Fanzine Brasil

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

METAL: UMA JORNADA PELO MUNDO DO HEAVY METAL

 Por Juliana Vannucchi

Jaquetas de couro, camisas pretas, cabelos longos… esses são alguns dos aspectos visuais que compõe a aparência clássica de uma das tribos urbanas mais presentes e cultuadas do mundo: os metaleiros, ou mais apropriadamente dizendo, os “headbangers”. É comum nos depararmos com eles andando pelas ruas, mas geralmente não conhecemos a cultura que se esconde por trás dessa aparência e, tampouco, costumamos conhecer suas reais influências sonoras e raízes históricas. Em 2005, um antropólogo canadense chamado Sam Dunn, que faz parte dessa tribo urbana, e decidiu realizar um documentário que mostrasse ao mundo a verdadeira face do heavy metal e de seus admiradores e representantes. Dunn se apaixonou pelo gênero musical aos 12 anos e conta que chegou a escutar o disco "The Number Of The Best", 25 vezes num único dia! Desde seu esse contato com o mundo do heavy metal, tornou-se um verdadeiro fã. O documentário de Dunn, de forma geral, foi muito bem recebido em todo o mundo. O antropólogo procurou realizar uma produção que desvendasse as origens históricas desse tipo de música, a ideologia, a cultura, seus efeitos sociais, e também as controvérsas existentes ao redor desse gênero.

O documentário de Dunn desenvolveu-se a partir da seguinte questão:“Por que o heavy metal até hoje é um gênero musical tão descriminado e estereotipado?” Para responder a essa pergunta, o canadense frequentou vários países diferentes e realizou filmagens em shows de bandas clássicas de metal, além de entrevistar seguidores do gênero e aclamadas figuras que formam esse universo. Ronnie James Dio, vocalista das bandas "Dio" e "Heaven And Hell", Tony Iommi, considerado um dos maiores guitarristas da história do rock, Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, e outros grandes nomes do metal, como Tom Araya, Dee Snider e Vince Neil são alguns dos personagens que cederam depoimentos para o produtor. Afim de relacionar esses artistas e bandas dentro de um amplo contexto, Dunn apresenta uma árvore genealógica que explora as vertentes do heavy metal e, assim, a partir desse aspecto vai desenvolvendo e organizando sua pesquisa, enquanto ele próprio narra seu roteiro que é mesclado com depoimentos desses músicos e de fãs do gênero.

Dentro dessa estrutura e em busca de respostas para e questão proposta, o filme é dividido em capítulos que dão uma pincelada por vários aspectos importantes do heavy metal, explorando desde seus primórdios, até o preconceito que existe contra esse universo. Dessa forma, o documentário vai tornando-se cada vez mais completo ao apresentar o amplo repertório de bandas desse meio, além de  assumir um caminho nitidamente bilateral na medida em que aborda de forma imparcial não apenas questões técnicas  e processos de criação sonora de músicas do gênero, mas assuntos mais sombrios e delicados, como, por exemplo, a linha de pensamento e ideologia de bandas de metal que tem afinidade com o satanismo e que, de certa forma, foram responsáveis por firmar um estereótipo já antigo que esse estilo musical e seus seguidores carregam. São discutidos também, assuntos como o machismo presente dentro do gênero, e como se deu, ao longo dos tempos, a inserção das mulheres dentro desse meio. Dunn também questiona ídolos do metal quanto a assuntos gerais, como religião, figurino, e retoma também como uma de suas temáticas, um dos momentos mais memoráveis da história do rock and roll, que foi quando Dee Snider, vocalista da banda Twisted Sister, depôs no Conselho de Pais, que foi criado pelo Senado norte-americano sob comando da reacionária Tipper Gore (esposa do ex-vice presidente dos Estados Unidos, Al Gore), com a grotesca finalidade de fazer diversas acusasões contra o heavy metal e outros gêneros (Prince e Madonna, por exemplo, também foram considerados imorais e acabaram envolvidos no caso). Nessa ocasião, Snider deixou a mídia, Gore, e todo o Senado boquiabertos com a qualidade e fundamentos de seus argumentos. Foi um dos momentos mais expressivos  e emocionantes da história do rock and roll. Em função desse acontecimento, até hoje, podemos ver o músico como um grande mito do rock e verdadeiro símbolo de resistência. Vale dizer também que esse cenário nos leva a reconhecer a rebeldia que o heavy metal carrega em seu DNA agressivo.


O heavy metal e seus fiéis seguidores sobrevivem e com certeza, sobreviverão com, ou sem esse julgamento.

Apesar de toda a qualidade da produção e da visão ampla que Dunn busca expor, considero que talvez ele pudesse ter valorizado e examinado um pouco mais a fundo a faceta histórica do metal, explorando melhor as bandas que formam o primórdio e as raízes estilísticas desse tipo de música. Possivelmente, a meu ver, isso fortaleceria ainda mais o trabalho do jovem antropólogo. Mesmo assim, o resultado final é incrível, emocionante e apresenta ao espectador o heavy metal como algo apaixonante, como uma espécie mundo paralelo acolhedor que está sempre de portas abertas para que qualquer um possa entrar nele. Independente de qualquer crítica por parte da sociedade ou até mesmo do Senado, o heavy metal e seus fiéis seguidores atualmente sobrevivem e, com certeza, sobreviverão sempre, apesar do constamente julgamento que sofrem, pois, afinal, a paixão musical que nutrem se sobrepõe a qualquer possível obstáculo que esse tipo de música e os headbangers possam enfrentar.

0 comentários:

Postar um comentário

TwitterFacebookRSS FeedEmail