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domingo, 3 de dezembro de 2023

ALÉM DO THE CURE: A TRAJETÓRIA DE ROBERT SMITH

 Por Juliana Vannucchi

Robert Smith, aclamado vocalista do The Cure, é imensamente conhecido por sua voz ímpar, por seus cabelos desgrenhados, seu borrado batom vermelho e pelos hits icônicos e históricos de sua banda. Contudo, o que nem todos conhecem é a sua trajetória de vida, até porque, convenhamos, o músico sempre foi muito discreto em relação a isso. Felizmente, porém, apesar de sua discrição, pesquisas mais acuradas e entrevistas nos revelam aspectos bem interessantes da vida do vocalista do The Cure. A história de Robert começou em 21 de abril (data lembrada pelos brasileiros por causa de Tiradentes) de 1959, em Blackpool, pacata cidade litorânea inglesa, localizada no norte do país. Ele foi o terceiro filho (vale citar a título de curiosidade que Janet, irmã de Robert, é casada com Porl Thompson, lendário guitarrista do The Cure) do casal Rita Mary e James Alexander Smith. Sua família mudou duas vezes de cidade e, consequentemente, Robert estudou em várias escolas diferentes ao longo da infância e da adolescência. Smith cresceu cercado por uma atmosfera familiar católica que fez sentido para ele durante um período de sua vida, embora posteriormente, tenha assumido uma postura mais cética em relação à existência de Deus: “Venho de uma família religiosa e por isso houve momentos em que senti a unidade das coisas, mas elas nunca duraram, e passei a crer que é apenas o medo que leva as pessoas à religião”. Robert Smith teve afinidade com a música desde tenra idade, aprendendo inicialmente a tocar piano e, logo depois, ainda na infância, familiarizando-se com a guitarra, após aprender alguns acordes com seu irmão. Posteriormente, buscou aperfeiçoar-se no instrumento através de aulas feitas com um guitarrista profissional.

A formação embrionária do The Cure data de 1976, quando Smith juntou-se aos colegas de escola. Lol Tolhurst assumiu a bateria, Michael Dempsey tocava baixo e o guitarrista era Porl Thompson. O grupo, nessa fase inicial, chamava-se “Easy Cure”. Nessa época, o movimento punk inglês estava vigorosamente em ascensão. O jovem Robert acompanhou de perto a eclosão e o auge desse novo fenômeno. Admirava principalmente bandas como Stranglers, Buzzcocks e Siouxsie And The Banshees, tendo, inclusive, tocado no último grupo durante um tempo e estreitado laços com Steven Severin, ao lado do qual formou uma banda chamada The Glove. Entretanto, o The Cure nunca esteve musicalmente limitado a influências provenientes do punk rock e foi assumindo, ao longo de sua história, uma tonalidade mais sombria ou, por vezes, bastante pop. Até porque Smith cresceu escutando outras bandas como Beatles e Pink Floyd e, portanto, carregava inúmeras outras referências musicais quando formou o The Cure. Ademais, sua alma portava uma enorme paixão pela literatura e uma sensibilidade que certamente se distanciava da agressividade característica do punk. Durante a adolescência, por exemplo, apreciava Edgar Allan Poe e Rimbaud. Posteriormente, mais maduro, passou a interessar-se fortemente por filósofos como Albert Camus e Jean-Paul Sartre, sendo grande admirador de ambos e tendo grande interesse pelo modo como Sartre discorre a respeito da condição humana. Smith também já citou Charles Baudelaire, John Milton, Nick Hornby e Franz Kafka como alguns de seus escritores favoritos. A respeito desse último, chegou a declarar: "“Pela primeira vez, a voz do narrador era minha. Eu era o narrador. Eu estava me misturando com suas palavras. Li e reli todos os seus livros: O Processo, A Metamorfose, O Castelo… Sua influência na minha escrita é enorme, como em ‘Uma carta para Elise’, inspirada diretamente em suas Cartas para Felice". Penelope Farmer é outra autora que o marcou e um de seus livros inspirou a letra "Charlotte Sometimes", nome de um dos livros da escritora. 

 

O The Cure segue firme e criativo, atraindo diversas gerações, conquistando novos fãs e aquecendo o coração dos admiradores mais antigos. É uma banda que sobreviveu por méritos.

Por tais aspectos, podemos observar que enquanto inúmeras bandas punks voltaram-se, por exemplo, para letras de cunho político e social, Smith, que já alegou preferir manter-se distante de tais conteúdos, possui letras fortemente sentimentais cujas ideias muitas vezes foram provenientes de estados alterados de consciência por ele experimentados. 

Robert Smith casou-se em 1988. O vocalista do The Cure conheceu Mary Poole, sua atual esposa, na época da escola. Eles se aproximaram depois que ele a convidou para ser sua dupla numa atividade. Estão juntos desde os 14 anos. Nunca tiveram filhos e Smith certa vez declarou não se arrepender disso. No entanto, há diversas fontes que mencionam que os dois tem 25 sobrinhos e sobrinhas. Robert se inspirou numa viagem com Mary para escrever “Just Like Heaven” e, aliás, é ela que aparece dançando com o vocalista no vídeo oficial da música. Parece ser uma das canções das quais ele mais se orgulha. Smith chegou a declarar que quando terminou de escrevê-la, pensou que nunca mais seria capaz de escrever algo tão bom. No estúdio, os integrantes do The Cure chegaram a brincar, dizendo que poderiam até fazer as malas e parar de criar mais: “Felizmente, não fizemos isso”, brincou Smith ao contar esse episódio. Cabe dizer que “Love Song” foi um presente de casamento de Smith para Mary!

Atualmente, Smith continua sua performance de maneira impecável. Certa vez, quando completou 60 anos, disse que não sentia a idade. Nos palcos, essa declaração parece absolutamente confirmada, pois Smith parece estar sempre em transe, convidando a plateia a mergulhar num estado catártico. A esse respeito, numa entrevista, o vocalista do The Cure refletiu: “Quando estou cantando e tocando, sou meio que transportado (...) Parece algo meio hippie, mas sempre foi assim comigo. Eu simplesmente sinto que se estou me perdendo nas músicas, acho que há uma boa chance de que todos os outros também estejam”. O The Cure segue firme e criativo, atraindo diversas gerações, conquistando novos fãs e aquecendo o coração dos admiradores mais antigos. É uma banda que sobreviveu por méritos e uma das poucas do remanescente punk que ainda continua poderosa, estável e qualificada.


Referências:

https://amp.theguardian.com/music/2018/jun/07/the-cures-robert-smith-i-was-very-optimistic-when-i-was-young-now-im-the-opposite

https://post-punk.com/six-different-ways-the-cures-robert-smith-won-our-hearts/amp/

https://www.irishtimes.com/culture/music/the-cure-s-robert-smith-i-survived-a-lot-of-people-in-london-didn-t-1.3538003

https://faroutmagazine.co.uk/how-punk-changed-the-cure-singer-robert-smiths-life/

https://www.rollingstone.com/music/music-features/cure-band-robert-smith-interview-40-live-893005/

https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwj1he6l7_GCAxWyppUCHc7EAMkQFnoECBcQAQ&url=https%3A%2F%2Ffaroutmagazine.co.uk%2Fthe-cure-robert-smith-12-favourite-books-list%2F&usg=AOvVaw0-vBt23iYKGh7FmRJYA_WQ&opi=89978449

https://amp.theguardian.com/music/2018/jun/07/the-cures-robert-smith-i-was-very-optimistic-when-i-was-young-now-im-the-opposite

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