Por Juliana Vannucchi
Angélica Lima, nascida em Osasco, na região metropolitana de São Paulo, atualmente é uma das personalidades artísticas mais prestigiadas de Sorocaba, e uma das grandes responsáveis por alimentar o insaciável e fértil fogo da arte local, com o qual ela contribui ao realizar um trabalho artístico intenso e de alcance multidisciplinar. Esse reconhecimento que hoje Lima possui na região de Sorocaba, foi conquistado a partir de muita luta, determinação e talento, sendo que toda e qualquer dificuldade surgida no decorrer de sua trajetória foi vencida pela força que a artista extraiu de sua mente inquieta e criativa, que sempre a preencheu com ideias extraordinárias que foram caprichosamente, acolhidas e gravadas em papéis, camisetas, bottons e adesivos. Esse vasto universo artístico de Lima, ganha vida a partir do uso de técnicas notavelmente diversificadas, como a aquarela natural, o guache – que muitas vezes conta com a finalização refinada do lápis de cor -, ou, enfim, as variadas técnicas mistas que a ilustradora explora com maestria.
“A intenção das minhas aquarelas de fauna e flora é levar o espectador a acessar sua criança interior". |
A arte invadiu o coração de Angélica ainda na tenra idade e, desde a infância, a artista sempre teve afinidade com o desenho, sendo que até hoje, carrega lembranças do significado da arte nessa época precoce de sua vida. Lima mudou-se para Itapevi quando ainda era nova e foi lá que passou a maior parte de seus anos. Recorda-se de rabiscar a carteira da escola, de admirar as aulas de educação artística que envolviam pintura, desenho e recorte e da amorosa afeição e familiaridade que possuia com essa área, o que fazia com que muitos colegas solicitassem sua ajuda durante as aulas: “Eu era uma aluna um tanto preguiçosa, não gostava de estudar desenho, apenas desenhava o que me dava vontade ou algo que envolvesse alguma referência específica que me interessasse”. Angélica contou que no ambiente em que cresceu, a conquista de uma carreira profissional estável após a conclusão dos estudos, era a grande prioridade e, nesse âmbito, a vida universitária era pouco incentivada: “A mentalidade era arrumar um emprego e seguir a vida. Faculdade era algo muito difícil de se obter, então eu nem nutria expectativas nesse sentido e, além disso, não me considerava uma pessoa muito inteligente ou com capacidade para o mundo acadêmico. Apesar de ter tido boas notas no período escolar, as provas me deixavam nervosa. Por fim, ao me formar, aceitei esse destino convencional e simplesmente comecei a vida em empregos bem comuns”. A Fortuna, no entanto, guardava outra rota para a jovem de Itapevi, mesmo que ela ainda não soubesse disso. O fato é que, após concluir os estudos, Angélica ingressou no mercado de trabalho, que parecia ser o único caminho possível e, durante um tempo, ocupou vários cargos diferentes. Foi atendente em rede de fast-food, ajudante geral, trabalhou em cozinhas de restaurantes populares e também no escritório de uma metalúrgica. Nesse último emprego, porém, algo diferente aconteceu, pois Lima, em meio aos esforços e desgastes profissionais do cotidiano, conseguia encontrar um pouco de tempo para desenhar: “As pessoas com as quais eu trabalhava viam minhas ilustrações e perguntavam por que eu não trabalhava com isso”. Esse tipo de questionamento a influenciou de alguma maneira e, então, Lima passou a fazer cursos na área e, gradualmente, entregou-se cada vez mais ao universo da arte, que era a rota verdadeira e inevitável de sua vida. A Fortuna cumpria seus planos. A esse respeito, se recordou: “Primeiro fiz um curso livre, depois técnico e por fim, a faculdade. E assim fui me formando como artista, durante longos dez anos”. Nesse sentido, Lima também refletiu: “Na realidade, só tive coragem de aceitar o título de artista há alguns anos atrás, mas confesso que essa palavra ainda engasga um pouco para sair. A síndrome do impostor é muito presente entre os artistas, embora hoje eu esteja ciente de que sou uma artista visual, ilustradora e autora de livros infantis”.
As produções artísticas criadas por Angélica Lima portam um potencial catártico enérgico, que as torna elogiáveis e absolutamente dignas de admiração. |
Desde então, Lima permaneceu focada na arte e, gradualmente, seu paraíso artístico foi se consolidando e ocupando um espaço cada vez maior em sua vida, até se transformar numa verdadeira empreitada profissional. Porém, embora atualmente trabalhe diretamente com suas produções, a jovem entende que, por vários motivos, o mercado de trabalho nessa área é instável e bastante desafiador: “Eu vim da periferia da grande São Paulo, mais precisamente de Itapevi e, por isso, na minha juventude se eu não tinha nem como sonhar com uma faculdade, imagina ter acesso a arte? E o mercado é muito complicado porque normalmente exige, de alguma forma, que a arte seja um produto e quando se é artista é difícil lidar com isso, porque aquilo que nós queremos fazer, a ideia que surge para nós, não é, necessariamente, o que vai ser vendido”.
No entanto, apesar dessas tantas barreiras mercadológicas destacadas por Angélica, gradualmente e cada vez mais, ela encontra espaços culturais e oportunidades que a permitam apresentar sua arte ao mundo. Lima já teve, por exemplo, alguns de seus trabalhos de aquarela expostos no Espaço Cultural Mário de Andrade, em Santana de Parnaíba, também já viu seu trabalho ser apresentado numa exposição do Espaço da Cultura, em Jandira, marcou presença em feiras de arte e artesanato do ateliê Revoada, situado na Vila Mariana, esteve na Feira Gibicon, no Butantã, e em Sorocaba viu suas obras na exposição "O jardim de Joana", no espaço cultural do Shopping Pátio Cianê, além de ter participado da Feira Colabora, da Feira Beco do Inferno e de outras atividades. Ademais, o sucesso de suas produções artísticas rompeu as fronteiras de nosso país e atualmente Lima tem algumas obras originais e cópias autorizadas no exterior. E cabe dizer que a bagagem e a contribuição cultural de Angélica Lima está além da pintura. A jovem artista também aventura no campo literário e tem dois livros infantis publicados. O primeiro chama-se "Raul, o Coelho" e o segundo, lançado recentemente, intitula-se "Niel Comeu Amora".
Mas apesar de tantas realizações e conquistas, Lima entende que ainda não construiu um legado artístico propriamente dito e, em relação a isso, de maneira humorada, refletiu: “Eu brinco dizendo às pessoas que compram minha arte, para que elas torçam para eu morrer drasticamente e de uma forma polêmica, para que a obra se torne cara. O sarcasmo mórbido e um dos meus defeitos. Outro defeito é não acreditar em mim mesma, por isso, para mim, é desafiador pensar nesse conceito de legado. Ainda sinto um certo desconforto ao me autointitular como artista”. No entanto, apesar dessas incertezas e dúvidas, uma coisa é certeza no coração de Lima. Trata-se o efeito que espera que sua arte gere nos espectadores: “Através das minhas aquarelas de fauna e flora, tenho a a intenção de levar o espectador a acessar sua criança interior, resgatar em sua vida os momentos sem telas, momentos em que achávamos incrível quando um simples inseto diferente aparecia e, então, nos atínhamos aos seus detalhes e cores, observando a forma como ele voava, andava ou pulava. Talvez minhas aquarelas sejam, portanto, uma forma de me comunicar com outras pessoas que se encantam com essas coisas, como se fosse uma espécie de código de uma gangue secreta, que diz: procura-se pessoas que amam ver pássaros fazendo ninhos”.
A arte existe como uma forma de iluminação, como um caminho divino que desperta o ser humano, sendo capaz de elevar qualquer alma e emocionar qualquer coração. E as produções artísticas criadas por Angélica Lima portam esse deslumbre, esse potencial catártico enérgico, que as torna elogiáveis e absolutamente dignas de admiração. Angélica Lima é um orgulho para Sorocaba. Precisamos abraçar artistas que alimentam a arte local e lutam pela construção de um cenário cultural amplo e fortalecido.
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