suzano haha Sucesso a você sempre brother

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  2. Ricardo é muito talentoso e excelente profissional. Ótima entrevista

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