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domingo, 22 de setembro de 2019

730 Passos ~ 罪と罰 - HallecӃ:

Por: Julina Vannucchi

Uma das grandes e mais recentes novidades do cenário musical underground foi o lançamento da faixa “730 Passos ~ 罪と罰”, do “HallecӃ”,  projeto solo do músico Thiago Halleck, artista que se destacou por sua participação nas bandas Gangue Morcego e 1983, através das quais se firmou como um dos mais notáveis nomes do Pós-Punk nacional. Thiago, literalmente, é responsável por todos os elementos que compõem a música recentemente lançada: ele gravou a voz e todos os instrumentos, revelando assim sua habilidade como multi-instrumentalista. De maneira geral, “730 Passos~ 罪と罰 ” possui uma aura que me faz lembrar do Killing Joke e do Joy Division, e é como se o trabalho de Thiago fosse uma espécie de fusão poética original desses dois grandes mitos musicais britânicos. Abaixo, você confere com exclusividade uma conversa que tivemos com o artista, na qual ele nos contou muitas coisas interessantes sobre o processo de produção da faixa inaugural de seu novo projeto solo. 
 
1. Qual é o significado do nome desse projeto musical?

HallecӃ vem do meu sobrenome, Halleck. O Ӄ vem do alfabeto cirílico, mas apenas por um fator estético, não há nenhum motivo em especial. O nome da música vem do livro Crime e Castigo, do Dostoievski. 730 Passos é a distância que o Raskolnikov percorre entre a casa dele e a casa da vítima. Os kanjis dizem "tsumi to batsu", que, em japonês, significa justamente "crime e castigo". Eu gosto muito das bandas japonesas de visual kei e muitas delas possuem músicas chamadas Tsumi to Batsu, então esse título foi uma referência dupla: ao livro que inspirou a letra e às bandas que me inspiram musicalmente.

2. Como surgiu a ideia de gravar algo sozinho?

Essa ideia se deve a vários fatores. O pontapé inicial foi com uma banda que eu tive que começou em 2008 e passou por 3 vocalistas. Substituir um vocalista é sempre uma aposta muito alta, porque ele representa uma figura muito forte e a identidade de uma banda está quase sempre subordinada a isso.
 Quando a terceira vocalista daquela banda saiu fora, em 2015, eu já estava de saco cheio daquilo tudo, além de perceber que tudo sobre a banda já estava extremamente desgastado. Eu nunca fui um puta cantor e fiquei pensando "se eu cantasse direito, não precisaria passar por isso nunca mais". Mas, na verdade, tem muita banda que a gente adora e que os caras não são nenhum prodígio de voz. É mais uma questão de saber trabalhar bem com as próprias limitações. Quando eu estabeleci isso na minha cabeça, lá para 2017, o projeto tomou forma na minha cabeça.
Além disso, tem o fato de que ter banda é o máximo, mas você acaba esbarrando em algumas limitações. São 3, 4, 5 interesses de pessoas diferentes para conciliar. Nem sempre tudo sai como você gostaria, e, por muitas vezes, alguns planos e idéias precisam ser descartados ou modificados de um jeito que você pensa "ok, assim é a forma mais democrática e acertada", mas que, lá no fundo, você também fica pensando "poxa, não gostei disso de verdade". Fazendo sozinho, há um controle maior do rumo do projeto.

E, por fim, tem exemplos como o Phil Collins, o Prince, o Stevie Wonder e o David Grohl, que gravaram discos inteiros sozinhos. Compor, tocar e gravar todos os instrumentos e vozes é um tremendo exercício musical. Em banda, eu acabo pensando como baixista, mas, agora, eu também penso como baterista, guitarrista e vocalista. Isso muda a forma como você entende a música e a forma como você se relaciona com cada instrumento. Além de tudo, se torna um processo de autoconhecimento.

Recentemente, o músico brasileiro Thiago Halleck divulgou a primeira faixa de seu projeto solo.

 3. Quanto tempo você levou para fazer essa música?

Foi em 2017. Eu compus a música toda em poucas horas. A letra só veio mais de um ano depois, enquanto eu relia Crime e Castigo. A gravação deve ter levado algo em torno de uns dois meses. O baixo eu gravei de primeira, em um take só, e a bateria eu programei no computador, o que também é algo que eu tenho muita facilidade em fazer. As guitarras e os vocais, que são os instrumentos que eu tenho menos domínio, deram mais trabalho, e eu gravei e regravei inúmeras vezes, até ficar satisfeito. No final, mandei tudo para o Sérgio Filho para mixar e masterizar.

4. Pretende lançar mais material? Caso sim, quando?

Agora que a primeira música saiu, ninguém mais me segura! Já tenho algumas outras quase prontas, faltando gravar apenas as vozes e mandar para o Sérgio. Também preciso fechar as artes de cada single, já que também sou eu quem faz essa parte. Sem datas por enquanto. Um dos propósitos deste projeto é fazer tudo no seu tempo e sem me estressar.

*Para conhecer a música de estreia da carreira solo de Thiago Halleck, acesse o link abaixo:




*Confira a seguir a letra de 730 Passos~ 罪と罰:

Trago na alma um desdém raivoso

Passam objetos fugazes sob o olhar do poente

Praças, madeira, tijolos, poeira

Um gosto amargo rola até os meus lábios

É preciso que haja um lugar para onde ir



Os olhos cansados, fechados no meio da noite

Esboçam um quadro medonho, num sonho, o açoite

Isolado na cela, na gaiola amarela

A roda da máquina invisível me traga

É preciso haver um lugar onde haja piedade



Sórdido, nojento, abjeto

Deslizo no sangue

Sinistro projeto

Arrasto-me, exangue

Um crime sem pecado

Um corpo no chão

Um golpe certeiro assustado

O eclipse da razão

*Siga Thiago Halleck nas redes sociais e acompanhe seus trabalhos:


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