Fanzine Brasil

segunda-feira, 6 de julho de 2020

FANZINES, D.I.Y E PUNK ROCK: UM PAPO COM ULISSES (ULIXO)

Por Juliana Vannucchi

Ulisses, mais conhecido como "Ulixo" é idealizador do"Zine DF Caos", que é uma das revistas independentes mais notáveis do país, feita a partir de uma estética essencialmente underground e repleta de conteúdos críticos que, certamente, são significativos e agregam muito para qualquer cidadão que se preocupe em ser minimamente consciente em relação ao mundo que o cerca. Ulixo também é administrador da conceituado perfil "Music Punk 1977", através do qual posta diversos vídeos e fotos relacionados à cultura Punk, em geral. Ele também já lançou com Fofão, o livro "Besthöven Discography Book", é ativo em protestos políticos e através de seus tantos feitos, divulga e apoia inúmeros bandas nacionais e internacionais. Nós conversamos com ele sobre diversos assuntos e você confere abaixo como foi esse papo. Ulixo é o tipo de pessoa que pode inspirar muita gente a abandonar o comodismo e começar a construir projetos autênticos. Eu diria que ele é um caso (um tanto raro) de indivíduo que compreende e pratica os verdadeiros e principais aspectos do Punk Rock: a capacidade crítica, a reflexão constante a liberdade de expressão e de pensamento, a tomada de atitudes e a reciprocidade. Nosso site se sente verdadeiramente honrado em homenagear essa figura lendária do Punk Rock do DF.


1. Ulisses, no início do mês de julho recebi duas edições dos zines que você produz. Poderia contar como é o processo de criação desse material? Há fins lucrativos envolvidos?

O processo de criação começa com as bandas, mando o convite e depois da  aprovação das bandas, daí, na sequência eu monto a página referente a cada assunto. Há colaboração de textos e quando me pedem eu faço a ilustração para esses conteúdos, sempre com autorização de quem mandou. Não há fins lucrativos, apenas divulgo e imprimo 50 zines para distribuição.

2. Desde quando você produz os zines e qual é a importância social e cultural dessas revistas?


Comecei a me envolver com o Punk no final de 1983 e em 1985, na minha adolescência, aos 14 anos,  eu fazia esse mesmo zine. Na época era muito difícil de produzir, pois dependia de todo mundo para tudo (inclusive para tirar xerox). Acho que hoje a informação está mais acessível, porém, temos que somar para a galera abrir os olhos.

3. De que maneira você acha que o D.I.Y pode ser positivo na vida de uma pessoa?

De todos as maneiras, desde trocar um chuveiro de casa até não depender de ninguém para realizar seus sonhos e hobbies.
  
4. As edições que recebi carregam uma tonalidade bem crítica em relação ao contexto político que nos rodeia. Na sua opinião, porque certos babacas como Bolsonaro, Trump e Boris Johnson tem sido eleitos? O que a população enxerga nesses genocidas?

Eu nunca votei e acho que o voto não é válido no Brasil, pois sempre são as mesmas pessoas que estão envolvidas e quem entra de diferente, não faz nada. Está tudo errado na política e se ela não fosse um cabide de emprego, esses caras não  estariam lá. As pessoas não estão procurando alguém para realmente mudar o mundo político e sempre querem arriscar para achar um herói, como esses aí e alguns outros que são perigosos para o mundo. O Bolsonaro é um risco para ele mesmo, pois o cara nunca respeitou ninguém, quiseram ele e o preço esta aí, já o Trump é um Bolsonaro nível TOP com pensamentos mesquinhos e conseguiu também chegar lá através do povo que queria mudança. O Boris se faz de retardado, mas é manipulador pra caramba...

(...) não se acomode, lute!
 
5. De que maneira, no dia-a-dia, podemos colaborar para a construção de uma sociedade mais sábia e justa?
Isso começa dentro de casa, com a educação primária e se cada um fizer a sua parte, a sociedade seria sim um pouco mais justa. O povo não sabe o poder que tem e não sabe que é a maioria.


 
6. Você administra uma das páginas brasileiras mais qualificadas sobre o Punk Rock. Poderia nos contar como surgiu o perfil "Music Punk 1977"?

Sempre ouvia meus discos, gravava vídeos  para uns amigos e mandava pelo “Whatsapp". Alguns desses amigos me falavam para abrir uma conta no Instagram e colocar os vídeos lá e eu sempre relutava. Porém, decidi abrir essa conta há um ano atrás para colocar somente os meus discos, e depois fui colocando ideias, desenhos e voltei a fazer meu zine esse ano e sempre o divulgo por lá também.

7. Gostaria que você comentasse sobre a importância do ano de 1977 para o Punk Rock…

O ano de 1977 foi um marco para o Punk, pois nesse período surgiu muita banda boa e o movimento estourou no mundo… não é o começo de tudo, mas foi o ano que ficou eternizado como o começo do Punk,

8. Você deve ter muito vinil, hein? Desde quando coleciona os bolachões?

Ganhei meu primeiro disco Punk no fim de 1983 de um amigo, foi a primeira edição do "Never Mind The Bollocks", dos Sex Pistols. Era uma edição nacional que saiu aqui em 1978. Não tenho muitos discos… acho que tenho por volta de 350.

9. Infelizmente o vinil vem perdendo espaço na indústria fonográfica, embora, é claro, ainda tenha muitos colecionadores ao redor do mundo. Como você avalia que será esse cenário entre formato digital e físico nos próximos anos?

Isso acontece aqui no Brasil, mas lá fora tudo sai em vinil. Aqui a música foi banalizada e também ficou caro lançar material nesse formato. Poucas pessoas dão força para as bandas… não precisa ser um consumista, mas pague o seu ingresso dos shows, compre uma camiseta, um botton ou simplesmente divulgue o trabalho das bandas.

(...) esses caras não fazem e nunca vão fazer nada pelo povo. 

10. Sua página parece ter um público de fora do Brasil. Como é a recepção em relação às suas postagens? Vejo que você recebe muitos elogios.

Na real, o meu público mais fiel é o de fora, dou atenção a todos daqui ou de fora, falo sobre os discos e sobre as bandas, acho legal a galera se informar e curtir essa cultura.
 
11. Um aspecto importante do anarquismo e do próprio Punk Rock é a reciprocidade, o mutualismo. Isso ainda se faz presente hoje em dia na cultura Punk?

Sem dúvida. E sempre vai fazer parte, somos poucos e somente nos unindo é que conseguiremos fazer a diferença.
Ulixo protestando em Brasília (2020).

12. Frequentemente vemos a inscrição "Punk Is Not Dead". Você concorda? Acha que o Punk continua vivo?


Muito vivo, nunca morreu e se renova sempre… não se acomode, lute!




13. Acima eu fiz uma pergunta sobe política. O Punk Rock, de certa forma, sempre se relacionou com esse assunto, né? Poderia comentar um pouco sobre esse assunto?

Eu vivo a política aqui em Brasília... nunca mudou nada e nunca irá mudar. Minhas filhas me perguntaram em quem eu votaria nas últimas eleições, eu disse que nunca votei e nunca irei votar, pois esses caras não fazem e nunca vão fazer nada pelo povo, só possuem interesses próprios.

14. Que dicas você pode dar para uma pessoa que deseja fazer fanzines?

Comece hoje, escreva sobre o que quiser e como quiser, não precisa ter muitas páginas e nem regras, não precisa ser lindo. O zine é um informativo que funciona de forma rápida, tendo textos curtos e diretos. Pode ser feito no computador, ou à mão, simplesmente com um papel com uma caneta… Faça-se zine!

15. Por fim, a pergunta que não quer calar: The Clash, Sex Pistols ou Ramones?

 
Sex Pistols pra mim e para muita gente o começo de tudo, The Clash o começo da parte política e segregada do Punk e Ramones apenas diversão não dizem muitas coisas nas músicas, exceto sentimentos que também são válidos. Eu gosto de todas essas bandas, mas o Punk é muito mais que apenas eles.

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