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domingo, 27 de janeiro de 2019

PUNK IS NOT MORTO

Por:  Juliana Vannucchi

Ramones, Sex Pistols e The Clash, explodiram em meados da década de 70, e se tornaram a “tríade mundial do Punk Rock”. Cada uma dessas bandas possui sua própria história e sua identidade. Todas elas, de uma forma ou de outra, brotaram do Protopunk, embora as três tenham construído uma sonoridade bem diferente desses seus antecessores musicais. Não: elas não são as únicas e tampouco as melhores bandas do gênero, mas certamente são merecidamente as três mais populares que costumam ser portas de entrada, “cartões postais” para universo Punk.

Vamos, momentaneamente, nos atentar especialmente ao The Clash e nos Sex Pistols. Ambas, em suas letras, abordam problemas sociais. As duas bandas sacudiram a Inglaterra ao satirizar a autoridade e clamar por mudanças. O Ramones é um caso a parte, pois fazem abordagens mais relacionadas ao cotidiano existencial, não tendo tanto envolvimento com a política. Tudo o que o Clash e os Pistols fizeram em relação ao cenário político e social é válido e notável. Os apreciadores do Punk Rock adoram mencionar e deslumbrar seus feitos. Mas... Que tal olharmos para o nosso país? Observemos o mundo diante de nós: pobreza, corrupção e desigualdade. Descaso e violência. Não há rainha por aqui. Há poucos museus. O calor impera. Não estamos na Inglaterra. Os Pistols e o Clash não compreendem nosso mundo e não o denunciam. Para criticar e mostrar certas faces de nossa realidade, felizmente existem as bandas punks do nosso próprio país e que, lamentavelmente, muitas vezes são ignoradas em nossas terras. Dentre tais bandas, encontra-se uma, em particular, que é genial e merece destaque: “Os Maltrapilhos”. Eles lutam pela liberdade individual e, consequentemente, coletiva. Suas letras ácidas buscam denunciar as faces obscuras de nosso país e de parte da nossa população. Eles proclamam contra a ameaça fascista. É o tipo de banda que tenta utilizar a arte para refletir a sensação de revolta que se aloja na alma de milhares de brasileiros. Entretanto, infelizmente, a maior parte do público de nosso país, prefere as canções que combatem a monarquia britânica. Não há absolutamente nada de errado em apreciar os Pistols, Clash e Ramones. Muito pelo contrário: são bandas que, penso eu, podem agregar inúmeras inspirações positivas em seus ouvintes. Podemos crescer como seres humanos através do efeito de suas músicas. Entretanto, seria de grande valia se o brasileiro também se atentasse mais ao universo cultural e musical de nosso próprio país. Mas o fato é que Os Maltrapilhos instigam a reflexão do ouvinte, convidando-o a observar de maneira mais crítica a existência que tange seu dia-a-dia e, convenhamos, o intelecto da maior parte dos brasileiros não parece estar preparado para isso. É mais prático escutar músicas como “Jenifer” (ou “Jennifer” ou “Jeniffer”, sei lá como escreve...) , a grande “proeza” sonora dos últimos tempos. Quem sabe, um dia – não tão tarde, eu espero – nosso povo saiba usufruir e valorizar o Punk Rock nacional. Que no futuro, brindemos e celebremos com orgulho as bandas que, inspiradas pela “tríade”, ao invés de copiá-las, souberam extrair o melhor delas, mas sendo capazes de escrever suas próprias histórias, inseridas num contexto particular.

Os Maltrapilhos estão aí. Se você quiser quebrar as correntes que o alienam aos produtos culturais que lhe são impostos, e dedicar alguns minutinhos ao Punk Rock, eis uma sugestão. Mas não há motivos para preocupação: se você tiver sorte, se seu intelecto estiver seguro e munido, Os Maltrapilhos cruzarão seu caminho qualquer hora dessas.

"Os Maltrapilhos", icônico grupo de Punk Rock.

Um comentário:

  1. Brillant article by Ms. Vannucchi! That is one one of the best articles written about punk - and I am someone who grew up with punk in 1970s London.

    The article invites the reader to think about how the roots of punk compare to present day issues in Brasil and I think that is a genius angle :)

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