Por: Juliana Vannucchi e Abel Marinho
Em outubro de 2018, o multi-instrumentista Toby Dammit passou pelo Brasil com a banda Nick Cave And The Bad Seeds, que realizou um show mágico em São Paulo. Eu tive a incrível oportunidade de assistir ele tocar ao vivo e agora compartilho com vocês um pouco mais sobre sua história. Toby é um artista versátil, que tem um talento raro e magnífico – ele parece não ter limites para criar suas melodias. E ele se destaca ainda mais com as baquetas em mãos: Dammit é o tipo de baterista que qualquer músico gostaria de ter em sua banda. Abaixo vocês conferem uma entrevista muito especial, que certamente foi uma das mais marcantes que já fizemos!
1. Toby, eu li que você é um multi-instrumentista da banda Nick Cave And The Bad Seeds. Além de bateria, quais outros instrumentos você toca? E qual foi o primeiro que aprendeu a tocar?
Eu só passei a tocar bateria para o Nick no mês passado. No entanto, nos últimos cinco anos, eu tenho sido seu tecladista, ocasionalmente tocando vibrafone e outros instrumentos melódicos além de cantar bastante. Eu sou um percussionista classicamente treinado desde a infância, então esse é meu instrumento principal.
2. Eu sempre vejo muitas e diferentes definições para as músicas do Nick Cave And The Bad Seeds. Isso é muito interessante porque eu acho que mostra o quão peculiar vocês são. Em sua opinião, é possível qual é a categoria musical da banda?
Eu não poderia categorizar as músicas de grande variedade feitas por essa banda, mas geralmente acredito que qualquer um pode encontrar algo com o que se identifica em algum momento e ficar bastante ligado nisso por suas próprias razões pessoais. Pode ser uma música de 5 décadas de composição, mas uma vez que uma pessoa tenha encontrado essa ligação, ela fica curiosa para explorar todo o álbum.
3. Como surgiu a oportunidade de tocar com os Bad Seeds? Como e quando foi seu primeiro encontro com Nick Cave?
Eu conheci todos esses caras em janeiro de 1993, na Austrália. Os Bad Seeds faziam parte de um combo turístico com Iggy Pop, para quem eu tocava bateria. Viajamos juntos por algumas semanas e nos tornamos amigos por toda a vida. Foi um simples telefonema que aconteceu na hora certa...
4. Por favor, conte-nos como foi o show que você fez no Brasil em outubro. Você já tocou no país antes ou foi a primeira vez em que esteve aqui? Como foi essa passagem por São Paulo?
Eu já passei bastante tempo em São Paulo antes, o Nick morou lá, tem uma família brasileira e os Bad Seeds fizeram um dos maiores (na minha opinião) álbuns lá, então é claro que esse show foi especial para nós devido a uma longa lista de motivos pessoais.
5. Qual foi o seu sentimento ao tocar num país que vive uma situação política tão conturbada, e perceber que as pessoas levaram esse clima com elas para o show? Antes de subir no palco, você sabia que isso poderia acontecer?
Estou ciente da eleição atual, devido ao grande número de amigos que tenho no Brasil e também por causa da imprensa selvagem que voa internacionalmente, mas no final das contas, nosso trabalho é dar a todos uma noite de folga e um tempo para se divertirem e aproveitarem juntos as músicas que tocamos. Assim, as pessoas encontram uma libertação, mesmo que seja somente por uma noite, ou então um fortalecimento no dia seguinte para ver as coisas de uma maneira diferente, talvez com base no sentimento que encontraram no show, que espero que possa ajudá-las em uma decisão ou num momento crucial. As músicas dos Bad Seeds são quase sempre sobre decisões difíceis e momentos drásticos.
6. Houve um detalhe interessante: grande parte dos fãs de Roger Waters e seu público não gostaram quando ele se expressou politicamente. Mas os fãs de Nick Cave o aplaudiram e elogiaram quando ele disse “ele não”. Por que você acha que isso aconteceu? Essas duas audiências (de Roger Waters e Nick Caves) são tão diferentes umas das outras?
Eu nunca conheci o Roger Waters, nem assisti nenhum show dele, então, honestamente, não posso responder isso. Eu conheço boa parte de seus discos das décadas de 1960 e 1970 e gostei muito desses álbuns e de sua banda original.
7. Você já tocou ao lado de Iggy Pop, com o The Stooges, e também tocou algumas músicas da carreira solo de Iggy (como no álbum Avenue B). São pegadas bem diferentes uma das outras. Como foi trabalhar com Iggy Pop criando um tipo de música tão singular? E qual álbum você mais gostou de gravar com ele?
A época em que comecei a trabalhar com Iggy Pop foi um período “exploratório” para ele como compositor, e sei que “empurrei” esse lado dele. Eu acho que os melhores resultados foram o álbum “American Caesar”. Nesse mesmo período, ele e eu também fizemos um filme para o Johnny Depp chamado “The Brave”, que foi certamente o nível mais profundo em que viajamos juntos.
8. Seus trabalhos musicais feitos com a Jessie Evans têm uma aura muito peculiar. Como foi a gravação do “Is It Fire?” E do “Glittermine”? Algum desses álbuns é mais especial para você?
Ambos os álbuns eram aventuras, tanto musicalmente, quanto literalmente falando. Esses álbuns envolveram muitas viagens... nós o gravamos em várias partes do mundo e essas gravações envolveram muitas pessoas de lugares diferentes do mundo. Musicalmente, ambos são híbridos de som também de cultura e são a nossa própria visão bizarra daquilo que fazia sentido para nós, baseado em nossas próprias influências e fantasias.
9. Budgie, outro músico fantástico, tocou bateria no álbum “Is It Fire?”. Eu acho legal que vocês dois tenham participado de um álbum juntos. Como foi gravar com ele?
Foi um sonho “de longa data” que se tornou realidade para mim. Eu conheço o Budgie desde o início dos anos 90, mas apesar de tê-lo tido como um amigo muito querido ao longo dos anos, nunca antes tivemos a oportunidade de tocar música juntos como bateristas. O momento foi certo e ele precisava desse momento tanto quanto eu. Foi um dia eufórico para nós dois.
10. Você conhece músicos/bandas brasileiras? O que você acha da música brasileira?
Sim, claro! Eu coleciono discos brasileiros… é um passatempo muito bom. Só recentemente descobri Arthur Verocai e Célia, mas durante anos sou maluco pelo Marcos Valle, Jorge Ben, Secos e Molhados, Os Mutantes…
11. Qual foi o momento mais feliz da sua carreira musical?
Subir no tapete vermelho no Festival de Cannes com o Johnny Depp e o Iggy Pop foi um dia muito bom!
12. Se você pudesse tocar com um artista com quem nunca tenha tocado antes, quem escolheria?
Há muitos maestros com os quais sonhei… Morricone se aposentou. Honestamente, sinto que estou exatamente no lugar certo para mim agora, podendo oferecer o meu apoio e experiência ao Nick, quando ele precisar mais do que nunca. Embora tenhamos sido amigos por tantos anos, agora é a hora certa.
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