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terça-feira, 6 de julho de 2021

"NÓS SOMOS AS FLORES NA LIXEIRA": ENTENDA COMO O SEX PISTOLS MUDOU A HISTÓRIA DO ROCK

 Por: Juliana Vannucchi 

Embora haja bastante controvérsia, a maior parte da crítica especializada afirma que o Sex Pistols foi o grupo responsável pela introdução do gênero punk rock, tanto como música quanto movimento no Reino Unido. Isso aconteceu em 1975, quando a banda foi formada em Londres, composta inicialmente por Johnny Rotten no vocal,  Steve Jones na guitarra, por Paul Cook na bateria e pelo baixista Glen Matlock, que foi substituído pelo mítico Sid Vicious, no início de 1977. O sucesso musical que obtiveram foi conduzido por um nome bem familiar na história da música e da moda: Malcolm McLaren (o grande catalisador do Sex Pistols). O empresário, logo que os conheceu, percebeu que havia potencial estético e ideológico na rebeldia do grupo. E que rebeldia! Certa tarde, os Pistols invadiram os lares da maior parte das famílias da Inglaterra, através de um programa televisivo popular, e já que tocamos no assunto, narremos aqui um dos dias mais inesquecíveis (e brilhantes) da história do rock and roll:  1º de dezembro de 1976, Siouxsie Sioux (que posteriormente se destacaria com seus Banshees), os Pistols e outros punks participavam de um dos programas de maior audiência da TV inglesa, levado ao ar às cinco da tarde, a famosa “hora do chá”, em que famílias concentram-se em frente à TV. E então, durante a transmissão do programa, pela primeira vez na história, a expressão “fuck off” (foda-se) é dita diante das câmeras. O protagonista da história só poderia ser Johnny Rotten.

Sex Pistols: um grupo subversivo, composto por artistas ácidos, provocadores, inconsequentes (...)
 

No livro “O que é Punk” há um relato de um homem que garante ter atirado sua televisão na parede após escutar as palavras ditas por Rotten durante a transmissão do programa. Esse fato deixa bem claro que o Sex Pistols estava incomodando socialmente: definitivamente, não era uma banda de queridinhos ou de rockstars talentosos. Tratava-se de um grupo subversivo, composto por artistas ácidos, provocadores, inconsequentes e, claro, em total desagrado com a situação de suas vidas e de seu país.  O Sex Pistols incomodava: questionava descaradamente a autoridade da rainha e a monarquia do país e convidava a população para abandonar sua zona de conforto. 

Pouco depois de o Sex Pistols dar as caras no cenário musical britânico, bandas semelhantes começaram a surgir, e o movimento punk foi se alastrando pelo país e, consequentemente, por outros lugares no mundo. Rotten, numa ocasião, comentou o motivo social que levou o movimento a eclodir com tamanha intensidade: “A Inglaterra, no início da década de 1970, era um lugar muito deprimente. Estava completamente degradada, havia lixo nas ruas, desemprego total, praticamente todos estavam em greve… Todos foram criados em um sistema de educação que deixava bem claro que se você veio dos subúrbios, você não tinha mais a menor esperança e nenhuma perspectiva de emprego. Foi daí que surgiu a minha pessoa pretensiosa e o Sex Pistols e depois de nós uma série de imitadores imbecis”.

O Sex Pistols representou e ainda representa o sentimento de fúria e revolta de muitos jovens (...)
 

No jubileu de prata da rainha Elisabeth II, que completava 25 anos no poder da Inglaterra, a banda lançou o compacto de “God Save The Queen”, um presente inusitado para a rainha, que deixava bem clara a insatisfação da banda com o regime que estava no poder. Muitos britânicos (por mais que alguns não assumissem) abraçaram a letra e sentiram-se aliviados por alguém, finalmente, estar condenando o poder. Era uma crítica ousada que carregava trechos como “não há futuro na Inglaterra” ou “Deus salve a rainha, seu regime fascista”.

Há inúmeras bandas que só foram formadas porque seus integrantes assistiram aos Pistol
 

Foi uma banda polêmica e que até hoje divide opiniões. Odiada por muitos, amada por muitos outros. As abordagens sobre esse grupo mítico são simplesmente inesgotáveis. Há inúmeras bandas que só foram formadas porque seus integrantes assistiram aos Pistols – é o caso, por exemplo, do Joy Division. Por isso, é justo dizer que os Pistols foram muito mais do que uma mera reunião de jovens rebeldes e confusos reunidos para fazer rock and roll: foi um verdadeiro movimento social que influenciou jovens de todo o planeta e que, até hoje, conquista seguidores e fãs. Os Pistols foram corajosos, e isso já é o suficiente para torná-los bons. O Sex Pistols representou e ainda representa o sentimento de fúria e revolta de muitos jovens que se sentiam reprimidos e incapazes de construir um futuro promissor. “E ainda representam” significa dizer que muitas pessoas ainda carregam esse sentimento e, com certeza, os Pistols ainda fazem sentido no cotidiano de muita gente.

“…Never Mind The Bollocks, todos concordam, é um dos melhores discos do século XX. Pete Townshend (Guitarrista do The Who /Q Magazine – junho/96).


 

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