Fanzine Brasil

terça-feira, 6 de abril de 2021

O PODER SOCIAL DO ROCK, OS SEGREDOS PARA UMA BANDA AUTORAL DESLANCHAR E OUTRAS REFLEXÕES: UM PAPO COM BRUNO COSTA

 Por Juliana Vannucchi

Hoje, o protagonista do Fanzine Brasil é o Bruno Costa, criador da BandNest, uma plataforma que pretende revolucionar o Rock'n'Roll brasileiro. Se você tem uma banda e/ou é um músico solo independente, então, com certeza, precisa conferir essa entrevista e acompanhar o BandNest nas redes sociais, pois lá você encontrará inúmeras dicas e estratégias que poderão ajudá-lo a deslanchar sua carreira musical. Quer saber quais são as barreiras que impedem a decolagem do seu projeto musical? Você sabe o que significa sucesso? Quer entender como funciona a indústria contemporânea? Esses e outros assuntos foram abordados neste bate-papo especial com o Bruno! Confira!

 

1. Bruno, muitas bandas autorais do nosso país reclamam constantemente da dificuldade que elas têm em expandir seus projetos, e como já entrevistei inúmeros músicos desse meio, percebi que a maior parte deles, definitivamente, não acredita ser possível viver de música aqui no Brasil. No seu perfil do Instagram, você afirma que é possível viver de rock no Brasil. Poderia nos explicar de que maneira isso é possível?

Eu costumo explicar sempre em meus discursos que viver de rock não é, necessariamente, viver de uma banda. É importante entender que, hoje em dia, para viver de música é necessário ter uma composição de renda. Então, quando você entra no mercado musical, além de ter sua banda, você pode ser produtor musical, engenheiro de som, designer, agente, empresário, etc., ou seja, há várias funções dentro do mercado que podem gerar renda e até mesmo ser carreiras que podem ser sinérgicas. E estando de cabeça nesse meio mercadológico, você consegue gerar oportunidades para a sua banda, e sua banda, por outro lado, pode gerar oportunidades para essas outras carreiras que você está desenvolvendo paralelamente. Eu sei que muitas pessoas no Brasil vivem de música desse modo.

2. Na sua opinião, quais são os três principais erros que um músico independente comete ao tentar emplacar sua carreira?
 

Não investir na própria carreira. Ou seja, investe-se geralmente apenas na gravação e instrumentos, mas não na divulgação, quando, na verdade, é necessário que haja estratégia de divulgação, como mentoria e assessoria, por exemplo. No mínimo, você precisa investir tempo em suas redes sociais.

Não fazer um planejamento de lançamento. Geralmente, sobe-se uma música numa plataforma e só então se divulga essa faixa. Esse é um grande erro. Se a música já está lá, o Spotify, por exemplo, já está analisando a performance dela e não vai recompensá-la se ela não estiver gerando um resultado desde o início.

O terceiro erro seria o investimento incorreto em divulgação. Como fazer automatização, por exemplo, visando conseguir números nas plataformas musicais. Isso não adianta, e ainda pode atrapalhar a performance nas plataformas musicais. Esses números servem apenas para aumentar a vaidade em tais meios.

3. Há algumas semanas, você fez uma postagem muito interessante a respeito dos motivos pelos quais o rock está morrendo. Gostaria que você comentasse um pouco, especificamente a respeito dos rótulos, pois você mencionou esse aspecto como um dos fatores que estão prejudicando o rock. Achei esse ponto interessante porque já notei que grupos de sucesso como Siouxsie And The Banshees e The Cure, por exemplo, abominam as categorizações!!

Creio que o rock seja o estilo mais segmentado que existe, e dentro desses seus segmentos há muitas diferenças e até mesmo rixas entre si. O rock clássico, o indie, o punk vão para caminhos distintos e eles próprios também se dividem em outros gêneros – há, por exemplo, inúmeros estilos diferentes de heavy metal, ele se ramifica. Isso gera rivalidade e muitas vezes afasta e segmenta as pessoas e isso, infelizmente, não ajuda em nada. O rock deveria ser rock de qualquer modo, deveria haver, por exemplo, uma banda de grunge ajudando uma de folk e, de repente, gêneros diversos poderiam até mesmo se juntar com outros estilos musicais de alguma maneira. Essa segmentação só tira a liberdade de composição dos artistas.

4. Como você define o rock and roll? É só música ou ideologia?

O rock para mim é um movimento cultural. Isso significa que ele é mais do que simplesmente um estilo musical. Ele é extremamente rico porque envolve ideologia, estilo musical, e até mesmo outros elementos, como arte e moda, por exemplo, que são aspectos que se fazem presentes na construção geral do rock. Por ter todos esses componentes, ao longo do tempo, o rock inspirou outros estilos musicais, tais como o hip-hop, o MPB e outros gêneros, que até usam um pouco de recursos provenientes dele. De certa forma, podemos ver seus reflexos até mesmo no sertanejo, pois, atualmente, muitos músicos pertencentes a esse universo estão se aproximando de algumas vestimentas mais “despojadas” - calças rasgadas, por exemplo. É um movimento cultural com alcance em todos os outros estilos musicais. 

 

"penso que a música é capaz de ajudar em inúmeros momentos e circunstâncias, inclusive contra distúrbios emocionais" (...)    

 

5. De que maneira o rock and roll pode afetar beneficamente uma sociedade? 

Não apenas o rock and roll, mas a música em geral tem um poder muito grande e significativo para o ser humano. O homem, digamos, é um “animal musical”, pois assimila músicas em momentos marcantes de sua vida, além de algumas vezes ter, por exemplo, ideias e atitudes que são diretamente inspiradas e influenciadas por letras de músicas. 

Desse modo, penso que a música é capaz de ajudar em inúmeros momentos e circunstâncias, inclusive contra distúrbios emocionais – ela pode ser útil para que uma pessoa vença, por exemplo, uma crise emocional ou um conflito que está enfrentando. Pode ajudar uma pessoa a se recuperar de uma determinada situação, até mesmo de uma doença. E a música pode até mesmo mover sociedades para certos caminhos, podendo fazê-las progredir - ou não.


6. Para você, o que significa sucesso?

 Essa é uma pergunta bem interessante. De maneira geral, creio que seja algo subjetivo. Contudo, para mim, sucesso significa bater metas. Uma vez que você estabelece metas na sua vida e as alcança ou até mesmo supera, você teve sucesso. Então, você deve se perguntar: “qual é a meta da sua vida?” / “Qual é o propósito?” / “Onde você quer chegar?” O Bandsnet, por exemplo, tem como objetivo criar uma nova era do rock, revitalizar o rock and roll no Brasil e no mundo, criando um novo movimento do rock que seja forte em todos os quatro cantos do planeta, para assim, fazer com que ele volte para as massas. Mas, enfim, é preciso deixar claro que qualquer coisa que você estabelecer, pode desencadear sucesso. Se, por exemplo, uma determinada banda se propõe a fazer um show que renda dinheiro para que ela possa simplesmente comer uma pizza numa esquina qualquer e, de fato, esse grupo toca em algum lugar e consegue esse dinheiro, sendo capaz de colocar seu plano em prática, então a banda teve sucesso, pois alcançou uma meta traçada por ela. Essa é a questão do sucesso, pois sucesso é determinar para a sua vida algo que vá te fazer feliz.

7. Muitas pessoas costumam dizer que nos anos oitenta, o rock nacional era forte e criativo e que, em contraponto, nos dias de hoje, está enfraquecido. De fato, inúmeros grupos famosos eclodiram nessa referida década. Porém, atualmente, existem muitas bandas qualificadas pelo país, embora a maioria não esteja debaixo de holofotes. Como você compara a indústria musical brasileira dos anos oitenta e dos dias de hoje?


Há muita diferença dos anos oitenta para hoje. Acredito que qualidade musical não é uma delas, pois, atualmente, há recursos tecnológicos muito maiores e as bandas têm acesso a técnicas muito mais avançadas para compor música, sendo que esse conjunto de fatores permite a produção de músicas mais qualificadas e mais bem compostas do que antigamente. Porém, há vários contextos em relação aos anos oitenta. Naquele período, havia uma atitude muito atrelada à rebeldia, afinal, estávamos vivendo sob uma ditadura e o rock contrapôs esse cenário. Lá nasceu um movimento musical de união para que as bandas, juntas, pudessem gerar uma atitude social contra aquele regime militar. Também havia um movimento forte do rock em todo o mundo. Era o seu auge e o hard e o punk estavam fortíssimos. Posteriormente, o Rock In Rio surge e fortalece o rock nacional. Também teve a eclosão da MTV nos anos noventa, o que cooperou para esse fortalecimento e influenciou a música no país.  Hoje em dia, essas bandas são muito boas, mas além da oferta musical ser muito grande, pois há muita gente produzindo e lançando música, existe uma questão de que o rock possui algumas deficiências pelo fato de ser, digamos, despojado, espontâneo. Ele perdeu um pouco de seu profissionalismo, no sentido de se divulgar e fazer marketing. Por sua vez, outros movimentos culturais que são mais voltados para as massas e conversam melhor com elas acabaram tomando espaços que o rock não tinha. E há a segmentação do rock que faz com que, por vezes, pessoas que curtem um certo estilo acabem atacando outros gêneros e isso, no geral, enfraquece o rock. Mas, enfim, trata-se mais de uma questão de postura do que de qualidade musical.


8. Quando um músico e/ou banda se envolve diretamente com a grande indústria musical, ele perde, necessariamente, sua autonomia ao atender metas e imposições que são exigidas por essa indústria? A fama aniquila a criatividade? 

Não vejo dessa forma. Não acho que ela perde a liberdade musical. Quando você está criando música, você está fazendo um produto como qualquer outro. Não adianta, por exemplo, você criar um chocolate e ninguém mais gostar. Se você faz um produto para ser comercializado, as pessoas precisam gostar disso. Assim sendo, se você entra numa indústria musical forte, é preciso entender qual é o seu público-alvo e o que ele espera de você, pois esse tipo de conhecimento ajuda a crescer e se firmar, uma vez que te permitirá criará algo para esse público. Isso, porém, não significa que você tenha, necessariamente, que se prender a certas criações. Todas as bandas possuem seus lados Bs, sua face mais “cult”, por assim dizer. Pensemos na banda Legião Urbana: eles tinham hits que agradavam todo mundo e outros que não eram os favoritos das grandes massas e eram mais restritos aos ouvintes que cultuavam a banda. 


9. O que te motivou a criar o projeto BandNest?

O que me motivou foi uma conversa que certa vez tive com um amigo músico. Também sou músico e já tive banda, mas por volta do final dos anos noventa e começo dos anos dois mil, parei de tocar profissionalmente.  m 2017 comecei a voltar para o mercado musical por intermédio do BandNest.  Nessa conversa com esse amigo, comentei que deveria ser mais fácil de se promover hoje em dia devido aos aparatos tecnológicos. Porém, ele discordou de mim e falou que, na verdade, hoje os lançamentos musicais são como “agulhas no palheiro”, pois milhares outras músicas são lançadas simultaneamente nas redes. Então, torna-se difícil colocar uma música em evidência. Na hora, pensei: “Poxa, seria legal se houvesse uma plataforma capaz de ajudar as pessoas a colocarem suas músicas em evidência. Seria uma forma de resgatar esse novo rock and roll que está surgindo”. Essa foi a principal motivação dos BandNest.


10. A que, exatamente, se refere a Nova era do Rock”? Quais seriam suas principais características? 

O nome “A Nova Era do Rock” foi inspirado num documentário do canal VH1, chamado “Seven Ages of Rock”, que mostrava desde os primórdios do rock até sua evolução, suas diversas vertentes e eras que, apesar das divergências, sempre fizeram com que o rock, de maneira geral, se renovasse e permanecesse vivo, uma vez que esses movimentos variados sempre se sobrepunham um ao outro através de criações novas e de resgates de elementos mais antigos do rock. O documentário se encerra na chamada “sétima onda do Rock” - conforme o seu título original indica. Depois de assisti-lo, eu refleti: qual seria a oitava onda? Creio que ela seja, em suma, uma superação das rivalidades entre os gêneros. As bandas deveriam se ajudar e fortalecer o estilo como um todo. A partir dessa consideração, criei alguns pilares que formam a sigla SHURE: solidariedade - humildade - união - respeito - ecleticismo.

Solidariedade:

As bandas devem se ajudar, cooperar e apoiar as bandas menores, por exemplo.

Humildade:

Deve-se aceitar opiniões, críticas, sugestões e feedbacks e tentar crescer e melhorar a partir disso, usando esses aspectos de maneira construtiva.

União:

As bandas devem se ajudar em movimentos e gerar oportunidades umas para as outras.

Respeito:

Eu posso não gostar do seu estilo, da sua música, da sonoridade. Mas é preciso respeitar o movimento que está sendo criado e dar apoio, pois estamos inseridos na mesma dificuldade, no mesmo universo. Acima de tudo, somos pessoas e o Rock é Rock.

Ecleticismo:

Respeitar todas as vertentes não apenas do rock, mas em geral. Portanto, respeite, apoie e até mesmo participe de outros movimentos. É importante ter o ecleticismo no sangue para que seja possível, até mesmo, originar algo inovador.

 

Os cinco pilares que formam o SHURE

11. Qual é a principal dica que você dá para um artista que quer viver de música?

A principal dica que dou é: não se veja apenas como um artista, mas também como um empreendedor, pois tudo que se aplica a um empreendedor também se aplica a um artista – estudo de mercado, networking, marketing, investimento, publicidade, finanças, etc. Geralmente, no início de uma carreira, as bandas precisam fazer tudo isso sozinhas, por isso enfatizo esse conselho:  veja-se como uma empresa.

12. Para encerrar, nos diga quais são os principais benefícios que um músico ou uma banda podem ter ao seguirem o seu projeto.

A principal vantagem é aprender o modus operante do mercado musical, ou seja, o que realmente faz com que uma banda cresça, tenha destaque, diferencie-se e consiga público. O maior benefício é que as bandas aprendem a se divulgar, a lançar seu próprio som e a criar um público engajado por meio das suas redes sociais, para que esse público as siga em shows, compre seus produtos e, enfim, a sustente. Em suma, são esses os benefícios que eu busco proporcionar através das minhas ações.




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