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sexta-feira, 10 de julho de 2020

SID VICIOUS: O NIILISTA MALTRAPILHO QUE MUDOU O ROCK AND ROLL PARA SEMPRE

Por Juliana Vannucchi
 
A história do Punk Rock é composta por muitos nomes lendários. Dentre eles, encontra-se o icônico Sid Vicious, cuja figura até hoje gera opiniões e comentários controversos. Algumas pessoas o idolatram, e outras o repudiam, mas o fato é que a cultura Punk, como um todo, jamais seria do jeito que é se não fosse por sua existência.

A vida de Sid Vicious até hoje é cercada por mistérios e sempre foi repleta de binômios: “tocava bem/não tocava bem” - “sabia tocar baixo/não sabia tocar baixo”/“era uma pessoa inocente/era um sujeito perverso”/“morreu de overdose/se suicidou”/“matou Nancy/não assassinou a companheira”. As inúmeras considerações contrárias a seu respeito fazem dele um verdadeiro mito. Por “mito” entenda-se uma personalidade atemporal que simboliza algo. No caso, Vicious, através de sua persona, representava a rebeldia transgressora de todo o movimento Punk. Considero que quem o conhece apenas de uma maneira deveras superficial, o vê como um jovenzinho teimoso, violento, sanguinário, atraente e drogado. Certo. Talvez ele fosse tudo isso. Mas havia algo a mais em Sid Vicious, e são esses outros aspectos, esses que primeiramente escapam da imagem midiática e rasa em torno dele, que o transformaram no mito que citei acima.
 



Sid era determinado, mostrava empenho ao tentar aprender a tocar baixo e era uma pessoa decidida em relação ao rumo artístico que sua vida tomou. Através de suas atitudes ousadas e discursos provocativos, procurava conscientemente e incentivar as pessoas a se firmarem e abandonarem suas zonas de conforto. Ele estava ciente de que os jovens de sua geração eram pressionados pela família, pelo governo, pela moral e pela sociedade e, por isso, prezava pela liberdade. Conforme certa vez declarou: “Se você faz alguma, deve fazer porque gosta, e não por dinheiro” (p.40, 1985). E em relação, especificamente ao futuro de um jovem após o término dos estudos escolares, disse: “Se é para fazer alguma coisa, você deve fazer o que quer”. (p.43, 1985), sendo tal comentário contextualizado com o excesso de expectativa que os pais criam em torno dos filhos. Também afirmou: “Nós acreditamos na total liberdade de ação”. (p.39, 1985) - ele repudiava o “modus operandi” mecanicista da sociedade. Por esses e outros comentários e por seus constantes atrevimentos, acredito que Sid, de certa maneira, catalisou em seu espírito toda a aura desafiadora de revolta, escândalo, crítica e inovação estética que permeavam no âmago da cultura punk. Nesse sentido, ele pode ser uma inspiração positiva para muitas pessoas.

 
Também é válido ressaltar que a imagem de “bad boy” que acompanhou o baixista do Sex Pistols foi uma construção ao menos parcialmente midiática, pois, convenhamos havia certo empenho dos meios de comunicação para desmerecer o Punk Rock. Em relação a isso, o próprio Sid chegou a denunciar a hipocrisia da mídia que os reprovava por falarem palavrão. Ele disse, com seu habitual cinismo: “Quase todas as pessoas usam palavras de baixo calão em seu vocabulário”. Pois os Pistols simplesmente também usavam e pronto. O niilista maltrapilho também acreditava que o rock and roll precisava retomar suas raizes, ou seja, deixar de ser elitizado, partir das ruas e permear por entre elas. Nesse sentido, também foi incisivamente crítico e demonstrou sentir falta da presença de “astros” do rock no meio das massas e chegou a afirmar que não andaria na mesma calçada dos Stones e que os desprezava: “(...) deviam ter desistido em 1965. Você nunca vê nenhum desses babacas andando nas ruas (...)”. (p.42, 1985).

Torna-se válido citar que Dee Dee Ramone e Siouxsie foram algumas das grandes personalidades musicais a declarar que Sid era um rapaz doce e legal. Freddy Mercury, contudo, provavelmente pensava o contrário, pois o encontro que teve com Sid foi um tanto áspero.

O fato é que Sid Vicious mudou para sempre não apenas o punk rock, mas também a história do rock. Seu nome está eternizado e isso independe do fato de ele ter sido “herói ou vilão” - mas confesso que, felizmente, acho que ele foi um vilão!

Referência:

SANTOS, Hugo. Sid Vicious. São Paulo: Brasiliense, 1985.

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