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quinta-feira, 17 de outubro de 2019

ENTREVISTA COM JOHN ELLIS, UM DOS GUITARRISTAS MAIS CONCEITUADOS DO PUNK ROCK

Por: Vannucchi e Marinho

Apesar de não receber o mesmo reconhecimento de muitos de seus contemporâneos, o The Vibrators possui um som característico que gruda em nossa cabeça logo na primeira vez em que os escutamos. Por vezes melódico, por vezes agressivo, mas sempre agradável e dançante. A energia de seus álbuns é nada menos que contagiante! Para se aprofundar ainda mais na história da banda, nos primeiros anos do punk e muito mais, tivemos o prazer de entrevistar o lendário John Ellis, guitarrista que gravou os dois primeiros álbuns da banda, e que fortambém os mais conhecidos, “Pure Mania” e “V2”. 

1. Poderia dizer como foram os primeiros anos do Punk Rock na Inglaterra? O que você aprendeu fazendo parte dessa cena?

Antes de existir o 'Punk Rock' no Reino Unido, eu costumava comprar uma revista americana chamada 'Punk'. Na verdade, ela não era sobre o punk rock, mas apresentava artistas como Iggy Pop, Patti Smith, New York Dolls etc. Então, de repente, no Reino Unido, tivemos uma cena 'Punk'. Parecia que tinha surgido do nada. Minha banda, The Vibrators, foi atraída para a cena Punk por várias razões, mas como éramos mais velhos do que a maioria das bandas envolvidas, ficamos um pouco mais céticos em relação ao movimento. No entanto, foi um ótimo momento para fazermos apresentações e ficamos felizes por fazer parte do zeitgeist. E é claro, também ficamos felizes por estar gravando.

Os primeiros anos do punk estavam cheios de energia criativa misturada com moda e política. Um bom tempo. Mas tornou-se um clichê muito rapidamente.
Pessoalmente, aprendi muito sobre como os "movimentos" são criados pela mídia que os apresenta como "movimentos juvenis". Conheço muitas pessoas cujas vidas foram fortalecidas pela cena punk e isso é ótimo. E eles ainda se anunciam orgulhosamente como punks verdadeiros, seja o que for. Acho que minha visão de mundo foi formada pelos ideais "hippies" do final dos anos 60. Mas logo ficou claro para mim que 'cenas' ou 'movimentos' geralmente são manipulados por pessoas que desejam ganhar dinheiro ou promover seu próprio perfil. Há um ótimo livro de George Melly chamado 'Revolt Into Style', escrito no final dos anos sessenta, que tem algumas ideias interessantes sobre o assunto.

2. Pra você o que significa “ser Punk”? Como você define o Punk?

Você sabia que Shakespeare usou a palavra “Punk”? Existem muitas definições sobre essa palavra que não estão relacionadas à música. Mas em termos musicais, eu diria que é uma forma bruta de música criada por pessoas que não sentem que precisam ser bons músicos para fazer boa música. Claro, havia muitos músicos muito bons em bandas do gênero, mas normalmente o punk estava mais relacionado com a energia e a necessidade dos jovens que moravam no Reino Unido na década de 1970, de expressar ideias. Você precisaria ver o estado da sociedade britânica na época para entender por que tantas pessoas sentiam que o Punk era uma maneira de expressar sua raiva. Havia muita energia furiosa saindo dos palcos em shows Punks. Havia também um lado sombrio de muita violência, etc. Além disso, gravadoras, escritores e estilistas procuravam 'a próxima grande novidade', de modo que o Punk foi uma tempestade perfeita que eles pudessem adquirir algum tipo de benefício comercial.

"Ao contrário de algumas bandas “punks”, não fomos movidos pela ideia de fazer sucesso ou conseguir dinheiro. Nós só queríamos nos divertir".

3. O Punk Rock ainda está existe? Acha que ele está vivo?

O Punk Rock ainda existe, mas se transformou em uma entidade completamente diferente. Na Inglaterra, tornou-se uma espécie de marca histórica, com muitos livros escritos sobre ela, filmes, documentários e etc. Há um "Professor do Punk" que era membro do The Slits. Existem placas azuis e nomes de ruas conectados ao Punk. Em outras palavras, tornou-se tudo o que não deveria. Parece-me que muitas das chamadas lendas Punk têm um senso muito inflado de sua própria importância. 

O Punk agora é muito popular quando antes era uma espécie de anarquia. Então, para mim agora, é uma ideia bastante chata. No entanto, como eu disse anteriormente, Punk significa muito para muitos dos que fizeram parte da cena original. Representa um modo de vida e uma visão de mundo particular. Para mim, eu segui em frente do que eu via como uma forma limitada de ver as coisas, musicalmente em particular.

4. Você teve alguma aula de guitarra antes de começar a tocar com o The Vibrators? O que o inspirou a começar a dar aula?

Eu tive algumas aulas de guitarra aos 12 anos, mas o homem que me ensinava era muito mais velho e não sabia o que estava acontecendo na música contemporânea (Hendrix, Clapton, etc.), então parei de ter aulas e comecei a aprender sozinho como muitos guitarristas fizeram no passado. Isso foi antes das lições da Internet e do YouTube.

Comecei a dar aula porque precisava ganhar dinheiro. Era uma maneira de ganhar a vida fazendo o que eu gosto. Para minha surpresa, descobri que gosto muito de ensinar e recebo ótimas críticas em meus workshops, por isso devo estar fazendo algo certo. Se eu ganhasse na loteria amanhã, acho que ainda assim continuaria dando aula.

5. Eu gostaria que você nos falasse um pouco sobre o álbum "Pure Mania": O que esse título significa? Por que vocês o escolheram? E a imagem da capa? Foi uma ideia da banda?

O título 'Pure Mania' veio do Knox. É apenas uma frase que resume como era a vida na época. Era uma espécie de caos. Estranhamente, a primeira música do 2º álbum se chama Pure Mania.

Criei o logotipo da banda e o grande 'V' veio da tipografia que escolhi. É uma imagem muito simples, mas poderosa. As pessoas ainda se lembram do “álbum com o grande V na capa”. Eu tive muita sorte porque os registros da Epic records me permitiram fazer parte do processo de design de todos os nossos discos. Fiz a capa para o V2, por exemplo, e também fotografias e ilustrações para capas de singles. Eu estava me formando em Design Gráfico e Ilustração quando conseguimos nosso contrato com a gravadora, então acho que eles puderam ver que eu sabia o que estava fazendo.

Pure Mania: um dos álbuns mais marcantes da história do Punk Rock.
6. Quando o álbum Pure Mania estava sendo gravado, você e os outros membros da banda acharam que a recepção seria tão boa? E, a propósito, por que você acha que o álbum foi tão bem sucedido naquela época?

Quando estávamos fazendo o Pure Mania, estávamos gostando de estar em um grande estúdio e estávamos nos divertindo muito. Ao contrário de algumas bandas “Punks”, não fomos movidos pela ideia de fazer sucesso ou conseguir dinheiro. Nós só queríamos nos divertir.

A imprensa britânica não ficou impressionada, mas sabíamos que os fãs tinham gostado. Não percebemos a importância da imprensa na época. Além dos principais jornais, como Sounds e NME, também havia fanzines que nos odiavam.

Mas ainda recebo elogios pelo álbum. Foi muito melhor recebido fora do Reino Unido.

7. Qual é a melhor memória que você tem com o The Vibrators?

Eu gostava de estar no estúdio, é claro. Os primeiros dias em que começamos foram ótimos, porque foi como um sonho. Frequentemente conhecíamos nossos heróis musicais ou tocávamos em lugares onde viamos nossos artistas favoritos.

E eu também adorava fazer turnês e conhecer pessoas incríveis. Fiz muitos grandes amigos como resultados de ir para diferentes partes do mundo. Eu sempre tentei ir a galerias ou exposições, se tivesse tempo.

Na verdade, fazer shows também era uma espécie de terapia. E é ótimo quando você escreve uma música e ela se transforma em uma gravação.

8. Você consegue escolher entre o Pure Mania e o V2? Você tem um álbum favorito? E qual é a sua música favorita do The Vibrators?

Eu gosto mais da V2 que do Pure Mania. Foi muito bem produzido e a reprodução de toda a banda é boa. Gary Tibbs substituiu Pat Collier no baixo e sua energia juvenil criou uma grande vibração.

Para ser sincero, eu não tenho uma música favorita doThe  Vibrators.
 
9. Como foi trabalhar com Peter Gabriel? Ele é um artista incrível!

Foi fantástico trabalhar com o Peter Gabriel e depois trabalhar com o grande Peter Hammill. Foi um grande desafio para mim como músico, mas espero ter feito um bom trabalho para os dois. E fazer shows tão grandiosos com o Peter Gabriel foi uma experiência interessante.

10. O que você pode dizer sobre o período em que tocou com o The Stranglers? Esta é outra banda lendária...

Eu já havia trabalhado com The Stranglers antes de me tornar um membro da banda em tempo integral. Você está certa, eles são uma banda lendária e fizeram alguns discos incríveis. Mas pra mim, era um relacionamento muito desafiador por várias razões. Acho que fizemos ótimos shows e fizemos bons discos.

11. Você conhece alguma banda ou músico brasileiro?

Infelizmente, eu conheço muito pouco sobre música brasileira. É claro que ouvi muito a respeito dela o longo da minha vida, mas não seria capaz de nomear outros artistas além de pessoas como Gilberto Gil ou Antônio Carlos Jobim.

12. Você pode nos contar sobre a Chanoyu Records?

Eu criei a Chanoyu Records para ter uma página que disponibilizasse informações sobre o meu trabalho como músico, compositor e escritor. É também um espaço no qual as pessoas podem comprar a minha música. Recebe o nome da cerimônia japonesa de chá. Também uso a Chanoyuy Records como uma forma de desenvolver minhas habilidades como designer de sites. A página recebe muitos acessos, o que é muito gratificante.







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