Por Juliana Vannucchi e Neder de Paula
O mês de outubro começou com a triste notícia do falecimento de Soo Catwoman, entidade do movimento punk que, através de sua poderosa imagem, nos deixa um valioso legado sobre liberdade de expressão e rebelião estilística. Sua história começou a ser traçada por volta de 1976, em Londres, quando o punk rock, em seu período embrionário, ainda dava seus primeiros passos. Nessa época, Soo começou a fazer experimentos inusitados com sua aparência e, dessa forma, quebrando as barreiras da moda vigente, com um estilo visceral e um visual totalmente original, logo se tornou um verdadeiro modelo estético para o punk e para a arte em geral. Ela criava seus próprios acessórios e roupas, e inventava penteados e maquiagens únicos. Com essas armaduras, foi revolucionária e invadiu as ruas londrinas, chocando muitas pessoas. Ativa no universo punk, a emblemática Soo Catwoman travou amizade com os membros do Sex Pistols, frequentou clubes noturnos undergrouds e marcou presença em diversos gigs, iniciativas que firmaram sua representatividade e foram determinantes para que a egrégora do movimento punk se desenvolvesse e se consolidasse, imagetica e ideologicamente.
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Amiga dos integrantes do Sex Pistols, Soo chegou a dividir um apartamento com Sid Vicious. |
Mas Soo Catwoman sempre foi muito mais do que um ícone visual: ela representava a coragem de ser diferente sem precisar gritar. Sua presença nos lembrava que a atitude punk não se resume apenas ao barulho ou à rebeldia agressiva, mas também à firmeza silenciosa de quem se recusa a ser moldado por padrões. Ela mostrou que estilo é postura, e que a autenticidade pode ser a arma mais poderosa contra a mesmice. Dessa forma, Soo Catwoman nos deixa como herança inúmeros ensinamentos importantes, dentre os quais, certamente uma grande lição se destaca: devemos afirmar destemidamente a nossa própria individualidade, fechando-nos para todo tipo de comentário alheio depreciativo e pautado na mediocridade do senso comum. E isso aprendemos a partir de sua postura, pois, afinal, Soo foi uma mulher singular e essencialmente transgressora… talvez, esteticamente falando, a mais criativa de toda a vasta cena punk da Inglaterra. Cabe mencionar que seu estilo de vida destoava substancialmente da padronização dos comportamentos e aparência que predominam no mundo de hoje, no qual nos deparamos muito comumente com pessoas enlatadas em seus pensamentos, previsíveis em suas ações e que se vestem unicamente de acordo com os ditames de um mercado que as acorrenta na medida em que comanda o que se deve consumir, fazer e vestir. Soo, contrariamente a isso, nos apresentou a ideia de que a maneira como nos vestimos tem que vir do coração, ou seja, deve ser fruto da subjetividade. Ela era inovadora, distinta e dona de uma mente afiada e atraente que a munia de boas ideias. Conforme consta em seu site oficial: “Sua rebelião era silenciosa. Rebelião sem palavrão, sem anarquia. Era sobre liberdade pessoal”.
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Ao longo dos anos setenta, Soo foi capa de inúmeras revistas punks. |
Sua morte não apaga sua força; ao contrário, apenas reforça a imortalidade de sua mensagem. Soo deixa um rastro inspirador para quem busca viver de forma verdadeira, independente e ousada. Ao pensar em seu legado, enxergamos a importância de continuar propagando a ideia de que a individualidade é, em si, uma forma de resistência. Sua imagem segue viva em cada gesto de liberdade estética e em cada pessoa que, mesmo hoje, ousa ser quem realmente é. Assim, Soo Catwoman se despede do mundo físico, mas permanece eterna como símbolo de autenticidade e liberdade.