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segunda-feira, 20 de julho de 2020

UM PAPO COM O LENDÁRIO BARRY ADAMSON, BAIXISTA DO MAGAZINE

 Por: Juliana Vannucchi e Abel Marinho

O baixista Barry Adamson é definitivamente um mito na história do Rock And Roll. Suas colaborações com bandas grandiosas como Magazine, Nick Cave & The Bad Seeds e Buzzcocks, fizeram dele um músico imortal e respeitável.

É importante mencionar que ele foi uma das mentes criativas que estavam por trás da produção de grandes músicas, tal como “Shot By Both Sides” e “From Her To Eternity”. Além disso, também já tocou com Iggy Pop, remixou músicas para o Depeche Mode e trabalhou ao lado de David Lynch, sendo o responsável pela criação da trilha sonora do filme Lost Highway. Tudo isso faz dele um nome sempre lembrado, citado e homenageado por músicos e críticos.

Eu e Marinho tivemos a oportunidade de bater um papo com ele, no qual exploramos vários pontos de sua longa e admirável carreira musical, e agora estamos trazendo esse rico conteúdo em primeiríssima mão para os nossos leitores!

1. Com quantos anos você começou a tocar baixo? Você toca outros instrumentos também?

Eu comecei a tocar apenas um dia antes de fazer um teste com a banda Magazine! Eu tocava um pouco de guitarra, mas nunca havia tocado baixo. Eu toco agora um pouco de bateria, de guitarra, teclados, gaita e claro… baixo também.

2. Poderia nos contar sobre os primeiros anos do Punk na década de 70 e nos anos 80?

Foi incrível! Todos os jovens se uniram para criar algo novo para eles através da música. Toda semana havia uma nova banda para assistir e eu simplesmente precisava ser uma parte daquilo! Viva a revolução!!

3. Barry, eu acredito que o Real Life seja um dos álbuns mais geniais já feitos. Ele é único e muito original. Você poderia contar um pouco sobre como foram as gravações desse álbum? Eu gosto muito da capa dele, você pode contar também sobre essa imagem e sobre o que significa?

Eu amo esse álbum. Como nada mais. Acho que as personalidades individuais dele compõem um todo, fazendo um registro único de som junto às letras obtusas escritas por Howard Devoto. Nós sabíamos que algo grande estava acontecendo durante as gravações e a capa foi criada pelo artista, Linder, que fez aquelas cabeças estranhas no espaço e no tempo. Lindo.

4. O que o título  significa? Quem escolheu esse nome e de onde veio a inspiração?

Bem, o Howard Devoto veio e escolheu o título para o álbum e você pode ler o que quiser! Isso é o que eu acho que o faz interessante. Eu amo esse momento em meu próprio trabalho, no qual o título é quase “nascido” e é como uma porta se abrindo para outro mundo.

5. Eu gosto de toda a discografia da banda, acho que todos os álbuns são excelentes, mas percebo que o único álbum que REALMENTE fez sucesso e se tornou popular, é o primeiro. Por que você acha que isso aconteceu? Pra você, qual é o melhor álbum do Magazine?

Bem, eu acho que o The Correct Use Of Soap também foi muito popular e bem feito, eu gosto desse álbum também, embora o meu favorito seja o Secondhand Daylight. Eu acho que criamos algo extraordinário. Basta você escutar faixas como “Feed the Enemy”, “Permafrost” e “Back to Nature” para ver a largura e a profundidade das ideias da banda e suas capacidades. Amo esse álbum.

6. Como foi seu primeiro encontro com Howard Devoto? E qual é a memória mais antiga que você tem com o Magazine? Você se lembra do primeiro ensaio que vocês fizeram?

Eu conheci o Howard numa tarde de domingo, na casa dele. Esta é a memória mais antiga que tenho porque eu estava tentado aprender a tocar o baixo durante a noite e então ele tocou a música “The Light Pour Out Of Me” na guitarra para mim, daí eu toquei uma nota, depois mais uma no ritmo certo e, por fim, funcionou e acabei conseguindo o trabalho!! O resto da banda se reuniu numa sala de ensaios para trabalhar em três músicas para que pudéssemos enviar para as gravadoras.

7. Vocês tinham algum conceito específico para o desenvolvimento e produção do Real Life?

Bem, ele surgiu junto como um experimento que foi definido por uma espécie de “poder”. Se você quiser e as características definidoras foram: originalidade, um crença nas palavras do Devoto e nossa própria maneira única de colocar o músicas juntas.

8. Como foi trabalhar no primeiro álbum de estúdio da Bad Seeds? Ao longo das gravações, você imaginou que From Her To Eternity se tornaria um álbum tão importante? O que você sentiu quando vocês estavam gravando?

Sim, eu sabia que era uma gravação importante. Tudo estava no lugar certo para que ele fosse dessa forma, e o nível da banda, assim como ocorreu com o Magazine, estava na medida certa para gerar um trabalho sonoro autêntico e completamente primitivo, então foi primordial e foi como fazer um grande filme, de forma que nos entregamos ao trabalho como se nossas vidas dependessem disso.

Adamson é um dos maiores guitarristas do universo Pós-punk.

9. A música “From Her To Eternity” é uma das melhores faixas da carreira do Nick Cave e até hoje em dia, é uma das favoritas doas fãs. Vocês demoraram muito para gravá-la? O que você se lembra sobre as gravações dessa música?

Lembro-me da energia e do desespero da letra, do caos controlado do Mick Harvey na bateria, e do Blixa fazendo o que, até hoje, é um dos sons mais extraordinários que eu já ouvi vindos de uma guitarra. E claro, havia o conhecimento do Nick, e a linha cinematográfica no piano. Enfim, um monte de energia estava sendo empurrada para fora ao mesmo tempo.

10. Você chegou a trabalhar com Nick Cave no Birthday Party e no Bad Seeds. Como era a dinâmica de ambas as bandas? Você gostaria de trabalhar com os Bad Seeds novamente?

Bem, de maneira geral as duas bandas giravam em torno do Nick, mas no caso do Birthday Party foi também em torno da guitarra do Rowland, que era uma espécie de “ajudante” para a voz do vocalista. No Bad Seeds havia uma paisagem sonora que era mais solta, e isso deu ao Nick maior liberdade para escrever e seguir a direção que ele queria seguir.

11. Como foi trabalhar ao lado de Stephen Strange no Visage?

Pra ser honesto, eu quase não o vi. A música foi feita antes da gravação do vocal, e então eu já tinha ido embora do estúdio quando ele estava por lá.

12. Qual é a melhor memória que você tem dos momentos que passou com o Pete Shelley?

Muitas, na verdade. Todo dia era um dia divertido! Ele era um compositor incrivelmente talentoso.

13. Dentre todos os seus álbuns solos, você tem algum favorito?

Eles são todos especiais para mim. Cada um é diferente entre si, permanecendo com sua própria força.

14. Já pensou em fazer um longa metragem baseado no seu primeiro álbum solo, Moss Side Story?

Sim. Várias vezes e eu fui abordado por cineastas que pensaram em fazer algo com esse álbum, mas as ideias propostas por eles não estavam realmente numa direção que fizesse com que eu me sentisse bem para isso… mas, quem sabe, um dia?

15. Você já esteve no Brasil alguma vez? Conhece bandas e músicos brasileiros?

Eu nunca fui, mas quero muito ir. Eu amo música brasileira dos anos sessenta, suponho, tal como Tom Jobim e Sérgio Mendes, é claro. Eu preciso me atualizar!

16. Você se mantém atualizado sobre novos artistas e bandas que estão surgindo? Se sim, gostaria de trabalhar com alguma delas?

Eu gosto de alguns. Grace Jones, Thom Yorke, James Blake, Emiliana Torrini e muitos outros, eu adoraria trabalhar com eles!!

17. O que você tem a dizer para quem deseja seguir carreira na música?

Basta escrever e tocar diariamente. Procure algo te dá energia e faz você também querer dar essa energia.

18. Quais são os seus planos para 2019? Você está trabalhando em algum material novo?

Sim, estou escrevendo diariamente!! Esse processo é como um quebra-cabeça que está no meio do caminho completo. E estou muito animado para ver a foto do álbum completo! Daí eu posso levá-lo ao Brasil!

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