Por Juliana Vannucchi
O rock and roll dos anos noventa foi marcado por uma frota de novidades estilísticas e experimentalismos que, de alguma maneira, tentavam se desvincular da musicalidade punk e do universo pós-punk. Essa foi, portanto, uma década convidativa para reformulações sonoras e, não à toa, nesse período surgiram vários grupos épicos que fizeram história.
E foi justamente no início dos anos noventa, São Francisco entregou ao mundo um das bandas de rock mais consagradas de todos os tempos. Com um estilo prioritariamente psicodélico a nada convencional, surgia o banda the Brian Jonestown Massacre, cujo nome é uma referêncoa a Brian Jones e ao tenebroso massacre de Jonestown. Essa história, porém, iniciou-se em meados dois anos oitenta, período em que o grupo começou a se consolidar a partir de uma curiosa fusão sonora entre o folk rock, o indie e o shoegaze. Desde seu surgimento, a BJM, liderada por Anton Newcombe, lançou um volumoso número de álbuns e EPs, ao longo dos quais seus integrantes foram constantemente trocados, fazendo com que uma grande quantidade de músicos diferentes tenha deixado seu DNA na banda. Suas variadas inspirações e influências vão desde The Velvet Underground até My Bloody Valentine.
No entanto, apesar dessa recorrente mudança de músicos, Newcombe sempre foi o protagonista e o fio condutor do projeto, assumindo o papel de maestro do The Brian Jonestown Massacre. O líder da banda, que já declarou tocar mais de cinquenta instrumentos, possui uma imaginação vívida e uma profunda sensibilidade, que sempre o levaram a compor com muita intensidade e facilidade. Mas apesar desse vistoso talento, algumas atitudes violentas de Newcombe marcaram fortemente a imagem da banda e mancharam sua reputação. Houve, por exemplo, uma ocasião em que ele espancou membros do grupo. Isso ocorreu em 1996, quando todos já estavam a postos num palco, prestes a iniciar um gig. Talvez, Anton Newcombe não se importe com essa fama de bad boy que foi atribuída a ele. Afinal, curiosamente, certa vez numa entrevista, refletiu: “Eu não acredito em bem e mal. Napoleão foi um grande homem. Ele não era um homem mau. Ele não era um homem bom (…) Tipo, Deus não é bom nem mau. Deus é grande."
Numa ocasião, Greg Shaw, que é presidente da Bomp Records, de Los Angeles, comentou a respeito da personalidade complexa do líder da banda: “Ele se vê como uma espécie de sufi, então vamos nessa. Ele é como um desses personagens espirituais errantes do Oriente Médio que aparecem na sua cidade e começam a falar sobre Deus ou qualquer coisa enquanto tece um tapete. E depois contam as histórias.” Apesar de tudo, Newcombe é um músico engenhoso e de uma rara inesgotabilidade criativa. Ele próprio já se definiu como um "maníaco" em relação ao seu processo criativo: costumar entrar em estúdio, escrever durante cerca de oito horas e ficar imerso em suas gravações até que tenha em mãos a música que desejava criar. É um gênio diferenciado. Gosta de arte conceitual, se interessa pelas emoções humanas e entende que é existe em si uma "espécie de coisa xamânica que canaliza" sabe-se lá de onde para trazer ao mundo. Inclusive, Courtney Taylor-Taylor, lead singer da banda Dandy Warhols,
certa vez o descreveu como "o músico mais doido e mais talentoso que eu
já conheci". Em 2004, um documentário controverso sobre o BJM, chamado
“Dig!”, reforçou essa má reputação do vocalista mostrando inúmeros
momentos de tensão vividos pela banda e o estilo de vida boêmio de seus
integrantes. Essa produção fílmica foi responsável por banda transformar
a banda num icone cult, popularizando-a em diversos cantos do mundo
sendo que até hoje, muito do que os fãs sabem ou querem saber sobre sua
história seus integrantes, encontra-se disponível nesse material que é
tão precioso, quanto polêmico.
O álbum mais consagrado do grupo e que mais atrai fãs é o Their Satanic Majesties' Second Request, uma obra-prima irretocável que explora diferentes texturas sonoras e esbanja brilhantismo do início ao fim. Ele, por si só, valeria a carreira inteira da banda. Aliás, se alguém tem dúvidas a respeito da genialidade de Newcombe , basta escutar o apaixonante Their Satanic Majesties' Second Request. É a produção de estúdio que mais de destaca na supreendentemente imensa discografia do BJM, composta, em geral, por trabalhos notavelmente consistentes e qualificados.
O The Brian Jonestown Massacre é uma banda majetosa e singular, que tem o poder de transportar qualquer ouvinte para outra dimensão. Atuamente, não ninguém mais fazendo o tipo de som que esse poderoso grupo faz. São realmente únicos. Seus álbuns são refinados e sempre profundos - um deles, só inclusive, contou com um total de mais de vinte instrumentos diferentes para ser produzido. De modo geral, os discos da banda carregam um clima etéreo, solos de guitarra distorcidos e sedutores, e são uma espécie de paraíso psicodélico. Além disso, é sempre válido mencionar que o BJM é um grupo essencialmente autárquico, que opera nos moldes do DIY, administrando sua própria gravadora e estúdio. Também nunca ligaram para fama e sucesso, sendo sempre integralmente undergrounds. Enfim, é uma banda fascinante, com músicas catárticas e poéticas e é, certamente, um dos poucos expoentes famosos de rock noventista que conseguiu sobreviver em alta por tanto tempo, sempre firmes diante de uma indústria musical que tanto mudou no decorrer desse longo período.
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O BJM é, sem dúvida, uma das bandas mais originais e inventivas dos anos noventa. |
https://www.latimes.com/archives/la-xpm-2004-oct-17-ca-anton17-story.html#:~:text=A%20lot%20of%20people%20close,politesse%20probably%20don't%20either.
https://www.theguardian.com/music/2023/feb/10/brian-jonestown-massacre-anton-newcombe-interview
https://www.psychedelicbabymag.com/2019/05/interview-with-anton-newcombe-of-the-brian-jonestown-massacre.html
https://www.theguardian.com/music/2025/feb/03/the-brian-jonestown-massacre-review-anton-newcombe-de-la-warr-pavilion-bexhill-on-sea
https://www.thetimes.com/culture/music/article/life-with-the-brian-jonestown-massacre-each-day-i-go-into-battle-9pxqfhgq6
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