Fanzine Brasil

terça-feira, 17 de maio de 2022

POLÍTICA, LIVROS, PUNK ROCK E MUITO MAIS: CONVERSAMOS COM JACK GRISHAM, VOCALISTA DO T.S.O.L


 Por Juliana Vannucchi

O lendário vocalista do T.S.O.L bateu um papo com o Fanzine Brasil. Num tom descontraído, conversamos e refletimos sobre assuntos bem variados. Jack nos contou sobre seu passado, sobre como entende o punk rock, sobre os problemas políticos que tangem o mundo atual e também sobre outras coisas incríveis que você pode conferir abaixo!

1. Seja muito bem-vindo ao Fanzine Brasil, Jack. Fico feliz em ter você aqui. Inicialmente, gostaria de saber quando você veio ao Brasil pela última vez e como foi a experiência. Você tem muitos fãs aqui…

Bem, em primeiro lugar, obrigado. Não tenho certeza de quanto tempo faz desde que estive aí pela última vez, mas eu amei seu país. As pessoas foram muito gentis, e mesmo enquanto lidavam com questões importantes de suas vidas, elas expressavam um ritmo lindo de viver, que era quase como uma dança do soul através de seus problemas – muito mais desinibidos do que os americanos, um povo que de vez em quando pode ser durão pra caralho.

2. Jack, você está ciente da atual situação política do Brasil? Nós temos um presidente fascista e intolerante. Gostaria de saber sua opinião a respeito desse contexto político do país. É sempre valioso saber o que pessoas como você tem a dizer... 

Eu acho importante não ficar de fora dessas questões e dar minha opinião sobre o que não estou vivenciando. Eu mal sou qualificado para ser um músico. Acho tentador simplificar questões de ordem política, um cara legal de banda tentando ganhar o apoio do povo, mas as coisas nunca são tão fáceis. Eu tenho minhas crenças sobre como as pessoas devem ser tratadas e penso que um governo deve servir e não dominar, pelo que li – os responsáveis no Brasil podem ter essa equação ao contrário.

3.  Por que você acha que o fascismo está aumentando, tanto na Europa, quanto no resto do mundo?

É confortável ter alguém para culpar por seus problemas – ter uma desculpa para suas idiotices. É mais difícil olhar no espelho, para cada país confrontar seus próprios pecados do passado e buscar o envolvimento de todas as pessoas para um bem comum. A culpa faz maravilhas para um ego esmagado. Um líder forte é uma muleta para uma nação fraca. Podemos falar sobre doces surf e diversão agora?


4. Além das questões políticas, há caos e tensão em todos os lugares. Como você acha que será o mundo pós-pandêmico?

Bem, pode ser um caminho para a iluminação, como uma árvore podada antes de ser restaurada a uma glória ainda melhor do que antes. Podemos perceber o quão intimamente estamos conectados. Podemos nos conscientizar de que a dor do meu irmão ou irmã é a dor que eu mesmo sinto.

 

"Eu sempre penso que, talvez, quando alguém gosta do que eu fiz, nós compartilhamos algo por dentro (...)"


5. Você pode nos contar um pouquinho sobre os livros que escreveu? Pergunto isso porque, infelizmente, eles não foram traduzidos para a língua portuguesa. (bem, ao menos, não ainda).

Eu sou um autor inexperiente que está aprendendo a escrever sob o brilho das luzes. Eu acho que não mereço alguns dos elogios que recebi em relação ao meu trabalho. Meu primeiro livro foi o "An American Demon", uma viagem depravada em minha juventude - honesta demais para ser uma autobiografia. O livro seguinte foi uma coleção de contos chamada Untamed. No período desta produção, eu tinha passado por um rompimento, então o trabalho é sombrio e raivoso, e é uma ferida aberta. Depois, escrevi um livro para quem se encontra em recuperação do vício em drogas e álcool - chama-se A Principle Of Recovery e é sobre a minha jornada através de 12 passos. Estou livre desses vícios desde 8 de janeiro de 1989. Atualmente estou trabalhando em um romance policial chamado The Pulse Of The World.

6. O que a música traz para nossas vidas? E que tipo de efeito você espera que suas músicas cause nas pessoas que as consomem?  

Não tenho certeza, mas acho legal quando você cria algo, e isso gera um sentimento em outra pessoa – talvez podendo até atingir alguém de uma parte diferente do mundo. Eu sempre penso que, talvez, quando alguém gosta do que eu fiz, nós compartilhamos algo por dentro, e por causa disso podemos nos tornar amigos.

 

"O punk rock que conheci na minha juventude está morto há anos".
 

7. Qual foi o maior desafio da sua carreira musical?

Não conseguir cantar. Havia uma versão rock do T.S.O.L – uma banda completamente diferente usando nosso nome, e o cantor parecia muito com Jim Morrison. Eu pareço o “Jack”, e o Jack não consegue necessariamente segurar uma nota.
   
8. A frase "punk's not dead" é muito famosa. Mas, afinal, o punk continua vivo atualmente? Você ainda vê o velho espírito punk nos dias de hoje?

Não tenho certeza; as coisas, é claro, são diferentes. O punk rock que conheci na minha juventude está morto há anos. Você não pode simplesmente se vestir de uma certa forma, tocar acordes fortes, se rebelar contra a autoridade e chamar isso de “punk”. Os inconformistas se conformaram com um olhar de inconformismo – isso é punk? Acho que ser “punk” é uma atitude além da música e da moda – é uma vontade de defender suas crenças, desafiar o pensamento do status quo, ficar aberto a ideias conhecidas e viver.

9. Tem algum álbum em particular do T.S.O.L. que seja o seu favorito?

Meu favorito tem que ser o Trigger Complex - nosso último trabalho completo, mas para mim - alguém que não ouve nossa banda, eu prefiro músicas - à noite no palco quando a multidão foi empurrada para a beira do caos, e eu posso sentir que mais um aumento de intensidade poderia levar à anarquia completa, eu olho para nosso baixista Roche e eu afasto ele –  faço meu sinal com a mão para ele entrar na música Fuck You Tough Guy, e a sala explode!      

10. Qual foi a coisa mais esquisita que você já viveu numa turnê feita com o T.S.O.L.? Pode ser alguma situação vivida em hotel, no palco, dentro de um ônibus, etc.

Quando terminamos um show e fomos direto para a cama – sem brigas, sem polícia, sem overdose, incêndios ou acidentes de carro – foi um milagre do caralho! No mínimo ultrajante!

11. Você é um ótimo fotógrafo. Você trabalha com fotografia ou é apenas um hobby?

É um passatempo. Eu gosto de pessoas — a alma em seus olhos. Eu faço retratos. Eu uso isso para conectar. Eu luto contra a ansiedade social, sou superficial e às vezes sinto que minha fala e meus modos são forçados. Quando estou atrás da câmera, tudo é mais fácil.

12.  Se você tivesse uma máquina do tempo e pudesse viajar para o passado, qual momento da sua vida você gostaria de viver novamente? E o que você mudaria?  

Nada. Nunca cometi nenhum erro porque a soma de minhas ações é que me trouxe aqui, num lugar no qual estou muito feliz. Mas se pudesse mudar alterar qualquer coisa, eu teria economizado minhas milhas de passageiro frequente e ter causado mais por aí.

13. No que você está trabalhando atualmente? Quais são os planos para o futuro?  

Atualmente estou terminando um filme sobre a minha experiência no TSOL. Se chama “Ignore Heroes” e estou sou responsável pela produção e também pela direção.


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